Zaluzhny aceita a realidade

Do site: News Front

Na data de 28 último o site News Front (news-front.info), publicou declarações importantes atribuídas ao General de Quatro Estrelas e Comandante em Chefe das Armas Ucranianas Valerii Fedorovych Zaluzhny, com críticas ao sistema HIMARS e a impotência geral da Ucrânia em efetuar a tão propalada “Grande Ofensiva do Kherson”. O referido site assim publicou:

“Zaluzhny relatou a Zelensky sobre a fraca eficácia do HIMARS na contraofensiva, que os sistemas modernos não permitem uma barragem de fogo”

Reproduzindo as palavras de Zaluzhny:.

“Um mito foi criado em torno do MLRS, que a propaganda russa ajudou ativamente a replicar, criando a imagem de uma arma milagrosa: o HIMARS. Na realidade, não há nada sério para uma contraofensiva, exceto para ataques pontuais, e o número de mísseis que o Ocidente nos forneceu será suficiente apenas para 3 dias de ataques de artilharia. As Forças Armadas da Ucrânia também esperavam pelo M777, pelos Caesars e pelos Javelins, mas os seus números não são suficientes para virar a maré e defesa aérea/caças/MLRS/tanques são necessários para organizar um contra-ataque no Kherson .”(.)

Nota do Editor do Blog DG – Debate Geopolítico:

Aqui temos um problema clássico exposto: como levar adiante um conflito quando a sua base industrial de Defesa (material bélico) foi destruída ou desarticulada? Este é o caso ucraniano, cuja produção obrigatoriamente foi dispersada, dado que as plantas de produção dedicada acabaram por se tornar alvos óbvios, atacados, ou em vias de sê-lo. A dispersão causa problemas de distribuição de matéria prima, cadência de produção e afeta de maneira negativa a qualidade da munição, armas e repostos produzidos. Depender do fornecimento externo não é uma opção, pois este não se faz presente na quantidade devida. De fato, uma nação dependente de fornecedores externos não consegue fazer frente a uma potência industrial, sendo esta uma lição cara da história. O atrito que vemos por hora na Ucrânia levará a guerra para um fim bem previsível.

Nota sobre a fonte:

O site News Front é um veículo publicado em cirílico, entretanto a tradução cibernética deste para o espanhol é bastante adequada.

As opções russas num mundo a caminho da guerra

Por: The Saker

O mundo encaminha-se para a guerra e está nessa direção desde há muito. Várias vezes, quase no limite, o ocidente decidiu recuar. Mas cada vez que o fazia, as suas elites dominantes sentiam duas coisas: 1) sentiam ainda mais ódio pela Rússia por tê-los forçado a recuar e 2) interpretavam o facto de nenhuma guerra com tiros ter acontecido (ainda) como a evidência, pelo menos nas suas mentes, de que estar à beira da guerra é um exercício bastante seguro. No entanto, uma grande guerra com tiros é perfeitamente possível em qualquer uma das seguintes localizações, ou mesmo em várias simultaneamente: (sem ordem específica)

  1. Guerra EUA-China sobre Formosa;
  2. Ataque anglo-sionista contra o Irão;
  3. Uma guerra envolvendo os Estados Bálticos mais a Polónia (3B+PO) contra a Bielorrússia;
  4. Uma guerra da Ucrânia contra Lugansk e Donetsk (LDNR) + Rússia;
  5. Uma guerra NATO-Rússia na região do Mar Negro;
  6. Retomar a guerra entre a Arménia e o Azerbaijão.

Como podemos ver, todas estas guerras potenciais poderiam envolver a Rússia, seja diretamente (3,4,5) ou indiretamente (1,2,6). Examinemos então as opções russas no envolvimento direto das guerras 3, 4 e 5. A primeira coisa que considero importante notar é que, embora a Ucrânia não tenha perspetivas de se tornar um país membro da NATO, alguns dos seus Estados membros já tomaram os seguintes passos para transformar a Ucrânia de facto num protetorado da NATO:

  1. Apoio político total e incondicional ao regime nazi de Kiev e a quaisquer das suas ações;
  2. Apoio económico mínimo, apenas o suficiente para manter os nazis no poder;
  3. Entrega mínima de armas às forças ukronazis;
  4. Implantação de pequenos contingentes da NATO dentro da Ucrânia;
  5. Muito teatro Kabuki sobre “estaremos convosco para sempre, não importa para o quê”.

Já analisei o quinto ponto da lista acima, portanto não o vou repetir (v. Note about the current naval operations in the Black Sea). O ponto importante da segunda lista é o 4º: a instalação de uma pequena força do Reino Unido, Suécia, França, EUA e outras unidades da NATO dentro da Ucrânia. Essas pequenas forças avançadas (“ tripwire forces”), cuja missão é morrer heroicamente, desencadeando assim um envolvimento automático (pelo menos em teoria) dos seus países de origem na guerra.

Antes de prosseguir, devo compartilhar uma lista de factos axiomáticos:

  1. A Rússia não pode ser derrotada militarmente por nenhuma combinação de forças. Pela primeira vez em séculos, a Rússia não está tentando “alcançar” os seus adversários ocidentais, na realidade está à frente deles tanto em forças convencionais como nucleares. A vantagem russa é especialmente notável nas suas capacidades convencionais de dissuasão estratégica;
  2. O ocidente, cujos líderes estão bem cientes deste facto, não querem uma guerra aberta com a Rússia;
  3. O bloco 3B + PO quer uma guerra a todo custo, tanto por razões políticas internas quanto externas;
  4. Numa guerra contra a Ucrânia, a Rússia terá várias opções de contra-ataque nas quais não precisará sequer conduzir um único tanque através da fronteira.

Estes três primeiros pontos são bastante incontroversos, vamos então examinar o quarto ponto um pouco mais de perto. Comecemos por examinar as opções de contra-ataque da Rússia contra a Ucrânia:

  1. Protegendo as LDNR nas suas fronteiras actuais (linha de contacto) por uma combinação de uma zona de exclusão aérea, ataques de mísseis contra forças ucranianas, uso de guerra eletrónica para desorganizar as forças ucranianas e ataques muito direcionados (de dentro da Rússia) contra os principais centros de comando, etc;
  2. Dar cobertura às forças LDNR para libertarem totalmente as regiões de Donetsk e Lugansk;
  3. Dar cobertura às forças LDNR para a criação de um corredor terrestre para a área de Mariupol-Berdiansk-Crimeia e, em seguida, a libertação da costa ucraniana ao longo do eixo Kherson-Nikolaev-Odessa;
  4. A libertação de todas as terras da margem esquerda a leste do rio Dnieper (incluindo as cidades de Kharkov, Poltava, Dniepropetrovsk, Zaporozhie e outras).
  5. A libertação de toda a Ucrânia.

Em termos puramente militares, todas estas opções são viáveis. Mas olhar para essa questão de um ponto de vista puramente militar é altamente enganoso.

Primeiro, acerca da força força avançada da NATO. Os comandantes dos EUA/NATO não são muito brilhantes, mas são espertos o suficiente para entenderem que, no caso de um contra-ataque russo, essas forças seriam aniquiladas, envolvendo potencialmente toda a NATO – o que poderia tornar-se uma grande guerra continental. Não é isso que eles querem. Portanto, o verdadeiro propósito dessas forças avançadas é criar uma histeria anti-russa poderosa o suficiente para transformar o ocidente (atualmente desorganizado e profundamente disfuncional) num bloco único anti-russo unido.

Por outras palavras, aquela força avançada representa um desafio político para o Kremlin, não um desafio militar. Dito isto, examinemos uma série de fatores não militares absolutamente cruciais.

  1. Qualquer que seja o território que a Rússia liberte das forças nazis, terá que o reconstruir economicamente, proteger militarmente e reorganizar politicamente. Quanto mais território a Rússia libertar, mais agudas serão essas pressões;
  2. Já se passaram 30 anos desde que a Ucrânia decidiu tornar-se anti-russa, e agora há toda uma geração de ucranianos que sofreram lavagem cerebral e realmente acreditam no que lhes têm dito os media ucronazis, a “democracia”, a “sociedade civil” e os meios de propaganda. O facto de muitos deles falarem melhor russo do que ucraniano não muda em nada a situação. Embora os ucranianos não possam travar os militares russos, com certeza podem organizar e sustentar uma rebelião anti-russa que a Rússia teria que suprimir;
  3. Economicamente, a Ucrânia é um buraco negro: pode dar-se-lhe a quantidade de dinheiro que se quiser e tudo simplesmente desaparecerá. A noção de “ajuda económica à Ucrânia” é simplesmente risível;
  4. A Ucrânia é uma entidade artificial que nunca foi viável, e assim continuará, pelo menos nas suas fronteiras atuais.

Por estas razões, afirmo que seria extremamente perigoso para a Rússia morder mais do que pode engolir. Como o melhor (de longe) analista político da Ucrânia, Rostislav Ishchenko, disse numa entrevista na semana passada: “Putin não pode salvar a Ucrânia, mas com certeza pode arruinar a Rússia [se o tentar]” – concordo totalmente com ele.

Qualquer que seja a pretensão legal que possa ser envolvida acerca de uma libertação russa da Ucrânia, a realidade é que qualquer terra que a Rússia libertar, tornar-se-à propriedade sua e terá que a administrar.

Por que razão a Rússia iria querer impor a lei e a ordem dentro de um buraco negro?

Depois, há o seguinte: enquanto historicamente os ucranianos não passam de “russos sob ocupação polaca”, os últimos 30 anos criaram uma nação nova e muito diferente. Na verdade, testemunhamos o nascimento de uma nova nação cuja identidade é russofóbica no seu cerne. Sim, eles falam russo melhor do que ucraniano, mas falar a língua do seu inimigo não impediu que o IRA, a ETA ou os Ustashis odiassem aquele inimigo e lutassem contra ele ao longo de décadas. Em muitos aspectos, os ucranianos modernos não são apenas não-russos, eles são anti-russos por excelência: penso neles como polacos.

A Crimeia foi solidamente pró-Rússia em toda a sua história. O Donbass ficou inicialmente bastante feliz por fazer parte da Ucrânia, mesmo no início do período pós-Maidan, quando os protestos foram organizados sob bandeiras ucranianas. Essas bandeiras foram posteriormente trocadas por bandeiras LDNR/russas, mas somente depois de Kiev ter lançado uma operação militar contra o Donbass. Quanto mais se vai para o oeste, mais clara é essa distinção. Como disse um comandante do LDNR: “quanto mais vamos para o oeste, menos somos vistos como libertadores e mais somos vistos como ocupantes”.


O ponto crucial aqui é o seguinte: não importa o que se pense sobre as partes constituintes da nova identidade nacional ucraniana, podemos rir disso quanto quisermos, mas contanto que eles o levem a sério, e muitos deles o fazem, então é uma realidade que não podemos simplesmente ignorar. Outro ponto muitas vezes esquecido é este: o ukronazi Banderistão [NT] já quase colapsou. Sim, no centro de Kiev as coisas parecem mais ou menos normais, mas todos os relatórios do resto do país apontam para a mesma realidade: a Ucrânia é um Estado falido, totalmente desindustrializado, onde o caos, a pobreza, o crime e a corrupção são totais. O mesmo está a tornar-se verdade nos subúrbios de Kiev.

Quando observo como são lentos os esforços russos para reorganizar a Crimeia, sem culpa dos russos, aliás, recuo de horror ao pensar no que seria necessário para a Rússia recivilizar, reconstruir e desenvolver qualquer parte da Ucrânia libertada.

A Rússia é tipicamente comparada a um urso e essa é uma metáfora muito boa a vários níveis. Mas no caso da Ucrânia, eu vejo a Rússia como uma cobra e a Ucrânia como um porco: a cobra pode facilmente matar aquele porco (por veneno ou por constrição), mas aquela cobra não pode absorver aquele porco morto, é simplesmente muito grande para isso.

Eis o facto mais importante sobre toda esta situação: o ukronazi Banderistão está a morrer, a maior parte de seu corpo já está necrótica, assim não há absolutamente nenhuma necessidade de a cobra russa fazer alguma coisa a respeito, a não ser recuar para um canto e estar pronta para golpear: “ataque-me e você está morto!” Putin já disse isso.

Ainda assim, e então? E se os nazis, instigados por seus “democráticos” patronos, lançarem um ataque? Nesse ponto, a Rússia não terá outra opção a não ser atacar, usando suas armas de defesa (mísseis, artilharia, mísseis de cruzeiro de longo alcance, etc.). Como podemos presumir com segurança os russos têm ensaiado exatamente um tal contra-ataque, podendo-se esperar que seja rápido e devastador. A lista de alvos incluirá: as forças ucranianas avançadas, bases aéreas e qualquer aeronave (tripulada ou não) que delas decolem, qualquer barco ucraniano que se aproxime da zona de operações, nós de comunicação, depósitos de suprimentos, estradas, pontes, posições fortificadas, etc. Há muitos alvos a serem atingidos de uma vez. Mas atingi-los de uma vez também é o método mais seguro e eficaz para atingir rapidamente o objetivo de travar de imediato qualquer possível avanço ucraniano sobre as LDNR. Esta fase inicial duraria menos de 24 horas.

Nota: A guerra moderna não é como a 2ª Guerra mundial, não veremos centenas de tanques e uma clara linha da frente mas, ao invés, veremos ataques em profundidade estratégica do lado inimigo, intensas manobras de fogo e uso de grupos de batalhões tácticos.

Caso isto aconteça, é provável que as forças da NATO se movam para o oeste da Ucrânia, não para “protegê-la” de um ataque russo que nunca acontecerá, mas para ocupar o máximo possível da Ucrânia e tomá-la sob controlo. O pretexto para tal movimento da NATO seria a destruição (parcial ou total) da sua força avançada (tripwire). A NATO também pode declarar a sua própria zona de exclusão aérea no oeste da Ucrânia, que os russos não terão necessidade de contestar. Finalmente, o Ocidente ficará feliz em se unir contra a Rússia e cortar todos os laços económicos, diplomáticos e outros para “isolar e punir a Rússia”. Não nos iludamos, isso prejudicaria a economia russa, mas não o suficiente para quebrar a sua determinação.

Então chega-se à grande questão: até onde deveria ir a Rússia?

Estou confiante em que isto já tenha sido decidido, e creio igualmente que a Rússia não seguirá as opções 4, 5 e 6 acima. A opção 1 é um dado, podemos coloca-la na lista (a menos que as forças LDNR sozinhas sejam suficientes para travar um ataque ucraniano). O que deixa as opções 2 e 3 como “possíveis”.

Assim, quero aqui sugerir uma outra opção, a que chamaria de “rota do sul”: embora a linha de contacto entre as LDNR e o Banderistão possa ser empurrada um pouco mais para o oeste, não creio que as forças russas devessem libertar qualquer uma das grandes cidades no centro da Ucrânia (Kharkov, Poltava, Dneipropetrivsk, Zaporozhie). Em vez disso, penso que deveriam envolver (to envelop) estas forças através de um movimento ao longo da costa até toda a Crimeia (até Perekop) e talvez mesmo um pouco mais, até a cidade de Kherson (mas não dentro dela). Claro que para conseguir isso, seria necessário trazer uma força suficientemente grande para o triângulo Voronezh-Kursk-Belgorod. A Frota Russa do Mar Negro também poderia conduzir operações ao longo da costa ucraniana, incluindo perto de Nikolaev-Odessa, para forçar os ukies a alocar forças para as defesas costeiras, aliviando assim a carga sobre as forças russas que se movessem em direção a Kherson.

Nota: Sejamos claros, as forças das LDNR não podem conduzir uma operação tão profunda sem o risco de envolvimento e destruição. Essa operação só pode ser executada a um custo relativamente baixo pelas forças armadas russas, incluindo a Frota do Mar Negro.

Num tal cenário, a Bielorrússia poderia transformar-se numa “ameaça silenciosa a Norte”, o que obrigaria ainda mais os ukies a alocarem forças nas suas fronteiras a Norte, fazendo com que estes últimos se sentissem envolvidos em pinças estratégicas.

E quanto a Odessa?

Odessa é uma cidade única em muitos aspectos, A sua população é geralmente pró-russa. É também uma cidade que teria um enorme potencial económico se administrada por pessoas sãs. No entanto, Odessa também é uma cidade simbólica para os nazis e eles esforçam-se muito por controlá-la. Assim, Odessa é uma das poucas cidades na Ucrânia ocupada pelos nazis que poderia rebelar-se contra o seu ocupante, especialmente quando forças russas se movessem ao longo da costa na sua direção. É aqui que a Rússia podia e deveria envolver-se, não pela tomada da cidade ao estilo da segunda guerra mundial, mas apoiando organizações pró-russas em Odessa (principalmente pela utilização das suas forças especiais e, quando necessário, o poder de fogo da Frota do Mar Negro).

Qual seria o resultado de tal guerra?

Por um lado, o ocidente unir-se-ia no seu ódio tradicional à Rússia e, economicamente, a Rússia seria prejudicada. Isto não é irrelevante, mas, creio, este cenário já está em construção mesmo que a Rússia não faça absolutamente nada. Portanto, esta realidade inevitável deve ser aceite pela Rússia como condição sine qua non para sua sobrevivência como nação soberana.

Em termos militares, os polacos e seus mestres dos EUA provavelmente “libertariam de forma protetora” o oeste da Ucrânia (Lvov, Ivano-Frankovsk). E daí? Deixem-nos! Não há penalização para a Rússia por isso. Além de que os Ukronazis mais radicais teriam que lidar com seus antigos mestres polacos agora de volta ao controlo total – deixem-nos divertirem-se uns com os outros 🙂

E quanto ao Banderistão do lombo (estamos a falar aqui acerca da Ucrânia central)? Acabaria por estar numa situação ainda pior do que está hoje, mas a Rússia não teria que pagar as contas daquela bagunça. Mais cedo ou mais tarde, uma insurreição ou guerra civil acontecerá, o que porá ukies de uma fracção contra outra, e se alguns se voltassem contra a Rússia ou contra as partes libertadas da Ucrânia, a Rússia poderia simplesmente usar as suas armas de impasse (standoff weapons) para rapidamente desencorajar quaisquer tentativas assim.

Então, quão próximos estamos da guerra?

Resposta curta: muito. Basta ouvir esta recente conferência de imprensa de Lavrov. E não é apenas Lavrov, muitos analistas e políticos experientes na Rússia basicamente dizem que a questão não é “se”, mas “quando” e, portanto, “como”.

Penso que a gota de água que quebrou a paciência da Rússia foi a maneira suicida como os europeus reais (históricos) permitiram que os 3B+PO definissem a agenda da UE e da NATO. Se o Nord Stream 2 for adiante, como provavelmente ainda acontecerá, os russos ficarão felizes em vender energia para a Europa. Mas em termos de agenda, a única potência com a qual a Rússia está disposta a falar é com os EUA, como testemunhado pelas recentes visitas de Nuland e Burns a Moscovo.

Uma coisa é muito clara: A Rússia não quer guerra. Na verdade, a Rússia fará tudo ao seu alcance para evitar uma guerra. Se uma guerra não puder ser evitada, a Rússia atrasará o início dessa guerra o mais possível. E se isso significa conversar com pessoas como Nuland ou Burns, então é algo que os russos farão com prazer. Eles estão absolutamente certos nessa postura (não falar com o inimigo é um transtorno mental do ocidente, não russo).

Como venho dizendo há quase dois anos, o Império já está morto. Os EUA como os conhecíamos morreram em 6 de janeiro. Mas os EUA pós 6 de janeiro ainda existem e, ao contrário dos europeus, as classes dominantes americanas têm uma agenda própria. Basta olhar para palhaços como Stoltenberg, Borrell, Morawiecki ou Maas: todos eles são burocratas mesquinhos, plâncton de gabinete, que podem ter habilidade para dirigir uma agência de aluguer de automóveis, talvez um motel, mas não são líderes reais que alguém no Kremlin vá levar a sério.

Pode-se odiar Nuland ou Burns quanto se quiser, mas são pessoas sérias e perigosas e é por isso que a Rússia está disposta a falar com eles, especialmente quando o pedido para tais negociações foi feito pelo lado dos EUA (os russos não podem falar concretamente com palhaços como Biden ou Austin, os quais são apenas figuras de relações públicas).

Uma coisa precisa ser mencionada aqui: o povo do Banderistão e o que lhe acontecerá.

Na verdade, penso que a Ucrânia é total e terminantemente insalvável e o único plano bom para qualquer pessoa que ainda lá viva é fazer o que milhões de ucranianos já fizeram: fazer as malas e partir. Uma vez que a maior parte da mão-de-obra ucraniana não qualificada vive nas regiões ocidentais da Ucrânia, preferirão naturalmente mudar-se para a UE para trabalhar como taxistas, canalizadores, criadas domésticas e prostitutas.

Da mesma forma, uma vez que a maioria da mão-de-obra qualificada ucraniana vem do sul e do leste da Ucrânia, ou ficarão contentes em serem libertados pela Rússia ou mudar-se-ão para a Rússia para trabalhar como engenheiros, médicos, especialistas em TI ou mesmo trabalhadores da construção civil. A Rússia tem necessidade de uma força de trabalho culturalmente tão próxima e qualificada e a obtenção de empregos (e passaportes) para eles será simples para o Kremlin. É verdade que o que restará desta Ucrânia pós-Banderistão não será uma bela visão: um país pobre, corrupto, cujo povo lutará para sobreviver com muitas ideias políticas tolas a flutuarem em torno. Mas isso de qualquer modo não será problema da Rússia, ao passo que a principal ameaça à Rússia, um Banderistão unido que se tornará um polígono de treino da NATO ao lado da fronteira russa, simplesmente evaporar-se-á, morrendo com as suas próprias emissões tóxicas. E se mais ucranianos quiserem mudar-se para a Rússia (ou para a Ucrânia livre), então as LDNR e as autoridades russas poderão decidir caso a caso “queremos estas pessoas aqui ou não?”. Os ucranianos que permanecerem ucranianos serão bem-vindos na Rússia ao passo que aos Ukronazis será negada a entrada e presos se o tentarem.

Adenda: as duas potências com fantasmagóricos sofrimentos imperiais e sonhos de guerra

Estou, claro, a falar do Reino Unido e da Polónia, dois actores menores que compensam as suas capacidades reais muito limitadas com um fluxo interminável de declarações vociferantes. Na sua maior parte, elas são apenas “a brincar de império”. Ambos os países sabem exactamente que já foram verdadeiros impérios e porque são hoje quase irrelevantes – culpam muito da sua própria decadência à Rússia e, por conseguinte, o seu sonho é ver a Rússia, se não derrotada, pelo menos com um nariz ensanguentado. E, claro, de pé sobre os ombros dos EUA, ambos consideram-se gigantes actuando com grande solenidade e pompa.

Finalmente, a sua liderança é degenerada o suficiente (complexo de inferioridade compensado por um narcisismo descontrolado) para carecer até mesmo do senso comum básico e perguntar-se se molestar o urso russo é uma boa ideia ou não. Mais do que qualquer outro membro da NATO, esses países tagarelas precisam de uma boa estalada para trazê-los de volta à realidade.

É impossível prever se esse embate virá na forma de algum incidente na Ucrânia ou se acontecerá noutro lugar, mas uma coisa é certa: o Reino Unido e a Polónia são (mais uma vez!) os dois países que desejam, digamos mesmo, que precisam de uma guerra com a Rússia mais do que quaisquer outros (exemplo um, exemplo dois).

Portanto, acho bastante provável que, mais cedo ou mais tarde, a Rússia terá de afundar um navio britânico ou polaco ou abater uma ou várias aeronaves britânicas ou polacas o que mostrará ao mundo, incluindo britânicos e polacos, que nem os EUA, nem a NATO, nem ninguém mais vai seriamente provocar uma guerra com a Rússia por causa dos subalternos do Império. Sim, haverá tensões, possivelmente até confrontos locais e toneladas de verborreia ameaçadora, mas ninguém quer morrer por essas duas hienas da Europa (Churchill esqueceu-se de mencionar uma delas) e ninguém o fará.

Conclusão: guerra no horizonte

Neste exacto momento já estamos bem dentro de um período pré-guerra e, como uma pessoa a patinar sobre gelo fino, perguntamo-nos se o gelo vai quebrar e onde poderá acontecer. Simplificando, os russos têm duas opções:
• Uma resposta verbal
• Uma resposta física

Há pelo menos sete anos, se não mais, eles têm tentado a primeira opção o melhor que podem. Putin trocou espaço por tempo, e essa foi a decisão correta considerando o Estado das forças armadas russas antes de, aproximadamente, 2018. A eleição de Trump também foi uma dádiva de Deus para a Rússia porque enquanto ele ameaçava o planeta a torto e a direito, não iniciou nenhuma guerra em grande escala contra a Rússia (nem contra o Irão, China, Cuba e a RPDC).

No final de 2021, no entanto, a Rússia recuou o máximo que podia. A boa notícia agora é que a Rússia tem os meios militares mais modernos e capazes do planeta, enquanto o Ocidente está muito ocupado cometendo suicídio político, cultural e económico.

De acordo com analistas americanos, em 2025 os EUA não serão capazes de vencer uma guerra contra a China. Francamente, acho que isto já se passou há muito, mas esta meia admissão é uma tentativa desesperada de criar um clima político e preparar a defesa antes que a China se torne oficialmente a segunda nação que os EUA não podem derrotar, sendo a primeira, obviamente, a Rússia (eu incluiria até o Irão e a RPDC nessa lista).

Consequentemente, toda a atual postura da NATO no Mar Negro (que é ainda mais perigosa para os navios dos EUA/NATO do que nos mares da China) é apenas isso: postura. O principal risco aqui é que não estou de todo convencido de que “Biden” possa controlar os britânicos ou os polacos, especialmente porque os dois são membros da NATO que esperaram sinceramente que a NATO os iria proteger (deveriam perguntar a Erdogan sobre isso).

É claro que na realidade não existe “NATO”: tudo o que existe são os EUA e seus Estados vassalos na Europa. Se os dois aspirantes a impérios desencadearem uma guerra real e explosiva, bastaria um único ataque de míssil convencional russo em algum lugar nas profundezas continentais dos EUA (mesmo num local desértico) para convencer a Casa Branca, o Pentágono ou a CIA a “entrar em ação com o programa” e buscar uma solução negociada, deixando os britânicos e os polacos totalmente desgostosos e parecendo tolos. Não creio que qualquer coisa diferente possa trazer estes dois países de volta ao sentido da realidade.

Sim, a guerra está aproximar-se e a única coisa que pode impedi-la seria algum tipo de acordo entre a Rússia e os EUA. Será que isso acontece? Infelizmente não vejo nenhum presidente dos EUA fazendo tal acordo: aquele que está no poder será acusado pelo outro partido e por todo o resto da verborrágica e patrioteira classe política dos EUA, especialmente no Congresso, de “fraqueza” e de “ser um activo russo”

Um fator possivelmente atenuante é que os políticos dos EUA também estão determinados a confrontar a China, inclusive durante os próximos Jogos Olímpicos, e se essas tensões continuarem a escalar, os EUA vão querer que a Rússia não represente uma ameaça pelo menos direta aos interesses dos EUA na Europa e no Pacífico.

Assim, talvez Putin e Xi possam actuar em conjunto, garantindo que cada dia que passe o Tio Shmuel fique ainda mais fraco, ao passo que a Rússia e a China ficam mais fortes. Talvez essa estratégia possa evitar uma guerra, pelo menos uma grande. Mas quando ouço o palavreado vindo do RU + 3B + PO, tenho muito pouca esperança de que os chanfrados da Europa possam ser retirados da beira do precipício.

18/Novembro/2021

[NT ] “Banderistão”: termo cunhado pelo autor para designar a actual Ucrânia, controlada pelos nazis. Tem origem no nome do general Stepan Bandera, criador da “Divisão Galícia” que colaborou com os nazis na 2ª Guerra Mundial, combinado com o sufixo persa “istão” que significa “terra de”.


O original encontra-se em thesaker.is/russian-options-in-a-world-headed-for-war/
Este artigo encontra-se em resistir.info

Um retrato da intervenção russa na Síria

Autor: Pedro Paulo Rezende

Fonte: Arsenal – Geopolítica e Defesa

É inegável o impacto da intervenção russa, aprovada pelo Parlamento em Moscou no dia 30 de setembro de 2015, na Guerra Civil da Síria. Quando o processo teve início, em 1º de outubro de 2015, o regime sírio de Bashar Al Assad, de caráter laico, controlava pouco mais de 25% do território do país. O Estado Islâmico da Síria e do Levante dominava cerca de 30% e o restante estava dividido entre 12 grupos do que o Ocidente batizou de “oposição democrática”, formado, em sua enorme maioria, por facções religiosas sunitas bancadas financeiramente pelas monarquias absolutistas do Golfo Pérsico e apoiados por uma coalizão chefiada pelos Estados Unidos.

Hoje, 29 meses depois, os últimos focos de resistência nas proximidades de Damasco, a capital, foram eliminados no dia 21 de maio. Graças a acordos entre governo e opositores, os rebeldes são transportados por ônibus para uma faixa de 20% do território mantida, junto às fronteiras iraquiana e turca, graças ao suporte militar de Washington. A presença norte-americana tornou-se ainda mais problemática com a recente intervenção ordenada pelo presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, colocando em campos contrários os interesses de dois dos maiores integrantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Os focos de resistência opositores sob o alcance do regime sírio caem aos poucos em ações de cerco e o governo de Assad, legal e legítimo, controla a quase totalidade dos grandes centros econômicos do país.

É importante ressaltar que estes avanços ocorreram com o uso de forças extremamente limitadas. O contingente russo no país resume-se a 10 mil homens, a grande maioria, cerca de 8 mil, envolvido na proteção do porto de Tartus e do aeródromo de Khmeimim, bases que atuam no suprimento logístico e no suporte aéreo das operações militares.

Autossuficiência

Quando o processo de intervenção teve início, a pedido do governo sírio, os especialistas ocidentais garantiram que a Federação Russa não teria condições de manter o volume inicial de operações, devido às sanções econômicas determinadas pelos Estados Unidos e pela União Europeia como punição pela reincorporação da Crimeia, ocorrida em 2015.

A avaliação não levou em conta o potencial industrial e agrícola herdado da União Soviética. O país, hoje, retomou o crescimento, caminha para a autossuficiência e apresenta um índice de desemprego de apenas 5%. Além disto, ao manter uma presença limitada no Levante, a Rússia diminuiu o impacto da intervenção militar em sua economia. Para isto, investiu na reconstrução do Exército Árabe da Síria.

O primeiro passo envolveu a reposição dos equipamentos perdidos durante as ofensivas mantidas pelo Exército Islâmico e pelos grupos rebeldes. Foram transportadas mais de 4.000 unidades, que totalizaram 1.608.000 toneladas de carga, por meio de 342 navios e 2.278 voos. Unidades russas de manutenção e reparação instalaram a infraestrutura necessária para apoiar, manter e corrigir deficiências ou mau funcionamento nos equipamentos em instalações na base aérea de Khmeimim e no porto de Tartus.

Para reconstruir o potencial combativo do Exército Árabe da Síria, a Rússia entregou sistemas de ponta, como os carros de combate T-90U — que resistiram a impactos diretos de mísseis antitanques ocidentais como o MILAN, francês, e o TOW norte-americano — e o lança-foguetes TOS-1A Buratino, que emprega munições termobáricas. Ao mesmo tempo, deslocou especialistas para servirem de consultores às unidades sírias. Hoje, os comandantes de brigadas do país árabe contam com apoio direto de oficiais russos que auxiliam, em tempo real, no processo de tomada de decisões. Para isto, dispõem do apoio de aeronaves remotamente pilotadas e com pequenas unidades das melhores forças especiais da inteligência russa, equivalentes aos SEALS da Marinha estadunidense, que trabalham de forma independente em campo.

Com estas medidas simples e de certa forma baratas, o governo sírio conseguiu retomar o moral para lançar novas ofensivas contando com apoio aéreo efetivo oferecido pela Força Aérea e pela Marinha da Federação Russa. É preciso ressaltar que a oposição conta com fluxo constante de material ocidental e de origem soviética. Em reportagem publicada pelo jornal búlgaro Trud, a jornalista Dilyana Gaytandzhieva comprovou, por meio de documentos, o envio de armas búlgaras, tchecas e romenas para os rebeldes usando 350 voos classificados como mala diplomática. O equipamento, segundo a documentação, teria como destino o Arsenal de Picatinny, nos Estados Unidos.

Outro ponto ajudou o processo de reconstrução do Exército Árabe da Síria: a atuação desastrosa da chamada “oposição democrática” nas áreas que manteve sob seu controle. A imposição da Lei Islâmica, a Sharia, com a imposição do uso de véu às mulheres, ações agressivas contra minorias religiosas muçulmanas (alauíta, sufi e xiita) e cristã, como assírios e coptas, terminaram por minar o apoio popular e por favorecer o fluxo de voluntários dispostos a lutar por Bashar Al Assad, mas é óbvio que o fator predominante para a virada na Síria foi a eficiência do apoio aéreo oferecido pelos russos.

Apoio Aéreo

Empregando aviões, helicópteros e mísseis de cruzeiro, cerca de 40 mil missões foram realizadas desde o início da intervenção. A lista de equipamentos testados é extremamente abrangente e envolve, praticamente, todos os modelos de aviões de combate empregados pela Força Aérea e pela Marinha da Federação Russa. Neste processo, 215 diferentes tipos de armamentos modernos e avançados foram empregados durante a operação, inclusive o novíssimo caça furtivo Sukhoi Su-57. Capacidades foram reveladas surpreendendo o Ocidente. Quando pequenas corvetas de 500 toneladas de deslocamento que operam no Mar Cáspio atingiram, com mísseis de cruzeiro Kalibr, alvos na Síria, a Marinha dos Estados Unidos retirou temporariamente seu porta-aviões do Golfo Pérsico.

A Marinha, empregando, além das pequenas corvetas, submarinos convencionais e fragatas, disparou mais de 100 Kalibr. Ela também executou missões a partir do porta-aviões Almirante Kuznestsov, as primeiras da história da Rússia, atingindo 1.252 alvos terroristas.

Um ponto importante, pouco destacado pela mídia ocidental, foi o emprego de aeronaves remotamente pilotadas. O jornal israelense Haaretz destacou em um artigo, publicado em 2016, que um aparelho de pequeno porte invadiu, durante 30 minutos, o território das Colinas de Golan. Para neutralizá-lo foram disparados dois mísseis Patriot de fabricação norte-americana, que falharam. Um caça F-16 decolou e tentou engajar o alvo, que realizou manobras de evasão, aparentemente com o uso de inteligência artificial, e retornou incólume ao território sírio.

A intervenção utilizou bombardeiros estratégicos Tupolev Tu-160 e Tu-22M3 armados com mísseis Kh-101; caças-bombardeiros Sukhoi Su-24, Su-30 e Su-34; aviões de ataque Su-25 e helicópteros de ataque Mil Mi-35, Mi-28 e Kamov Ka-52. O total de perdas, menos de dez aeronaves e cerca de 200 homens (incluindo combatentes de terra), foi reduzido diante do volume de operações envolvido.

As unidades russas também enfrentaram desafios novos. As forças de oposição usaram enxames de drones armados com pequenas bombas explosivas para atacarem Khmeimim e o porto de Tartus. Nenhum deles atingiu o alvo. De um total de 14, oito foram derrubados por mísseis PANTSIR S-2. Usando sistemas de interferência, a defesa tomou o controle de seis drones, capturando-os. Ao acessarem os dados, verificaram, com surpresa, que estavam programados para atingirem milimetricamente, com a ajuda de GPS, alvos valiosos, como aviões de combate, o que prova o envolvimento de potências estrangeiras.

Para evitar problemas como os enfrentados pela OTAN durante a invasão de Kosovo, quando os estoques de armas inteligentes da Coalizão praticamente se esgotaram, os pilotos russos treinam para usar armas convencionais com grande precisão. Este approach tem dado certo e o total de baixas colaterais se assemelha ao verificado em ataques com equipamentos guiados realizados pela Aliança Ocidental na Síria, uma prova de que o homem pode superar a máquina.

Nota do Editor do Blog DG:  Pedro Paulo Rezende é um veterano jornalista, especializado em Defesa e Geopolitica.

As “causas universais” contra o Estado Nacional

Por: André Araújo
Fonte: Jornal GGN

Foram os EUA que, ao fim da Primeira Guerra Mundial, inauguraram a Era das causas universais, contra a soberania dos Estados Nacionais, poupando desse combate seu próprio Estado.

Em artigo especifico sobre esse tema tratei do papel do Presidente Woodrow Wilson na propagação desse principio de “causas” contra “Estados”. Wilson foi o primeiro Presidente “politicamente correto” dos Estados Unidos e seu ativismo missionário foi um desastre completo de politica externa, podendo-se dizer que ele foi um dos que plantaram as sementes da Segunda Guerra através de seu idealismo tosco e tolo, sua visão fantasiosa da Historia e seu iluminismo mal colocado e mal aplicado. Wilson foi o grande maestro do Tratado de Versalhes, o pior acordo diplomático da História contemporânea, tão ruim que sequer o Congresso do seu próprio País o ratificou. Compare-se o Tratado de Versalhes de 1919, que durou formalmente 20 anos, mas efetivamente deixou de ser aplicado após 1933, portanto sua vigência real foi de 12 anos, após 1933 sua validade foi enfrentada pelo nazismo, com outro grande acordo histórico, a Paz de Viena de 1815, que durou 99 anos, obra de magistrais realistas da verdadeira politica, o Príncipe de Metternich e o Principe de Talleyrand, estadistas de berço e escol que sabiam operar a História e não viviam de ilusões moralistas.

As Causas e os Estados Nacionais

Uma “causa” moral é fundamentada na ética e seus ativistas a consideram acima da politica.

Para eles a causa tem um valor superior à noção de Estado e assim deve ser entendida e aplicada. Wilson, por exemplo, entendia que os “protocolos secretos” nos tratados diplomáticos não deveriam existir e que todos os artigos e disposições de um tratado deveriam ser revelados aos cidadãos. É uma grande estupidez, há inúmeros temas em negociações diplomáticas que devem permanecer secretos para sua própria eficácia.

Wilson abraçava a “causa da transparência”, uma virtude sempre benéfica para ele.

Wilson criou imensos problemas nas suas desastrosas intervenções na Conferência de Versalhes e a conta dessa fantasia explodiu em Setembro de 1939. A marca de ação de Wilson foi a prevalência das “causas” sobre o realismo politico, que Wilson considerava corrupto e imoral, ele achava que os europeus praticavam uma politica de safadezas e engodos resultante da decadência moral que vinha de longe enquanto que ele, Woodrow Wilson, representava a pureza dos peregrinos que formaram os Estados Unidos.

Por isso pode-se considerar Woodrow Wilson o pai da doutrina politica das causas universais que tem um valor superior às soberanias que, segundo Wilson, são a fonte do mal que levou à Grande Guerra de 1914. Conquanto a Doutrina Wilson possa ser considerada altruísta em termos filosóficos, ela sempre foi desligada da realidade geopolítica, e a tentativa de introdução de modelos não realistas produz resultados muito piores do que os pecados que visa extirpar, a luta pela causa produz mais males do que o mal primitivo.

O Estado Nacional e as suas Razões Não Morais

Desde a criação dos Estados Nacionais entre 1460 e 1610, esses entes aéticos usam de todos os instrumentos de poder à sua disposição, como usavam os nobres e senhores feudais antecessores dos Estados em suas intermináveis lutas por territórios e riquezas. Um Estado não sobrevive a partir de purezas e bondades neutras, contra o que há a razão de Estado.

Os Estados grandes usam a espionagem como instrumento de poder e essa ação na sua origem e pratica envolve largamente a corrupção pelo Estado, os espiões são subornados em beneficio de um Estado que geralmente não é o seu. Os Impérios foram formados em grande medida por compras de lealdades nos territórios a conquistar, assim a Inglaterra conquistou a India, o “Raj”, aliciando os marajás e rajás, foi mínima a ação militar no subcontinente, valia a adesão comprada e assim foi até a Independência em 1947, na China a influencia britânica no período entre a Guerra dos Boers e a fundação da Republica em 1911 foi financiada com venda de opio aos “warlords”, territórios e concessões eram compradas, como Hong Kong, como negocio, a área de soberania extra territorial de Shangai era a própria confissão da compra.

Em tempos modernos como encarar a soltura do maior chefe mafioso dos EUA, Lucky Luciano,(Salvatore Lucania) muito mais importante que Al Capone, cumprindo pena de 50 anos na penitenciaria de Sing Sing, a pedido da Inteligência Naval americana, para que o mafioso fosse um “batedor” na invasão da Sicília, pelas suas rede de ligações na sua terra natal. Como guia, Luciano pouparia vidas de soldados ao aliciar colaboradores por trás das linhas alemãs, servindo como “abre alas” das tropas do General Patton. Soltar Luciano era absolutamente imoral, mas RAZÕES DE ESTADO prevaleceram sobre a logica do sistema judiciário, um interesse maior de Estado se sobrepunha. Luciano prestou os serviços para os quais foi contratado pela Marinha e foi pago com a comutação da pena em 1948, assinada pelo Governador Dewey, de Nova York, com a condição de não mais voltar aos EUA. Luciano livre depois da Guerra teve ainda grande atividade criminosa como chefe de uma das cinco famílias e teve tempo para montar a grande rede de casinos em Cuba que controlou até a Revolução Castrista, morrendo de morte natural em Nápoles em 1962. O arranjo do Estado americano com Luciano foi absolutamente imoral e aético, mas prevaleceram as razões de Estado.

A Campanha Anti-Corrupção na América Latina

Um caso clássico do confronto entre “causas” e razões de Estado. Instala-se uma Associação Ibero Americana de Ministérios Públicos, declarando ser a união de 21 MPs de países do Continente e abre campanha internacional anti-corrupção, com aceitação de denuncias e troca de informações entre Ministérios Públicos. É um confronto absoluto entre “causas” e razões de Estado. Vamos ao exemplo da “reapolitik”. O Governo Brasileiro tem em um país vizinho um Chefe de Estado alinhado com os interesses do Estado Brasileiro. Esse Presidente dá preferencia a empreiteiras brasileiras para seu grande programa de obras publicas. O Estado brasileiro tem todo o interesse na permanência desse Presidente porque ele atende aos interesses do Brasil. Mas sai do Ministério Publico brasileiro documentação colaborativa que pode criar condições para um impeachment desse Presidente de pais vizinho por ter recebido doação de campanha de empreiteira brasileira. Para o Governo brasileiro a queda de um Presidente aliado vai contra os interesses do Estado brasileiro, essa “colaboração” do MP brasileiro com seus colegas do País vizinho vai contra as razões de Estado do Brasil, não pode acontecer porque o Brasil NADA GANHA com a queda desse Presidente, só perde e muito.

Essa seria uma situação de “realpolitik”, mas não está sendo operada pelo Brasil como Estado.

O MP brasileiro colaborou para derrubada ou desgate de Presidentes e políticos de países vizinhos e da África alinhados com os interesses do Estado brasileiro, grave erro de geopolítica.

O que o Brasil GANHOU em colaborar para a derrubada de políticos amigos? Absolutamente nada. Então porque fez? Porque o Estado brasileiro perdeu completamente o controle de sua projeção de poder geopolítico, permitindo o desgaste e, portanto, o enorme prejuízo de desmonte de posições politicas e econômicas em grande numero de países, conquistadas por suas empreiteiras e marqueteiros políticos operando em aliança para apoiar eleição de presidentes alinhados ao Brasil, um modelo engenhoso que foi implodido em nome da “causa’ universal anti-corrupção mas com enorme perda para os interesses estratégicos do Brasil.

Um Estado patrocina interesse nacional e não causas universais, que JAMAIS SÃO NEUTRAS, as causas servem como arma politica a todo tempo, não importa a intenção inicial de seus patrocinadores, causas podem atingir alvos imprevistos pelas suas boas intenções iniciais.

As causas “anti-corrupção” são as menos neutras entre todas porque seus efeitos POLITICOS são imediatos e concretos, mudam as peças do jogo do poder e com isso mudam o resultado da disputa politica no mundo real, o manejo dessa causa gera imenso poder politico, a causa nunca é neutra mesmo que essa seja a intenção de seus patrocinadores.

No Brasil os beneficiários dessa causa foram em larga medida os Estados Unidos e seu arco de interesses geopolíticos, financeiros e corporativos, o enfraquecimento da PETROBRAS se deu por causa da escandalização dos desvios e não por causa da corrupção, essa sempre existiu na Petrobras como em quase todas as estatais petrolíferas do mundo, mas essa falha moral já estava precificada pelos mercados. A super escandalização provocou ações de acionistas minoritários nos EUA e uma serie de multas e indenizações ainda não terminadas, esses processos custarão muito mais que as propinas, incluindo a colocação de monitores americanos do Departamento de Justiça dentro da Petrobras, a perda de independência da empresa é absoluta, para todos os efeitos práticos a Petrobras é governada de fora.

O pior resultado da campanha de “causas morais” foi a preparação de condições para duas grandes operações de desmonte do Estado e do sistema econômico brasileiro: a “privatização branca” da Petrobras pela venda de ativos sem licitação e contra a logica estratégica, provocando a DESINTEGRAÇÃO da petroleira, sendo a integração o padrão da concorrência e em segundo lugar venda de grandes blocos do PRE-SAL perdendo o Brasil a garantia de auto suficiência em petróleo, uma vez o petróleo extraído dos blocos vendidos pertencem a seus novos donos e poderá ser comercializado no mercado internacional, perdendo o Brasil sua garantia de abastecimento QUE ERA A RAZÃO DO PROJETO PRE SAL, desenvolvido desde o inicio pela técnica e esforço de pesquisa da Petrobras para suprir o Brasil de petróleo.

Ao lado desses prejuízos notórios há muitos outros. A quebra ou inviabilização de grandes construtoras e estaleiros, a transferência para o exterior de todas as encomendas de equipamento da Petrobras, na linha “preferencia pelo estrangeiro” em qualquer compra de qualquer natureza, toda uma visão esquizofrênica anti-brasileira e pro-estrangeiro DERIVADA DA IDEIA ANTI-CORRUPÇÃO cuja resultante foi a colocação de um notório privatista na sua presidência, como resposta à campanha de estigmatização da empresa.

Os Estados na lavagem de dinheiro

Grandes estados com interesse geopolítico global operam fundos encobertos para pagar operações especiais. A celebre operação IRÃ-CONTRAS no segundo Governo Reagan foi um complicado negocio envolvendo venda de armas ao Irã, que estava sob embargo resultante da invasão da Embaixada americana e o produto da venda destinado aos “contras”, milicianos que lutavam contra o domínio sandinista na Nicarágua, operação organizada pelo NSC, o Conselho Nacional de Segurança da Casa Branca, toda a operação clandestina do começo ao fim, sem passar pelo orçamento dos EUA, mas sob controle da Casa Branca.

A invasão da Baia dos Porcos em 1961 em Cuba, foi financiada com dinheiro de origem mafiosa numa operação organizada pela CIA, invasão que fracassou. Os mafiosos americanos controlavam o jogo e a prostituição em Cuba e se aliaram a CIA para uma tentativa de retomada de Cuba, o Estado americano aliado a grupos criminosos como na Sicília em 1943.

Mas a maior operação de lavagem de dinheiro praticada pelo Governo americano foi o financiamento do Vaticano no final da Segunda Guerra e nas três décadas seguintes.

Com o conflito na Itália entre 1943 e 1945, no quadro maior da Segunda Guerra, o Estado do Vaticano perdeu sua renda imobiliária que mantinha sua estrutura, no final da guerra em maio de 1945 a Itália, especialmente no Norte, viu um grande crescimento do Partido Comunista Italiano, o maior do Ocidente. Os Estados Unidos se preocupavam com a hipótese da Itália cair sob domínio comunista e somente o prestigio da Igreja poderia enfrentar essa ameaça. Allen Dulles, então chefe do OSS, escritório antecessor da CIA, arquitetou com o Vaticano a criação do Partido Democrata Cristão, que se tornaria o maior da Itália e a barreira contra o crescimento do PCI. Para financiar esse projeto, a CIA montou um esquema de financiamento do Vaticano e deste para o Partido Democrata Cristão que começava na Arquidiocese de Chicago destinando doações para o Vaticano, os recursos na realidade vinham de fundos da CIA. Para operar o sistema foi criado o IOR-Instituto de Obras Religiosas, conhecido como o “Banco do Vaticano”, sob a direção do Arcebispo Marcinkus, da Arquidiocese de Chicago e foi esse o canal financeiro que construiu o partido que governou a Itália por boa parte da segunda metade do Século XX.

Outra operação com dinheiro de origem não oficial organizada pela CIA foi o financiamento da Organização Gehlen, um vasta rede de espionagem dentro da antiga URSS herdada do serviço de inteligência do Exercito alemão e chefiada pelo general do Terceiro Reich Reinhard Gehlen, com mais de 1.000 agentes operando na União Soviética. O financiamento vinha de fundos secretos da CIA, sem registro e durou por boa parte do período da Guerra Fria.

Operações com dinheiro encoberto foram usadas em larga escala na invasão e ocupação do Iraque pelos serviços de inteligência americanos, conforme já relatei aqui em artigos específicos quando foram usados intensamente bancos de Beiruth e tradings polonesas como dutos de recursos para pagamentos dentro do Iraque.

O desastre brasileiro no acordo de cooperação judiciária com os EUA

Um dos atos governamentais mais desastrosos da Historia brasileira foi a assinatura pelo governo FHC de um “acordo” judiciário com os EUA, em 2001. Pode-se dizer sem chance de erro que esse acordo é o ninho da cruzada moralista e por tabela a semente da liquidação da PETROBRAS e da alienação do pre-sal. O enfraquecimento da PETROBRAS, submetida a extorsões sob pretextos de prejuízo a acionistas americanos, infringência a leis americanas anti-corrupção e outras sangrias sem fim já na casa dos bilhões de dólares, mais a colocação de “monitores” americanos, indicados pelo Departamento de Justiça em Washington, DENTRO da Petrobras para controlar suas operações, tudo isso ocorreu com base nesse fatídico Acordo de 2001, guarda chuva da cruzada moralista anti-corrupção, na realidade uma operação de grande porte disfarçada de “causa” para submeter o Estado brasileiro sob o manto do moralismo aplicado à politica, um instrumento tóxico pelos danos que causa à força do Estado.

Ao levar documentos e provas contra a PETROBRAS ao Departamento de Justiça para que este processasse a PETROBRAS, ao permitir que promotores americanos viessem ao Brasil interrogar delatores brasileiros, INOMINAVEIS AGRESSÕES foram cometidas contra o Estado brasileiro, seus interesses estratégicos, seu patrimônio e seu projeto geopolítico natural.

O Brasil e sua população pagam hoje com desemprego e pagarão no futuro com imensa perda de riquezas e patrimônio nacional, a leviandade com que o Poder Executivo e o Congresso brasileiro sem qualquer escrutínio de interesse nacional aprovaram esse absurdo “Acordo” sem nenhuma logica em torno algum objetivo estratégico para o Estado brasileiro, Acordo onde só o Brasil gera benefícios aos EUA e de lá não vem beneficio algum ao Brasil, servindo de cobertura para intromissão de Washington em assuntos brasileiros sem que reciprocamente o Brasil possa fazer o mesmo, como se viu no caso dos pilotos do Legacy, onde o tal Acordo não serviu para nada porque ele não atua onde há interesse dos EUA.

O Acordo de 2001, assinado por Fernando Henrique Cardoso e Celso Lafer é na realidade uma operação de projeção de poder dos EUA, como foi a operação de salvamento financeiro do Vaticano ou o conjunto de operações que levaram à invasão do Iraque em 2003.

Seus frutos finais atingem a PETROBRAS e o pre-sal, entre muitos outros resultados.

A presença geopolítica do Brasil na África

De todos os grandes países com potencial de ação internacional, o Brasil é o mais natural parceiro da África, pela sua diversidade cultural, étnica, religiosa, pela facilidade de convívio de seu povo com outras culturas, o Brasil é especialmente bem recebido nos países africanos, o que de forma alguma acontece com nossos concorrentes na área, os chineses, indianos, malaios, povos étnicos, com culturas fechadas, que não convivem bem com outras culturas e povos, não estão acostumados como os brasileiros à mescla de civilizações e hábitos.

Os chineses são recebidos hoje na África por falta de opção, mas o Brasil tem vantagens únicas para atuar no campo de obras publicas e grandes projetos no continente africano.

Enquanto no canteiro de obras de empreiteiras brasileiras há jogos de futebol com os locais, todos participam e se confraternizam, nos canteiros chineses, turcos, indianos isso é praticamente impossível, não se misturam, tem hábitos e costumes fechados, não mudam, são guetos implantados, a comida tem que ser importada, não há LIGA com a população local.

Pela mesma razão forças armadas brasileiras são as preferida para as missões de paz da ONU, sãos as mais bem recebidas em qualquer lugar e por sua vez se sentem bem em todo lugar.

As Empresas “Braço Longo”

Os grandes países usam empresas como braços de projeção de poder, o mundo se acostumou a ver a Standard Oil, a Texaco, o City Bank, a Pan American, a IBM e a ITT como braços do governo dos EUA, funcionavam não só como empresas comerciais, mas tinham também papel diplomático, de espionagem, de penetração estratégica, a Inglaterra tinha essa relação com a Shell e a Unilever, a Alemanha com a Siemens, a França com a Schneider, a Rhodia e a Cegelec, a empresa estratégica do Brasil seria a Odebrecht, liquidada pela cruzada moralista, empresa que chegou a ter 10% do PIB de Angola e operações em 30 países, em alguns, como no Peru, era a maior construtora, o mesmo no Equador, Republica Dominicana, etc.

Na Segunda Guerra foi a hoje extinta Pan American Airways quem construiu os aeroportos que seriam as bases aéreas para a invasão da África do Norte pelo Exercito americano, atuando como braço longo do Governo dos EUA no Brasil.

Os grandes países expansionistas USAM essas empresas “LONG ARM”, braço longo do Estado, para pagar espiões, operações especiais, proteger aliados dentro dos países, financiar campanhas, providencia empregos e exílios, TODOS os grandes países operaram suas relações internacionais usando empresas “braços longos” como INSTRUMENTOS de sua politica externa para tarefas onde o próprio Estado não deve aparecer. A Texaco foi fundamental para a vitória de Franco na Guerra Civil Espanhola, fornecendo petróleo a credito ao Exercito nacionalista como braço longo do Departamento de Estado, a ITT foi fundamental na derrubada de Allende no Chile em 1973, a IBM ficou na Alemanha nazista até dezembro de 1941 como olhos do Departamento de Estado mesmo após dois anos de guerra na Europa.

O que fez o Brasil? Liquidou com suas empresas “ponta de lança” em nome da moral, pelo caminho liquidando os políticos que ajudaram as empresas e o Brasil em projetos brasileiros em seus países, que abriram as portas ao Brasil e seus negócios e interesses. Nenhum País faz isso, perseguir suas próprias empresas no exterior, são armas nossas, todos vestem a mesma camisa, se alguém quiser investiga-las que sejam os países prejudicados e não o pais sede da empresa, é algo tão absolutamente obvio que custa a crer tenha ocorrido com o Brasil,, onde empresas brasileiras são DENUNCIADAS por procuradores brasileiros aos seus colegas do pais anfitrião, mas com que interesse do Brasil? Não é possível descobrir. Não consta que o governo do EUA faça o mesmo com suas multinacionais no Brasil, ele as protege em qualquer circunstancia, aliás e uma das principais funções da diplomacia americana em todo o mundo.

Será historicamente incalculável o prejuízo do Brasil ao cortar a ação de suas empresas de engenharia no exterior em nome do moralismo, assim como foi uma tragédia para a diplomacia brasileira a queda de um Presidente do Peru, pais vizinho, estratégico e importantíssimo para o Brasil, por denuncias vindas do Brasil. O que ganhou o Brasil com a queda de Pedro Pablo Kuczinsky? Nada, mas perdeu projeção de poder no Peu pelos próximos 30 anos. Como é possível o Estado brasileiro ter permitido isso? Não há resposta.

As “Causas” como Armas da Política 

As causas morais de todos os tipos, humanitárias, ecológicas, anti-corrupção, de direitos humanos, religiosas, servem como ARMA POLITICA sob a capa da virtude.

Uma histórica grande “causa” usada como arma politica foi a das CRUZADAS, verdadeiras operações de saque e tomada de território sob a capa de “reconquista dos lugares santos”.

A partir da Era dos Descobrimentos e depois na Era das Colonizações a pregação religiosa foi usada largamente como aríete de conquista de terras e riquezas. A bandeira era a “conversão dos infiéis”, o alvo real era a pura e simples busca do ouro em todas suas formas.

Parece incrível que ainda hoje não se entenda o uso claro e a luz do dia de “causas” como peças do jogo politico e não da propagação da virtude e da pureza moral.

Através dos tempos, o resultado final das lutas por ‘CAUSAS”, tem tido um saldo desastroso.

O rescaldo dos destroços deixados por essas lutas custa muito caro na Historia. A LEI SECA Americana, assinada pelo Presidente Woodrow Wilson em 1919, o primeiro Presidente “politicamente correto” dos EUA, não reduziu o alcoolismo e ao criar o espaço para o contrabando de bebidas fez a fortuna e o poder da MAFIA no País, o saldo da CAUSA moral foi o pior possível, como costuma acontecer por toda Historia.

“Causas morais” não podem reger a politica de um grande Estado, é a lição da Historia.

Ao se intrometerem na POLITICA, causam imensos estragos, outra lição da Historia.

O ambiente da politica nacional e internacional NÃO é puro e nunca foi por toda a História conhecida, ao tentar purifica-lo matam-se os germes ruins e os bons juntos, no ambiente asséptico nasce um germe novo muito mais agressivo, a terceira lição da Historia.

A Petrobras é a raiz do golpe

Por: André Araújo
Fonte: Jornal GGN

Não há nenhuma grande petrolífera estatal à venda no mundo e elas são 13 das 20 maiores empresas globais de petróleo. Especialmente não há nenhuma estatal petroleira à venda com grandes reservas de petróleo. É muito menos há estatais à venda com reservas de petróleo no Hemisfério Ocidental.

Nesse sentido a Petrobrás é única. Não só tem as reservas como tem os meios de extrai-la já prontos, ganha-se três anos que levaria para explorar um campo virgem. Nesse quadro a Petrobrás é o objetivo estratégico numero 1 na área de petróleo, especialmente com a elevação do nível de conflitos no Oriente Médio. Nada melhor que um governo frágil para permitir a execução desse projeto de privatização que já começou com a venda de ativos estratégicos da empresa, como oleodutos e a BR Distribuidora, já se anuncia a venda de refinarias, uma empresa em liquidação, a venda final será do pré-sal.

A assunção do grupo Temer ao poder só foi possível com o aval do “mercado”. O preço foi a entrega da totalidade da área econômica a delegados do mercado, Meirelles e Goldfajn na linha de frente, Paulo Pedrosa no Ministério de Minas e Energia, Maria Silvia no BNDES, Wilson Ferreira na Eletrobrás.

Mas a base ideológica do golpe foi o compromisso das privatizações dos dois maiores ativos do Estado brasileiro, a Eletrobrás, prometida à venda por 12 bilhões de Reais para ativos físicos que valem 400 bilhões de Reais e a Petrobrás , que vale só pelas suas reservas 350 bilhões de dólares, sem considerar o valor do mercado brasileiro do qual ela é a única fornecedora (até Parente abrir a importação para concorrentes), mais as refinarias, oleodutos, navios, enormes bases de distribuição, tancagem, apesar de boa parte desses bons ativos terem sido vendidos com sofreguidão pela desastrosa gestão Parente.

Uma das bases dessa gestão foi a lenda da Petrobrás quebrada, que já mostramos aqui em dois artigos, pura lenda, a Petrobrás lançou seis emissões de bônus no período de dois anos antes da gestão Parente, o mercado internacional fez ofertas para compra de três a cinco vezes mais que a oferta, houve inclusive uma emissão de CEM ANOS de prazo, também com demanda muito maior que a oferta, o que jamais ocorreria com uma empresa que mesmo remotamente estivesse com problemas financeiros. Essas emissões tiveram como líderes mega bancos internacionais como J.P. Morgan, Deutsche Bank  e Morgan Stanley, que jamais patrocinariam emissão de bônus em dólar de uma companhia quebrada.

Esses dois ativos, Eletrobrás e Petrobrás valem dez golpes., especialmente com preços de fim de feira, especialidade de gestão tipo Pedro Parente.

A paralisação dos caminhoneiros

Vejo nesse movimento uma amplitude muito maior do que o preço do diesel. Atraves da Historia os grandes movimentos populares tem como gatilho uma questão menor mas além do fato detonador há um pano de fundo muito maior. Neste caso há de forma subjacente a neutralização da candidatura Lula, a paralisia da economia para atender o interesse dos bancos e rentistas, as carências antigas de moradia, saneamento, educação e saúde que este governo nem sequer tocou porque seu programa é apenas atender ao mercado que lhe deu respaldo para assumir o poder e no caminho obter algumas vantagens, o resto não interessa.

Nesse pano de fundo também está o mau cheiro do projeto de privatização da Petrobrás.

Muitas vezes os próprios personagens do movimento não tem consciência de suas preocupações mais amplas, mas elas existem, caminhoneiros são trabalhadores precarizados,

sofridos, arriscam a vida literalmente todos os dias em acidentes e assaltos, depois de paga a prestação do caminhão resta pouco para levar para casa, é uma classe fundamental para o funcionamento do Pais, mal reconhecida, sem nenhuma assistência do Estado e agora desprezada de forma cruel e insensível pela desastrosa gestão da Petrobrás.

A demissão de Pedro Parente seria uma obvia mensagem de paz do Governo aos caminhoneiros, não creio que o movimento cesse sem esse gesto, Parente tornou-se o símbolo de tudo que os caminhoneiros consideram como agressão a sua sobrevivência e sua permanência no cargo, sendo ele o pai da politica de dolarização do preço do diesel, traz enormes e razoáveis desconfianças aos caminhoneiros. Parente mostrou-se um executivo ideológico, insensível, teimoso na sua ideologia que serve somente e exclusivamente ao mercado, ele não está interessado na sobrevivência dos caminhoneiros e estes percebem isso.

Executivos ideológicos ao fim do dia são pobres intelectualmente, são tipos menores, inadaptáveis às circunstancias, Parente tem esse e outros vários defeitos de origem, dois dos mais salientes e ser tucano de carteirinha, foi Chefe da Casa Civil de FHC e ser do grupo dos “neoliberais cariocas”, um grupo único cujo DNA remoto vem de Eugenio Gudin, fundador dos cursos de economia no Brasil e Ministro da Fazenda do desastroso governo Dutra, que achava que o Brasil não deveria ter indústria, já estava muito bom exportar café e algodão.

Os caminhoneiros estão desmontando o grande alvo do “projeto Petrobrás”, que era a privatização para o qual Pedro Parente está preparando o terreno, dolarizando os preços dos combustíveis, uma insanidade porque o Brasil produz 2,3 milhões de barris/dia para um consumo de 2,6 milhões de barris dia, então o Brasil é auto-suficiente em matéria prima petróleo para 88,5% do consumo, só precisa importar 11,5%, do ponto de vista comercial não há nenhuma logica em dolarizar os preços e referencia-los no mercado spot de Rotterdam. Mas a dolarização tem toda logica se for para atender aos acionistas americanos da Petrobrás, a dolarização dos preços é uma lógica para os acionistas estrangeiros, a quem Pedro Parente serve com exclusividade e entusiasmo, ele está no cargo para isso.

O papel de Pedro Parente

Esse executivo de almanaque, que anda com crachá até para ir ao banheiro, tem cara, perfil e histórico de “organization man”, aquele tipo de executivo que subiu na vida seguindo as regras fanaticamente. Não espere desses tipos nenhuma criatividade, capacidade de enxergar longe, visão eclética, sensibilidade das circunstancias. É o tipo do executivo que não serve para a Petrobrás se a ideia for de uma companhia estratégica para o Brasil e seu povo.

Mas Parente não está no cargo para servir ao Pais, sua missão é atender ao “mercado”, ai representado pelos acionistas estrangeiros da Petrobrás é a estes que Parente atende.

Para que a companhia possa dar o melhor tratamento a esses acionistas especialmente os fundos americanos tipo Black Rock, hoje os maiores acionistas da Petrobrás depois da União, Parente dolarizou a Petrobras, por isso o preço do diesel é referenciado pelo dólar, é para atender os fundos americanos acionistas, não é para agradar caminhoneiro.

O governo Temer

A delegação de plenos poderes a Pedro Parente tem como substrato ser ele o delegado do mercado financeiro na Petrobrás, ele não trabalha para o Estado brasileiro, que ele odeia, ele trabalha para o mercado financeiro americano de onde ele veio e para onde ele provavelmente vai voltar. O conglomerado Bunge para o qual ele trabalhava antes de ir para a Petrobras tem sede em White Plains, New Jersey, perto de Nova York. O sinistro grupo Bunge esteve por trás do golpe de 1976 que implantou o governo militar em Buenos Aires, levando ao sequestro dos irmãos Jorge e Juan Born pelos Montoneros.

O grupo Bunge, cuja base era a Argentina mas com raízes no Seculo XIX em Antuérpia na Belgica, então conhecido como grupo Bunge & Born, por causa de sua péssima imagem que restou na Argentina mudou sua sede primeiro para São Paulo nos anos 80 (onde construiu o Centro Empresarial na Marginal Pinheiros, um imenso conjunto de edifícios). Bunge & Born, uma das quatro irmãs do trigo, um grupo tenebroso há mais de 100 anos, é a alma mater atual de Pedro Parente.

A submissão do Governo Temer a Pedro Parente na Petrobras não tem nada de pessoal, é fruto de um grande acordo que avalizou a derrubada do Governo Dilma, por isso Parente parece firme na Petrobrás (até quando ?), sustentado pelo Grupo Globo, as globetes a frente, Miriam Leitão é hoje a Leoa de Chácara de Parente e até a então elogiada Natuza Nery pulou para esse lado do muro, defendendo a Petrobrax New York inimiga da PETROLEO BRASILEIRO S.A. criada por Getúlio para dar independência de petróleo ao Brasil.

È bom não esquecer o laço que liga Pedro Parente ao Governo FHC, o mesmo governo que colocou a frente da Petrobrás tipos vindos do mercado financeiro como Francisco Gros, do Morgan Stanley que não tinha nada a ver com petróleo mas tudo a ver com a Bolsa de Nova York, um estrangeiro nato que falava português com sotaque, o francês Henri Phelippe Reichstul e para fechar a caravana o publicitário Alexandre Machado que criou o nome Petrobrax como preparação para a privatização, desde sempre o projeto neoliberal carioca para a Petrobrás era o sonho do “Grupo do Real”, Arida, Bacha, Franco, sempre quiseram vender a Petrobrás, Eletrobrás, Banco do Brasil, até hoje dão entrevistas para isso.

Não houve condições políticas e tempo para o grupo tucano carioca vender o controle da Petrobrás, mas eles prepararam o terreno, abrindo o capital para estrangeiros e listando a companhia na Bolsa de Nova York, era um importante etapa para em seguida vender o controle porque já haveria uma referencia de preço dada pela cotação na Bolsa de Nova York, a Petrobrás não ganhou nada com essa listagem, só teve prejuízos.

Com a queda do Governo Dilma o “mercado”, via neoliberais cariocas que como abelhas infestam o governo Temer, viu uma oportunidade única para privatizar a Eletrobrás e a Petrobrás, não contavam com acidentes de percurso que podem acontecer.

O grande suporte do “projeto Petrobrás”, como em todos os projetos anti-brasileiros é o Grupo GLOBO, que desesperadamente tenta segurar Pedro Parente exibindo-o como o melhor executivo do planeta, um medíocre que não teve a sensibilidade de perceber e antecipar a esse movimento dos caminhoneiros que é de sua lavra.

 

A Petrobrás não é padaria

Por: Ricardo Maranhão

Fonte: AEPT – Associação de Engenheiros da Petrobrás.

Procurando justificar a política de preços para os derivados de petróleo, adotada por sua administração, que implica na paridade com preços internacionais, o atual presidente da Petrobrás, fez, tempos atrás, comparação esdrúxula do petróleo com o trigo. Deu explicação simplória, reducionista: quando os preços do trigo sobem no exterior, é necessário reajustar o valor do pão.

A afirmação pode convencer incautos, cidadãos desavisados, consumidores desinformados.

Na realidade esta política de preços, de orientação entreguista, está prejudicando não apenas a revenda constituída por milhares de empresários brasileiros, segmento fundamental de nossa economia, mas, também, milhões de consumidores. A Petrobrás e a economia do país, também são sacrificadas.

Os preços elevados desgastam a imagem da Petrobrás. A quase totalidade da população não sabe que a Companhia recebe menos de 25% do valor pago pelo consumidor, que inclui mais de 50% de tributos. Ocorrem, em todo o país, justos protestos contra esta política, com bloqueios nas estradas, greves de caminhoneiros, cercos às bases de distribuição da Petrobrás. 

Aponto alguns aspectos negativos desta política, que somente favorece as grandes distribuidoras privadas, importadores de derivados e fornecedores estrangeiros, notadamente os norte-americanos. Cerca de 82% das importações brasileiras de diesel são provenientes dos Estados Unidos. Por isto o Corpo Técnico da Petrobrás classifica esta política como “America First”.

Em 2017 foram nada menos de 127 alterações nos preços nas refinarias, desorganizando o mercado, confundindo revendedores e consumidores. As distribuidoras se aproveitam das freqüentes mudanças de preços para aumentar seus lucros, com prejuízos para a revenda.

Esta política, todos sabem, é uma velha aspiração das companhias multinacionais, que desejam globalizar os preços do petróleo, derivados e gás natural, desconsiderando as peculiaridades de cada país; Será razoável submeter os consumidores e a economia brasileira aos preços internacionais, sabidamente voláteis, sensíveis a fatores múltiplos sobre os quais não temos qualquer controle?

Por que preços internacionais, se não temos salários, renda per capita, IDH nivelados aos dos países ricos? O que tem o consumidor brasileiro a ver com as tensões no Oriente Médio, os furacões no Caribe e nos USA, as disputas internas na Arábia Saudita, as bravatas e escaramuças do presidente Trump com o líder norte coreano? Temos, no Brasil, invernos severos, nevascas, temperaturas de até 50 graus negativos? Devemos punir os consumidores brasileiros pelas elevações de preços decorrentes de crescimentos sazonais da demanda?

O Brasil é um grande produtor de petróleo, a custos inferiores aos vigentes no mercado internacional e pode se aproveitar deste fato, dando competitividade à sua economia, beneficiando os consumidores e remunerando, adequadamente, a Petrobrás e demais agentes da cadeia; Preços muito elevados da energia – e o petróleo é a maior fonte de energia primária no Brasil – tiram a competitividade da economia brasileira, já tão sacrificada, por juros extorsivos, pesada carga tributária, graves deficiências de logística dentre outros inconvenientes. Ademais, reduzem a demanda, já impactada negativamente por forte recessão.

Decorrido pouco mais de um ano desta política, insensata e impatriótica, o que vemos é a maciça importação de diesel e gasolina, combinada com o absurdo, ainda maior, de uma ociosidade de mais de 25% no parque de refino nacional; Além disso as exportações de óleo cru dispararam, deixando o país de se beneficiar com o valor agregado proporcionado pelo refino.

No período de janeiro a novembro de 2017, as importações de gasolina e as de diesel explodiram, chegando ao absurdo de mais de 200 milhões de barris, nível jamais alcançado, nem mesmo quando nossa economia apresentava bom desempenho. Esta brincadeira de mau gosto custou ao país, nos últimos doze meses pelo menos uns US$ 8,00 bilhões em importações.  Sendo o revendedor o último elo de uma cadeia que inclui, também, importadores, refinadores, formuladores, transportadores e distribuidoras, ele é, ainda, acusado de ser o vilão desta política, ditada pelos que hoje comandam a Petrobrás. Os dados da ANP mostram que os preços da gasolina aumentaram 9,40% em 2017, quatro vezes mais do que a inflação (2,07% pelo INPC). No GLP, produto de amplo consumo pela população mais pobre, o sacrifício é ainda maior, traduzido em uma majoração superior a 16,30%, já descontada a inflação. A maior majoração dos últimos 15 anos.

É hora de rever esta insensata política, sem prejudicar a Petrobrás – e isto é possível – em benefício de nossa economia.

Autor: Ricardo Maranhão, Engenheiro e Conselheiro da Associação dos Engenheiros da Petrobrás e do Clube de Engenharia.

Nota do editor do blog Debate Geopolítico: pode parecer estranho para alguns que um espaço dedicado aos assuntos provindos do exterior venha a tratar de uma crise interna, mas políticas externas não independem do quadro político interno de uma nação, na verdade se entrelaçam e interdependem. O quadro atual de colapso de abastecimento devido a paralisação advinda dos transportadores rodoviários, fruto de uma greve de caminhoneiros autônomos com locaute dos empresários do ramo de logística rodoviária, provém em última instância da política posta em prática por Michel Temer assim que assenhorou-se no poder, que é a de alinhamento automático com os interesses financeiros de Wall Street e com os desígnios de Washington. É neste contexto que se insere uma política atrelada a flutuação do preço internacional de derivados, que resultou no aumento de 56% no espaço de 12 meses para o óleo diesel, cuja produção interna, já deficitária quando plena, registrou neste mesmo período de tempo ociosidade de 25%, enquanto a importação oriunda dos EUA ganhou 82% do mercado nacional. Ou seja, não refinamos o que podemos em moeda nacional,para importar dos EUA aquilo que consumimos em moeda de referência, jogando os custos da flutuação desta nos ombros do consumidor brasileiro. Este desatino, devo lembrar, iniciou-se com o atual mandatário, que foi alçado ao governo sem apoio popular, do qual, diga-se, muito carece.

Entre o liberalismo e o entreguismo

A julgar pelo tom de mistério e opacidade dos grandes meios e comunicação, até parece que sociedade brasileira teria sido pega de surpresa com a divulgação do estágio bastante avançado das negociações envolvendo as direções das empresas Embraer e Boeing.

Por: Paulo Kliass

Fonte: Portal Vermelho

Como se sabe, a Embraer foi formalmente fundada em 1969, sob o formato de uma sociedade de economia mista federal. Na verdade, antes mesmo de sua formalização como empresa estatal, já havia em etapa de desenvolvimento um projeto de construção de aeronaves brasileiras. Esse movimento vinha sob o impulso de conhecimento e tecnologia desenvolvidos no âmbito do Departamento de Ciência e Tecnologia da Aeroespacial (DCTA) e do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), ambos organismos militares baseados em São José dos Campos (SP).

No entanto, há pouco mais de 23 anos, em 8 de dezembro de 1994, a empresa foi privatizada a preço de banana. O consórcio vencedor do leilão pagou o equivalente a R$ 154 milhões e a liquidação se deu com base em títulos financeiros chamados à época de moedas podres. Os compradores adquiriram a empresa por um valor muito menor, uma vez que tratava-se de papéis emitidos por órgãos do governo federal e que eram negociados por valores muito abaixo de seu valor de face. O valor atual do patrimônio da empresa é próximo a R$ 12 bilhões.

Embraer: presente de Natal para a Boeing?

As informações divulgadas pelos meios financeiros dão conta de interesse da gigante mundial Boeing em se fundir à Embraer. Mais do que uma fusão, o resultado será uma deglutição. Caso se concretize, esse passo significará a perda total de controle sobre as decisões estratégicas da empresa brasileira. Enfim, na verdade seria uma etapa a mais no aprofundamento do processo iniciado há mais de 2 décadas, uma vez que após a privatização o grupo deixou de obedecer aos interesses de um projeto nacional de desenvolvimento. As opções empresariais da Embraer após 1994 passaram a obedecer estritamente aos interesses dos acionistas privados e à lógica de maximização do retorno sobre o estoque de capital. Mas havia um limite dado à entrada do capital internacional da aeronáutica na empresa brasileira.

É importante compreender que a Embraer não é um caso isolado. Ao longo das últimas décadas o Brasil tem assistido passivamente ao ingresso crescente do capital estrangeiro em um conjunto extenso de setores de nossa economia. Assim foi com a entrada expressiva dos fundos financeiros internacionais na aquisição de controle majoritário de empreendimentos educacionais, em especial no ensino universitário. O processo iniciado à época dos governos FHC se manteve como tendência durante os mandatos de Lula e Dilma.

Outro setor que tem sido objeto de interesse e aquisição por parte dos grupos internacionais é o da saúde. Aqui também houve uma estratégica flexibilização na legislação promovida em 2015, por meio da Lei 13.097. Até então havia uma proibição e algumas limitações ao ingresso de capital estrangeiro nas atividades do setor. Mas a lei sancionada por Dilma liberou geral e ofereceu a segurança jurídica aos investidores internacionais.

Educação, saúde, eletricidade, petróleo, terras agrícolas etc.

Outro motivo de júbilo dos liberais radicais foi a decisão de Temer de oferecer o ingresso sem limites do capital internacional na aquisição de terras em território nacional. O governo pretende se empenhar na aprovação de um Projeto de Lei que libera os limites atualmente existentes para esse tipo de propriedade nas mãos de estrangeiros. A intenção é agradar os interesses dos grupos vinculados ao agronegócio e ampliar o leque de alternativas de investimento com elevada rentabilidade aos grupos financeiros internacionais.

A participação de capitais chineses nos leilões de privatização e concessão das diversas áreas de infraestrutura também tem sido expressiva. O financismo não esconde sua satisfação e seu deslumbramento com esse ingresso de recursos estrangeiros em áreas sensíveis e estratégicas para o funcionamento da sociedade e da economia brasileiras, a exemplo da exploração de rodovias, ferrovias, geração e transmissão de eletricidade, portos, entre muitos outros. Ao que tudo indica, não há nenhum registro de problemas de consciência quanto a tal entrega.

No caso específico da Petrobrás a situação é ainda mais grave. Além de contribuir para o esfacelamento de uma das maiores empresas do mundo, o governo Temer está estimulando o ingresso acelerado das gigantes petroleiras do mundo. Seja para participar do controle de subsidiárias da Petrobrás em liquidação privatizante, seja para avançarem com maior apetite na exploração das reservas do Pré Sal. A turma das finanças vibra e comemora a cada vez que uma multinacional abocanha uma nova fatia de mercado da Petrobrás, além de pressionar para eliminar políticas de conteúdo nacional e oferecer benefícios tributários já estimados em R$ 1 trilhão de reais.

Do liberalismo ao entreguismo: um pulinho.

Ora, frente a tal escalada de desnacionalização deliberada e intencional, não há muito como alguém se “espantar” com a notícia da negociata envolvendo a Embraer e a Boeing. O paradigma liberal levado à sua radicalidade não reconhece mesmo fronteiras para o capital. Para os defensores da supremacia das livres forças de mercado, não existe razão ou motivo para impor limites à livre circulação de capital. Assim, uma vez incorporado o credo liberal, a internacionalização é o próximo passo, digamos assim, “natural” para a busca da suposta melhor eficiência na alocação dos recursos da economia.

Isso dito, resta obviamente o espanto da maneira pela qual as elites tupiniquins abandonaram todo e qualquer projeto de país em seus debates estratégicos a respeito do futuro de nossa sociedade. Navegando ainda nas heranças coloniais do escravismo e do extrativismo irresponsável, elas moldaram-se no comportamento habituado aos elevados ganhos, sempre proporcionados pelas taxas escandalosas do nosso tipo particular de financismo exacerbado.

Se é bem verdade que o entreguismo liquidacionista seja o sucedâneo de um liberalismo irresponsável, algumas nuances tendem a ocorrer quando ocorre algum tipo de mediação pela dimensão da política. Assim, quando sentem a corda esticar demais, os dirigentes podem recuar e alguma lufada de espírito nacionalista passa a influir no debate. Mas para isso se manifestar seria necessário que frações das classes dominantes tentassem esboçar algum tipo de interesse por seu país. Ou então que o movimento popular e democrático manifestasse nas ruas seu descontentamento com tal risco.

É importante lembrar que o governo brasileiro ainda possui no caso da Embraer aquilo que o mercado financeiro chama de “golden share”, ou seja, “ação de ouro”. Trata-se do direito que o governo tem de vetar qualquer medida contra a economia nacional relacionado à vida empresa já privatizada. Esse é exatamente o quadro que vivemos no momento atual.

A ver se o desenrolar do caso Embraer oferece alguma janela de esperança quanto ao debate e encaminhamento de um projeto nacional de desenvolvimento. Afinal, seis décadas após seu surgimento, a indústria aeronáutica continua a ser estratégica para qualquer projeto de soberania nacional. Entregar a empresa a uma das líderes do capitalismo norte-americano é crime de lesa pátria.

Sobre o autor: Paulo Kliass é doutor em Economia pela Universidade de Paris 10 e Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal.

 

Wheels and deals: fermenta a guerra na Casa de Saud

Por: Pepe Escobar (4.10.2017)

Fonte primária: Asia Times – Counterpunch; fonte em português: Blog do Alok.

Tradução: Coletivo de Tradutores da Vila Vudu.

De repente, a matriz ideológica de todas as variantes de jihadismo salafista passa a ser elogiada no Ocidente como modelo de progresso – porque mulheres sauditas afinal receberam permissão para dirigir carros. Mas só ano que vem. Mas só algumas mulheres. Mas só com muitas restrições.

O que é certo é que o momento para anunciar a novidade – que vem depois de anos de pressão de liberais norte-americanos – foi calculado com precisão, e aconteceu apenas poucos dias antes que o capo da Casa de Saud rei Salman apareceu para dois dedos de prosa na Casa Branca de Trump. O movimento de soft power foi coordenado pelo príncipe coroado, 32 anos, Muhammad bin Salman, codinome MBS, o Destróier do Iêmen; o rei só fez assinar.

A tática diversionista mascara graves problemas na corte. Uma fonte especialista em negócios do Golfo, com conhecimento íntimo da Casa de Saud e encontros pessoais frequentes com eles, disse a Asia Times que “as famílias Fahd, Nayef e Abdullah, descendentes do Rei Abdulaziz al Saud e sua esposa Hassa bin Ahmed al-Sudairi, estão formando uma aliança contra a ascensão ao trono do príncipe coroado.”

Não chega a surpreender, se se sabe que o deposto príncipe coroado Mohammed bin Nayef – muito considerado no Departamento de Estado dos EUA, especialmente em Langley [cidade onde está o quartel-general da CIA] – está em prisão domiciliar. Sua massiva rede de agentes no Ministério do Interior foi quase toda “dispensada de qualquer autoridade”. O novo ministro do Interior é Abdulaziz bin Saud bin Nayef, 34, filho mais velho do governador da Província Oriental marcadamente xiita, onde está todo o petróleo do reino. Curiosamente, o pai agora é subordinado do filho. MBS está cercado de príncipes sem qualquer experiência, todos com cerca de 30 anos, e afastando de si praticamente todos os demais.

O ex-rei Abdulaziz definiu a própria sucessão baseado na idade dos filhos; em teoria, se todos chegarem à mesma idade todos terão algum tempo de reinado, o que evitaria o banho de sangue historicamente habitual nos clãs árabes, em disputas pela sucessão.

Agora, diz a fonte, “já todos preveem que um banho de sangue é iminente”. Especialmente porque “a CIA está indignada por o compromisso negociado em abril de 2014 estar sendo descumprido, como se vê no fato de o maior fator antiterrorismo no Oriente Médio, Mohammed bin Nayef, estar preso.” Tudo isso pode levar a “ação vigorosa contra MBS, possivelmente no início de outubro.” E pode até coincidir com o encontro Salman-Trump.

O ISIS joga pelo livro (saudita)

A fonte de Asia Times especialista em negócios no Golfo destaca que “a economia saudita está sob estresse extremo, por efeito de sua guerra pelo preço do petróleo contra a Rússia, e estão tendo muita dificuldade para pagar os fornecedores. Essa situação pode levar à falência algumas das maiores empresas na Arábia Saudita. A Arábia Saudita de MBS vê o iate de US$600 milhões comprado pelo príncipe coroado, e o pai dele gastando US$100 milhões nas férias de verão, sempre nas primeiras páginas do New York Times, enquanto o reino sufoca sob aquela liderança.”

O projeto que é a menina-dos-olhos de MBS, o super propagandeado Vision 2030, visa, em teoria, a diversificar e afastar o reino da dependência dos lucros do petróleo e dos EUA, na direção de uma economia mais moderna (e política externa mais independente).

Na avaliação da mesma fonte, é tudo completamente sem sentido, porque “o problema na Arábia Saudita é que suas empresas não conseguem funcionar com a mão de obra local e dependem de expatriados, que constituem 70% ou mais dos empregados. A gigante do petróleo Aramco simplesmente não opera sem expatriados. Daí que vender 5% da Aramco para diversificar não resolve o problema. Se ele quer sociedade mais produtiva e menos empregos no próprio governo onde só se copia, terá primeiro de treinar e garantir emprego ao próprio povo.”

A também elogiadíssima venda pública de parte da Aramco, apresentada como a maior venda de ações de toda a história, originalmente agendada para o próximo ano, foi mais uma vez adiada – “possivelmente” para o segundo semestre de 2019, segundo funcionários em Riad. E ainda ninguém sabe onde serão vendidas as ações; a Bolsa de Nova York está longe de ser assunto decidido.

Paralelamente, a guerra de MBS contra o Iêmen e o ímpeto saudita a favor de mudança de regime na Síria e de reformatar o Oriente Médio Expandido, revelaram-se desastres espetaculares. Egito e Paquistão recusaram-se a enviar tropas ao Iêmen, onde o pervertido infindável bombardeio aéreo pelos sauditas – com armas dos EUA e Grã-Bretanha – acelerou a desnutrição, a fome e o cólera e configurou crise humanitária massiva.

O projeto do Estado Islâmico foi concebido como ferramenta ideal para levar o Iraque a implodir. Hoje já é de domínio público que o dinheiro para organizar a coisa partiu quase todo da Arábia Saudita. Até o ex-Imã de Meca admitiu publicamente que a liderança do ISIS “extraiu suas ideias do que está escrito em nossos livros, nossos próprios princípios.”

O que nos leva a maior e mais profunda contradição saudita. O jihadismo salafista está mais que vivo dentro do Reino, por mais que MBS tente fazer-se passar por líder liberal (fake) da linha “gatinha, deixo você dirigir o meu carro”. O problema é que Riad nunca, em tempo algum, cumprirá qualquer promessa que se aproxime de liberalização: a única legitimidade da Casa de Saud depende daqueles “livros” e “princípios” religiosos.

Na Síria, além da evidência de que a maioria absoluta da população do país não quer viver num Takfiristão, a Arábia Saudita apoiou o ISIS enquanto o Qatar apoiava al-Qaeda (Jabhat al-Nusra). E isso acabou num banho de sangue de fogo cruzado, com todos aqueles tais inexistentes “rebeldes moderados” apoiados pelos EUA reduzidos pilotos de carros antiquados.

E há também o bloqueio econômico contra o Qatar – mais um brilhante enredo cerebrado por MBS. Só serviu para melhorar as relações de Doha com ambos, Ankara e Teerã. O emir do Qatar Tamim bin Hamad Al Thani não foi derrubado, tenha Trump realmente persuadido Riad e Abu Dhabi a evitar qualquer “ação militar”, ou não. Nada de estrangulamento econômico: a Total francesa, por exemplo, está às vésperas de investir US$2 bilhões para expandir a produção de gás natural no Qatar. E o Qatar, via seu fundo soberano, contragolpeou com o mais espetaculoso dos movimentos de soft power – comprou a marca e craque de futebol Neymar, para o PSG, e o “bloqueio” soçobrou sem deixar traço.

“Roubam até a roupa do corpo do próprio povo”

Em In Enemy of the State, o mais recente thriller de Mitch Rapp escrito por Kyle Mills, o presidente Alexander, sentado na Casa Branca, esbraveja que “o Oriente Médio está implodindo porque aqueles filhos da puta sauditas só fazem inflar o fundamentalismo religioso, para encobrir o fato de que roubam até a roupa do corpo do próprio povo.” É uma avaliação equilibrada.

Não se admite absolutamente nenhuma discordância na Arábia Saudita. Até o analista econômico Isam Az-Zamil, muito próximo do poder, foi preso durante a atual campanha de repressão. A oposição a MBS portanto não vem só da família real ou de alguns clérigos – embora digam os boatos que só quem apoie o “terrorismo” da Fraternidade Muçulmana, da Turquia, do Irã e do Qatar estaria sendo perseguido e atacado.

Em termos de o que Washington deseja, a CIA não aprecia MBS, para dizer o mínimo. Querem o homem “deles”, Nayef, de volta ao poder. Quanto ao governo Trump, o que se ouve é que está “desesperado em busca de dinheiro saudita, especialmente para investimentos em infraestrutura no Cinturão da Ferrugem”.

Será muitíssimo iluminador comparar o que Trump obtém de Salman e o que Putin obtém do mesmo Salman: o rei doente visitará Moscou no final de outubro. Rosneft está interessada em comprar ações da Aramco quando afinal acontecer a venda pública. Riad e Moscou estão considerando uma extensão de negócios da OPEP, bem como uma plataforma de cooperação OPEP-não-OPEP que incorpore o Fórum de Países Exportadores de Gás [ing. Gas Exporting Countries Forum, GECF].

Riad leu as palavras escritas no novo muro: o capital político e estratégico de Moscou não para de crescer por todos os lados, de Irã Síria e Qatar até Turquia e Iêmen. Não é coisa que se dê bem com o estado profundo dos EUA. Mesmo se Trump conseguir alguns negócios para o Cinturão da Ferrugem, a questão candente é se CIA & Amigos conseguem viver com MBS no trono da Casa de Saud.

Nota dos tradutores: Orig. Wheels and Deals. É uma rede de venda de carros usados, que tem lojas em várias cidades por todo o país. A ironia parece ter a ver com a licença para mulheres dirigirem na Arábia Saudita. Não conseguirmos traduzir.

A loucura do Império aproxima a Rússia da Alemanha

Por: Pepe Escobar

Tradução: coletivo de tradutores da Vila Vudu.

Com Orwelliana maioria de 99%, que encheria de orgulho a dinastia Kim na Coreia do Norte, o Capitólio da “democracia representativa” passou como trator e aprovou o mais recente pacote de sanções da Câmara/Senado, que visa principalmente a Rússia, mas também atira contra Irã e Coreia do Norte.

O anúncio pela Casa Branca – no final da tarde da 6ª-feira – em pleno verão – de que o presidente Trump aprovou e assinará a lei acabou literalmente soterrado no ciclo do noticiário tomado completamente, 24h/dia, sete dias por semana, pela histeria relacionada ao chamado “russiagate”

Trump terá de justificar por escrito, ao Congresso, qualquer iniciativa para suavizar as sanções contra a Rússia. E o Congresso pode iniciar revisão automática de qualquer iniciativa dessa natureza.

Tradução: já soou o dobre de Finados de qualquer possibilidade de a Casa Branca vir a reiniciar melhores relações com a Rússia. O Congresso de fato está só ratificando a campanha em curso de demonização da Rússia, orquestrada pelo establishment do estado profundo neoconservador e neoliberal/Partido da Guerra.

Já há guerra econômica declarada contra a Rússia há, pelo menos, três anos. A diferença é que esse mais recente pacote também declara guerra econômica contra a Europa, especialmente a Alemanha. As sanções estão centradas no front da energia, demonizando a implantação do gasoduto Nord Stream 2 e forçando a União Europeia a comprar gás natural dos EUA.

Que ninguém se engane. A liderança da União Europeia revidará. Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia disse-o até bem gentilmente: “‘EUA em primeiro lugar’ não pode significar que os interesses da Europa ficam em último”.

No front da Rússia, o que o Império das Sanções está conseguindo não pode ser visto nem como vitória rasa. Kommersant já noticiou que Moscou, dentre outras ações, retaliará com banir do mercado russo todas as empresas norte-americanas de Tecnologia da Informação e todos os produtos da agricultura dos EUA; também deixará de exportar titânio para a empresa Boeing (30% do titânio com o qual a Boeing trabalha é importado da Rússia).

No front da parceria estratégica Rússia-China, tentar limitar os negócios de energia Rússia-União Europeia só levará a maisswaps [trocas de moeda] entre o rublo e o yuan – plataforma chave para o mundo multipolar pós-dólar.

E há também o grande fator que possivelmente alterará todo o jogo: o front alemão.

O(s) louco(s) na colina [The Fools on the Hill*]

Mesmo sem considerar o recorde histórico sideral de número de vezes em que Washington não apenas interferiu, mas bombardeou vastas porções do planeta, para mudar regimes – do Iraque e Líbia até as atuais ameaças contra Irã, Venezuela e Coreia do Norte –, a histeria do russiagate em torno de a Rússia ter/não ter interferido na eleição presidencial de 2016 nos EUA é antinotícia, e hoje já completamente desmoralizada.

O xis da questão é, mais uma vez, as guerras de energia.

Segundo uma fonte norte-americana no setor de energia, com base no Oriente Médio e que não é refém do consenso da Av. Beltway, “a mensagem nessas sanções é que a União Europeia não teria futuro a menos que compre o gás natural dos EUA, para expulsar a Rússia. Negar à Rússia o mercado de gás natural da União Europeia sempre foi o objetivo por trás da guerra que os EUA acabam de perder na Síria, para implantar o gasoduto Qatar-Arábia Saudita-Síria-Turquia-União Europeia e abrir o Irã para um gasoduto Irã-Iraque-Síria-Turquia-União Europeia. Nenhum desses planos dos EUA funcionaram”.

A fonte acrescenta como prova, a guerra de preços do petróleo de 2014 contra a Rússia, orquestrada pelo “poder que o superávit de petróleo ou as próprias reservas garantem aos Estados do Golfo, para fazer dumping no mercado mundial. Depois que nada disso conseguiu dobrar a Rússia, tornou-se prioridade nacional para os EUA destruir o mercado russo de gás natural”.

No pé em que estão as coisas, 30% de todas as importações de petróleo e de gás natural da União Europeia vêm da Rússia. Paralelamente, a parceria Rússia-China de energia vai sendo progressivamente fortalecida. A Rússia já está posicionada para aumentar todas as exportações de petróleo e gás para China e para toda a Ásia.

A liderança em Berlim está agora convencida de que Washington está pondo em perigo a diversificação e a segurança energéticas da Alemanha, com essa guerra de sanções. O gás natural e o petróleo russos são protegidos em rotas terrestres e não dependem de transporte por oceano, o qual, como insiste minha fonte, “já não está sob controle dos EUA. Se a Rússia, em resposta à beligerância dos EUA, deixar cair uma Cortina de Ferro sobre a Europa, e redirecionar todas as suas exportações de gás natural e petróleo para China e Ásia, a Europa ficará condenada a depender de fontes instáveis e não seguras de gás natural e de petróleo, como o Oriente Médio e a África”.

E isso nos leva à possibilidade “nuclear” que há no horizonte: um alinhamento Alemanha-Rússia, num Tratado de Resseguro [ing. Reinsurance Treaty] como firmado pela primeira vez por Bismarck. A Think-tankelândia ligada à CIA discute hoje ativamente essa possibilidade.

Outra fonte ativa no business e na política dos EUA, também ativo praticante da arte de pensar fora da caixa do Departamento de Estado, destaca que “é disso que se trata. Esse sempre foi o verdadeiro objetivo da Rússia, e os EUA caíram na armadilha. Os EUA estão fartos de Alemanha e consideram fazer dumping contra produtos alemães nos EUA, com manipulação da moeda. Agora estão ameaçando a Alemanha com sanções, e não há o que a Alemanha possa fazer, com a União Europeia às suas costas enfrentando vetos da Polônia, que outra vez causam problemas aos alemães. Os doidos no Congresso estão mesmo à caça da Alemanha. E com isso estão jogando a Alemanha nos braços da Rússia”.

EUA, a nova Cartago

Uma possível aliança Alemanha-Rússia, como já escrevi, consuma a entente China/Rússia/Alemanha capaz de reorganizar toda a Eurásia continental.

A parceria estratégica Rússia-China, que facilita o acesso via Iniciativa Cinturão e Estrada (ICE) é extremamente atraente para obusiness alemão. Segundo minha fonte business/política, “Os EUA estão em guerra com China e Rússia (mas não Trump, nosso presidente), e a Alemanha está reconsiderando a situação em que ficará, de bucha de canhão nuclear para os EUA. Discuti isso na Alemanha, e eles estão pensando em renovar o Tratado de Resseguro com a Rússia. Ninguém confia nesse Congresso dos EUA. É visto como um hospício, casa de doidos. Merkel pode ser convidada para a liderança na ONU, e nesse caso o tratado será assinado. Sacudirá o mundo e porá fim a qualquer ideia que reste sobre os EUA como potência global, que já não são”.

A fonte acrescenta, em tom de quase euforia, que “achamos que Brzezinski morreu por efeito da pressão de compreender o que se aproximava e de ver que todo o trabalho dele, uma vida dedicada a tentar destruir a Rússia por causa do ódio que tinha à Rússia, estava começando a ser desfeito”.

Assim, em certo sentido, “bem-vindos aos anos 1930s outra vez, e ao crescimento do nacionalismo na Europa. Dessa vez, a Alemanha não cometerá os erros de 1914 e 1941, mas se posicionará contra seus tradicionais inimigos anglo-saxões. Os EUA realmente se converteram na Cartago de hoje. A desordem no Congresso norte-americano reflete estupidez idêntica à que se viu em Cartago, quando os exércitos cartagineses provocavam Roma. Os políticos cartagineses minaram o seu próprio gênio, Aníbal, assim como os políticos dos EUA estão minando o maior presidente que os EUA já tiveram desde Andrew Jackson. Como Sófocles escreveu em Antígona, ‘Os deuses primeiro enlouquecem àqueles a quem querem destruir'” O Congresso dos EUA enlouqueceu.

Nota dos tradutores: (*) Há um trocadilho intraduzível com “hill” [colina, como na canção dos Beatles] e “Hill”[que designa a específica colina do Capitólio, com Senado e Câmara de Representantes dos EUA]. E na canção dos Beatles trata-se de um específico doido, no singular; no subtítulo de Pepe Escobar, são vários doidos, plurais (NTs).

Yuri Dolgoruky realiza com sucesso teste com míssil R-30 Bulava

Fonte: Agência Tass

Moscou, 26 de junho, Agência TASS:

O cruzador de mísseis subaquáticos Yuri Dolgoruky, conhecido como Projeto 955, pertencente à Frota do Norte da Marinha da Federação Russa, testou com sucesso um dos seus mísseis R -30 Bulava, no Mar de Barents,  atingindo todos os alvos designados no campo de treinos de Kura, em Kamchatka, informou o Ministério da Defesa da Federação Rússa nesta segunda-feira.

“O Submarino Lançador de Mísseis Balísticos do projeto 955 Borey, Yuri Dolgoruky, realizou lançamento bem sucedido de um míssil balístico intercontinental R-30 Bulava, da área designada no Mar de Barents para o campo de prática balística de Kura, em Kamchatka. O lançamento foi efetuado a partir de posição submersa, em conformidade com o plano de treinamento de combate”. Assim declarou o Ministério da Defesa da Federação Russa.

“Os parâmetros da trajetória de voo do míssil balístico intercontinental Bulava foram praticados em regime normal. De acordo com os dados confirmados do equipamento de registro, as ogivas do míssil balístico intercontinental realizaram um ciclo completo de voo e atingiram com êxito os alvos designados na Faixa de Prática”, afirmou o Ministério da Defesa.

O lançamento anterior de um míssil R-30 Bulava deu-se em 27 de setembro último, quando o mesmo submarino, Yuri Dolgoruky, realizou o lançamento de uma salva experimental com dois ICBMs no Mar Branco em direção ao alcance da Prática de Kura, no extremo oriente russo. As ogivas do primeiro míssil realizaram um ciclo completo do programa de voo e atingiram com sucesso os alvos designados no intervalo de prática. O segundo míssil, todavia, se autodestruiu após realizar a primeira etapa do programa de voo.

O submarino Yuri Dolgoruky é a belonave que lidera o Projeto 955, Classe Borey. O Submarino Lançador de Mísseis Balísticos está armado com um conjunto de mísseis balísticos intercontinentais lançados pelo mar, R-30 Bulava, bem como com torpedos pesados. O submarino pode ser também armado com mísseis de cruzeiro. Possui um deslocamento total de 24.000 toneladas, com dimensões aproximadas de 160 metros de comprimento e de 13 metros de diâmetro.

O Míssil Bulava R-30 é um vetor balístico de propulsor sólido, desenvolvido especialmente para os submarinos do Projeto 955. Ele pode entregar 10 ogivas de 150 kilotons a uma distância de 10.000 quilômetros.

Fotografia: Lev Fedoseyev/TASS

A geopolítica da Rússia e as relações com o Egito

Fonte: Southfront

Autores:  J.Hawk, Daniel Deiss, Edwin Watson

Tradução adaptação: César A. Ferreira

As relações em rápido desenvolvimento entre a Rússia e o Egito foram ofuscadas por aquelas mais chamativas entre a Rússia e a Síria, bem como aquelas entre a Rússia e o Irã. No entanto, a relação Rússia-Egito merece um exame minucioso, posto que, ao contrário de relações do país (Rússia) com os outros dois poderes do Oriente Médio (Síria e Irã), trata-se de um país (Egito) que até então parecia estar definitivamente na órbita ocidental. A mudança abrupta de seu vetor geopolítico em direção a Eurásia representa, portanto, uma enorme mudança para a região, maior que o apoio bem sucedido da Rússia ao governo sírio legítimo,  ou a estreita relação com a República Islâmica do Irã, ambos os quais reiterados figurantes da  “lista de inimigos do Ocidente ” por décadas. As razões para esta mudança são duas, e tem a ver com a forma como as potências ocidentais interagem com as potências do Oriente Médio, em um contexto de crise econômica sistêmica, além da maneira como a Rússia demonstra a sua atratividade como um aliado.

A crise sistêmica do Ocidente claramente transformou o modo como as potências ocidentais visualizam aquelas não-ocidentais. Dado o fato de que o “fim da história”, como retórica globalizante sugeria uma utopia pós-soberania em que os poderes fracos e fortes interagiriam em condições de igualdade em um mundo sem fronteiras, observou-se na prática, que esta retórica era um ardil para convencer potências não ocidentais baixar a guarda e permitirem-se penetrar por empresas ocidentais e instituições financeiras,  indo a perder qualquer possibilidade de traçar o seu próprio curso independente. Infelizmente, do ponto de vista ocidental, a assimilação dos  “mercados emergentes” ainda é a pedra angular da política econômica, o único programa de crescimento econômico. Considerando que, durante a década de 1990 essa assimilação tomou forma de maneira relativamente benigna; 9/11 entretanto,  teve o efeito de permitir que inicialmente os EUA viessem a adotar uma postura muito mais agressiva, a ponto de realizar  invasões militares ostensivas. Enquanto isso a EU (União Europeia), inicialmente, não seguia o exemplo, mas, a gravidade dos próprios problemas internos da UE levaram-na a saltar no movimento de “mudança de regime”, como se verifica no caso da Líbia, da Síria e da Ucrânia.

O Egito, aliado ocidental de longa data, desde o final da década de 1970, inesperadamente encontrou-se no fim da fila das predatórias políticas ocidentais que assumiram a forma da “revolução colorida” da Praça Tahrir , movimento este que levou à vitória eleitoral a Irmandade Muçulmana, que por sua por sua vez, caiu frente a um golpe militar,  na medida em que o perigo de haver a queda do país em uma guerra civil tornou-se por demais aparente. O fato de que Irmandade Muçulmana foi financiada pelos EUA e os estados aliados do Golfo Pérsico, fez o Egito ciente de que também foi alvo de jihadismo patrocinada pelo Estado, e que os EUA eram incapazes,  ou não queriam forçar os seus aliados na região para que se abstivessem de atacar o Egito. Enquanto a Síria é apenas uma preocupação periférica para o Egito, a guerra civil na Líbia, onde as formações islamitas, incluindo ISIS desfrutam de apoio árabe do Golfo, representam uma ameaça imediata para o Egito por várias razões:  o país pode ser usado como uma plataforma para lançar ataques ao Egito, tornar-se um santuário contra retaliação e, a longo prazo, ter o seu governo tornando-se uma marionete controlada pelas potências do Golfo, insidiosamente hostis, cujo objetivo a longo prazo é o controle do Egito e do canal de Suez , isto significa que o Cairo se faz muito interessado em influenciar o resultado desta guerra.

Rússia desta forma mostrou-se, assim, como um parceiro atraente por causa de sua história de não-envolvimento na política interna das nações vizinhas (com uma falha, dado que a restrição unilateral levou à revolução da Praça Maidan, na Ucrânia), porque ela (Rússia) pode preencher o vazio de segurança deixada pela fraqueza ocidental, e, por último mas não menos importante, porque pode defender fisicamente integridade política e territorial do Egito contra todas as ameaças possíveis, uma habilidade que está atualmente sendo demonstrada na Síria. Egito parece estar aproveitando estas capacidades. A cooperação inclui agora a possibilidade de se estabelecer uma base aérea russa no Egito, visitas de paraquedistas russos ao Egito, e tropas de operações especiais que ministram formação aos seus homólogos egípcios. O Egito também está mudando os seus planos de aquisições militares em relação à Rússia. Os dois navios da classe Mistral que foram adquiridos pelo Egito receberão a suíte eletrônica russa originalmente planejada e irão levar os helicópteros russos (Ka-52); há discussões de vendas caça MiG para o Egito, e o país recebeu um barco lança mísseis da classe Molniya.

Do ponto de vista da Rússia o Egito representa ainda uma outra barreira de segurança contra a invasão ocidental, uma resposta simétrica para a expansão da OTAN, “Parceria Oriental”, e revoluções coloridas. Combinado com a presença militar na Síria, orientação pró-russa geral de Chipre, e a neutralização da Turquia, que também foi facilitada por uma abortada tentativa de golpe pró – ocidente, a adoção de bases egípcias acabaria por transformar o Mediterrâneo Oriental em um “lago russo.” Por último, mas não menos importante, estas bases e alianças poderiam servir como uma plataforma de lançamento para a projeção de poder em outras áreas instáveis do Oriente Médio e, se o controle do Canal de Suez por conta do Egito se faz garantido por armas russas, esta garantia dota ambos os países com um meio muito eficaz de pressionar Ocidental e as monarquias árabes do golfo.

 

O Iêmen e o “Game Of Thrones” da Arábia

Fonte: Katehon – 23.08.2016 –  Arábia Saudita

Tradução e adaptação: César A. Ferreira

A Arábia Saudita sofre, no momento,  uma derrota esmagadora no Iêmen. O conflito parece ser apenas pouco promissor para eles. Os Houthis e as tropas leais ao ex-presidente Saleh seguram firmemente o Iêmen do Norte e estão a conduzir operações militares na província de Najran em pleno território saudita. O Iêmen do Sul está ocupado e controlado por um entrelaçar de tropas da coligação Arábia Saudita/EAU, Península Árabe al-Qaeda, ISIS, e separatistas do sul do Iêmen. Recentemente, representantes do movimento Houthi anunciaram a criação de um governo que irá incluir membros do seu próprio partido “Ansar Allah”, o partido “Congresso Geral do Povo” do ex-presidente Ali Abdullah Saleh, bem como membros de outros partidos e organizações. Ao mesmo tempo, tentativas similares por parte dos sauditas para criar algum tipo de governo interino em Aden foram completamente fracassadas. O presidente Hadi, apoiado pelos sauditas e seus aliados, e seu governo são baseadas em Riyadh (Riad). Em Najran, na região de fronteira com o Iêmen, tribos locais árabes lançaram uma rebelião contra as autoridades oficiais da Arábia Saudita.

Recordemos que 2015 foi marcado pela invasão em larga escala da coalizão Árabe liderada pelo sauditas no Iêmen. Além dos sauditas, os Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Egito, Marrocos, Jordânia, Kuwait e Paquistão têm participado nesta guerra contra o Iêmen. Este último se juntou apenas formalmente a coalizão, mas não tem envolvimento real no conflito. O principal impacto da guerra é suportado pela Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Bahrein.

Ao mesmo tempo, a Arábia Saudita também foi derrotada na Síria. Ela não conseguiu derrubar Bashar Al – Assad e desde a reorientação da Turquia em relação à Rússia e o Irã, a posição da Arábia Saudita tornou-se mais precária. O chamado grupo de oposição sírio em Riyadh foi em grande parte controlado pelos turcos. A alavancagem dos sauditas sobre o processo da Síria em Riyadh está ficando menor. A realização de duas campanhas militares de uma só vez – a guerra aberta no Iêmen e a guerra por procuração na Síria –  está cada vez mais difícil. Este é o entendimento por aliados próximos dos sauditas, caso dos Estados Unidos. Assim, os EUA reconhecem a futilidade da campanha militar no Iêmen, como foi noticiado que os Estados Unidos devem retirar o seu grupo de planejamento do país que forneceu a  inteligência necessária para os sauditas. O grupo agora tem sido baseado no Bahrein.

A intervenção no Iêmen e a guerra na Síria são largamente projetos de uma disputa (pelo menos algumas fontes estão tentando apresentá-las desta forma). Deve ser entendido que a Arábia Unido enfrenta agora uma luta feroz entre suas elites. O rei reinante Salman está gravemente doente. Após a sua morte, deverá ser passado o poder para os membros da segunda geração da dinastia saudita. É mais provável que o príncipe Mohammed ibn Salman (Ministro da Defesa) e príncipe Mohammed Ibn Nayef Al Saud deverão confrontar-se em uma luta pelo poder no futuro próximo.

Mohammed Ibn Nayef é conhecido como sendo aquele mais influente dentre os membros mais intimamente ligados aos EUA na elite saudita. A aventura síria é considerada um projeto pelo seu grupo que coordena estreitamente as suas atividades com os Estados Unidos. Em sua juventude, Ibn Naif estudou nos EUA e até mesmo treinos em cursos especiais da FBR.. De acordo com as memórias de ex-funcionários da CIA, o príncipe sempre foi leal para com  os EUA e ativamente cooperou com as agências de inteligência dos EUA . Os EUA percebem-no como o candidato mais desejável para o trono saudita, embora estejam preocupados com a sua saúde.

Por sua vez, Mohammed ibn Salman, que tem apenas 31 anos de idade, é bastante ambicioso e procura a todo o custo a assumir o trono de seu pai. Alguns analistas ainda preveem um golpe suave após a morte do rei Salman dado que o seu filho é o segundo na linha de sucessão ao trono após seu tio Muhammad ibn Naif. Para os EUA, ele é um jogador muito novo. A guerra no Iêmen foi uma iniciativa deste Salman. Com a ajuda de uma guerra vitoriosa, ele procura aumentar seu próprio prestígio e status, mas calculou mal.

Assim, existem dois grupos opostos na Arábia Saudita: uma é completamente pró-americana; o outro é bastante agressivo e expansionista, mas sem apoio suficiente por parte dos Estados Unidos, cujo projeto e iniciativa política externa deverá falhar primeiramente na determinada vontade quem ganhar este presente árabe “Game of Thrones”.

Mohammed ibn Salman visitou periodicamente Rússia, aparentemente em busca de apoio do lado russo. Recentemente, o representante especial do presidente russo para o Oriente Médio e África, o  Vice – Ministro russo das Relações Exteriores Mikhail Bogdanov, reuniu-se com ele. Estes contatos acabam por explicar a crescente importância da Rússia no Oriente Médio tendo como pano de fundo a operação bem sucedida e consistente na Síria. A Rússia também é aguardada no Iêmen. O ex-presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh afirmou ontem que a Rússia está pronta para guarnecer portos e bases oferecidos para o estacionamento de soldados russos. Controlar o Iêmen significa ter controle sobre a mais importante artéria de transporte: o caminho do Oceano Índico e do Golfo Pérsico para o Mar Vermelho e Mediterrâneo.

A Rússia não está, naturalmente, interessada em uma vitória da Arábia Saudita no Iêmen. E isso é impossível. No entanto, existe a possibilidade de que a Rússia venha a poder ajudar a coalizão  da Arábia Saudita a alcançar uma “derrota honrosa”, iniciar o processo de paz, e, assim, permitir que Muhammad ibn Salman venha a sair da sua aventura no Iêmen com uma perda mínima de face (prestígio pessoal). Por outro lado, as ações da Rússia na Síria podem minar a posição daqueles que se opõem a ele. Enquanto isso, o Iêmen ver-se-á livre da influência e da ocupação das forças sauditas.

 

Exxon em Angola: a moral relativa da geopolítica do petróleo

Por:  André Araújo

Fonte: Jornal GGN

A Exxon celebrou um grande acordo com a Sonangol, a estatal angolana do petróleo, para exploração das reservas em águas profundas do litoral angolano. Enquanto a Petrobras está sendo processada pelo Departamento de Justiça dos EUA por casos de corrupção no Brasil, o mesmo Departamento não vê nada demais na empresa americana, símbolo da era do petróleo, se associar com uma estatal que em termos de corrupção conhecida tem poucos competidores no mundo.

Onde está o “compliance” da Exxon? Com a Sonangol não tem problema em assinar contratos? O Departamento de Justiça não vê nada demais? Acho que não, a Sonangol nunca foi investigada ou processada nos EUA. A lógica das leis americanas é bem flexível, o interesse dos EUA em primeiro lugar. Que coisa!

A Presidente do Conselho da Sonangol, Isabel dos Santos, filha do Presidente de Angola José Eduardo dos Santos, há 37 anos no poder, está numa revista americana, a Forbes, como a mulher mais rica da África. De onde vem sua fortuna?

A imprensa econômica da Europa relata um desaparecimento de 32 a 50 bilhões de dólares dos cofres da Sonangol.

(http://www.portugaldigital.com.br/economia/ver/20103540-presidente-da-so…).

 O caso não tem paralelo no planeta em termos de valor. Enquanto Angola se torna uma das potencias médias do petróleo mundial, toda sua produção é girada por petrolíferas americanas, a Petrobras tentou entrar em Angola e foi rechaçada.

Enquanto isso as condições de vida da população são péssimas, falta saneamento básico em Luanda, no interior nem se fala, falta tudo, enquanto Ministros do MPLA são bilionários, um deles, bem conhecido, tem apartamento na Av. Vieira Souto, no Rio.

Uma companhia com esse currículo é bem vinda ao se associar a Exxon, enquanto em Washington uma pesada artilharia legal criminaliza a Petrobras. É verdade que com apoio que vem do Brasil, numa acusação ilógica, a Petrobras é vitima e não autora e os atos ocorreram fora da jurisdição da lei americana. Se aos americanos a corrupção faz arrepiar e eles se propõem a ter jurisdição mundial para combatê-la, como se explica que fechem os olhos para o que acontece em Angola?

Atrevo-me a uma explicação: todo petróleo de Angola exportado, quase 2 milhões de barris/dia, mais que a Venezuela, vai para os EUA, um fornecedor importante e confiável. Então vamos deixar o moralismo para os brasileiros, antigo e tradicional aliado dos EUA, vamos processar e impor pesadas multas a nossos amigos, puni-los com apoio de brasileiros puros, prejudicando esse Pais que lutou a nosso lado na Segunda Guerra e que fornece mais que qualquer outro tropas para nossas missões de paz pelo mundo.

Pode-se alegar que a Exxon Mobil é uma empresa privada que faz os contratos que quiser. Negativo. Todas as atividades de empresas petrolíferas dos EUA pelo mundo são monitoradas pelo Departamento de Energia e nenhuma empresa assina contratos no exterior sem o visto do DE e do Departamento de Estado.

http://corporate.exxonmobil.com/en/company/worldwide-operations/locations/angola

Enquanto isso os EUA viram parceiros de cama, mesa e banho de um regime outrora marxista-terrorista e guerrilheiro contra o qual lutaram através da UNITA financiada pela CIA. Outrora visceralmente anti-americano, apoiado pela URSS e aparelhado por 25.000 soldados cubanos, o Movimento Popular de Libertação de Angola,  continua sendo o partido oficial que governa Angola. Hoje é íntimo parceiro e sócio dos EUA, que ironia da História. Dos tempos da aliança com a URSS ficou para Jose Eduardo dos Santos uma bonita lembrança, Isabel dos Santos, sua filha e de sua primeira esposa russa, atual Presidente do Conselho da SONANGOL.

A Guerra Fria produziu bons frutos hoje cotados em dólar.

 

A Rússia desafia os EUA na Síria

Autor: Yusuf Fernandez

Tradução: César A. Ferreira

Fonte: Al Manar

O envio do sistema S-300VM (SA-23 Gladiator terminologia da OTAN) para a  Síria, provocou a ira dos Estados Unidos  que expressou alarme a uma medida deste tipo apesar do fato de que a mídia dos EUA haver afirmado pouco antes, que  Washington estava considerando “as opções militares “contra a Rússia no tocante à crise síria. A última ameaça levou a Rússia a tomar as suas próprias medidas, incluindo a implantação do sistema acima, capaz de abater aeronaves e mísseis de cruzeiro, e reforçar a sua frota no Mediterrâneo.

A Rússia indicou, entretanto, que a S-300VM é um sistema defensivo e disse não entender por que os EUA estão a  expressar tais alarmes.

Os EUA têm-se queixado sobre os ataques russos na Síria contra a Frente  Al-Nusra e outros grupos terroristas e clamando pela imobilização das aeronaves da Rússia e Síria, de uma maneira que evidencia ainda  mais o seu apoio ao terrorismo. A implantação do S-300 VM é irrelevante contra a Frente Al-Nusra, que não tem poder aéreo, mas é uma parede contra possíveis ataques dos Estados Unidos ou os seus aliados contra a Síria.

Na verdade a ameaça contra a Rússia e a Síria é real. Os EUA afirmaram que não irão mais  realizar esforços diplomáticos na Síria, enquanto culpam a Rússia pelo seu próprio fracasso em respeitar os compromissos assumidos no conflito sírio. Ao que tudo indica, nunca tiveram real intenção em respeitar…

A próxima reunião do Conselho de Administração, que inclui os secretários de Estado e de Defesa, o chefe do Estado-Maior Conjunto, bem como o diretor da CIA, deverá examinar várias políticas de ação midiática e militar na Síria. Uma das proposta sobre a mesa é atacar as pistas dos aeroportos militares sírios com mísseis de cruzeiro e outras armas disparados de aeronaves de longo alcance e de navios, além de outras ações militares.

Seria, portanto, uma agressão militar aberta contra outro país sem a autorização do Conselho de Segurança da ONU. Portanto, um oficial militar dos EUA, citado pelo Washington Post, disse que os ataques seriam realizados “dissimuladamente ou sem reconhecimento público.”

Na verdade, apenas os EUA, frente aos seus aliados ocidentais deitam a falar de “opções militares”, já que parece difícil pensar que os aliados europeus aceitem o risco de uma guerra com a Rússia para proteger a Frente Al-Nusra, uma organização ligada à Al Qaeda.

O reforço da frota mediterrânica e o envio do sistema  S-300 VM sugerem, fortemente,  que a Rússia está ciente de tais planos agressivos dos EUA e que decidiu portar-se altivamente na Síria. Em contraste, a reação histérica de Washington sugere que eles estão a perder uma posição militar estratégica, daí  correr o risco de um ataque deste tipo num momento em que a Rússia aumentou as suas defesas na Síria.

A política dos EUA na Síria representa uma ameaça para a própria Rússia e faz parte das tentativas de Washington para circundar este país. Uma bem sucedida operação de mudança de regime na Síria seria em seguida constituída de uma  intervenção dos EUA na Rússia, na forma do envio de terroristas financiados pela CIA para as repúblicas russas do Cáucaso para alimentar um movimentos separatistas latentes por lá. Um regime fantoche em Damasco ajudaria a canalizar tais forças, treinadas no campo de batalha da Síria, para dentro do solo da Rússia,  realizando uma campanha para desestabilizar e, finalmente, desmembrar a Federação Russa.

Nota do Editor: O sistema S-300VM (Antey 2500) possui como alvos primários misseis de cruzeiro, bem como os mísseis balísticos táticos de curto e médio alcance. De forma subsidiária pode ser utilizado para neutralizar aeronaves e outras ameaças aéreas. O seu alcance é de 200 km e caso a informação de que seria postado em Tartus, ou seja, junto a costa, isto significa que as formações de combatentes em Deir Ez Zoir e Aleppo não contariam com a proteção deste referido sistema, algo que já acontecia com sistema S-400 postado em Latakia.

A capacidade do sistema é a de vetorar até 24 alvos, sendo 4 por unidade de vetoramento por vez. Isto significa que a bateria, isolada, pode vir a ser saturada, não é por outro motivo que o conceito russo de Defesa Antiaérea prevê uma distribuição em camadas, ou seja, com proteção convergente de cada sistema por sobre o outro. Espera-se, portanto, que o sistema S-300VM tenha o seu complemento como segurança crítica na forma de uma bateira do sistemas Pantsyr S-1.

 

Por que eventos recentes na Síria mostram que o governo Obama está em confusa agonia terminal

Autor: Saker.

Fonte: The Vineyard Of The Saker

Tradução: Coletivo de Tradutores da Vila Vudu. – Fonte em português: Blog do Alok

Os mais recentes desenvolvimentos na Síria não são, creio eu, resultado de algum plano deliberado pelos EUA para ajudar seus “terroristas moderados” aliados em campo, mas sintoma de algo talvez pior: os EUA parecem ter perdido completamente o controle sobre a situação na Síria e, possivelmente, também em outros pontos. Permitam recapitular o que acaba de acontecer:

Primeiro, depois de dias e dias de intensas negociações, o secretário Kerry dos EUA e o ministro Lavrov de Relações Exteriores da Rússia finalmente chegaram a um acordo sobre um cessar-fogo na Síria que teria potencial para pelo menos “congelar” a situação em campo, até as eleições presidenciais nos EUA e a troca de governo (esse é agora o evento mais importante no futuro próximo; assim sendo, nenhum plano de nenhum tipo estende-se além daquela data.

Foi quando a Força Aérea dos EUA, com mais alguns ‘parceiros’, bombardeou uma unidade do Exército Árabe Sírio, que não estava nem em movimento nem engajada em operações intensas, que simplesmente cobria um setor chave do front. O ataque norte-americano foi seguido por ofensiva massiva dos “terroristas moderados” que acabou por ser contida, com dificuldade, por militares sírios e as Forças Aeroespaciais Russas. Desnecessário dizer que, depois de tal provocação, o cessar-fogo morreu.

Os russos manifestaram total desagrado e indignação contra o ataque e começaram a dizer abertamente que os norte-americanos são “недоговороспособны“. A palavra significa literalmente “[gente, pessoa] incapaz para acordos” ou sem as competências mínimas para firmar um acordo e, na sequência, honrar o que assinou. É expressão polida, mas mesmo assim extremamente forte, porque implica, mais do que fingimento deliberado, a ausência da capacidade, dos meios morais necessários para respeitar a própria assinatura. Por exemplo, os russos têm dito com frequência que o governo de Kiev é “incapaz para acordos”, o que faz sentido, considerando-se que a Ucrânia ocupada pelos nazistas é, na essência, estado fracassado.

Mas dizer que uma superpotência nuclear mundial é “incapaz para acordos” é diagnóstico extremo e terrível. Significa basicamente que os norte-americanos enlouqueceram e perderam os meios morais mínimos necessários para firmar acordos, qualquer tipo de acordo. Afinal, governo que descumpra o que prometa ou tente burlar, mas o qual, pelo menos em teoria, conserve a capacidade para respeitar a própria assinatura em acordos não seria descrito como “incapaz para acordos”. É expressão que só é usada para descrever entidade que sequer tem condições mínimas indispensáveis para merecer a confiança necessária para que alguém possa iniciar negociações, porque não cumprirá o que for acordado. É diagnóstico absolutamente devastador.

Na sequência, vem a cena antiprofissional, patética, da embaixadora Samantha Powers embaixadora dos EUA na ONU que simplesmente levantou-se e saiu de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU quando o representante russo estava falando. Mais uma vez, os russos enfureceram-se, não pela tentativa infantiloide de ofender, mas pela absoluta falta de profissionalismo que Powers manifestou, como diplomata. Do ponto de vista dos russos, se uma superpotência levanta-se e sai da sala quando outra superpotência está falando sobre assunto crucialmente importante é, para começar, atitude irresponsável; mais uma vez, sinal de falta das competências mínimas indispensáveis para ser parte de qualquer negociação ou acordo.

Por fim, a coroação: o ataque ao comboio de ajuda humanitária na Síria, que os EUA, claro, atribuíram à Rússia. Mais uma vez, os russos mal acreditaram nos próprios olhos. Primeiro, porque foi flagrante (e sinceramente, de nível de jardim de infância) tentativa para ‘mostrar’ que “os russos também erram” e que “os russos mataram o cessar-fogo”. Segundo, apareceu aquela declaração cômica, dos norte-americanos, de que só duas forças aéreas poderiam ser autoras do ataque – ou os russos ou os sírios (como os norte-americanos supuseram que enganariam alguém, naquele espaço aéreo super controlado pelos radares russos, é questão que ultrapassa a minha capacidade de análise!). Sabe-se lá como, os norte-americanos “esqueceram” de mencionar a que força aérea dos EUA também está ativa na região, além de forças aéreas de vários aliados dos EUA. Mais importante: esqueceram de mencionar que, naquela noite, drones Predator norte-americanos armados voavam diretamente sobre aquele comboio.

O que aconteceu na Síria é dolorosamente óbvio: o Pentágono sabotou o acordo firmado entre Kerry e Lavrov; e quando o Pentágono foi acusado de ser responsável pelo ataque, rapidamente montaram (mal montado) um ataque sob falsa bandeira, e tentaram culpar os russos.

Tudo isso mostra que o governo Obama está em estado terminal de confusa agonia. A Casa Branca aparentemente está em tal estado de pânico ante a provável vitória de Trump em novembro, que perdeu, basicamente, o controle de toda sua política exterior em geral, e especialmente, na Síria. Os russos estão literalmente cobertos de razão: o governo Obama é realmente “incapaz para acordos”.

Claro: o fato de os norte-americanos estarem agindo como crianças malcriadas frustradas não implica que a Rússia tenha de se rebaixar. Já vimos Lavrov voltar sempre e sempre tentar negociar com Kerry. Não porque os russos sejam ingênuos, mas precisamente porque, diferente dos colegas norte-americanos, os diplomatas russos são profissionais que sabem que negociação e linhas de comunicação mantidas abertas sempre são, e por definição, preferíveis a dar as costas e sair da sala, sobretudo quando se negociar com uma superpotência. Os observadores que criticam a Rússia por ser “fraca” ou “ingênua” só fazem projetar sobre a Rússia o seu próprio modo de ser e agir, quase todo modelado pelos norte-americanos. E nem percebem que russos não são norte-americanos: pensam de modo diferente e agem de modo diferente.

Para começar, os russos não se incomodam com ser vistos como “fracos” ou “ingênuos”. De fato, preferem ser vistos desse modo, se essa percepção faz avançar seus objetivos e confundem o oponente sobre suas reais intenções e capacidades. Os russos sabem que não construíram o maior país do planeta por serem “fracos” ou “ingênuos” e não têm interesse em ‘lições’ que lhe venham de países mais jovens que muitos dos prédios russos.

O paradigma ocidental quase sempre é o seguinte: crise sempre leva a rompimento de negociações; em seguida vem o conflito. O paradigma russo é completamente diferente: crise leva a mais negociações que são mantidas até o último segundo, tentando impedir que irrompa o conflito.

Há duas razões para isso: primeiro, insistir em negociar até o último segundo possibilita procurar o mais possível por uma via pela qual sair do confronto; e, segundo, negociações nas quais se insista até o último momento possibilitam que o negociador aproxime-se o mais possível de pôr a seu favor a surpresa estratégica, no caso de ter de atacar. Assim, exatamente, a Rússia agiu na Crimeia e na Síria – sem absolutamente nenhum sinal ou, ainda menos, sem exibições propagandeadas de poder como meio para intimidar alguém (intimidação também é estratégia política ocidental, que os russos nunca usam).

Assim sendo, Lavrov continuará a negociar, não importa o quão ridículas ou inúteis pareçam essas negociações. O próprio Lavrov provavelmente jamais pronunciará publicamente a palavra “недоговороспособны”, mas a mensagem ao povo russo e aos aliados sírios, iranianos e chineses da Rússia sempre será clara: os russos, hoje, já perderam qualquer esperança de obter negociações proveitosas ou confiáveis com o atual governo dos EUA.

Obama & Co. estão assoberbados de trabalho, tentando esconder as reais condições de saúde e os problemas de caráter de Hillary e, no momento, provavelmente só conseguem pensar numa coisa: como sobreviver ao debate Hillary-Trump [2ª-feira, 26/9, na Hofstra University em Hempstead, N.Y.]. O Pentágono e o Departamento de Estado estão ocupados, sobretudo, em combater um contra o outro por causa da Síria, Turquia, curdos e Rússia. A CIA parece estar em guerra contra ela mesma, mas não se pode afirmar com certeza.

O mais provável é que algum tipo de acordo continuará a ser anunciado, por Kerry e Lavrov, se não hoje, então amanhã ou depois. Mas, francamente, concordo integralmente com os russos: norte-americanos são realmente “incapazes para acordos”, e nesse momento, os dois conflitos, na Síria e o da Ucrânia, estão congelados. Não digo “congelados”, isso sim, no sentido de “situação em que não há grandes desdobramentos possíveis”. Ainda haverá combates, especialmente agora que os aliados wahhabistas e nazistas dos EUA sentem que o chefe não está muito atento no comando, ocupado com eleições e conflagração racial quase generalizada nos EUA, mas dado que não há solução militar possível para nenhuma dessas guerras, os confrontos e ofensivas táticos não levarão a resultado estratégico.

Com exceção de algum ataque sob falsa bandeira dentro dos EUA, como o assassinato ou de Hillary ou de Trump por um “pistoleiro solitário”, as guerras na Ucrânia e Síria prosseguirão sem possibilidade de qualquer tipo de negociação significativa. E com Trump ou Hillary na Casa Branca, um grande “reset” acontecerá no início de 2017.  Trump provavelmente quererá encontrar Putin para uma grande sessão de negociações que envolva todos os temas chaves entre EUA e Rússia. Se Hillary e seus neoconservadores chegarem à Casa Branca, nesse caso será quase impossível impedir algum tipo de guerra entre Rússia e EUA.

[assina] The Saker.

PS: Alguns especialistas militares russos estão dizendo que o tipo de dano que se vê nas fotos e vídeos do ataque ao comboio humanitário não é consistente com ataque aéreo, sequer com ataque por artilharia; o que se vê parece ser resultado da explosão de vários IEDs [Dispositivos Explosivos Improvisados]. Se isso se confirmar, também não implica a Rússia, mas aponta para forças de “terroristas moderados” que controlam aquela locação. Ainda assim poderia ser ataque sob falsa bandeira ordenado pelos EUA ou, se não for isso, será prova de que os EUA perderam o controle sobre seus aliados wahhabitas em campo.*****