O jogo dos retardados

Por: César A. Ferreira

A Guerra da Ucrânia começou no dia 24 de fevereiro de 2012, como resposta a uma Blitzkrieg de Zelensky contra as repúblicas autoproclamadas de Lugansk e Donetsk. A reação do ocidente, como bem sabe o caro leitor, foi o estabelecimento do maior e mais violento pacote de sansões já dirigido contra um país. Estas imposições econômicas foram forjadas na crença, ou pelo menos assim foi comunicado ao mundo, de que colocariam a Rússia de joelhos, pois… De lá para cá, a União Europeia transferiu para a Federação Russa o equivalente a US$ 12,000,000,000.00. É isto mesmo, doze bilhões de dólares!

Acontece que existe nesta conta das ideias e das boas intenções um problema insolúvel, ela não cabe na matemática da realidade. Fato é que a Europa Unida não sobrevive sem o gás russo e que ele, para fluir precisa ser obviamente pago, ou o fornecedor irá bloquear o envio. É por isto que vimos a tão estrondosa retirada da Federação Russa do sistema Swift, ser na verdade, incompleto. Anunciada a retirada dos onze principais bancos russos, reduziu-se para dez e finalmente apenas sete foram descredenciados… Tem-se, pois, instituições bancárias capazes de receber pagamentos pelo gás. Não que seja exatamente um alívio, pois o gás que já estava em alta ganhou impulso com a guerra e principalmente com as sansões, chegando ao absurdo valor de US$ 3,900.00 por mil metros cúbicos no mercado livre. E a Alemanha, grande consumidora, acreditando ser “muito esperta” recusou um contrato de longo prazo com a Gazprom, para comprar com preço do mercado livre… Os russos devem estar rindo de orelha a orelha, sinceramente. Já as siderúrgicas alemãs encerram as atividades por inviabilidade econômica devido ao preço do gás.

Não fosse apenas isso temos o desespero político a cercar as mentes decisórias e aqui o quadro se refere aos EUA e não a Europa Unida. Joe Biden reflete a decadência dos EUA no momento que não consegue em plena crise mostrar-se como protagonista. Pelo contrário, ele simplesmente recusou este papel quando decidiu antagonizar o verdadeiro protagonista: Vladimir Putin e a Federação Russa. Biden e os EUA ficam a reboque, dado que foram o motor por trás do pacote de sansões e por isso se inviabilizaram como interlocutores validos, afinal, mediadores não podem ser ostensivamente partidários. A liderança norte-americana não pode hostilizar militarmente a Rússia na Ucrânia e o faz no campo econômico, todavia não resolve a crise e não resolvendo a crise perde influência. Como todos sabemos, são fatos do declínio dos impérios perante a história, jamais se aperceber que a importância da política interna é demasiada e delirante. Querer moldar o mundo e apenas enxergá-lo pelas lentes dos seus próprios valores é a receita pronta do desastre.

Desta forma, tendo a mídia em suas mãos, cegos para o que acontece no mundo, mas soberbos em suas decisões, a mesquinhez da emergência de manter o poder político comanda as ações e mentes. O exemplo maior é o jogo da manipulação emotiva, no caso pretensa apenas. Trata-se da encenação com o ator Zelensky perante o congresso dos EUA, da demonização incessante de Vladimir Putin e das cenas de refugiados e feridos, com as suas comoventes histórias, bombardeadas dia e noite para fazer o eleitor médio acreditar no discurso oficial, de que a alta da gasolina e do seu custo de vida se deve ao vilão das estepes…  É um jogo perdido, pois quando chega no bolso a racionalidade costuma gritar mais alto na consciência do eleitor.

E se falamos de jogo, basta ver aquele de quem realmente sabe jogar. Vladimir Putin iniciou uma invasão, tornou-se protagonista e apesar desta ação militar ser uma resposta às provocações do ocidente, ela por si é um ato de afirmação. É a primeira vez em décadas que se vê um ato de desafio a “ordem existente” e da parte do ocidente, desafiado, nenhuma resposta concreta houve. Não só a Federação Russa recebe pelas suas exportações de hidrocarbonetos, como a sua indústria encampará todas as plantas industriais abandonadas pelas empresas ocidentais que aderiram ao pacote de sansões. Ademais, todas as obrigações externas são ordenadas em função das reservas retidas no exterior, caso o credor não as receba, terá o equivalente em rublos, na cotação do dia depositado em instituição bancária russa. Se não houver aceitação, paciência, que procure a justiça. Pegue isto e multiplique pela enormidade de fundos de participação que investiram pesadamente em títulos russos…

Não se assuste e não reclame, a Federação Russa não recusa a honrar as suas obrigações, apenas explicita ao mundo que se está impossibilitada disto se deve antes ao roubo, rapinagem, sequestro e pilhagem das suas reservas, assim decididas por mera conveniência política. Em suma, o conceito de propriedade privada e do Estado de Direito foi relativizado e as consequências irão aparecer, cedo ou tarde… Talvez, mas cedo do que se pensa. A China acertou com a Arábia Saudita a troca de petróleo por pagamentos em sua moeda nacional, o Yuan. A Índia procura acerto parecido com a Rússia. Isto significa o fim da relação petróleo/dólar, dado que dois dos maiores produtores e dois dos maiores consumidores comercializarão a commoditie de uso global fora da moeda nacional dos EUA, retirando desta uma parte gigantesca do volume de transações e afetando-a como fator de referência para trocas. Para um estado que possui um endividamento orçado na casa dos trilhões, a perda da confiança em sua moeda nacional usada como referência de trocas pode ser desastrosa. Este caminho parece agora inevitável e avisos se deram, mas ignorados. É que a certeza quando ombreada pelos agentes do declínio não aceita dissonância, por isso ela é calada, ridicularizada e eliminada. Em geral, quando não se consegue evitar a dissonância, sobre ela impõe-se um carimbo, desqualificando-a até que por ela o desprezo seja a única paga. Isto explica o massacre midiático do apresentador Tucker Carlson, por exemplo, apesar de ser ele uma pessoa muito polêmica. Explica, também, por que o jogo tão evidente de apelo emocional que cega o processo de autodestruição dos EUA e da Europa Unida não é percebido como tal… Os jogadores são retardados: nada entendem, nada avaliam e são todos convictos.

O atributo da mentira

Por: César A Ferreira

O grande atributo da mentira é fornecer ao mentiroso contumaz o álibi da naturalidade dos seus atos.

A semana corrente foi abalada com uma séria acusação da Federação Russa contra os EUA e a Ucrânia, acusação esta, diga-se que versava sobre um assunto sensível: armas de destruição em massa. No caso, da vertente biológica, ou seja, especificamente a Federação russa acusou que os EUA financiavam pesquisas de patógenos extremamente agressivos em laboratórios localizados em várias cidades da Ucrânia, entre elas Kharkov.

De imediato a República Popular da China exigiu dos EUA “esclarecimentos” sobre tais laboratórios e sobre as pesquisas neles realizadas. É interessante notar que a nota chinesa foi diretamente endereçada aos EUA, ignorando a Ucrânia como agente político… A Federação Russa, elevou o tom explicitando que os patógenos pesquisados, tão perto da fronteira, só poderiam ter nítida função agressiva, ou seja, a de promover e controlar testes de campo que viesse a infectar a população fronteiriça e por extensão a população russa. Acusações pesadas.

O costume da mídia ocidental [1] de proteger a Ucrânia e os EUA logo se fez presente e tratou de carimbar a acusação russa de fantasiosa até… A impoluta e majestosa Subsecretária de Estado Para Assuntos Políticos dos EUA, Victoria Nuland, de maneira totalmente inadvertida, confirmar as alegações russas por meio das suas próprias palavras. Disse Nuland: “Existem instalações de pesquisa biológica na Ucrânia. Na verdade, estamos preocupados que as forças russas tentem assumir o controle”.

Como é? Os laboratórios existem, trabalham com pesquisas biológicas? Os russos não podem ter acesso? Ora, ora, isto é revelador da existência de um programa biológico e do conhecimento das autoridades dos EUA sobre a localização dos laboratórios e do teor das pesquisas realizadas.  

E como sempre, o que é ruim pode ficar pior: o veículo informativo Al Mayadeen Espanõl, repercutindo matéria do veículo informativo The National Pulse, bem como do informativo indiano Great Game Índia, revela que os interesses associativos entre os EUA e a Ucrânia são antigos e profundos… Simplesmente a associação para a construção de laboratórios na Ucrânia pode se recuada até longínquo ano de 2005! Neste ano foi firmado convênio entre o Departamento de Defesa dos EUA e o Ministério da Saúde da Ucrânia. O projeto correu e temos no ano de 2010 o jovem senador por Illinois, Barack Obama, junto com outro senador, Dick Lugar, ambos extremamente envolvidos na concretização do Laboratório de Contenção Biológica Nível III na cidade de Odessa, litoral do Mar Negro. Estas informações se encontram no artigo “Biolab Open in Ukraine” [2], recuperado pelo informativo Great Game Índia, que reporta como fonte a edição número 818 do Jornal de Divulgação do Centro de Contraproliferação da Força Aérea dos EUA (USAF, ing.), e como se não bastasse, no ano seguinte, 2011, um relatório da Academia Nacional de Ciências dos EUA, mais precisamente do “Comitê de Antecipação dos Desafios de Biossegurança da Expansão Global dos Laboratórios de Alta Contenção” [3], apontava:  “O laboratório atualizado funciona como um Laboratório Central de Referência Provisional com um Depozitarium (coleção de patógenos). A normativa ucraniana exibe permissão para trabalho com bactérias e vírus do primeiro e segundo grupo de patógenos”

O que é mais revelador são os patógenos pesquisados: Ébola, Influenza, Zika… Sarampo, Cólera (vibrião), entre outros. Todos eles estudados com os métodos virológicos, moleculares e sorológicos. Tais métodos devidamente descritos em relatórios das empresas dos EUA, gerenciadoras dos laboratórios ucranianos, que foram listadas como sendo as seguintes: Southern Research Institute (SRI); Black & Veatch Special Project Corp.; CH2M Hill e Metabiota.

Percebe-se, pois, que as acusações afloradas são robustas, consistentes, e independem para a credibilidades destas da indiscrição da senhora Nuland. Aliás, a inteligência da Subsecretária é com constância colocada em questão por analistas, como é o caso do apresentador e comentarista da rede Fox News, Tucker Carlson. Ainda que motivações advindas da política interna dos EUA promovam tais recriminações, o fato é que independente disto a senhora Nuland e os EUA foram pilhados como mentirosos, jogando por terra toda a credibilidade existente no esforço contra a proliferação de armas de destruição em massa por parte dos Estados Unidos, dado o fato de que patrocinavam em território estrangeiro esta mesma proliferação (armas biológicas). Se o caro leitor não percebe maior indignação no mundo para com tal revelação, se deve entre outros fatores, ao incrível fenômeno que transforma a mentira em algo natural quando o mentiroso é vezeiro, contumaz. Ninguém liga, ainda que a mentira seja escabrosa… É por isso que a Secretária de Imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, em virtude de tudo isso tem a coragem de dizer: “Agora que a Rússia fez falsas alegações, e a China aparentemente apoiou essa propaganda, todos nós precisamos estar vigilantes porque a Rússia pode usar armas químicas, ou biológicas na Ucrânia ou encenar uma provocação de falsa bandeira usando-a contra nós. Este é um padrão claro (…)”.

Uma tentativa tosca de responsabilizar Moscou pelos erros cometidos, via de regra, em Washington, quase uma declaração do que pretendem fazer, ou seja, realizar a “mágica” que nunca convenceu na Síria. Portanto, podemos dizer: nada disso, caríssima senhora Psaki, o padrão claro e repetitivo é a mentira vociferada por vocês de maneira insistente e exaustiva, como se outra coisa não soubessem fazer.

Notas:
[1]:
O jornal brasileiro “O Estado de São Paulo” publicou matéria afirmando ser a existência desses laboratórios como “teoria da conspiração”.

[2]: Artigo “Open Labs In Ukraine”. Data da publicação: 18 de julho de 2010. Autora: Tina Redlupe. Veículo informativo: The USAF Counterproliferantion Center’s Outreaach Journal. Nº 818.

[3]: The United States National Academy of Sciences’ Committee on Anticipating Biosecurity Challenges of the Global Expansion of High-Containment Biological Laboratories.

Um Dia de Cão em Caracas

Por: César Antônio Ferreira

Não vamos nos enganar, a Venezuela sofreu neste dia 30 de abril de 2019 um dica de cão, típico das guerras híbridas, das quais são vítimas todas as sociedades donas de subsolo rico em hidrocarbonetos, ou que sejam uma passagem estratégica para o trânsito dos mesmos, que sofrem dolorosamente apenas por exibir politicas afirmativas da sua soberania por ventura dissonantes dos interesses dos EUA e dos seus associados da OTAN.

O roteiro é bem conhecido: aproveitando-se do fato de que nenhuma sociedade é monolítica, fomenta-se através das redes sociais uma oposição cujas bandeiras reivindicativas são induzidas a partir de pesquisas analíticas do conteúdo circulante no ambiente cibernético da nação alvo. Esta é a primeira parte e a de maior novidade. Na medida em que as lideranças vão se enfraquecendo no campo político, a engrenagem põe-se a rodar… Manifestações com tópicos de abrangência universal, como o “combate à corrupção”, um mal sempre associado as autoridades de plantão, e a “falta de liberdade”, pouco importando se suposta, ou verdadeira.

Caso a unidade política da nação alvo mantenha-se de pé, parte-se para a fase dois: a criação de situações capazes de criar comoção, tanto no âmbito interno, como externo, com intuito de se capitalizar os sentimentos difusos e canalizá-los em prol das emoções básicas como a equidade e o desejo de vingança, além da apropriação do discurso narrativo da “promoção da justiça”. Neste momento a liderança opositora, a partir da atenção midiática que lhe é dedicada encarnará a “sobriedade do justo”, enquanto a liderança nacional será demonizada, apontada como a responsável direta pelos trágicos eventos, estrategicamente registrados pela mídia, em suma, o líder nacional será para todos os efeitos um…  “Demônio encarnado que ataca o próprio povo”.

Este roteiro já foi visto várias vezes, tanto que podemos elencar as nações que foram vítimas: Líbia, Síria, Iraque, Ucrânia, dentre as operações de sucesso, Rússia e Turquia, entre as fracassadas (não chegaram a Fase 2), além do Brasil, exemplo mais bem sucedido, visto que houve a cooptação direta da classe média, tornando desnecessária as ações de desestabilização.  Todavia, este não é o caso da Venezuela: o país está mergulhado em uma crise econômica sem precedentes, mas, apesar da depressão econômica reinante ser, como se percebe, um fator de divisão social, a população começa a perceber que algo mais está em jogo do que a mudança pura e simples do mandatário. Tanto é assim que a quartelada promovida neste 30 de abril último resultou em um sonoro fracasso.

Há de se perguntar o motivo do fracasso do golpe promovido pelo senhor Guaidó, e uma das respostas é a previsibilidade dos atos. De fato, a Venezuela foi um protótipo de guerra híbrida no distante ano de 2002, quando uma outra quartelada, então  efetivada pelo o que havia de mais antigo e retrógrado no espectro político venezuelano,  depôs Hugo Chávez, apenas para ver o cerco popular do Palácio Miraflores e o retorno triunfal de Chávez… Neste golpe fracassado houve um detalhe importante: um atentado de falsa bandeira, feito pelos golpistas, que consistia em disparos contra manifestantes contrários ao presidente Hugo Chávez…

O uso de franco-atiradores para ataques de falsa bandeira é um modo operativo recorrente nas realizações de “mudança de regime” mundo afora. Tal como testado na Venezuela foi aplicado na Síria, Iraque, Líbia e Ucrânia. É desnecessário dizer que as mortes são atribuídas aos “agentes do governo”, incendiando com emoções extremas os nacionais, que se identificam com as vítimas e com isto colocando qualquer um que não professe as mesmas convicções como inimigo desprovido de humanidade e de identidade. Neste dia 30, para desespero de Guaidó, os atiradores foram neutralizados pelas forças de seguranças venezuelanas. Um roteiro conhecido pode ser antecipado.

Entretanto, se os snipers não funcionaram à contento, ao menos houve para os golpistas a imagem de manifestantes atropelados por blindados. Uma cena lamentável neste enredo, pois era evidente uma reação de força por parte dos militares que protegiam os acessos da base aérea Generalíssimo Francisco de Miranda, localizada no centro de Caracas [1]. Dá-se que era evidente que se pretendia fazer-se na referida base um ato político afirmativo, bastante simbólico, uma espécie de tomada da Bastilha caribenha, mas… Redundou em fracasso. O número de manifestantes parecia significativo quando a câmera estava fechada, mas quando aberta em grande angular percebia-se que os manifestantes presentes não encheriam o Engenhão [2], tal como se vê quando o Botafogo [3] está em má fase.

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Arma apreendida ppelas forças de segurança que se destinava para ataques de falsa bandeira. Foto: Topete GLZ. Internet.

Com manifestantes atropelados, ou não, Maduro sai fortalecido, mais uma vez. Pois a quartelada do dia 30 de abril se soma a fracassada entrega forçada de “ajuda humanitária” [4} cujo objetivo era justamente a de provocar um incidente, um cadáver para ser lamentado, o que não se deu. Estes fracassos reiterados acabam por expor Guaidó como líder sem carisma pessoal, farsesco, e artificial, que acabou por apostar alto demais. Aposta leviana, visto que agora os seus atos não se escusam atrás de uma “ajuda humanitária”, ou “oposição democrática”, mas consistem de um levante declarado contra o governo venezuelano, um crime objetivo, portanto.

Algo mais

Cabe perguntar: por que Guaidó se arriscou hoje? Simples, porque contava ele com algo mais… Cadáveres que lhe dessem a justificativa para uma intervenção armada dos EUA. Ora, pois, não seria uma especulação descabida? Nem tanto, se considerarmos que o Sr. Jair Messias Bolsonaro, Presidente da República Federativa do Brasil, comunicou que decidiria exclusivamente com o Conselho de Segurança Nacional sobre a Venezuela [5]. Isto foi dito, acredite, ainda que se saiba ser uma responsabilidade do Congresso Nacional as declarações de hostilidades abertas para com outras nações. (art. 137º)[6]. Ora, ora, ganha um doce quem não previu que tais eventos foram discutidos no encontro havido entre os presidentes Trump e Bolsonaro,

Não deu certo a jogada, haverá outra, e outras…

Notas:

[1] Base Aérea icônica, conhecida por “La Carlota” área de 105 hectares, abriga o Comando Geral de Aviação. O Palácio Miraflores situa-se a alguns quilômetros. Ver em Jornal GGN: Gilberto Maringoni_ Ação irresponsável evidencia isolamento de Guiadó.

[2] Estádio Nilton Santos, Rio de Janeiro, Brasil. Capacidade para 40 mil torcedores.

[3] Botafogo de Futebol e Regatas, tradicional grande clube do futebol brasileiro, sediado na cidade do Rio de Janeiro.

[4] 23 de fevereiro de 2019.

[5] “A situação da Venezuela preocupa a todos. Qualquer hipótese será decidida EXCLUSIVAMENTE pelo Presidente da República, ouvindo o Conselho de Defesa Nacional. O Governo segue unido, juntamente com outras nações, na busca da melhor solução que restabeleça a democracia naquele país”. (Brasil 247 – Conforme publicado no Twitter).

[6] “Em relação ao tuíte do presidente Jair Bolsonaro sobre a situação da Venezuela, é importante lembrar que os artigos. 49, II c/c art. 84, XIX; c/c art. 137, II da Constituição Federal precisam ser respeitados”, (Brasil 247 – Deputado Federal Rodrigo Maia – DEM /RJ).

 

Venezuela, os riscos de uma intervenção

Fonte: Arsenal – Geopolítica e Defesa

Por Pedro Paulo Rezende

A Venezuela está sob ameaça de intervenção estrangeira para derrubar o presidente da República, Nicolás Maduro. O presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, já deixou claro que uma invasão não foi descartada. Seus principais auxiliares — como o secretário de Estado Mike Pompeo e John Bolton, assessor de segurança da Presidência — sempre ressaltam a possibilidade de intervenção militar. O Comando Sul das Forças Armadas já enviou oficiais superiores para analisar a situação a partir de território colombiano. Diante destes sinais, cabe analisar o aparato militar dos dois países e a experiência de intervenção ocorrida em outros países.

Os Estados Unidos já patrocinaram mais de 50 intervenções militares ao longo dos últimos 100 anos, boa parte delas na América Latina. Depois do fim da Guerra Fria, com a dissolução da União Soviética, o Departamento de Estado norte-americano acentuou suas ações na África, Ásia e Europa. Em função disto, na década de 1990, a Iugoslávia se desmembrou em seis repúblicas. Posteriormente, houve a invasão do Afeganistão, justificada pelos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, que resultaram na destruição completa do World Trade Center e de parte do Pentágono, sede do Departamento de Defesa norte-americano.

Em 2003, o alvo foi o regime de Saddam Hussein, no Iraque, realizado sob o pretexto falso de que o país desenvolvia armas de destruição em massa. A invasão estadunidense resultou em um longo processo de resistência da minoria sunita, beneficiada no arranjo de forças anterior, contra a administração em Bagdá e as tropas de ocupação. A radicalização deste movimento terminou com o surgimento do Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS), primeiro movimento terrorista da história a se organizar formalmente como governo e a dominar uma grande área territorial. O custo em vidas humanas de todos estes processos supera 1,5 milhão, civis, em sua grande maioria.

Revoluções patrocinadas

Além de intervenções diretas, Washington desenvolveu modelos alternativos que usam a sociedade civil. Em 2004, patrocinou o movimento a favor de novas eleições na Ucrânia depois que Viktor Yanukovych, defensor da cooperação com a Rússia, venceu a disputa contra Viktor Yushchenko, que queria se aproximar dos Estados Unidos. Os protestos, chamados de Revolução Laranja, foram bem sucedidos. Uma nova disputa foi determinada pela Suprema Corte e os norte-americanos conseguiram seu objetivo. O país, desde então, apresenta queda no Produto Interno Bruto, alta inflacionária e crescimento nos índices de desemprego.

O modelo da Revolução Laranja foi exportado para o norte da África em 2011. A chamada Primavera Árabe causou a mudança de governos na Tunísia e no Egito. No Marrocos, o rei Maomé 6º antecipou-se e garantiu importantes mudanças constitucionais, mas o processo resultou na instalação de um grupo fundamentalista no Cairo, comandado por Maomé Morsi, líder da Irmandade Islâmica, em 2012. A reação militar foi inevitável e o comandante do Exército, Abdul Fatah Al-Sissi, assumiu o controle do país em 2013.

Uma segunda intervenção americano-europeia, em 2014, resultou em mais uma mudança de governo na Ucrânia. Dependente do gás russo, com a economia em queda, o país oscilava entre Moscou e a União Europeia, defendida pelos grupos ultranacionalistas. Diante da falta de propostas concretas por parte do Ocidente e com a oferta de investimentos russos superiores a US$ 300 milhões, o presidente Viktor Yanukovych, o mesmo derrubado em 2004, iniciou tratativas com Moscou. Washington apoia o chamado Movimento de Maidan política e financeiramente. A vitória do grupo, que incluía milícias de orientação neonazista, resultou na colocação de Petro Poroshenko na presidência e na tentativa de um processo de limpeza étnica contra a minoria russa, que reagiu e iniciou um processo de resistência separatista na região de Donbass e de reincorporação da Crimeia à Federação Russa. O PIB ucraniano hoje é de apenas 20% do registrado na época em que o país integrava a União Soviética.

Movimentos armados

Na Líbia e na Síria, Washington, junto com aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), adotaram outro modelo: patrocinaram grupos oposicionistas a se levantarem militarmente contra os governos, de maneira a justificar uma “intervenção militar humanitária.” Os movimentos pacíficos da Primavera Árabe desandam em guerras civis com requintes de crueldade.

Na Líbia, a derrubada do ditador Muamar Al Gaddafi, apoiada diretamente por uma ação conjunta dos Estados Unidos, França, Itália e Reino Unido, quebrou o país em várias regiões dominadas por senhores da guerra. O linchamento de Gaddafi, em 20 de outubro de 2011, na cidade de Misurata, resultou em uma virada na política externa da Federação Russa e da República Popular da China. Até então, os dois países se abstinham de votar contra o intervencionismo americano, apoiado pela Europa, no Conselho de Segurança das Nações Unidas

A Síria só não sofreu fim igual ao da Líbia porque a Federação Russa, junto com o Irã, intervieram para garantir a permanência do presidente Bashar Al Assad. Neste último caso, houve uma evidência clara da esquizofrenia que atinge a política externa de Washington. Enquanto combatiam os militantes do ISIS em território iraquiano, facções do grupo terrorista recebiam financiamento, treinamento e armas fornecidos pelos governos norte-americano e aliados, incluindo Alemanha, França, Israel e monarquias do Golfo Pérsico. O conflito ainda não terminou, mas o número de vítimas fatais já supera 500 mil, com mais de 7,5 milhões de refugiados.

A questão venezuelana

Diante desses antecedentes, defender uma intervenção militar contra o governo de Nicolás Maduro beira a irresponsabilidade. Durante a presidência de Hugo Chávez, que assumiu o governo em 1998, o país sofreu uma tentativa de golpe em 2002. Na ocasião, o chefe de Estado venezuelano chegou a ser apeado do poder para ser reconduzido ao Palácio de Miraflores 72 horas depois. O episódio, que teve apoio escancarado da imprensa, dominada pela oposição, e do presidente dos Estados Unidos George Wayne Bush, que reconheceu rapidamente o presidente golpista Pedro Carmona, ficou registrado em um documentário sensacional da TV canadense: A revolução não será televisionada (veja aqui).

A partir daí, Chávez, que defendia um modelo de desenvolvimento com investimento estrangeiro, radicalizou o seu discurso. Ao morrer, em 2013, deixou um país menos injusto. O total de venezuelanos abaixo da linha de pobreza caiu de 72% para 23%, segundo dados do Banco Mundial. Os índices de analfabetismo desabaram e os indicadores sociais melhoraram. Esta herança se dissolveu ao longo do governo de Maduro por causa da escalada dos índices inflacionários.

Chávez chegou ao poder como uma forma de reação popular ao regime corrupto mantido pelas elites venezuelanas. O país se desindustrializou e perdeu capacidade de produção agrícola desde a década de 1940, quando se constatou o potencial de suas reservas petrolíferas, as maiores do mundo. Foi o primeiro episódio do que foi batizado, em 1977, pela revista britânica The Economist de “doença holandesa”. Em 1959, ao se descobrirem poços promissores no Mar do Norte, se evidenciou nos Países Baixos uma transferência de recursos das áreas produtivas para a de serviço.

Em verdade, a “doença holandesa” deveria ser chamada de “doença venezuelana”. Na década de 1950, Caracas se beneficiou de grandes investimentos em construção em detrimento da produção agrícola e industrial. Com isto, o Bolívar se sobrevalorizou e se criou uma dependência cada vez maior de produtos importados. A concentração de renda se acelerou em detrimento de 72% da população. Em um estudo feito para a Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL) em 1957, Celso Furtado já entendia que o dólar barato em relação ao bolívar era o principal entrave ao desenvolvimento venezuelano.

Na época, o país vivia sob regime militar de Marcos Pérez Jimenes. A Venezuela gerava muitos dólares. Os dólares eram comprados por empresas venezuelanas que os usavam para a compra de bens importados não produzidos no país. Como a relação dólar e bolívar era bastante favorável à moeda venezuelana, os bens importados entravam no país a preços bastante baixos. Os produtores locais não tinham como competir.

Aliado a isto, havia um fluxo de capitais importantes para paraísos fiscais. Segundo estudo do Banco Mundial publicado em 2000, entre 1956 e 1998, data de entrada de Chávez no governo, cerca de US$ 12 trilhões, praticamente o PIB anual da República Popular da China, foram desviados da Venezuela.

Arreglo político

Este modelo foi, a partir de 1958, administrado pela versão venezuelana da “Política do Café com Leite”, que dominou os Estados Unidos do Brasil entre 1889 e 1930. Em 1958, o regime de Marcos Pérez Jiménez caiu e eleições gerais foram marcadas para dezembro do mesmo ano. Em 31 de outubro de 1958, os três grandes partidos venezuelanos — a Ação Democrática (AD), de centro-esquerda; a União Republicana Democrática (URD), de centro, e o democrata cristão Comitê de Organização Política Eleitoral Independente (COPEI), de centro-direita — firmaram um acordo na casa de Rafael Caldera, líder da COPEI, batizada de Punto Fijo.

O Pacto de Punto Fijo permitiu à Venezuela trinta anos de estabilidade política, durante os quais a Ação Democrática e a COPEI foram efetivamente os únicos partidos a governar o país, alternando-se no poder conforme o resultado das eleições, a cada cinco anos. O equilíbrio se rompeu com o desenvolvimento de um forte clientelismo, acompanhado de intensa corrupção e a diminuição dos rendimentos advindos do petróleo.

Carlos Andrés Pérez, da AD, teve dois mandatos. No primeiro, de 1973 a 1978, seguiu uma orientação social democrática. No segundo, de 1988 a 1993, seguiu um receituário neoliberal com austeridade fiscal e desvalorização do Bolívar para enfrentar a inflação. Uma grande onda de fome resultou em uma revolta popular, o Caracazo, em 1989. Estima-se que 2.500 pessoas morreram sob a repressão do Exército em apenas três dias. Em 1992, um desconhecido tenente-coronel do Exército, Hugo Chávez, tenta tomar o poder, mas é derrotado. Preso e anistiado, concorreria à Presidência e venceria em 1998.

Fragilidade institucional

Os indicadores sociais herdados por Nicolás Maduro foram excelentes, mas Chávez não enfrentou a principal razão da fragilidade econômica venezuelana. O país depende fortemente dos preços internacionais do petróleo. Hoje, importa cerca de 90% do que consome, o que é um avanço — era de 99% na época de Carlos Andrés Pérez. Para complicar o quadro, os setores atacadistas estão sob controle da oposição. Há um regime especial para financiar os importadores, com dólar subsidiado, mas boa parte destes recursos é desviada para paraísos fiscais. Além disto, nunca se enfrentou a necessidade de uma reforma no sistema de tributação, um dos pontos destacados por Celso Furtado em 1958. Os encargos são extremamente baixos e não cobrem as despesas do governo, o que causa um déficit crônico e crescente.

O quadro é muito similar ao que resultou na derrubada do governo socialista de Salvador Allende no Chile. Produtos desaparecem das prateleiras durante meses, mas surgem milagrosamente quando o governo faz concessões aos oposicionistas e sempre podem ser encontrados no mercado negro. É preciso ressaltar que todas as reformas bolivarianas foram feitas pelo voto. Nesse processo, Chávez teve uma grande aliada: a oposição, que se recusou a disputar um pleito para tentar deslegitimar o processo. Foi um tiro no pé que resultou na diminuição da credibilidade dos partidos de oposição. Suas diferenças políticas também impediam, até Juan Guaidó, que apresentassem uma frente unida contra o regime.

Há sinais claros de corrupção no regime de Maduro, mas a oposição não fica muito atrás. Com algumas exceções, os políticos mostram sinais evidentes de aumento de patrimônio. Em uma das reuniões dos partidos, na sede da Venevisión, enquanto aguardavam o resultado do encontro, os correspondentes internacionais foram agraciados com pratos caros e vinhos importados de qualidade servidos por candidatas do concurso de Miss Venezuela. No final do encontro, os políticos protestaram contra o quadro de miséria e escassez imposto à população e anunciaram que não tinham conseguido um acordo para uma candidatura de união.

O principal racha estava na divergência de opinião entre Henrique Caprilles, um político jovem e sem envolvimento escuso com o mundo empresarial, e Leopoldo López. Na eleição presidencial de 2014, Caprilles chegou muito perto da vitória. Teve apenas 300 mil votos a menos que Maduro. A Venezuela usa o modelo eleitoral defendido pelo ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva e pelo atual chefe de Estado Jair Bolsonaro. O voto eletrônico imprime um recibo depositado em urna lacrada, que serve como contraprova. A oposição pediu recontagem, mas a auditoria, acompanhado por fiscais de todos os partidos, confirmou o resultado.

Leopoldo López, ao contrário de Caprilles, sempre defendeu uma política mais agressiva. Pessoas que o visitaram contam que ele mantém em sua biblioteca, ao alcance da mão, uma cópia de Minha Luta,livro escrito por Adolf Hitler. Partiu dele a série de manifestações agressivas que resultaram no incêndio de instalações governamentais. Maduro colocou as forças de segurança na rua, resultando em um total aproximado de 500 mortos nos últimos cinco anos. Deste total, há 150 policiais.

López foi preso, com boa dose de justiça, por incentivar atos violentos. Contra Caprilles, alegou-se seu envolvimento na compra de votos na eleição de governador para o Estado de Miranda. Hoje, está sem direitos políticos. Sem figuras de proa, os partidos de oposição usaram uma tática frequente no país: ausentaram-se da disputa presidencial para deslegitimizar Maduro.

A última eleição teve abstenção recorde de 54%, mas foi realizada sob supervisão internacional. O ex-presidente do Conselho de Ministros da Espanha, José Luiz Zapateiro, foi um dos fiscais e testemunhou a limpeza do pleito, apesar dos rumores de intimidação de eleitores.

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SU-30 MKV – Força Aérea Bolivariana da Venezuela. 23 aeronaves no inventário de 24 recebidas, uma delas perdida em acidente de desorientação espacial. Imagem: internet.

Quadro atual

O presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente da Venezuela, é discípulo de Leopoldo López. Formado pela Universidade Católica Andrés Bello, de Caracas, fez pós-graduação na Universidade George Washington, um dos centros que fomentam líderes conservadores de países do terceiro mundo.

Ele não dispõe do apoio militar e tem um oponente de peso no aparato de segurança, criado durante a gestão de Hugo Chávez. Além das Forças Armadas Bolivarianas, que incluem Exército, Marinha e Aeronáutica, existem os coletivos, grupos armados de autodefesa que se localizam nas áreas populares, e as milícias, com mais de 1,5 milhão de cidadãos armados. O país mantém as melhores equipadas forças do continente. São 24 caças Su-30MKV, capazes de lançar mísseis antinavio supersônicos; 16 caças Lockheed-Martin F-16A de fabricação norte-americana, operacionais, apesar dos anos de embargo; mísseis antiaéreos russos de última geração, inclusive S300S, capazes de cobrir todos os aspectos de altitude em um raio de ação de 150 quilômetros, e mais de 450 carros de combate, 250 deles do modelo T-72.

Uma intervenção militar estrangeira poderia superar as forças armadas regulares, mas não se pode minimizar o risco da resistência popular. Ao contrário do Iraque, o terreno na Venezuela facilita a guerrilha urbana e no campo. Há boa cobertura e potencial humano em todo o território da república e um núcleo duro do bolivarianismo que entraria na clandestinidade para resistir aos invasores.

Conscientização e militância

Tive uma oportunidade rara no dia da fundação da União de Nações Sulamericanas (UNASUL), em 23 de maio de 2008: encontrar e conversar com o general Jacinto Pérez de Arcay, principal teórico do bolivarianismo e professor de Hugo Chávez na Escola Militar. Ele explicou a parte ideológica do movimento, embasado em Hegel e no socialismo cristão defendido por alas à esquerda da Igreja Católica e da Teologia da Libertação. Usava argumentos sólidos e bem embasados. A formação dele, no entanto, está longe de ser atípica. As Forças Armadas da Venezuela se preocupam, desde a década de 1960, com a adaptação dos militares que passam para a reserva à vida civil. Os oficiais são estimulados a frequentar universidades civis ao longo da carreira e recebem incentivos financeiros para seguirem uma carreira acadêmica paralela à caserna. A maioria segue cursos na área de humanas.

A exemplo do Brasil, a carreira militar é um dos meios de ascensão social. Este é o caldo de cultura do bolivarianismo: consciência proletária alicerçada pelo acesso a teorias econômicas e políticas progressistas no meio acadêmico. É bem verdade que o núcleo duro do chavismo se afastou de Maduro, inclusive o general Pérez de Arcay, mas restam poucas dúvidas de que se uniria contra um invasor estrangeiro.

Diante dos antecedentes, se houver uma intervenção militar, os resultados serão desastrosos para o povo venezuelano. Uma grande dose de bom senso deve prevalecer para que a grave situação no país não se torne ainda pior. É bom lembrar que a maior potência militar, os Estados Unidos, negocia, neste mesmo instante, sua saída do Afeganistão com o Talibã, um grupo fundamentalista islâmico que tirou do poder ao invadir o país em 2001. Uma prova de que entrar é fácil. Sair, com um mínimo de dignidade, é que são elas. É só recordar as cenas da evacuação da embaixada americana em Saigon, o último episódio da Guerra do Vietnã, em 30 de abril de 1975.

Para os que apostam em uma melhoria imediata com a tomada do poder pela oposição, é preciso lembrar que há uma série de problemas estruturais gravíssimos que não se solucionaram. O petróleo é uma droga pesada e destruiu quase todos os setores da economia da Venezuela, que já foi um grande produtor de alimentos até a década de 1940. Os esforços de Chávez para diminuir a dependência, apesar de avaliação positiva da FAO, apresentaram resultados insuficientes

Por que a Boeing precisou muito da Embraer?

Fonte: Jornal GGN

Por: Sérgio da Motta e Albuquerque

Ao contrário do que pensam muitos, foram as dificuldades da Boeing e as pressões da competição que a impulsionaram na direção da compra da brasileira Embraer, e não o contrário. Quem acredita na artimanha da “joint-venture” anunciada na imprensa, onde a Embraer só controla 20% da nova empresa, é um ingênuo. Ou alguém que não vem acompanhando o desenvolvimento e a concorrência na aviação comercial regional das aeronaves de médio porte. O mercado onde atuava a “velha Embraer” – a ‘velha’, poderosa e confiável Embraer, nosso único orgulho e glória no mundo industrial de alto valor agregado.

A Embraer era uma empresa “enxuta”, bem administrada e inovadora. A primeira a organizar suas linhas de montagem seguindo o modelo da indústria automobilista. Obra de excelência da engenharia nacional, ela criou seu próprio modo de produção de aeronaves, ao compatibilizar tecnologias avançadas de origem internacional em seus produtos como nenhuma outra neste ramo. Colecionava uma sucessão de grandes vendas, quando foi entregue por 4,2 bilhões de dólares aos ianques da Boeing. O lobby americano é muito forte neste país, especialmente neste momento, de alinhamento incondicional aos ianques. E a nossa imprensa é subserviente a qualquer tipo de poder econômico. Mentiu o tempo todo à população brasileira, e conseguiu convencer muita gente que a Embraer estaria em “graves problemas”, diante do acirramento da competição internacional no mundo da aviação comercial regional.

É certo que a corporação brasileira precisava de parecerias. E poderia enfrentar problemas no futuro sem um bom e poderoso aliado. O problema é que a Embraer tinha poder de mercado para fechar um acordo muito mais favorável com qualquer gigante da aviação mundial. Mas não uma proposta oportunista de um colosso que e engoliria e a expulsaria do mercado de aeronaves de passageiros de porte médio. Foi isso o que aconteceu. A tal “joint-venture” nunca passou de um estratagema para tomar o controle da Embraer em um momento de fragilidade política e econômica do Brasil. Porque a competição começou a dar prejuízo à gigante da aviação americana. Leiam o que vem a seguir e entenderão as dificuldades da corporação ianque.

A Boeing teve problemas quando a Bombardier, depois de uma série de tropeços e avanços por mais de uma década, finalmente lançou sua nova aeronave a “C-Series” em 2016. As dificuldades agravaram-se em 2017, informou o Financial Times (14/1). A Boeing apelou ao Departamento de Comércio ianque. Exigiu medidas protecionistas de até 300% do valor da operação, em 2017, sobre a venda de 75 aviões da Série C da Bombardier para a Delta Airline, a maior vendedora de passagens aéreas do mundo. A Airbus, controladora da Série C , começava a vender os aviões da Bombardier, sob o nome “A-220” em 2018. A Delta foi ameaçada a pagar a multa gigantesca. Até aquele momento, a Boeing não tinha presença no mercado da aviação regional em aviões de porte médio e corredor único – os “narrowbodies”, como são conhecidos no mundo da aviação. E começava a perder terreno para a concorrente. Dentro do seu próprio país.

A Bombardier, por sua vez, teve dificuldade para desenvolver e entregar sua Série C, a famosa “C-Series”. A série inicial já estava em estudos desde 2004 e envolvia dois aviões, o C110, e o C130 – este último projetado para ser uma aeronave maior. Seu principal objetivo era ocupar o espaço dos velhos jatos 737 da Boeing e outros concorrentes similares de maior peso e tamanho. Depois de uma interrupção de quatro anos, o projeto da nova família de aeronaves foi retomado em 2008. Os aviões foram rebatizados: o menor, o C110, passou a chamar-se CS100. O maior, CS300. O resultado foi o esperado: a fabricante canadense tentou enfrentar as gigantes Airbus e Boeing com o CS300 e quase faliu. Em 2015 o governo canadense salvou o projeto “C-Series”. A empresa parecia ter chegado ao fim, quando o governo canadense investiu U$ 2,2 bilhões de dólares (americanos), na recuperação do projeto, depois desta tentar e fracassar quebrar o duopólio Boeing-Airbus em jatos médios. A injeção estatal de dinheiro salvou a Bombardier e a recolocou em condições de competir no mercado mundial, com as primeiras entregas da aeronave sendo realizadas sem problemas, mas ainda com muitas dúvidas sobre os lucros que poderia gerar a possibilidade da nova união das duas gigantes:

“É certo temer a nova combinação (Airbus-Bombardier). Apesar de a Airbus ter perdido terreno nos aviões “jumbo” de corredores duplos, enquanto atualiza seu alcance, a gigante europeia já agarrou metade do mercado para aviões regionais de porte médio, como a “C-Series”. Analistas pensam que a união aprofundará o controle da Airbus. A Boeing agora terá que gastar dezenas de bilhões de dólares para lançar um novo jato regional para competir, muito antes do panejado” (Grifo do Autor).

A Boeing estava em problemas, graças à aliança Airbus-Bombardier. Ela não tinha um produto para competir no mercado, neste setor. Desembolsar “várias dezenas de bilhões de dólares” não era uma boa opção. A corporação ianque foi astuta e não precisou gastar tanto dinheiro para abalar a concorrência da Airbus dentro dos Estados Unidos. Nem comprar apenas uma aeronave para concorrer com o A-220 – o produto da Bombardier. Por uma quantia modesta, a Boeing comprou todo o setor de aviação comercial e de serviços da Embraer. E ainda adquiriu 49% de participação no cargueiro militar KC-390, o maior avião já projetado e construído no Brasil. Tudo isso por apenas 4,2 bilhões de dólares. A compra veio em boa hora. Para a Boeing, não para o Brasil ou para a Embraer. Foi um presente para Trump, e seu projeto de “fazer a América grande novamente”.

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O KC-390 em sua apresentação. O acordo com a Boeing resultou na entrega de 49% das realizações do projeto do cargueiro militar, sem que a gigante norte-americana tenha aportado um dólar sequer no mesmo. Foto: internet.

Em 14 de janeiro de 2019, o Financial Times informou que o governo americano negou o pedido da Boeing de taxar em 300% a Airbus e sua linha de montagem atual do A-220, o antigo “C-Series”, ainda situada fora dos Estados Unidos. Mas a gigante norte-americana agora estava preparada para a competição. Com toda a bem-sucedida linha comercial da Embraer sob seu controle, ela poderia respirar aliviada. Sem nenhum avião na para competir com o A-220 da Airbus em 2018, a Boeing agora em 2019 é dona de uma das maiores e bem-sucedidas fabricantes de aviões regionais de maior porte do mundo.

A agência de avaliação de risco Fitch (15/1) imediatamente rebaixou a nota da empresa brasileira depois da “joint-venture”. O que restou da Embraer, o setor de aviação executiva e a aviação militar, não bastam para o prosseguimento das operações de uma grande empresa de aviação. O jornal “Valor econômico” publicou (15/1):

“Segundo a Fitch, o perfil de negócios da joint-venture que será formada entre Embraer e Boeing será mais fraco, refletindo a concentração das operações nos segmentos de aviões de defesa e executivo, a forte concentração de clientes e o desafio em aumentar a lucratividade e o fluxo de caixa operacional”.

Os lucros na aviação executiva são pulverizados por uma grande quantidade de fabricantes. E o setor militar dependia da aviação comercial da Embraer, agora vendido aos norte-americanos. Nossas forças armadas e suas encomendas não bastam para a sobrevivência da Embraer Defesa.

A Bombardier fez, talvez, seu melhor negócio em sua história. Vendeu apenas uma família de aviões, e permaneceu na competição do mercado de aviação regional. A Embraer, não. Perdeu seu filão mais lucrativo, em pleno apogeu de vendas da empresa. Apenas ela, entre as quatro grandes na produção de aviões comerciais, a nossa ex-Embraer, sobrevive sem ajuda do governo brasileiro. A Boeing, a Airbus e a Bombardier são corporações pesadamente financiadas pelo Estado. Fizemos a lição de casa, privatizamos a Embraer, e a tornamos independente e dominante no mercado em poucos anos. Apenas para entregá-la quase de graça aos americanos. Porque ela “precisa da ajuda do Estado”, e o nosso governo não pode mais alavancar empresas deste porte, dizem as vozes do neoliberalismo. Mesmo quando sua propriedade total representa interesse estratégico fundamental para o desenvolvimento deste país.

O Brasil e a Embraer saíram perdedores, nesta etapa da competição mundial no setor da aviação regional comercial para até 130 passageiros. Airbus e Boeing são as grandes favorecidas. O acordo Boeing-Embraer foi péssimo para o Brasil e para a Embraer. E a Bombardier ainda tem muito a provar aos especialistas em aviação. Nada garante sua participação no longo prazo, na aviação regional. A tendência da Airbus é ampliar o seu controle sobre o setor de aviação comercial da Bombardier.

Quanto ao impacto no Brasil, perderemos receitas de exportações industriais de alto valor agregado e na arrecadação de impostos. Todo o embrião do complexo industrial-militar construído a partir do ITA em São José dos Campos corre o risco de desaparecer. Hoje, os ianques prometem deixar a produção das aeronaves no Brasil. Mas a partir de 2020, quando a Airbus em Mobile, Alabama, começar a fabricar e vender o A-220 (o “C-Series” da Bombardier), dentro dos Estados Unidos, como produto norte-americano, vai ser muito difícil enfrentar a concorrência pesada da Airbus com um produto fabricado fora dos Estados Unidos.

A tendência de médio, longo prazo, é a transferência de toda a linha de montagem da aviação comercial para os Estados Unidos. As consequências serão devastadoras. A Embraer não existe só, no espaço vazio. Ela traz consigo toda uma cadeia produtiva de pequenas e médias empresas que orbitam em torno dela. A transferência da linha comercia da Embraer para os Estados Unidos completará a total desindustrialização do Brasil.

As “causas universais” contra o Estado Nacional

Por: André Araújo
Fonte: Jornal GGN

Foram os EUA que, ao fim da Primeira Guerra Mundial, inauguraram a Era das causas universais, contra a soberania dos Estados Nacionais, poupando desse combate seu próprio Estado.

Em artigo especifico sobre esse tema tratei do papel do Presidente Woodrow Wilson na propagação desse principio de “causas” contra “Estados”. Wilson foi o primeiro Presidente “politicamente correto” dos Estados Unidos e seu ativismo missionário foi um desastre completo de politica externa, podendo-se dizer que ele foi um dos que plantaram as sementes da Segunda Guerra através de seu idealismo tosco e tolo, sua visão fantasiosa da Historia e seu iluminismo mal colocado e mal aplicado. Wilson foi o grande maestro do Tratado de Versalhes, o pior acordo diplomático da História contemporânea, tão ruim que sequer o Congresso do seu próprio País o ratificou. Compare-se o Tratado de Versalhes de 1919, que durou formalmente 20 anos, mas efetivamente deixou de ser aplicado após 1933, portanto sua vigência real foi de 12 anos, após 1933 sua validade foi enfrentada pelo nazismo, com outro grande acordo histórico, a Paz de Viena de 1815, que durou 99 anos, obra de magistrais realistas da verdadeira politica, o Príncipe de Metternich e o Principe de Talleyrand, estadistas de berço e escol que sabiam operar a História e não viviam de ilusões moralistas.

As Causas e os Estados Nacionais

Uma “causa” moral é fundamentada na ética e seus ativistas a consideram acima da politica.

Para eles a causa tem um valor superior à noção de Estado e assim deve ser entendida e aplicada. Wilson, por exemplo, entendia que os “protocolos secretos” nos tratados diplomáticos não deveriam existir e que todos os artigos e disposições de um tratado deveriam ser revelados aos cidadãos. É uma grande estupidez, há inúmeros temas em negociações diplomáticas que devem permanecer secretos para sua própria eficácia.

Wilson abraçava a “causa da transparência”, uma virtude sempre benéfica para ele.

Wilson criou imensos problemas nas suas desastrosas intervenções na Conferência de Versalhes e a conta dessa fantasia explodiu em Setembro de 1939. A marca de ação de Wilson foi a prevalência das “causas” sobre o realismo politico, que Wilson considerava corrupto e imoral, ele achava que os europeus praticavam uma politica de safadezas e engodos resultante da decadência moral que vinha de longe enquanto que ele, Woodrow Wilson, representava a pureza dos peregrinos que formaram os Estados Unidos.

Por isso pode-se considerar Woodrow Wilson o pai da doutrina politica das causas universais que tem um valor superior às soberanias que, segundo Wilson, são a fonte do mal que levou à Grande Guerra de 1914. Conquanto a Doutrina Wilson possa ser considerada altruísta em termos filosóficos, ela sempre foi desligada da realidade geopolítica, e a tentativa de introdução de modelos não realistas produz resultados muito piores do que os pecados que visa extirpar, a luta pela causa produz mais males do que o mal primitivo.

O Estado Nacional e as suas Razões Não Morais

Desde a criação dos Estados Nacionais entre 1460 e 1610, esses entes aéticos usam de todos os instrumentos de poder à sua disposição, como usavam os nobres e senhores feudais antecessores dos Estados em suas intermináveis lutas por territórios e riquezas. Um Estado não sobrevive a partir de purezas e bondades neutras, contra o que há a razão de Estado.

Os Estados grandes usam a espionagem como instrumento de poder e essa ação na sua origem e pratica envolve largamente a corrupção pelo Estado, os espiões são subornados em beneficio de um Estado que geralmente não é o seu. Os Impérios foram formados em grande medida por compras de lealdades nos territórios a conquistar, assim a Inglaterra conquistou a India, o “Raj”, aliciando os marajás e rajás, foi mínima a ação militar no subcontinente, valia a adesão comprada e assim foi até a Independência em 1947, na China a influencia britânica no período entre a Guerra dos Boers e a fundação da Republica em 1911 foi financiada com venda de opio aos “warlords”, territórios e concessões eram compradas, como Hong Kong, como negocio, a área de soberania extra territorial de Shangai era a própria confissão da compra.

Em tempos modernos como encarar a soltura do maior chefe mafioso dos EUA, Lucky Luciano,(Salvatore Lucania) muito mais importante que Al Capone, cumprindo pena de 50 anos na penitenciaria de Sing Sing, a pedido da Inteligência Naval americana, para que o mafioso fosse um “batedor” na invasão da Sicília, pelas suas rede de ligações na sua terra natal. Como guia, Luciano pouparia vidas de soldados ao aliciar colaboradores por trás das linhas alemãs, servindo como “abre alas” das tropas do General Patton. Soltar Luciano era absolutamente imoral, mas RAZÕES DE ESTADO prevaleceram sobre a logica do sistema judiciário, um interesse maior de Estado se sobrepunha. Luciano prestou os serviços para os quais foi contratado pela Marinha e foi pago com a comutação da pena em 1948, assinada pelo Governador Dewey, de Nova York, com a condição de não mais voltar aos EUA. Luciano livre depois da Guerra teve ainda grande atividade criminosa como chefe de uma das cinco famílias e teve tempo para montar a grande rede de casinos em Cuba que controlou até a Revolução Castrista, morrendo de morte natural em Nápoles em 1962. O arranjo do Estado americano com Luciano foi absolutamente imoral e aético, mas prevaleceram as razões de Estado.

A Campanha Anti-Corrupção na América Latina

Um caso clássico do confronto entre “causas” e razões de Estado. Instala-se uma Associação Ibero Americana de Ministérios Públicos, declarando ser a união de 21 MPs de países do Continente e abre campanha internacional anti-corrupção, com aceitação de denuncias e troca de informações entre Ministérios Públicos. É um confronto absoluto entre “causas” e razões de Estado. Vamos ao exemplo da “reapolitik”. O Governo Brasileiro tem em um país vizinho um Chefe de Estado alinhado com os interesses do Estado Brasileiro. Esse Presidente dá preferencia a empreiteiras brasileiras para seu grande programa de obras publicas. O Estado brasileiro tem todo o interesse na permanência desse Presidente porque ele atende aos interesses do Brasil. Mas sai do Ministério Publico brasileiro documentação colaborativa que pode criar condições para um impeachment desse Presidente de pais vizinho por ter recebido doação de campanha de empreiteira brasileira. Para o Governo brasileiro a queda de um Presidente aliado vai contra os interesses do Estado brasileiro, essa “colaboração” do MP brasileiro com seus colegas do País vizinho vai contra as razões de Estado do Brasil, não pode acontecer porque o Brasil NADA GANHA com a queda desse Presidente, só perde e muito.

Essa seria uma situação de “realpolitik”, mas não está sendo operada pelo Brasil como Estado.

O MP brasileiro colaborou para derrubada ou desgate de Presidentes e políticos de países vizinhos e da África alinhados com os interesses do Estado brasileiro, grave erro de geopolítica.

O que o Brasil GANHOU em colaborar para a derrubada de políticos amigos? Absolutamente nada. Então porque fez? Porque o Estado brasileiro perdeu completamente o controle de sua projeção de poder geopolítico, permitindo o desgaste e, portanto, o enorme prejuízo de desmonte de posições politicas e econômicas em grande numero de países, conquistadas por suas empreiteiras e marqueteiros políticos operando em aliança para apoiar eleição de presidentes alinhados ao Brasil, um modelo engenhoso que foi implodido em nome da “causa’ universal anti-corrupção mas com enorme perda para os interesses estratégicos do Brasil.

Um Estado patrocina interesse nacional e não causas universais, que JAMAIS SÃO NEUTRAS, as causas servem como arma politica a todo tempo, não importa a intenção inicial de seus patrocinadores, causas podem atingir alvos imprevistos pelas suas boas intenções iniciais.

As causas “anti-corrupção” são as menos neutras entre todas porque seus efeitos POLITICOS são imediatos e concretos, mudam as peças do jogo do poder e com isso mudam o resultado da disputa politica no mundo real, o manejo dessa causa gera imenso poder politico, a causa nunca é neutra mesmo que essa seja a intenção de seus patrocinadores.

No Brasil os beneficiários dessa causa foram em larga medida os Estados Unidos e seu arco de interesses geopolíticos, financeiros e corporativos, o enfraquecimento da PETROBRAS se deu por causa da escandalização dos desvios e não por causa da corrupção, essa sempre existiu na Petrobras como em quase todas as estatais petrolíferas do mundo, mas essa falha moral já estava precificada pelos mercados. A super escandalização provocou ações de acionistas minoritários nos EUA e uma serie de multas e indenizações ainda não terminadas, esses processos custarão muito mais que as propinas, incluindo a colocação de monitores americanos do Departamento de Justiça dentro da Petrobras, a perda de independência da empresa é absoluta, para todos os efeitos práticos a Petrobras é governada de fora.

O pior resultado da campanha de “causas morais” foi a preparação de condições para duas grandes operações de desmonte do Estado e do sistema econômico brasileiro: a “privatização branca” da Petrobras pela venda de ativos sem licitação e contra a logica estratégica, provocando a DESINTEGRAÇÃO da petroleira, sendo a integração o padrão da concorrência e em segundo lugar venda de grandes blocos do PRE-SAL perdendo o Brasil a garantia de auto suficiência em petróleo, uma vez o petróleo extraído dos blocos vendidos pertencem a seus novos donos e poderá ser comercializado no mercado internacional, perdendo o Brasil sua garantia de abastecimento QUE ERA A RAZÃO DO PROJETO PRE SAL, desenvolvido desde o inicio pela técnica e esforço de pesquisa da Petrobras para suprir o Brasil de petróleo.

Ao lado desses prejuízos notórios há muitos outros. A quebra ou inviabilização de grandes construtoras e estaleiros, a transferência para o exterior de todas as encomendas de equipamento da Petrobras, na linha “preferencia pelo estrangeiro” em qualquer compra de qualquer natureza, toda uma visão esquizofrênica anti-brasileira e pro-estrangeiro DERIVADA DA IDEIA ANTI-CORRUPÇÃO cuja resultante foi a colocação de um notório privatista na sua presidência, como resposta à campanha de estigmatização da empresa.

Os Estados na lavagem de dinheiro

Grandes estados com interesse geopolítico global operam fundos encobertos para pagar operações especiais. A celebre operação IRÃ-CONTRAS no segundo Governo Reagan foi um complicado negocio envolvendo venda de armas ao Irã, que estava sob embargo resultante da invasão da Embaixada americana e o produto da venda destinado aos “contras”, milicianos que lutavam contra o domínio sandinista na Nicarágua, operação organizada pelo NSC, o Conselho Nacional de Segurança da Casa Branca, toda a operação clandestina do começo ao fim, sem passar pelo orçamento dos EUA, mas sob controle da Casa Branca.

A invasão da Baia dos Porcos em 1961 em Cuba, foi financiada com dinheiro de origem mafiosa numa operação organizada pela CIA, invasão que fracassou. Os mafiosos americanos controlavam o jogo e a prostituição em Cuba e se aliaram a CIA para uma tentativa de retomada de Cuba, o Estado americano aliado a grupos criminosos como na Sicília em 1943.

Mas a maior operação de lavagem de dinheiro praticada pelo Governo americano foi o financiamento do Vaticano no final da Segunda Guerra e nas três décadas seguintes.

Com o conflito na Itália entre 1943 e 1945, no quadro maior da Segunda Guerra, o Estado do Vaticano perdeu sua renda imobiliária que mantinha sua estrutura, no final da guerra em maio de 1945 a Itália, especialmente no Norte, viu um grande crescimento do Partido Comunista Italiano, o maior do Ocidente. Os Estados Unidos se preocupavam com a hipótese da Itália cair sob domínio comunista e somente o prestigio da Igreja poderia enfrentar essa ameaça. Allen Dulles, então chefe do OSS, escritório antecessor da CIA, arquitetou com o Vaticano a criação do Partido Democrata Cristão, que se tornaria o maior da Itália e a barreira contra o crescimento do PCI. Para financiar esse projeto, a CIA montou um esquema de financiamento do Vaticano e deste para o Partido Democrata Cristão que começava na Arquidiocese de Chicago destinando doações para o Vaticano, os recursos na realidade vinham de fundos da CIA. Para operar o sistema foi criado o IOR-Instituto de Obras Religiosas, conhecido como o “Banco do Vaticano”, sob a direção do Arcebispo Marcinkus, da Arquidiocese de Chicago e foi esse o canal financeiro que construiu o partido que governou a Itália por boa parte da segunda metade do Século XX.

Outra operação com dinheiro de origem não oficial organizada pela CIA foi o financiamento da Organização Gehlen, um vasta rede de espionagem dentro da antiga URSS herdada do serviço de inteligência do Exercito alemão e chefiada pelo general do Terceiro Reich Reinhard Gehlen, com mais de 1.000 agentes operando na União Soviética. O financiamento vinha de fundos secretos da CIA, sem registro e durou por boa parte do período da Guerra Fria.

Operações com dinheiro encoberto foram usadas em larga escala na invasão e ocupação do Iraque pelos serviços de inteligência americanos, conforme já relatei aqui em artigos específicos quando foram usados intensamente bancos de Beiruth e tradings polonesas como dutos de recursos para pagamentos dentro do Iraque.

O desastre brasileiro no acordo de cooperação judiciária com os EUA

Um dos atos governamentais mais desastrosos da Historia brasileira foi a assinatura pelo governo FHC de um “acordo” judiciário com os EUA, em 2001. Pode-se dizer sem chance de erro que esse acordo é o ninho da cruzada moralista e por tabela a semente da liquidação da PETROBRAS e da alienação do pre-sal. O enfraquecimento da PETROBRAS, submetida a extorsões sob pretextos de prejuízo a acionistas americanos, infringência a leis americanas anti-corrupção e outras sangrias sem fim já na casa dos bilhões de dólares, mais a colocação de “monitores” americanos, indicados pelo Departamento de Justiça em Washington, DENTRO da Petrobras para controlar suas operações, tudo isso ocorreu com base nesse fatídico Acordo de 2001, guarda chuva da cruzada moralista anti-corrupção, na realidade uma operação de grande porte disfarçada de “causa” para submeter o Estado brasileiro sob o manto do moralismo aplicado à politica, um instrumento tóxico pelos danos que causa à força do Estado.

Ao levar documentos e provas contra a PETROBRAS ao Departamento de Justiça para que este processasse a PETROBRAS, ao permitir que promotores americanos viessem ao Brasil interrogar delatores brasileiros, INOMINAVEIS AGRESSÕES foram cometidas contra o Estado brasileiro, seus interesses estratégicos, seu patrimônio e seu projeto geopolítico natural.

O Brasil e sua população pagam hoje com desemprego e pagarão no futuro com imensa perda de riquezas e patrimônio nacional, a leviandade com que o Poder Executivo e o Congresso brasileiro sem qualquer escrutínio de interesse nacional aprovaram esse absurdo “Acordo” sem nenhuma logica em torno algum objetivo estratégico para o Estado brasileiro, Acordo onde só o Brasil gera benefícios aos EUA e de lá não vem beneficio algum ao Brasil, servindo de cobertura para intromissão de Washington em assuntos brasileiros sem que reciprocamente o Brasil possa fazer o mesmo, como se viu no caso dos pilotos do Legacy, onde o tal Acordo não serviu para nada porque ele não atua onde há interesse dos EUA.

O Acordo de 2001, assinado por Fernando Henrique Cardoso e Celso Lafer é na realidade uma operação de projeção de poder dos EUA, como foi a operação de salvamento financeiro do Vaticano ou o conjunto de operações que levaram à invasão do Iraque em 2003.

Seus frutos finais atingem a PETROBRAS e o pre-sal, entre muitos outros resultados.

A presença geopolítica do Brasil na África

De todos os grandes países com potencial de ação internacional, o Brasil é o mais natural parceiro da África, pela sua diversidade cultural, étnica, religiosa, pela facilidade de convívio de seu povo com outras culturas, o Brasil é especialmente bem recebido nos países africanos, o que de forma alguma acontece com nossos concorrentes na área, os chineses, indianos, malaios, povos étnicos, com culturas fechadas, que não convivem bem com outras culturas e povos, não estão acostumados como os brasileiros à mescla de civilizações e hábitos.

Os chineses são recebidos hoje na África por falta de opção, mas o Brasil tem vantagens únicas para atuar no campo de obras publicas e grandes projetos no continente africano.

Enquanto no canteiro de obras de empreiteiras brasileiras há jogos de futebol com os locais, todos participam e se confraternizam, nos canteiros chineses, turcos, indianos isso é praticamente impossível, não se misturam, tem hábitos e costumes fechados, não mudam, são guetos implantados, a comida tem que ser importada, não há LIGA com a população local.

Pela mesma razão forças armadas brasileiras são as preferida para as missões de paz da ONU, sãos as mais bem recebidas em qualquer lugar e por sua vez se sentem bem em todo lugar.

As Empresas “Braço Longo”

Os grandes países usam empresas como braços de projeção de poder, o mundo se acostumou a ver a Standard Oil, a Texaco, o City Bank, a Pan American, a IBM e a ITT como braços do governo dos EUA, funcionavam não só como empresas comerciais, mas tinham também papel diplomático, de espionagem, de penetração estratégica, a Inglaterra tinha essa relação com a Shell e a Unilever, a Alemanha com a Siemens, a França com a Schneider, a Rhodia e a Cegelec, a empresa estratégica do Brasil seria a Odebrecht, liquidada pela cruzada moralista, empresa que chegou a ter 10% do PIB de Angola e operações em 30 países, em alguns, como no Peru, era a maior construtora, o mesmo no Equador, Republica Dominicana, etc.

Na Segunda Guerra foi a hoje extinta Pan American Airways quem construiu os aeroportos que seriam as bases aéreas para a invasão da África do Norte pelo Exercito americano, atuando como braço longo do Governo dos EUA no Brasil.

Os grandes países expansionistas USAM essas empresas “LONG ARM”, braço longo do Estado, para pagar espiões, operações especiais, proteger aliados dentro dos países, financiar campanhas, providencia empregos e exílios, TODOS os grandes países operaram suas relações internacionais usando empresas “braços longos” como INSTRUMENTOS de sua politica externa para tarefas onde o próprio Estado não deve aparecer. A Texaco foi fundamental para a vitória de Franco na Guerra Civil Espanhola, fornecendo petróleo a credito ao Exercito nacionalista como braço longo do Departamento de Estado, a ITT foi fundamental na derrubada de Allende no Chile em 1973, a IBM ficou na Alemanha nazista até dezembro de 1941 como olhos do Departamento de Estado mesmo após dois anos de guerra na Europa.

O que fez o Brasil? Liquidou com suas empresas “ponta de lança” em nome da moral, pelo caminho liquidando os políticos que ajudaram as empresas e o Brasil em projetos brasileiros em seus países, que abriram as portas ao Brasil e seus negócios e interesses. Nenhum País faz isso, perseguir suas próprias empresas no exterior, são armas nossas, todos vestem a mesma camisa, se alguém quiser investiga-las que sejam os países prejudicados e não o pais sede da empresa, é algo tão absolutamente obvio que custa a crer tenha ocorrido com o Brasil,, onde empresas brasileiras são DENUNCIADAS por procuradores brasileiros aos seus colegas do pais anfitrião, mas com que interesse do Brasil? Não é possível descobrir. Não consta que o governo do EUA faça o mesmo com suas multinacionais no Brasil, ele as protege em qualquer circunstancia, aliás e uma das principais funções da diplomacia americana em todo o mundo.

Será historicamente incalculável o prejuízo do Brasil ao cortar a ação de suas empresas de engenharia no exterior em nome do moralismo, assim como foi uma tragédia para a diplomacia brasileira a queda de um Presidente do Peru, pais vizinho, estratégico e importantíssimo para o Brasil, por denuncias vindas do Brasil. O que ganhou o Brasil com a queda de Pedro Pablo Kuczinsky? Nada, mas perdeu projeção de poder no Peu pelos próximos 30 anos. Como é possível o Estado brasileiro ter permitido isso? Não há resposta.

As “Causas” como Armas da Política 

As causas morais de todos os tipos, humanitárias, ecológicas, anti-corrupção, de direitos humanos, religiosas, servem como ARMA POLITICA sob a capa da virtude.

Uma histórica grande “causa” usada como arma politica foi a das CRUZADAS, verdadeiras operações de saque e tomada de território sob a capa de “reconquista dos lugares santos”.

A partir da Era dos Descobrimentos e depois na Era das Colonizações a pregação religiosa foi usada largamente como aríete de conquista de terras e riquezas. A bandeira era a “conversão dos infiéis”, o alvo real era a pura e simples busca do ouro em todas suas formas.

Parece incrível que ainda hoje não se entenda o uso claro e a luz do dia de “causas” como peças do jogo politico e não da propagação da virtude e da pureza moral.

Através dos tempos, o resultado final das lutas por ‘CAUSAS”, tem tido um saldo desastroso.

O rescaldo dos destroços deixados por essas lutas custa muito caro na Historia. A LEI SECA Americana, assinada pelo Presidente Woodrow Wilson em 1919, o primeiro Presidente “politicamente correto” dos EUA, não reduziu o alcoolismo e ao criar o espaço para o contrabando de bebidas fez a fortuna e o poder da MAFIA no País, o saldo da CAUSA moral foi o pior possível, como costuma acontecer por toda Historia.

“Causas morais” não podem reger a politica de um grande Estado, é a lição da Historia.

Ao se intrometerem na POLITICA, causam imensos estragos, outra lição da Historia.

O ambiente da politica nacional e internacional NÃO é puro e nunca foi por toda a História conhecida, ao tentar purifica-lo matam-se os germes ruins e os bons juntos, no ambiente asséptico nasce um germe novo muito mais agressivo, a terceira lição da Historia.

A Rússia apresenta o seu próprio míssil “Carrier Killer”, e este é mais perigoso que o da China

Como o Kh-47M2 pode alterar drasticamente o equilíbrio de poder no Pacífico.

Por:  Abraham Ait 

Fonte:  The Diplomat (12 de maio de 2018).

O míssil balístico “matador de Porta-Aviões” da China, o DF-21D, ganhou manchetes desde que entrou em serviço, em 2010, por sua capacidade de destruir grandes navios de guerra dos EUA até 1.450 quilômetros de distância das costas do país. O míssil foi fundamental para alterar o equilíbrio de poder nos mares do Sul e do Leste da China a favor de Pequim e expandiu vastamente a zona marítima de negação / defesa de área (A2 / AD) do país em face da crescente presença naval americana. A Marinha dos Estados Unidos, pela  admissão do Instituto Naval dos EUA não tinha defesa contra tais ataques, e o míssil limita a capacidade dos Estados Unidos de responder a uma crise potencial no Estreito de Taiwan, como ocorreu em 1996. Embora o DF-21D seja um sistema de armas único e altamente formidável, um novo sistema de armas implantado a partir de 2018 é susceptível de representar uma ameaça muito maior para os navios de guerra dos EUA no Pacífico – o novo míssil hipersônico Kh-47M2 Kinzhal das forças armadas russas.

O Kinzhal (Adaga) foi revelado pessoalmente pelo presidente russo, Vladimir Putin, em março de 2018, como uma das seis novas armas hipersônicas que entrariam em serviço nas forças armadas russas. Enquanto outras plataformas hipersônicas, caso do Sarmat ((ICBMS: míssil balístico intercontinental) e da ogiva (veículo de entrada hipersônico de precisão) Avangard, que foram projetados unicamente para cumprir um  papel estratégico de ataque nuclear, o que faz com que o Kinzhal se destaque é a sua capacidade de ser usado como uma plataforma de ataque tático com uma ogiva não nuclear – o que equivale dizer que ele faz dos campos de batalha um cenário para ataques de precisão contra alvos militares. Embora o Kinzhal possa carregar uma ogiva nuclear para um papel de ataque estratégico, o que o torna verdadeiramente inestimável é sua capacidade de cumprir um papel tático de caçar navios em escalas extremas – possivelmente melhor do que qualquer outra plataforma de mísseis de longo alcance atualmente em serviço em outros lugares.

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MiG-31K portando o míssil “Khinzal”. Foto: internet.

A ogiva de Kinzhal é estimada entre 500 e 700 kg, uma carga útil formidável, embora seja bem inferior à do DF-21D chinês. O que diferencia o Kinzhal, no entanto, e o torna um caçador de navios verdadeiramente letal é sua combinação de precisão, alcance e velocidade de impacto hipersônica, acima de Mach 5. Mesmo sem ogiva, a energia cinética desse impacto seria suficiente para colocar fora de combate se não destruir, completamente, até mesmo o maior dos navios de guerra. Alguma indicação de seu poder pode ser obtida examinando o míssil de cruzeiro anti-navio BrahMos, russo-indiano, uma plataforma restrita a velocidades de Mach 2.8 e dotado de uma ogiva com 250 kg, que foi desenvolvida para destruir navios grandes, cortando-os pela metade com a pura força do seu impacto em alta velocidade – e apesar da falta de velocidades hipersônicas, provou-se capaz de fazê-lo. A partir disso, pode-se inferir que o Kinzhal (é capaz de fazer).

De acordo com o vice-ministro da Defesa da Rússia, Yuriy Borisov, os militares já modificaram dez interceptadores MiG-31 para portar os mísseis ar-mar Kinzhal desde março. O oficial afirmou sobre as capacidades da arma: “Esta é uma classe de armas de precisão que tem uma ogiva multifuncional capaz de atacar alvos estacionários e em movimento… (Isto) decola no ar, acelera a uma certa velocidade em alta altitude, e então o míssil inicia seu próprio movimento autônomo”. Ele enfatizou a importância de uma alta velocidade de impacto para o desenho de Kinzhal, e ainda afirmou que o o míssil foi projetado para “manobrar durante o vôo e contornar zonas perigosas contendo sistemas de defesa antiaéreos ou antimísseis (…)”.

Várias figuras-chaves militares dos Estados Unidos observaram após a revelação russa dos seus novos mísseis hipersônicos, que os Estados Unidos atualmente não possuem capacidade de interceptar ataques em tão alta velocidade, estando o Comandante Estratégico, John Hyten, afirmado  durante uma reunião do Comitê de Serviços das Armas do Senado que os sistemas de defesa aérea dos EUA permanecem totalmente incapazes de impedir ataques por plataformas hipersônicas. De fato, de acordo com vários relatos de fontes norte-americanas, algumas das mais avançadas plataformas militares de defesa aérea lutaram e falharam recentemente em Interceptar até mesmo os ataques de mísseis subsônicos como o Scud B, um projeto primitivo que data de mais de 50 anos. Isso tem sérias implicações não apenas para o continente americano diante dos novos ICBMs russos, mas também para a Marinha dos EUA, que poderia ver seus destróieres e transportadores (Porta-Aviões) afundados pelas novas plataformas de ataque Kinzhal de maneira extrema em caso de conflito.

Embora a Rússia tenha pouca necessidade de mísseis anti-navios de longo alcance em suas fronteiras ocidentais, onde as distâncias marítimas estão relativamente confinadas (por imperativo geográfico), a implantação do Kinzhal no Extremo Oriente do país teria implicações significativas para o equilíbrio de poder no Pacífico. Com o interceptor MiG-31 mantendo um raio de combate de 1.500 km, a Força Aérea Russa seria capaz de atingir navios de guerra dos EUA a até 3.500 km de distância de suas costas. Deveriam combater com aeronaves desdobradas, próximas de Vladivostok, no extremo oriente da Rússia, a sua área de ataque cobriria todo o Mar da China Oriental e grande parte do Mar da China Meridional, até as Filipinas e incluindo toda a região marítima contestada reivindicada pela China e sujeita à liberdade dos EUA com as suas patrulhas de navegação. As implicações são realmente severas e poderiam muito bem fortalecer seriamente a posição de Moscou no Pacífico. Se a Rússia visar negar aos recursos navais dos Estados Unidos e dos seus aliados, negando o acesso aos mares do sul e do leste da China, seja para ajudar Pequim, ou por suas próprias razões, teria uma arma à sua disposição mais capaz de fazê-lo do que aquelas que possuem, atualmente, as mãos chinesas. Moscou poderia alavancar esse ativo para ganhar influência considerável no Pacífico, o que pode mais do que compensar a relativa escassez dos seus recursos militares na região.

O Kinzhal ainda pode usurpar o título de “matador de Porta-Aviões” do Pacífico e facilitar o objetivo russo/chinês de reduzir a influência e a presença militar do bloco ocidental no Pacífico, deixando a frota de superfície dos EUA efetivamente indefesa – minando o incontestado domínio naval dos EUA, que tem sido o alicerce da ordem regional desde 1945.Quanto a Moscou é altamente provável que venha alavancar este formidável ativo para a sua vantagem no futuro.

Abraham Ait é um analista militar especializado em segurança na Ásia-Pacífico e no papel do poder aéreo na guerra moderna. Ele é editor-chefe da  Military Watch Magazine ..

Assad venceu! O Ocidente talvez não acredite, mas parece que a guerra na Síria está acabando

Por: Robert Fisk
Fonte: The Independent
Tradução: Oriente Mídia

Com todos aguardando que Trump inicie a Guerra Mundial n. 3, nem percebemos que o mapa do Oriente Médio substancialmente, sangrentamente, já está mudado. Passarão anos, antes que Síria e Iraque (e Iêmen) se reconstruam – e os israelenses talvez precisem pedir a Putin que limpe a sujeira em que Israel está metida.

Recebi uma mensagem vinda da Síria, semana passada, no meu celular: “O general Khadour cumpriu o que prometeu”. Entendi perfeitamente.

Há cinco anos, encontrei Mohamed Khadour, que comandava uns poucos soldados sírios num pequeno subúrbio de Aleppo, sob fogo de combatentes islamistas no leste da cidade. Naquela ocasião, mostrou-me seu mapa. Recapturaria aquelas ruas em 11 dias, disse-me ele.

Depois, em julho desse ano, novamente encontrei Khadour, no fundo do leste do deserto da Síria. Estava, disse-me ele, pronto para entrar na cidade sitiada de Deir ez-Zor antes do fim de agosto. Lembrei-o, rematada crueldade, de que na última vez em que ele me dissera que recapturaria parte de Aleppo em 11 dias, o exército sírio precisou de mais de quatro anos! Isso foi antes, disse-me ele. Naquele tempo, o exército ainda não sabia combater em guerra de guerrilha. O exército era treinado para retomar Golan e defender Damasco. Hoje, é diferente. Já aprenderam.

Realmente aprenderam. Em pleno deserto, Khadour disse que bombardearia a cidade de Sukhna – a maior parte do bombardeio ficaria por conta dos russos –, e suas tropas sírias romperiam o cerco por ali até Deir ez-Zor, que estava cercada pelo ISIS já há três anos, com 80 mil civis e 10.000 soldados sitiados. Khadour disse que estaria em Deir ez-Zor mais ou menos dia 23 de agosto. Acertou quase exatamente. E agora avança rumo ao que resta da cidade de Deir ez-Zor e dali rumo à fronteira sírio-iraquiana.

Assim sendo – depois de completada a captura da cidade, e quando Khadour estiver na fronteira, e agora que Aleppo está totalmente em mãos do governo sírio, e só a província Idlib ainda resta como lata de lixo do que resta sobretudo de rebeldes islamistas (incluindo a al-Qaeda), muitos dos quais foram autorizados a viajar em troca de se renderem e entregarem quarteirões e bairros de cidades sírias –, o que sempre foi impensável no ocidente já está afinal acontecendo: os soldados de Bashar al-Assad, ao que tudo indica, venceram a guerra.

E não é só “ao que tudo indica”. Hassan “Tiger” Saleh, oficial estrela do exército sírio – condecorado duas vezes pelo ministro de Defesa da Rússia – abriu caminho até o prédio da 137ª brigada do Exército da Síria em Deir ez-Zor e libertou os soldados que lá estavam, enquanto Khadour, seu oficial comandante (os dois são amigos pessoais) está a caminho de libertar a base aérea na cidade.

Quantos recordam o dia em que os norte-americanos bombardearam soldados sírios próximos daquela base aérea e mataram mais de 60 soldados, permitindo assim que o ISIS avançasse para o resto da cidade? Os sírios jamais acreditaram no que os norte-americanos disseram, que o ataque resultara de “um erro”. Até que os russos ‘informaram’ à força aérea dos EUA que estavam bombardeando forças sírias.

Os britânicos parecem ter entendido a mensagem. Discretamente retiraram semana passada seus instrutores militares – os homens cuja tarefa seria preparar os místicos “70 mil rebeldes” de David Cameron, que supostamente logo derrubariam o governo de Assad. Até o relatório da ONU segundo o qual o regime teria assassinado 80 civis num ataque com gás, no verão, passou quase sem referência entre políticos europeus tão habituados a aumentar os crimes de guerra na Síria e a apoiar o estúpido ataque com míssil cruzador ordenado por Trump contra uma base aérea síria.

E que tal Israel? Aí está uma nação que realmente tinha certeza do fim de Assad, a tal ponto que bombardeou soldados sírios, além de bombardear o Hezbollah e o Irã, aliados da Síria, e dar atendimento médico a terroristas islamistas que fugiam da Síria para cidades israelenses. Não surpreende que Benjamin Netanyahu estivesse tão “agitado” e “emocional” – palavras dos russos – quando Vladimir Putin o recebeu em Sochi. O Irã é “aliado estratégico” da Rússia na região, disse Putin. Israel é “parceiro importante” da Rússia. Duas coisas completamente diferentes, e absolutamente nada do que Netanyahu desejava ouvir.

As repetidas vitórias dos sírios significam que o Exército Árabe Sírio é hoje um dos mais “enrijecidos no calor dos combates” de toda a região; formado de soldados habituados a defender a própria vida, e hoje treinados em coordenação de tropas e de inteligência, a partir de um só centro de comando. Como disse a ex-professora de St Antony’s College Sharmine Narwani essa semana, essa aliança conta hoje com a cobertura política de dois membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, Rússia e China.

Assim sendo, o que fará Israel? Netanyahu viveu sempre tão obcecado com o programa nuclear iraniano que visivelmente jamais imaginou – e nem ele, nem Obama, Hillary Clinton, Trump, Cameron, May, Hollande e outros luminares das elites políticas ocidentais – que Assad pudesse vencer, e que, das ruínas de Mosul poderia nascer um exército iraquiano muito mais poderoso.

Netanyahu ainda apoia os curdos, mas nem Síria nem Turquia nem Irã, nem Iraque têm qualquer interesse em apoiar aspirações nacionalistas dos curdos – apesar de os EUA usarem milícias curdas nas chamadas Forças Sírias Democráticas (muito mais curdas que “sírias” e “democráticas” e sequer algum tipo de “força”, se não contarem com cobertura da Força Aérea dos EUA).

Elementos da direita política israelense que diziam que Assad seria perigo muito maior que o ISIS talvez sejam obrigados a reconsiderar – no mínimo, porque Assad provavelmente será o homem com quem Israel terá de conversar, se quiser manter segura a sua fronteira norte

Tudo que você precisa saber para entender a força-tarefa naval russa ao largo do litoral sírio

Autor: The Saker,

Fonte original: Unz Review e The Vineyard of the Saker.

Fonte em português: Oriente Mídia

Data da publicação original: 25.10.2016

Tradução: Coletivo de tradutores da Vila Vudu.

 

A máquina de propaganda do Império Anglo-sionista, codinome “mídia-empresa”, enfrentou graves dificuldades para decidir o que devia publicar sobre a força-tarefa naval russa enviada para a Síria.

Afinal, os norte-americanos decidiram manifestar o desprezo de sempre por qualquer coisa que sugira Rússia e descreveram essa força como se construída em torno do porta-aviões “geriátrico” Almirante Kuznetsov; os britânicos optaram por descrevê-la como uma formidável “armada” a ponto de dar cabo, para sempre, dos terroristas moderados que há na Síria.

Meu amigo Alexander Mercouris recentemente escreveu análise soberba, explicando que, na realidade, essa força-tarefa não é nem geriátrica nem formidável. Em vez de repetir tudo aqui, prefiro escrever o que entendo que possa ser uma ‘atualização’ daquele excelente artigo, com uns poucos detalhes acrescentados. Primeiro passo: desmontar algumas concepções básicas erradas.

Comecemos pelo porta-aviões russo.

O “Cruzador Pesado Porta-aviões Almirante da Frota Soviética Kuznetsov”

Fiquem sabendo que os russos sequer chamam o Almirante Kuznetsov de porta-aviões. A designação oficial do Kuznetsov é “Cruzador Pesado Porta-aviões”. É importante entender por quê.

O que, na opinião de vocês, é um porta-aviões? Ou, dito de outro modo: por que os EUA mantêm uma força de 10-12 porta-aviões pesados? A acreditar-se no que dizia Ronald Reagan, seria para “posicionar adiante” [ing. “forward deploy”] e levar a guerra aos sovietes (essa era, então, a justificativa para haver 600 navios de guerra e porta-aviões dos EUA no Atlântico Norte). Nada poderia ser mais distante da verdade. De fato, porta-aviões de EUA, britânicos e franceses são ferramenta para impor o mando colonial. Você estaciona um ou dois grupos de combate naval em torno de um porta-aviões a umas poucas milhas de colônia desobediente, e bombardeia até cansar, ou até que a colônia se renda. Essa é, de fato, a única justificativa para tais descomunais estruturas. A beleza da coisa é que você pode ameaçar todo o planeta e que você não depende de aliados que concordem com sua missão. Assim sendo, pode-se dizer que porta-aviões dos EUA e de outros países ocidentais são uma projeção de capacidade de poder de longo alcance usados contra países pobres e fracamente defendidos.

Por que pobres e por que fracamente defendidos?

Aqui se chega ao feio segredo que todos sabem: porta-aviões não podem ser defendidos de ataque de inimigo sofisticado. Se a Guerra Fria tivesse esquentado, os soviéticos teriam atacado simultaneamente qualquer porta-aviões que vissem pela frente em todo o Atlântico norte, com um combo de:

Mísseis cruzadores lançados do ar;

Mísseis cruzadores lançados de submarinos;

Mísseis cruzadores lançados de navios de superfície;

Torpedos lançados de submarinos.

Kuznetsov lança um SU-33

O cruzador de combate movido a energia nuclear Pedro O Grande

Granit P-700 (3M45) de 7 toneladas

Esse é força da pesada e atualmente é a nave de guerra mais pesadamente armada de todo o planeta. Nem vou entrar em detalhes aqui. Os interessados encontram aqui uma lista de armas ali transportadas. Basta dizer que esse cruzador de combate pode fazer de tudo: antiaéreo, antinavios, antissubmarino. Está armado com sensores top de linha e comunicações avançadas. Sendo a nave madrinha da Frota do norte, é, na verdade, a nave madrinha de toda a Marinha Russa. Por último, mas não menos importante, o Pedro O Grande transporta carga formidável de 20 mísseis anti-superfície Granit (antinavios). Vejam, por favor, que o poder de fogo combinado dos mísseis antinavios Granit do Kuznetsov e do Pedro O Grande é 12+20, num total de 32. Adiante explicarei por que isso é importante.O restante da força-tarefa é composta de duas Grandes Naves Antissubmarino (“destroieres”, na terminologia ocidental), mais o Vice-almirante Kulakov e o Severomorsk, mais vários navios de apoio. O Kulakov e o Severomorsk são baseados no design Udaloy e são naves de combate modernas e de alta capacidade. Todas essas naves logo serão reunidas numa força, incluindo dois pequenos navios mísseis (corvetas, na terminologia ocidental) armados com os famosos mísseis cruzadores Kalibr especializados em ataques a navios de superfície. Por fim, embora nada disso venha a ser anunciado, creio que essa força-tarefa incluirá dois submarinos nucleares de ataque da classe Akula; um submarino míssil cruzador Oscar-II (armado com outros 12 mísseis cruzadores Granit) e vários submarinos elétricos-a-diesel da classe Kilo.Em resumo, o que ficou dito até aqui.A força-tarefa naval russa é tentativa, pelos russos, de reunir vários navios que jamais foram projetados para operar como uma única força-tarefa naval muito longe de território russo. Se quiserem, foi “sacada” muito esperta dos russos. Eu diria também que é sacada muito bem-sucedida, dado que essa força-tarefa é toda ela muito impressionante. Não, não pode ‘dar conta’ de toda a OTAN, sequer da Marinha dos EUA, mas pode fazer muitas coisas com muita efetividade.

Agora, a grande pergunta: O que a força-tarefa naval russa na Síria pode realmente fazer?

Antes de considerarmos o grande quadro, há um detalhe que acho que merece ser mencionado aqui. Praticamente tudo que leio sobre o míssil cruzador Granit diz que é míssil cruzador antinavios. Também escrevi isso, para manter as coisas em nível bem simples. Mas agora tenho de dizer que o Granit provavelmente sempre teve um modo “B” (B de beregovoy ou, se preferirem, modo “costeiro” ou “de terra”). Não sei se esse modo existiu sempre, desde o primeiro dia, ou se foi acrescentado depois, mas hoje já é absolutamente certo que o Granit tem esse modo. Foi provavelmente uma capacidade bem minimalista, sem auto-orientação e outros truques (que o Granit tem em seu modo principal antinavios), mas os russos revelaram recentemente que os Granits atualizados têm agora capacidade *real* (“complexa”) de ataque em terra. E isso exige que se reexamine o que essa novidade significa para essa força-tarefa. Eis o que sabemos do Granit novo e aprimorado (ao qual os russos referem-se como 3M45):

Resumindo tudo isso: o Kuznetsov é ótimo transportador de aviões que ainda assim reflete uma filosofia de projeto datada, que jamais considerou projetar o poder russo para longas distâncias, como acontece com os porta-aviões ocidentais, especialmente dos EUA.Agora, consideremos o restante da força-tarefa naval russa.O restante da força-tarefa naval russa em torno do Kuznetsov. Um grande nome imediatamente se destaca: o Cruzador Pesado Movido a Energia Nuclear Pedro O Grande.

Não posso provar o que digo a seguir, mas posso dar o testemunho de incontáveis amigos nas forças armadas dos EUA, inclusive vários que serviram em porta-aviões dos EUA, e todos eles compreendiam claramente que os porta-aviões dos EUA jamais sobreviveriam a ataque soviético de saturação, e que em caso de guerra de verdade teriam de ficar bem longe de litorais soviéticos. Acrescento apenas que os chineses, ao que parece, desenvolveram mísseis balísticos especializados, projetados para destruir grupos de combate de porta-aviões. Isso há tempos, no início dos anos 1990s. Hoje, até países como o Irã já começam a desenvolver capacidades para enfrentar e destruir com sucesso porta-aviões dos EUA.Os soviéticos jamais construíram qualquer verdadeiro porta-aviões. Tinham “cruzadores” com capacidade muito limitada para transportar aeronaves de decolagem vertical e, claro, helicópteros. Esses cruzadores tinham dois principais objetivos: ampliar o alcance das defesas aéreas soviéticas e apoiar o desembarque de força vinda do mar. Um traço muito especial desses cruzadores para transporte de aviões é que transportam mísseis cruzadores muito grandes (4,5-7 toneladas) projetados para atacar naves inimigas de alto valor, inclusive porta-aviões dos EUA. Podem ler aqui sobre o cruzador “da classe Kiev” para transporte de aeronaves. Outra característica chave desses cruzadores soviéticos transportadores de aeronaves é que transportavam uma aeronave cheia de problemas, a Yak-38 que seria alvo fácil para os F-14, F-15, F-16 ou F-18 dos EUA. Por essa razão, as defesas aéreas de classe-Kiev centraram-se em seus mísseis terra-ar, não no complemento de outras aeronaves. Quando o Kuznetsov foi construído, os soviéticos haviam desenvolvido aeronaves que eram no mínimo iguais, se não superiores, às contrapartes ocidentais: o MiG-29 e, especialmente, o SU-27. E isso deu a alguns soviéticos a ideia de construírem um porta-aviões “de verdade”.A decisão de construir o Kuznetsov foi extremamente controversa e enfrentou muita oposição. Os ‘pontos de venda’ do Kuznetsov eram a plataforma de defesa aérea muito superior; o fato de que podia transportar aeronaves muito superiores e por fim, mas não sem importância, que podia competir, em termos de prestígio, com os pesados porta-aviões norte-americanos, especialmente o planejado mas jamais construído porta-aviões movido a energia nuclear de uma geração futura. Considero esse argumento completamente não convincente; hoje já confio que a maioria dos planejadores da força naval russa concordariam comigo: a Rússia não precisa de porta-aviões de estilo norte-americanos, e se precisar de porta-aviões, mesmo de outro tipo, eles terão de ser projetados segundo padrões russos, para missões concebidas pelos russos, não como cópia dos norte-americanos.[Barra lateral: Eu adoraria pegar minha canastrinha de ideias e contar a vocês tudo que penso, de ruim, sobre porta-aviões em geral, e por que penso que a Marinha Russa devia ser centrada em submarinos e fragatas, mas isso tomaria todo meu espaço. Direi só que sempre preferirei ter muitas fragatas ou corveta, a ter uns poucos cruzadores pesados].

Assim o Kuznetsov acabou por ser uma mega concessão e, em matéria de concessão, uma bastante interessante. Pensem: transporta 12 mísseis massivos antinavios da classe Granit, e tem também, potencialmente, um complemento em aeronaves maior que o francês Charles de Gaulle (50 contra 40). Inicialmente, o Kuznetsov transportava 12 ar-ar puros SU-33, mas agora foram gradualmente substituídos por 20 MiG-29K muito mais modernos e seus 24 helicópteros Ka-27 serão substituídos pelos helicópteros de reconhecimento e ataque mais avançados do planeta hoje, o Ka-52K. O Kuznetsov mesmo assim tem dois grandes pontos fracos: uma propulsão sem dúvida datada (vejam o artigo de Mercouris) e a falta a bordo de um sistema AWACs. Esse último ponto fraco é consequência da filosofia de projeto do Kuznetsov, que nunca foi pensado para operar a distâncias acima de 500-1.000km das fronteiras russas (mais uma vez, a filosofia de planejamento da força russa, sempre para menos de 1.000km).

Massa: 7 toneladas;

Velocidade: Mach 1,5-2;

Alcance: 500-600 km; e

Ogiva: 750 kg (pode ser convencional e nuclear).

O Granit também é capaz de coisas muito avançadas, inclusive um míssil (destacado) que voa a 500m ou mais, para detectar o alvo e o restante da salva que parte rasante sobre a superfície ao mesmo tempo em que recebe dados daquele que voa acima. Esses mísseis também são capazes de atacar automaticamente de diferentes direções, para desnortear as defesas. Podem voar baixo, a 25m; e alto, a mais de 17 mil metros. Tudo isso significa que estes mísseis Granits são vetores de alta capacidade tático-operacional. E considerando que há, no mínimo, 32 desses na força-tarefa russa (46, se houver ali um submarino classe Oscar-II), significa que a força-tarefa tem poder tático para tiros de míssil similar ao de uma brigada completa de foguetes! Se as coisas ficarem realmente feias, essa força-tarefa pode não só ameaçar seriamente qualquer nave de superfície da Marinha dos EUA/OTAN a 500 km de distância da Síria, mas, também, qualquer cidade ou base militar nessa distância. Muito me surpreende que os doidos-por-guerras ocidentais tenham deixado passar esse detalhe, porque, sim, é coisa para assustar a OTAN muito, muito mesmo :-)Para ser honesto, alguns especialistas têm manifestado muitas dúvidas sobre as capacidades do Granit para ataque em terra. Todos sabem que são mísseis relativamente velhos e muito caros, mas ninguém sabe a quantidade de trabalho investido para modernizá-los. Mas ainda que tenham capacidades muito mais reduzidas do que foi anunciado, o fato de haver entre 32 e 46 desses mísseis ali perto, ao largo da costa da Síria, é formidável fator de contenção, porque ninguém jamais saberá o que esses mísseis podem fazer, até que tenham já feito.

Assim sendo,

As capacidades combinadas da força-tarefa naval russa e dos mísseis S-300/S-400 dispostos na Síria dão aos russos capacidade de defesa aérea de categoria mundial. Se preciso, os russos podem até lançar em combate os A-50 AWACs a partir da Rússia protegidos por MiG-31BMs. O que a maioria dos observadores não percebem é que aquele SA-N-6 “Grumble” que constitui o núcleo duro do Pedro O Grande é um S-300FM, a variante naval modernizada do S-300. Também é capaz de velocidade considerável (Mach 6), tem alcance de 150 km, capacidade acrescentada de um terminal infravermelho, um sistema de míssil-guia que lhe permite atacar mísseis balísticos e altitude ‘envelope’ de 27km. Além disso, adivinhem – o Pedro O Grande tem 48 desses mísseis (em 20 plataformas de lançamento) o equivalente a 12 baterias S-300 (considerando quatro lançadores por bateria).

Uma das maiores fragilidades da força que os russos alocaram na Síria é o número relativamente baixo de mísseis que podem ser disparados ao mesmo tempo. As forças de EUA/OTAN podem simplesmente saturar as defesas russas com grande número de mísseis. É verdade que, sim, continuam a poder fazer isso. Mas agora a coisa está muito, muito mais difícil.

Os russos podem fazer parar um ataque dos EUA contra a Síria?

Provavelmente, não.

Mas podem torná-lo muito mais difícil e dramaticamente menos efetivo.

Primeiro, logo que os EUA disparem os russos verão o disparo e alertarão as forças sírias e russas. Dado que os russos têm meios para rastrear todos e quaisquer mísseis dos EUA, podem passar os dados para todas as suas tripulações de defesa, que estarão a postos quando os mísseis chegarem. Além disso, quando os mísseis estiverem próximos, os russos com certeza derrubarão vários deles, obrigando os norte-americanos a calcular (do espaço) os danos e re-atacar os mesmos alvos muitas e muitas repetidas vezes.

Segundo, com tecnologia stealth [invisíveis aos radares] ou sem, não acredito que a Marinha dos EUA ou a Força Aérea dos EUA se arriscarão a voar para dentro de espaço aéreo controlado pelos russos ou, se se arriscarem, será experimento de vida curta. Acredito que a presença dos russos na Síria tornará qualquer ataque contra a Síria um ataque “de um só míssil”. A menos que os norte-americanos derrubem as defesas aéreas russas – o que só conseguirão fazer se quiserem iniciar a 3ª Guerra Mundial, a aviação norte-americana terá de se manter fora dos céus sírios. E isso significa que (i) os russos terão implantado, basicamente, sua própria zona aérea de exclusão sobre a Síria, e que (ii) toda e qualquer ‘no fly zone’ dos EUA tornou-se empreitada impossível de concretizar.

Na sequência, o Kuznetsov terá, saindo do forno, um número de aeronaves (asas fixas e rotatórias) incluindo helicópteros 15-20 Ka-27 e Ka-52K, e 15-20 SU-33K e MiG-29K (acho que não se divulgaram números oficiais). O que os russos disseram foi que as aeronaves de asas fixas serão upgraded para poderem atacar alvos em solo. Fará alguma diferença? Talvez sim, marginalmente. Sem dúvida ajudará a lidar com o fluxo esperado de terroristas moderados vindos de Mosul (cortesia da operação dos EUA para encaminhá-los para a Síria), mas os russos podem simplesmente ter movido mais SU-25 ou até SU-34 para Khmeimin ou Irã, a custo muito mais baixo. Assim, em termos de asas, concordo integralmente com Mercouris – será mais ocasião para treino em condições de luta real, não alguma oportunidade para virar o jogo.

Conclusão

Esse deslocamento de forças é altamente não típico do que os russos sempre treinaram para fazer. Basicamente encontraram um meio para reforçar o contingente russo na Síria, especialmente contra o pesadelo da tal “no fly zone” de Hillary. Mas também é caso de extrair proveito da necessidade: a operação na Síria sempre foi distante demais da fronteira russa, e a força russa na Síria sempre foi pequena para sua tarefa. Além do mais, esse deslocamento não é sustentável no longo prazo, e os russos sabem disso. Conseguiram impor com sucesso sobre a Síria uma “zona aérea de exclusão de ianques” por tempo suficiente para que os sírios retomassem Aleppo, e para que os norte-americanos elegessem o próximo presidente.

Depois disso, ou a coisa melhorará dramaticamente (com Trump), ou piorará dramaticamente (com Hillary). De um modo ou de outro, a situação seguinte requererá dos russos estratégia completamente diferente.

The Saker

PS: Sei do anúncio semioficial dos russos, sobre planos para construir um moderno porta-aviões, provavelmente nuclear, com catapultas e tal. Valha o que valer o meu parecer, sou fortemente contra essa ideia, que me parece perdulária e sem qualquer conexão profunda com a doutrina russa de defesa. Mas a nova geração de submarinos russos (SSNs e SLBMs), essa, aplaudo de pé.*****

Nota do Editor do Blog DG: Saker é o pseudônimo de um analista de sistemas de Defesa e politica do leste europeu, cujos serviços foram, e ainda o são, aproveitados pelos órgãos de inteligência dos EUA. Aqui, faço repercutir a versão do seu texto publicado primeiramente pelo veículo Oriente Mídia, traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu, que foi por este editor mantido em sua integridade, tanto nos hiperlinks, quanto no uso dos negritos, havendo apenas pequeninas adaptações aos jargões militares, dado que o coletivo de tradutores, certamente, não tem o convívio necessário com tais termos. Por fim, fiz a opção da foto pelo Pyotr Velikiy,  pelo fato único de ser ele o elemento da frota de real peso.

O Iêmen e o “Game Of Thrones” da Arábia

Fonte: Katehon – 23.08.2016 –  Arábia Saudita

Tradução e adaptação: César A. Ferreira

A Arábia Saudita sofre, no momento,  uma derrota esmagadora no Iêmen. O conflito parece ser apenas pouco promissor para eles. Os Houthis e as tropas leais ao ex-presidente Saleh seguram firmemente o Iêmen do Norte e estão a conduzir operações militares na província de Najran em pleno território saudita. O Iêmen do Sul está ocupado e controlado por um entrelaçar de tropas da coligação Arábia Saudita/EAU, Península Árabe al-Qaeda, ISIS, e separatistas do sul do Iêmen. Recentemente, representantes do movimento Houthi anunciaram a criação de um governo que irá incluir membros do seu próprio partido “Ansar Allah”, o partido “Congresso Geral do Povo” do ex-presidente Ali Abdullah Saleh, bem como membros de outros partidos e organizações. Ao mesmo tempo, tentativas similares por parte dos sauditas para criar algum tipo de governo interino em Aden foram completamente fracassadas. O presidente Hadi, apoiado pelos sauditas e seus aliados, e seu governo são baseadas em Riyadh (Riad). Em Najran, na região de fronteira com o Iêmen, tribos locais árabes lançaram uma rebelião contra as autoridades oficiais da Arábia Saudita.

Recordemos que 2015 foi marcado pela invasão em larga escala da coalizão Árabe liderada pelo sauditas no Iêmen. Além dos sauditas, os Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Egito, Marrocos, Jordânia, Kuwait e Paquistão têm participado nesta guerra contra o Iêmen. Este último se juntou apenas formalmente a coalizão, mas não tem envolvimento real no conflito. O principal impacto da guerra é suportado pela Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Bahrein.

Ao mesmo tempo, a Arábia Saudita também foi derrotada na Síria. Ela não conseguiu derrubar Bashar Al – Assad e desde a reorientação da Turquia em relação à Rússia e o Irã, a posição da Arábia Saudita tornou-se mais precária. O chamado grupo de oposição sírio em Riyadh foi em grande parte controlado pelos turcos. A alavancagem dos sauditas sobre o processo da Síria em Riyadh está ficando menor. A realização de duas campanhas militares de uma só vez – a guerra aberta no Iêmen e a guerra por procuração na Síria –  está cada vez mais difícil. Este é o entendimento por aliados próximos dos sauditas, caso dos Estados Unidos. Assim, os EUA reconhecem a futilidade da campanha militar no Iêmen, como foi noticiado que os Estados Unidos devem retirar o seu grupo de planejamento do país que forneceu a  inteligência necessária para os sauditas. O grupo agora tem sido baseado no Bahrein.

A intervenção no Iêmen e a guerra na Síria são largamente projetos de uma disputa (pelo menos algumas fontes estão tentando apresentá-las desta forma). Deve ser entendido que a Arábia Unido enfrenta agora uma luta feroz entre suas elites. O rei reinante Salman está gravemente doente. Após a sua morte, deverá ser passado o poder para os membros da segunda geração da dinastia saudita. É mais provável que o príncipe Mohammed ibn Salman (Ministro da Defesa) e príncipe Mohammed Ibn Nayef Al Saud deverão confrontar-se em uma luta pelo poder no futuro próximo.

Mohammed Ibn Nayef é conhecido como sendo aquele mais influente dentre os membros mais intimamente ligados aos EUA na elite saudita. A aventura síria é considerada um projeto pelo seu grupo que coordena estreitamente as suas atividades com os Estados Unidos. Em sua juventude, Ibn Naif estudou nos EUA e até mesmo treinos em cursos especiais da FBR.. De acordo com as memórias de ex-funcionários da CIA, o príncipe sempre foi leal para com  os EUA e ativamente cooperou com as agências de inteligência dos EUA . Os EUA percebem-no como o candidato mais desejável para o trono saudita, embora estejam preocupados com a sua saúde.

Por sua vez, Mohammed ibn Salman, que tem apenas 31 anos de idade, é bastante ambicioso e procura a todo o custo a assumir o trono de seu pai. Alguns analistas ainda preveem um golpe suave após a morte do rei Salman dado que o seu filho é o segundo na linha de sucessão ao trono após seu tio Muhammad ibn Naif. Para os EUA, ele é um jogador muito novo. A guerra no Iêmen foi uma iniciativa deste Salman. Com a ajuda de uma guerra vitoriosa, ele procura aumentar seu próprio prestígio e status, mas calculou mal.

Assim, existem dois grupos opostos na Arábia Saudita: uma é completamente pró-americana; o outro é bastante agressivo e expansionista, mas sem apoio suficiente por parte dos Estados Unidos, cujo projeto e iniciativa política externa deverá falhar primeiramente na determinada vontade quem ganhar este presente árabe “Game of Thrones”.

Mohammed ibn Salman visitou periodicamente Rússia, aparentemente em busca de apoio do lado russo. Recentemente, o representante especial do presidente russo para o Oriente Médio e África, o  Vice – Ministro russo das Relações Exteriores Mikhail Bogdanov, reuniu-se com ele. Estes contatos acabam por explicar a crescente importância da Rússia no Oriente Médio tendo como pano de fundo a operação bem sucedida e consistente na Síria. A Rússia também é aguardada no Iêmen. O ex-presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh afirmou ontem que a Rússia está pronta para guarnecer portos e bases oferecidos para o estacionamento de soldados russos. Controlar o Iêmen significa ter controle sobre a mais importante artéria de transporte: o caminho do Oceano Índico e do Golfo Pérsico para o Mar Vermelho e Mediterrâneo.

A Rússia não está, naturalmente, interessada em uma vitória da Arábia Saudita no Iêmen. E isso é impossível. No entanto, existe a possibilidade de que a Rússia venha a poder ajudar a coalizão  da Arábia Saudita a alcançar uma “derrota honrosa”, iniciar o processo de paz, e, assim, permitir que Muhammad ibn Salman venha a sair da sua aventura no Iêmen com uma perda mínima de face (prestígio pessoal). Por outro lado, as ações da Rússia na Síria podem minar a posição daqueles que se opõem a ele. Enquanto isso, o Iêmen ver-se-á livre da influência e da ocupação das forças sauditas.

 

Exxon em Angola: a moral relativa da geopolítica do petróleo

Por:  André Araújo

Fonte: Jornal GGN

A Exxon celebrou um grande acordo com a Sonangol, a estatal angolana do petróleo, para exploração das reservas em águas profundas do litoral angolano. Enquanto a Petrobras está sendo processada pelo Departamento de Justiça dos EUA por casos de corrupção no Brasil, o mesmo Departamento não vê nada demais na empresa americana, símbolo da era do petróleo, se associar com uma estatal que em termos de corrupção conhecida tem poucos competidores no mundo.

Onde está o “compliance” da Exxon? Com a Sonangol não tem problema em assinar contratos? O Departamento de Justiça não vê nada demais? Acho que não, a Sonangol nunca foi investigada ou processada nos EUA. A lógica das leis americanas é bem flexível, o interesse dos EUA em primeiro lugar. Que coisa!

A Presidente do Conselho da Sonangol, Isabel dos Santos, filha do Presidente de Angola José Eduardo dos Santos, há 37 anos no poder, está numa revista americana, a Forbes, como a mulher mais rica da África. De onde vem sua fortuna?

A imprensa econômica da Europa relata um desaparecimento de 32 a 50 bilhões de dólares dos cofres da Sonangol.

(http://www.portugaldigital.com.br/economia/ver/20103540-presidente-da-so…).

 O caso não tem paralelo no planeta em termos de valor. Enquanto Angola se torna uma das potencias médias do petróleo mundial, toda sua produção é girada por petrolíferas americanas, a Petrobras tentou entrar em Angola e foi rechaçada.

Enquanto isso as condições de vida da população são péssimas, falta saneamento básico em Luanda, no interior nem se fala, falta tudo, enquanto Ministros do MPLA são bilionários, um deles, bem conhecido, tem apartamento na Av. Vieira Souto, no Rio.

Uma companhia com esse currículo é bem vinda ao se associar a Exxon, enquanto em Washington uma pesada artilharia legal criminaliza a Petrobras. É verdade que com apoio que vem do Brasil, numa acusação ilógica, a Petrobras é vitima e não autora e os atos ocorreram fora da jurisdição da lei americana. Se aos americanos a corrupção faz arrepiar e eles se propõem a ter jurisdição mundial para combatê-la, como se explica que fechem os olhos para o que acontece em Angola?

Atrevo-me a uma explicação: todo petróleo de Angola exportado, quase 2 milhões de barris/dia, mais que a Venezuela, vai para os EUA, um fornecedor importante e confiável. Então vamos deixar o moralismo para os brasileiros, antigo e tradicional aliado dos EUA, vamos processar e impor pesadas multas a nossos amigos, puni-los com apoio de brasileiros puros, prejudicando esse Pais que lutou a nosso lado na Segunda Guerra e que fornece mais que qualquer outro tropas para nossas missões de paz pelo mundo.

Pode-se alegar que a Exxon Mobil é uma empresa privada que faz os contratos que quiser. Negativo. Todas as atividades de empresas petrolíferas dos EUA pelo mundo são monitoradas pelo Departamento de Energia e nenhuma empresa assina contratos no exterior sem o visto do DE e do Departamento de Estado.

http://corporate.exxonmobil.com/en/company/worldwide-operations/locations/angola

Enquanto isso os EUA viram parceiros de cama, mesa e banho de um regime outrora marxista-terrorista e guerrilheiro contra o qual lutaram através da UNITA financiada pela CIA. Outrora visceralmente anti-americano, apoiado pela URSS e aparelhado por 25.000 soldados cubanos, o Movimento Popular de Libertação de Angola,  continua sendo o partido oficial que governa Angola. Hoje é íntimo parceiro e sócio dos EUA, que ironia da História. Dos tempos da aliança com a URSS ficou para Jose Eduardo dos Santos uma bonita lembrança, Isabel dos Santos, sua filha e de sua primeira esposa russa, atual Presidente do Conselho da SONANGOL.

A Guerra Fria produziu bons frutos hoje cotados em dólar.

 

A Rússia desafia os EUA na Síria

Autor: Yusuf Fernandez

Tradução: César A. Ferreira

Fonte: Al Manar

O envio do sistema S-300VM (SA-23 Gladiator terminologia da OTAN) para a  Síria, provocou a ira dos Estados Unidos  que expressou alarme a uma medida deste tipo apesar do fato de que a mídia dos EUA haver afirmado pouco antes, que  Washington estava considerando “as opções militares “contra a Rússia no tocante à crise síria. A última ameaça levou a Rússia a tomar as suas próprias medidas, incluindo a implantação do sistema acima, capaz de abater aeronaves e mísseis de cruzeiro, e reforçar a sua frota no Mediterrâneo.

A Rússia indicou, entretanto, que a S-300VM é um sistema defensivo e disse não entender por que os EUA estão a  expressar tais alarmes.

Os EUA têm-se queixado sobre os ataques russos na Síria contra a Frente  Al-Nusra e outros grupos terroristas e clamando pela imobilização das aeronaves da Rússia e Síria, de uma maneira que evidencia ainda  mais o seu apoio ao terrorismo. A implantação do S-300 VM é irrelevante contra a Frente Al-Nusra, que não tem poder aéreo, mas é uma parede contra possíveis ataques dos Estados Unidos ou os seus aliados contra a Síria.

Na verdade a ameaça contra a Rússia e a Síria é real. Os EUA afirmaram que não irão mais  realizar esforços diplomáticos na Síria, enquanto culpam a Rússia pelo seu próprio fracasso em respeitar os compromissos assumidos no conflito sírio. Ao que tudo indica, nunca tiveram real intenção em respeitar…

A próxima reunião do Conselho de Administração, que inclui os secretários de Estado e de Defesa, o chefe do Estado-Maior Conjunto, bem como o diretor da CIA, deverá examinar várias políticas de ação midiática e militar na Síria. Uma das proposta sobre a mesa é atacar as pistas dos aeroportos militares sírios com mísseis de cruzeiro e outras armas disparados de aeronaves de longo alcance e de navios, além de outras ações militares.

Seria, portanto, uma agressão militar aberta contra outro país sem a autorização do Conselho de Segurança da ONU. Portanto, um oficial militar dos EUA, citado pelo Washington Post, disse que os ataques seriam realizados “dissimuladamente ou sem reconhecimento público.”

Na verdade, apenas os EUA, frente aos seus aliados ocidentais deitam a falar de “opções militares”, já que parece difícil pensar que os aliados europeus aceitem o risco de uma guerra com a Rússia para proteger a Frente Al-Nusra, uma organização ligada à Al Qaeda.

O reforço da frota mediterrânica e o envio do sistema  S-300 VM sugerem, fortemente,  que a Rússia está ciente de tais planos agressivos dos EUA e que decidiu portar-se altivamente na Síria. Em contraste, a reação histérica de Washington sugere que eles estão a perder uma posição militar estratégica, daí  correr o risco de um ataque deste tipo num momento em que a Rússia aumentou as suas defesas na Síria.

A política dos EUA na Síria representa uma ameaça para a própria Rússia e faz parte das tentativas de Washington para circundar este país. Uma bem sucedida operação de mudança de regime na Síria seria em seguida constituída de uma  intervenção dos EUA na Rússia, na forma do envio de terroristas financiados pela CIA para as repúblicas russas do Cáucaso para alimentar um movimentos separatistas latentes por lá. Um regime fantoche em Damasco ajudaria a canalizar tais forças, treinadas no campo de batalha da Síria, para dentro do solo da Rússia,  realizando uma campanha para desestabilizar e, finalmente, desmembrar a Federação Russa.

Nota do Editor: O sistema S-300VM (Antey 2500) possui como alvos primários misseis de cruzeiro, bem como os mísseis balísticos táticos de curto e médio alcance. De forma subsidiária pode ser utilizado para neutralizar aeronaves e outras ameaças aéreas. O seu alcance é de 200 km e caso a informação de que seria postado em Tartus, ou seja, junto a costa, isto significa que as formações de combatentes em Deir Ez Zoir e Aleppo não contariam com a proteção deste referido sistema, algo que já acontecia com sistema S-400 postado em Latakia.

A capacidade do sistema é a de vetorar até 24 alvos, sendo 4 por unidade de vetoramento por vez. Isto significa que a bateria, isolada, pode vir a ser saturada, não é por outro motivo que o conceito russo de Defesa Antiaérea prevê uma distribuição em camadas, ou seja, com proteção convergente de cada sistema por sobre o outro. Espera-se, portanto, que o sistema S-300VM tenha o seu complemento como segurança crítica na forma de uma bateira do sistemas Pantsyr S-1.

 

Washington tenta quebrar os BRICS: começa o estupro do Brasil

Autor: F. William Engdahl

Fonte: NEO – New Eastern Outlook

Tradução: Coletivo de Tradutores da Vila Vudu

(…) Um dia depois que a Câmara de Deputados aprovou o impeachment da presidenta eleita do Brasil, em abril, um alto membro do partido PSDB, aliado do PMDB de Temer, senador Aloysio Nunes, viajou a Washington, em missão organizada pela empresa de lobby da ex-secretária de Estado Madeline Albright, o Albright Stonebridge Group. Nunes, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado do Brasil, várias vezes pregou que o Brasil se aproximasse mais, outra vez, de uma aliança com EUA e Reino Unido.

Madeline Albright, diretora de um dos principais think-tanks nos EUA, o Council on Foreign Relations, também é presidenta da mais ativa ONG a serviço do governo dos EUA, especializada em promover “revoluções coloridas”, o National Democratic Institute (NDI). Interessante, não? Nunes foi a Washington para conjurar apoio para Temer e para os atores principais do golpe que já estava em curso para derrubar a presidenta Rousseff.

O ator chave a serviço de Washington, e o efetivo carrasco político de Rousseff foi, mais uma vez, o vice-presidente Joe Biden, o “Dick Cheney”, operador-sujo-em-chefe, no governo Obama.

Fatídica visita de Biden ao Brasil

Em maio, 2013, o vice-presidente dos EUA Joe Biden fez uma fatídica visita ao Brasil, para reunir-se com a presidenta Rousseff. Em janeiro de 2011, Rousseff substituíra seu mentor do Partido dos Trabalhadores, Luis Inácio Lula da Silva, ou Lula, que completara o segundo mandato consecutivo que a Constituição lhe permitia. Biden foi ao Brasil, para discutir petróleo com a nova presidenta. As relações entre Lula e Washington haviam gelado quando Lula apoiou o Irã contra sanções dos EUA e aproximou-se mais, economicamente, da China.

No final de 2007,  a Petrobrás havia descoberto o que se estimava que fosse uma reserva monstro de petróleo de alta qualidade na plataforma continental do Brasil, na Bacia de Santos. No total, a plataforma continental territorial do Brasil pode conter mais de 100 bilhões de barris de petróleo, o que transforma o país na maior potência mundial de petróleo e gás. Imediatamente Exxon & Chevron, as gigantes norte-americanas do petróleo, puseram-se em campo para conquistar o controle daquela riqueza recém descoberta.

Em 2009, segundo telegramas diplomáticos dos EUA publicados por Wikileaks, o Consulado dos EUA no Rio de Janeiro escreveu que Exxon e Chevron estavam tentando, sem sucesso, alterar uma lei encaminhada ao Congresso pelo mentor e predecessor da presidenta Rousseff, o presidente Lula. Essa lei de 2009 tornava a empresa estatal Petrobrás a principal operadora de todos os blocos do petróleo do pré-sal no Brasil. Washington e as gigantes norte-americanas do petróleo absolutamente não gostaram de perder o controle sobre o que parece ser a maior nova reserva de petróleo descoberta em décadas.

Lula não só tirou ExxonMobil e Chevron da posição de controladoras, em favor da estatal Petrobrás; ele também abriu a exploração do petróleo brasileiro aos chineses, desde 2009 principais parceiros, dentro do grupo BRICS, de Brasil, Rússia, Índia e África do Sul.

Em dezembro de 2010, num de seus últimos atos como presidente, Lula supervisionou a assinatura de um contrato entre a empresa de petróleo Repsol, espanhola-brasileira, e a estatal chinesa Sinopec. Sinopec formou uma joint venture, Repsol Sinopec Brasil, investindo mais de $7,1 bilhões na Repsol Brasil. Já em 2005 Lula havia aprovado a formação da empresa Sinopec International Petroleum Service of Brasil Ltd., parte de uma nova aliança estratégica entre China e Brasil.

Em 2012, em perfuração de exploração conjunta, as empresas Repsol Sinopec Brasil, Norway’s Statoil e Petrobrás fizeram outra grande descoberta, no poço batizado “Pão de Açúcar”, o terceiro no bloco BM-C-33, que inclui os poços de Seat e Gávea, esse uma das 10 maiores descobertas do mundo em 2011. Nenhuma das majors norte-americanas e britânicas do petróleo aparecia nesse cenário.

A missão de Biden era sondar a presidenta que sucederia Lula, Dilma Rousseff, sobre a possibilidade de ela reverter a exclusão das grandes do petróleo dos EUA em favor da Chinesa. Biden também se reuniu com as principais empresas de energia do país, inclusive a Petrobrás.

A notícia praticamente não apareceu na mídia-empresa brasileira, mas Rousseff recusou-se a reverter a lei do petróleo de 2009 e a convertê-la em qualquer coisa que agradasse a Biden, a Washington e às majors do petróleo dos EUA. Dias depois da visita de Biden surgiram as revelações feitas por Edward Snowden de que a Agência de Segurança Nacional dos EUA também espionara Rousseff e altos funcionários da Petrobrás. A presidenta Rousseff denunciou a operação em sua fala na Assembleia Geral da ONU, por violação da lei internacional. E, em protesto, cancelou uma viagem marcada para Washington. Depois disso, as relações EUA-Brasil naufragaram de vez.

Ao final dessa visita, em maio de 2013, Biden claramente deu à presidenta do Brasil o beijo da morte: o destino dela estava selado.

Antes da vinda de Biden em maio de 2013, a presidenta Rousseff gozava do apoio de 70% da população brasileira. Menos de duas semanas depois que Biden deixou o Brasil, começaram os protestos de rua, ‘animados’ por um grupo conhecido como Movimento Passe Livre, que protestava contra aumento nominal de 10 centavos no preço do passe de ônibus, que acabaram por fazer o país parar quase completamente e, a partir de certo ponto tornaram-se muito violentos. Os protestos tinham todas as características da típica “Revolução Colorida” ou da desestabilização social acionada por mídias sociais como Twitter ou Facebook que parecem seguir Biden pelo mundo, onde quer que apareça. Em poucas semanas, o apoio da população ao governo Dilma despencou para 30%.

Washington claramente enviara um sinal de que ou Rousseff mudava de rota, ou enfrentaria problemas graves. A máquina de mudança de regime de Washington – com todas as suas armas de guerra financeira, desde o vazamento de auditorias realizadas na Petrobrás, até a ação da agência de Wall Street, de avaliação de créditos, Standard & Poors, que degradou a dívida pública do Brasil ao nível de papel podre, em setembro de 2015 – entrou em ação a pleno vapor para derrubar Rousseff, apoiadora chave do Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS e de uma estratégia de desenvolvimento nacional independente para o Brasil.

Vender as joias da Coroa

O homem que chegaria à presidência do Brasil, num perfeito arremedo de ‘legalidade’, corrupto condenado e então vice-presidente, Michel Temer, serviu em tempo integral como informante da embaixada dos EUA em Brasília. Em documentos distribuídos por Wikileaks, revelou-se que Temer já servira como informante da inteligência dos EUA desde, pelo menos, 2006, por telegramas que a Embaixada dos EUA no Brasil classificou como “sensíveis” e “para exclusivo uso oficial”.

Homem de Washington no Brasil, Temer não perdeu tempo para iniciar as reverências aos seus patrões em Wall Street. Ainda como presidente interino em maio, Temer nomeou Henrique Meirelles para o cargo de ministro das Finanças e da Seguridade Social. Meirelles, formado em Harvard [de fato, participou de um treinamento de Advanced Management Program (AMP) da Harvard Business School que prepara altos executivos de bancos (NTs)] e ex-presidente do Banco Central do Brasil, foi presidente do BankBoston nos EUA até 1999, e ainda trabalhava no banco em 1985, quando o banco foi multado por não reportar transferência ilegal de $1,2 bilhão em dinheiro, para bancos suíços.

Meirelles está agora na função de supervisor da liquidação planejada das “joias da Coroa” do Brasil a investidores estrangeiros, movimento que visa a minar qualquer poder que o estado brasileiro tenha na economia. Outro dos conselheiros econômicos chaves de Temer é Paulo Leme, ex-economista do FMI e hoje Diretor de Gestão de Pesquisa de Goldman Sachs. Wall Street está ativamente integrada ao processo de estupro econômico do Brasil ‘liderado’ por Temer.

Dia 13 de setembro, o governo Temer divulgou um programa massivo de privatizações, com um comentário cínico e enganador do próprio Temer: “É claro que o setor público não poderá fazer avançar esses projetos sozinho. Contamos com o setor privado.” Não explicou que por “setor privado” referia-se aos seus próprios patrões.

Temer revelou planos para consumar a maior privatização no país, em décadas. Convenientemente, a privatagem está planejada para estar concluída no final de 2018, pouco antes do fim do mandato de Temer. O influente US-Brasil Business Council detalhou a lista das empresas a serem privatizadas, em sua página na Internet (“Economia do Brasil depois do Impeachment”, ing.). Esse US-Brasil Business Council foi fundado há 40 anos por Citigroup, Monsanto, Coca-Cola, Dow Chemicals e outras multinacionais norte-americanas.

As licitações para a primeira rodada de privatizações serão lançadas antes do final do ano. Incluirão quatro aeroportos e dois terminais portuários, todos a serem leiloados no primeiro trimestre de 2017. Outras concessões incluem cinco rodovias, uma ferrovia, vários pequenos blocos de petróleo e uma rodada final de leilões, adiante, para os grandes blocos de petróleo a serem desenvolvidos, a maioria de reservas submarinas. O governo também selecionará reservas atualmente controladas pelo Departamento de Pesquisas Minerais do Brasil, mais seis distribuidoras de energia e três instalações para tratamento de água.

O coração dessa privatização planejada está – nada surpreendentemente –, nas empresas que Joe Biden cobiça, de petróleo e gás, além de fatias da empresa brasileira de energia, Eletrobrás. Temer planeja obter $24 bilhões nessa liquidação de patrimônio público. 11 bilhões devem sair da venda das empresas estatais chaves de petróleo e gás.

Claro que, quando patrimônio estatal dessa magnitude é liquidado e entregue a interesses estrangeiros, no que é uma muito evidente venda ‘combinada’, trata-se de negócio de soma zero: um lado ganha tudo, o outro perde tudo. Projetos de petróleo, gás e energia elétrica geram fluxos continuados de renda muito superiores a quaisquer ganhos que se possam auferir da venda em processo de privatização. O lado que perde necessariamente tudo e sempre, nesses negócios de privatização, é a economia do Brasil: os bancos de Wall Street e as multinacionais ganham tudo, conforme o planejado, em todos os casos.

Dias 19-21 de setembro, segundo o website do US-Brasil Business Council, os ministros chaves para a infraestrutura, do atual governo do Brasil, dentre os quais o ministro da infraestrutura, Moreira Franco; Fernando Bezerra Coelho Filho, de Minas e Energia; e Mauricio Quintella Lessa, de Transportes, Portos e Aviação Civil, estariam [estiveram] em New York City para reunião com “investidores em infraestrutura” de Wall Street.

É o modus operandi de Washington, exatamente como operam os Deuses do Mercado em Wall Street, título de um dos meus livros. Primeiro, destroem qualquer projeto de genuíno desenvolvimento nacional concebido por lideranças nacionais, como Dilma Rousseff. Na sequência, põe no lugar dele um regime subalterno disposto a fazer qualquer coisa por dinheiro, inclusive liquidar as joias da Coroa do próprio país, gente que faça como Anatoli Chubais na Rússia nos anos 1990, durante a “terapia de choque” de Boris Yeltsin. Como paga pelo que fez, Chubais tem lugar assegurado hoje no Conselho de Administração do banco JP MorganChase. Ainda não se sabe o que Temer e sócios obterão em troca do empenho que têm demonstrando na liquidação do patrimônio brasileiro.

Por enquanto, Washington conseguiu quebrar um dos países BRICS que realmente ameaçava a hegemonia global das empresas norte-americanas. Se a história recente ensina alguma coisa, não obterá sucesso duradouro.

 

Por que eventos recentes na Síria mostram que o governo Obama está em confusa agonia terminal

Autor: Saker.

Fonte: The Vineyard Of The Saker

Tradução: Coletivo de Tradutores da Vila Vudu. – Fonte em português: Blog do Alok

Os mais recentes desenvolvimentos na Síria não são, creio eu, resultado de algum plano deliberado pelos EUA para ajudar seus “terroristas moderados” aliados em campo, mas sintoma de algo talvez pior: os EUA parecem ter perdido completamente o controle sobre a situação na Síria e, possivelmente, também em outros pontos. Permitam recapitular o que acaba de acontecer:

Primeiro, depois de dias e dias de intensas negociações, o secretário Kerry dos EUA e o ministro Lavrov de Relações Exteriores da Rússia finalmente chegaram a um acordo sobre um cessar-fogo na Síria que teria potencial para pelo menos “congelar” a situação em campo, até as eleições presidenciais nos EUA e a troca de governo (esse é agora o evento mais importante no futuro próximo; assim sendo, nenhum plano de nenhum tipo estende-se além daquela data.

Foi quando a Força Aérea dos EUA, com mais alguns ‘parceiros’, bombardeou uma unidade do Exército Árabe Sírio, que não estava nem em movimento nem engajada em operações intensas, que simplesmente cobria um setor chave do front. O ataque norte-americano foi seguido por ofensiva massiva dos “terroristas moderados” que acabou por ser contida, com dificuldade, por militares sírios e as Forças Aeroespaciais Russas. Desnecessário dizer que, depois de tal provocação, o cessar-fogo morreu.

Os russos manifestaram total desagrado e indignação contra o ataque e começaram a dizer abertamente que os norte-americanos são “недоговороспособны“. A palavra significa literalmente “[gente, pessoa] incapaz para acordos” ou sem as competências mínimas para firmar um acordo e, na sequência, honrar o que assinou. É expressão polida, mas mesmo assim extremamente forte, porque implica, mais do que fingimento deliberado, a ausência da capacidade, dos meios morais necessários para respeitar a própria assinatura. Por exemplo, os russos têm dito com frequência que o governo de Kiev é “incapaz para acordos”, o que faz sentido, considerando-se que a Ucrânia ocupada pelos nazistas é, na essência, estado fracassado.

Mas dizer que uma superpotência nuclear mundial é “incapaz para acordos” é diagnóstico extremo e terrível. Significa basicamente que os norte-americanos enlouqueceram e perderam os meios morais mínimos necessários para firmar acordos, qualquer tipo de acordo. Afinal, governo que descumpra o que prometa ou tente burlar, mas o qual, pelo menos em teoria, conserve a capacidade para respeitar a própria assinatura em acordos não seria descrito como “incapaz para acordos”. É expressão que só é usada para descrever entidade que sequer tem condições mínimas indispensáveis para merecer a confiança necessária para que alguém possa iniciar negociações, porque não cumprirá o que for acordado. É diagnóstico absolutamente devastador.

Na sequência, vem a cena antiprofissional, patética, da embaixadora Samantha Powers embaixadora dos EUA na ONU que simplesmente levantou-se e saiu de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU quando o representante russo estava falando. Mais uma vez, os russos enfureceram-se, não pela tentativa infantiloide de ofender, mas pela absoluta falta de profissionalismo que Powers manifestou, como diplomata. Do ponto de vista dos russos, se uma superpotência levanta-se e sai da sala quando outra superpotência está falando sobre assunto crucialmente importante é, para começar, atitude irresponsável; mais uma vez, sinal de falta das competências mínimas indispensáveis para ser parte de qualquer negociação ou acordo.

Por fim, a coroação: o ataque ao comboio de ajuda humanitária na Síria, que os EUA, claro, atribuíram à Rússia. Mais uma vez, os russos mal acreditaram nos próprios olhos. Primeiro, porque foi flagrante (e sinceramente, de nível de jardim de infância) tentativa para ‘mostrar’ que “os russos também erram” e que “os russos mataram o cessar-fogo”. Segundo, apareceu aquela declaração cômica, dos norte-americanos, de que só duas forças aéreas poderiam ser autoras do ataque – ou os russos ou os sírios (como os norte-americanos supuseram que enganariam alguém, naquele espaço aéreo super controlado pelos radares russos, é questão que ultrapassa a minha capacidade de análise!). Sabe-se lá como, os norte-americanos “esqueceram” de mencionar a que força aérea dos EUA também está ativa na região, além de forças aéreas de vários aliados dos EUA. Mais importante: esqueceram de mencionar que, naquela noite, drones Predator norte-americanos armados voavam diretamente sobre aquele comboio.

O que aconteceu na Síria é dolorosamente óbvio: o Pentágono sabotou o acordo firmado entre Kerry e Lavrov; e quando o Pentágono foi acusado de ser responsável pelo ataque, rapidamente montaram (mal montado) um ataque sob falsa bandeira, e tentaram culpar os russos.

Tudo isso mostra que o governo Obama está em estado terminal de confusa agonia. A Casa Branca aparentemente está em tal estado de pânico ante a provável vitória de Trump em novembro, que perdeu, basicamente, o controle de toda sua política exterior em geral, e especialmente, na Síria. Os russos estão literalmente cobertos de razão: o governo Obama é realmente “incapaz para acordos”.

Claro: o fato de os norte-americanos estarem agindo como crianças malcriadas frustradas não implica que a Rússia tenha de se rebaixar. Já vimos Lavrov voltar sempre e sempre tentar negociar com Kerry. Não porque os russos sejam ingênuos, mas precisamente porque, diferente dos colegas norte-americanos, os diplomatas russos são profissionais que sabem que negociação e linhas de comunicação mantidas abertas sempre são, e por definição, preferíveis a dar as costas e sair da sala, sobretudo quando se negociar com uma superpotência. Os observadores que criticam a Rússia por ser “fraca” ou “ingênua” só fazem projetar sobre a Rússia o seu próprio modo de ser e agir, quase todo modelado pelos norte-americanos. E nem percebem que russos não são norte-americanos: pensam de modo diferente e agem de modo diferente.

Para começar, os russos não se incomodam com ser vistos como “fracos” ou “ingênuos”. De fato, preferem ser vistos desse modo, se essa percepção faz avançar seus objetivos e confundem o oponente sobre suas reais intenções e capacidades. Os russos sabem que não construíram o maior país do planeta por serem “fracos” ou “ingênuos” e não têm interesse em ‘lições’ que lhe venham de países mais jovens que muitos dos prédios russos.

O paradigma ocidental quase sempre é o seguinte: crise sempre leva a rompimento de negociações; em seguida vem o conflito. O paradigma russo é completamente diferente: crise leva a mais negociações que são mantidas até o último segundo, tentando impedir que irrompa o conflito.

Há duas razões para isso: primeiro, insistir em negociar até o último segundo possibilita procurar o mais possível por uma via pela qual sair do confronto; e, segundo, negociações nas quais se insista até o último momento possibilitam que o negociador aproxime-se o mais possível de pôr a seu favor a surpresa estratégica, no caso de ter de atacar. Assim, exatamente, a Rússia agiu na Crimeia e na Síria – sem absolutamente nenhum sinal ou, ainda menos, sem exibições propagandeadas de poder como meio para intimidar alguém (intimidação também é estratégia política ocidental, que os russos nunca usam).

Assim sendo, Lavrov continuará a negociar, não importa o quão ridículas ou inúteis pareçam essas negociações. O próprio Lavrov provavelmente jamais pronunciará publicamente a palavra “недоговороспособны”, mas a mensagem ao povo russo e aos aliados sírios, iranianos e chineses da Rússia sempre será clara: os russos, hoje, já perderam qualquer esperança de obter negociações proveitosas ou confiáveis com o atual governo dos EUA.

Obama & Co. estão assoberbados de trabalho, tentando esconder as reais condições de saúde e os problemas de caráter de Hillary e, no momento, provavelmente só conseguem pensar numa coisa: como sobreviver ao debate Hillary-Trump [2ª-feira, 26/9, na Hofstra University em Hempstead, N.Y.]. O Pentágono e o Departamento de Estado estão ocupados, sobretudo, em combater um contra o outro por causa da Síria, Turquia, curdos e Rússia. A CIA parece estar em guerra contra ela mesma, mas não se pode afirmar com certeza.

O mais provável é que algum tipo de acordo continuará a ser anunciado, por Kerry e Lavrov, se não hoje, então amanhã ou depois. Mas, francamente, concordo integralmente com os russos: norte-americanos são realmente “incapazes para acordos”, e nesse momento, os dois conflitos, na Síria e o da Ucrânia, estão congelados. Não digo “congelados”, isso sim, no sentido de “situação em que não há grandes desdobramentos possíveis”. Ainda haverá combates, especialmente agora que os aliados wahhabistas e nazistas dos EUA sentem que o chefe não está muito atento no comando, ocupado com eleições e conflagração racial quase generalizada nos EUA, mas dado que não há solução militar possível para nenhuma dessas guerras, os confrontos e ofensivas táticos não levarão a resultado estratégico.

Com exceção de algum ataque sob falsa bandeira dentro dos EUA, como o assassinato ou de Hillary ou de Trump por um “pistoleiro solitário”, as guerras na Ucrânia e Síria prosseguirão sem possibilidade de qualquer tipo de negociação significativa. E com Trump ou Hillary na Casa Branca, um grande “reset” acontecerá no início de 2017.  Trump provavelmente quererá encontrar Putin para uma grande sessão de negociações que envolva todos os temas chaves entre EUA e Rússia. Se Hillary e seus neoconservadores chegarem à Casa Branca, nesse caso será quase impossível impedir algum tipo de guerra entre Rússia e EUA.

[assina] The Saker.

PS: Alguns especialistas militares russos estão dizendo que o tipo de dano que se vê nas fotos e vídeos do ataque ao comboio humanitário não é consistente com ataque aéreo, sequer com ataque por artilharia; o que se vê parece ser resultado da explosão de vários IEDs [Dispositivos Explosivos Improvisados]. Se isso se confirmar, também não implica a Rússia, mas aponta para forças de “terroristas moderados” que controlam aquela locação. Ainda assim poderia ser ataque sob falsa bandeira ordenado pelos EUA ou, se não for isso, será prova de que os EUA perderam o controle sobre seus aliados wahhabitas em campo.*****

As mulheres na infantaria – a perspectiva de um soldado norte-americano

Por: Scott M.

Tradução: Clermont.                                 

Fonte: FDB

“Eu sei que isso já foi discutido, de novo e de novo.

Mas aqui está uma opinião de um soldado no Iraque. Eu queria ler o que ele tinha a dizer, portanto presumi que vocês também.

Eu mencionei, por acaso, para minha filha de 16 anos (que foi criada assistindo ‘Buff, a Caça-Vampiros’, ‘Stargate SG-1’, várias reencarnações de ‘Jornada nas Estrelas’, ‘Lara Croft’ e outras séries de ação que mostram garotas metendo a porrada) que não se permitem mulheres em unidades de combate das Forças Armadas dos EUA. Ela ficou ultrajada. Indignada. Ela quase gritou ‘POR QUÊ NÃO’! Eu fiz o melhor que pude para explicar as razões ‘oficiais’, as não-oficiais como eu as entendia, minhas objeções pessoais e como a linha entre ‘combatente’ e ‘não-combatente’ está cada vez mais obscurecida, mas ela não se convenceu.

Isso não é uma ordem por escrito, mas eu estaria muito interessado em sua opinião nesse assunto e suas experiências com fêmeas da espécie militar”.

A resposta do Soldado no Iraque:

Sim, é verdade, mulheres não podem estar na infantaria.

O tópico de mulheres na infantaria é muito cheio de armadilhas e é a única coisa em minha filosofia de vida pessoal sobre a qual sou um sexista. Eu vejo que existem duas razões por que mulheres não são permitidas na infantaria (ou na maioria das outras armas de combate). O “grunt” médio está bem de acordo com sua personalidade primordial e, sendo assim, geralmente só quer saber de duas coisas: trepar e brigar, nessa ordem. E a principal razão porque eles brigam é para serem durões para poder atrair mais mulheres, com as quais eles podem conseguir satisfazer o seu desejo por trepar. Tão logo existam mulheres à distância de uma cuspida, a diretriz número um primordial, chuta tudo o mais, especialmente a disciplina do serviço, direto para o inferno. Qualquer um que ache isso uma estupidez está certo, mas também é um retardado se acha que isso irá, algum dia, mudar. “Grunts” são “grunts”. O homem pensante encontra significados através de alguma espécie de objetivo mais elevado. O “grunt” acha significados só em trepar. E se ele puder lutar no intervalo das trepadas, ótimo.

A segunda razão porque mulheres não estão (e não devem estar) na infantaria é, igualmente, baseada no lado primário da existência humana como a primeira. Mulheres não podem fazer um trabalho digno de um “grunt”, de jeito nenhum. Eu gostaria de estar errado sobre isso porque vai contra todas as minhas noções de igualdade entre os sexos, mas é a verdade. Eu já treinei com mulheres em muitas ocasiões e eu posso dizer que elas alteram, completamente, o ambiente de treinamento. Não apenas os sujeitos ficam distraídos pela Razão Número Um, mas também o nível de intensidade do treinamento vai pras cucuias. A mulher mediana não se empenhará em treinamento do jeito que um homem faz. Eu já vi sujeitos se empenharem no treinamento até morrer, literalmente. Eu vi um sujeito acabar um teste físico, uma corrida de quatro quilômetros, então desmaiar e morrer de uma ruptura da aorta. Eu vi um sujeito marchar no sol até desmaiar pela insolação e ficar com danos cerebrais. Eu vi sujeitos marchando apesar de ossos quebrados, juntas deslocadas e ruptura de ligamentos. Morrer treinando é uma burrice, mas é um testemunho do grau em que um soldado está disposto a se empenhar. Em todas as minhas experiências com mulheres, o gene do bom-senso (que os sujeitos parecem carecer, para a felicidade das forças armadas) se rebela e diz a elas: “foda-se isso, não vá se matar fazendo essas coisas.”

Eu sei que há mulheres lá fora, que provavelmente, se esforçariam do mesmo modo, mas numa sociedade onde homens foram criados para se desempenharem devido à incrível força da pressão de seus pares machos, eles são mais fáceis de serem encontrados do que mulheres desejosas de fazer o mesmo. E eu ainda não entrei no fato de que o homem mediano é muito mais forte fisicamente do que a mulher mediana. E, ainda que fêmeas humanas fossem tão fortes fisicamente quanto os homens e desejosas de se empenharem no mesmo grau, haveria a Razão Um. Existem, na minha pequena base, quatro soldados mulheres. Na outra noite que a força de reação rápida teve de se mover, não conseguimos encontrar três dos nossos sujeitos. Acabamos por deixá-los para trás, inclusive um atirador de metralhadora calibre .50 pol. Ao voltar, descobrimos que estavam dormindo no quarto com uma das soldados que servem próximo a área de estacionamento da QRF (Quick Reaction Force). [nota: a área de estacionamento da QRF teve de ser realocada.

De qualquer modo, eu sei que essa é, provavelmente, a última coisa que sua filha queria ouvir. Talvez haja um tempo em que tais fatores não importem tanto e mulheres possam estar na infantaria. Enquanto isso, elas sempre podem servir na PM, que eles chamam de “a infantaria das cachorras”. Em combate, elas terminam fazendo a maior parte das coisas que a infantaria de verdade faz; ao menos, elas estão fazendo isso no Iraque.

Outros problemas com mulheres na infantaria:

– menstruação e saúde vaginal: as condições de vida podem ser muito duras e ter de lidar com uma, digamos, infecção por fungos na vagina enquanto se está sem chuveiros por vários meses, pode ser difícil de se imaginar.

– estupro (especialmente, se for capturada).

– gravidez: sem tempo para atendimento pré-natal em campanha.

– peitinhos: se eles foram grandes o bastante para ficarem no caminho dos equipamentos, blindagem corporal etc; ou de ações como rastejamento furtivo e outras atividades físicas da soldadesca, você se torna totalmente ineficaz como um “grunt”.

Eu gostaria de ter mais coisas positivas para dizer sobre mulheres na infantaria, mas há tantas coisas que fazem isso não ser uma boa idéia. Mulheres merecem oportunidades iguais, mas igualdade em certas funções de combate pode não fazer sentido tático.

Espero não ter esmagado as esperanças de sua filha, ou ter dado a impressão excessiva de ser um babaca sexista.

A resposta de Scott e um adendo:

Soldado escreveu: Agora o tópico de mulheres na infantaria é muito cheio de armadilhas…

Tem toda a razão.

Soldado escreveu: e essa é a única coisa em minha filosofia de vida pessoal na qual sou sexista.

Tenho de concordar. Bem, talvez uma ou duas coisas…

Soldado escreveu: Ao voltar, descobrimos que estavam dormindo no quarto com uma das soldados que servem próximo a área de estacionamento da QRF.

Todos eles? Porra! Meus amigos da Marinha contam-me histórias sobre as putas da Califórnia que se alistavam na Reserva Naval para conseguirem faturar à bordo dos navios durantes as instruções. As garotas tinham audiência cativa, especialmente, no mar, e uma fila se formava na porta do alojamento.

O que aconteceu com seus extraviados fodedores, depois disso? Disciplinarmente, quero dizer. Isso é contra o regulamento, não é? [nota: para registro, não havia nenhum Calígula obrigando ninguém, senão eles teriam clamado isso.]

Soldado escreveu: eu sei que essa é, provavelmente, a última coisa que sua filha queria ouvir.

Obrigado por sua honestidade. Eu concordo com a maioria de suas premissas. Realmente, minha filha precisa ouvir essas coisas ou ser surpreendida de forma rude e desagradável. Também, suas palavras carregam mais peso do que as minhas sobre o assunto.

Minhas objeções são menos fundamentais, e também difíceis de manter o passo com a visão mundial de estrito igualitarismo.

  1. Os jovens, fortes e saudáveis fazem os melhores soldados. Mulheres são os únicos seres humanos que podem gerar filhos. Uma mulher é muito mais do que um útero, mas nós, realmente, queremos pôr nossas mais jovens, fortes e saudáveis geradoras de bebês na linha de fogo? (vejam a curta história “Down Among The Dead Men” por John Campbell.) É verdade que não é exclusiva responsabilidade de uma mulher criar as crianças, mas eu penso que o bem-estar dos dependentes deveria ser uma prioridade mais elevada do que, digamos, promoção na carreira.

Há um garoto que vai a nossa igreja cujo único responsável, sua mãe, acabou de passar por um ano de treinamento e está, agora, na Alemanha. Ele está morando com outra família da igreja. Ele é um garoto feliz e brilhanto, mas também é, pateticamente, desesperado por atencão e aprovação. Nós damos a ele todo o amor e apoio que podemos, mas eu penso – sem pai e com a mãe desperdiçando a pré-adolescência dele, desdobrada no além-mar; será um milagre se isso não foder com a personalidade dele.

  1. A história nos diz que mulheres podem lutar, bem e ferozmente, mas no instante que uma unidade mista sofre baixas de mulheres, os homens (ao menos, os ocidentais) recuam. É a coisa fundamental novamente; o dever impregnado de proteger as mulheres (quando você não as está fodendo, quero dizer). Se “GI Jane” receber um mínimo ferimento, “GI Joe” sente-se como se fosse um fracassado (e age, e luta de acordo). Nada bom.

O único modo de superar isso seria criando uma sociedade, e por conseqüencia um exército, onde os homens fosse tolerantes ao sofrimento e morte de mulheres como são às mortes de outros homens. Não apenas eu não iria querer viver numa sociedade assim, como iria resistir, ativamente, à sua criação.

  1. E, é claro, o elefante na sala quando se trata de mulheres-em-combate tem de ser escrito em letras maiúsculas: ESTUPRO.

O abuso sexual de mulheres em tempo de guerra é uma história triste e antiga. No Ocidente, nós saímos do “luxúria, saque e bebida são o pagamento do soldado” para tornar o estupro em tempo de guerra um crime capital sob o UCMJ (código unificado de justiça militar das forças armadas americanas). Ainda acontece, mas torná-lo um crime maior, é um progresso.

Naturalmente, antiga é a palavra-chave na sentença acima: a maioria das culturas com as quais estaremos “interagindo” no futuro previsível são culturas tribais onde o abuso sexual de mulheres do inimigo são uma rotineira, se não compulsória, maneira de demonstrar o poder de alguém ao humilhar este inimigo. (quero dizer, que espécie de animal iria sodomizar uma mulher inconsciente com uma pélvis fraturada?) (*) E mais, eu aposto que as únicas garotas loiras que “GI Achmed” já viu estavam em algum tipo de revista pornô… (“Mas Coronel, a vadia infiel provavelmente estava gostando!”)

Enquanto escrevo, me ocorre que a chance – neste momento – de uma mulher soldado ser estuprada por um colega militar americano é, de fato, mais alta do que a chance dela ser capturada e estuprada por pessoal inimigo. Por outro lado, se ela for capturada, sua chance de ser estuprada é de cerca de 100 %. Suponho que seja problema dela se ela quis se voluntariar para isso, mas…

Eu me lembro de uma piloto de helicóptero de evacuação médica da primeira Guerra do Golfo, que foi abatida, capturada e molestada, repetidas vezes, apesar de estar com os dois braços quebrados. (O praça chefe dos tripulantes continuou tentando protegê-la e continuo sendo espancado por isso. Já que estava sendo violentada de qualquer jeito, ela teve de lhe dar ordem para parar de tentar protegê-la porque temia que eles acabassem matando-o.) Ela foi libertada e continuou servindo. Ela não foi à TV ou escreveu um livro; suponho que tenha contado para seu marido, seu capelão e fechou-se em si mesma, mas a história não se tornou pública até que ela foi forçada a testemunhar numa comissão do Congresso.

Como Lawrence da Arábia descobriu (para seu pesar, estou certo) os otomanos e seus assemelhados não se sentem constrangidos em abusar de cativos masculinos, mas isso não é de modo algum certo e, em qualquer caso, é assunto para outro debate.

À propósito, “infantaria das cachorras”, hein? Eu também me lembro que a senhora capitão que foi condecorada por bravura, no Panamá, era uma PM.

Obrigado pelos tiros no alvo.