O conflito sírio segue em sua brutalidade sem fim

Por: César A. Ferreira

O conflito sírio segue sem perspectiva alguma de chegar ao seu final, em que pese as retomadas de territórios por parte das armas nacionais sírias, que advém, porém, sempre ao custo de perdas, algo sensível em um conflito onde a infantaria é a força primordial, a qual, diga-se, não consegue se recompletar no nível adequado à saúde das formações. Um problema antigo e que apenas faz valer ainda mais a coragem dos contingentes sírios, costumeiramente postos à prova.

É inegável o fato, por muitos já observado, de que a insurgência motivadora do conflito é uma obra de interesses escusos de grandes potências, ocidentais por óbvio, sendo as forças jihadistas apenas os combatentes por procuração. O pudor, no entanto, perdeu-se a muito, tanto que o próprio Wall Street Journal informou a presença ao norte do território sírio de 250 soldados do US ARMY, declaradamente com a função de operacionalizar uma zona de segurança: (…) “will oversee the implementation of a safe-zone in the northern countryside”, em português, implementar uma zona de segurança em uma zona rural ao norte. Resta saber, apenas, que zona de segurança é essa, para quê, ou para quem, em vista do conflito que rasga a Síria… Não seria melhor apoiar o governo laico da Síria, em vista de ser o governo constituído aquele que realmente combate e obtém vitórias contra os jihadistas do Estado Islâmico? A resposta é óbvia e não precisa ser dita, afinal o mundo girou e a Frente Nusra, braço armado da Al-Qaeda no levante, é reconhecida por ser municiada e equipada pela CIA, bem como pela Casa de Saud; o mundo dá voltas, mas nada muda.

A guerra prossegue, todavia. Duas divisões do Exército Árabe da Síria, a 11ª e a 18ª, pressionam os jihadistas no eixo de Al-Bardeh, travando combates iniciados sábado último em Al-Qaryatayn. Outras formações sírias avançam no intuito de capturar as elevações de Baridah, proteção necessária para o avanço em direção aos campos de gás de Arak, bem como a estação de bombeio de gás T3.  Na madrugada do dia 24, na cidade de Aleppo, mais precisamente na parte sul da cidade, no bairro suburbano de Al-Assad, verificou-se provindo das edificações do distrito de Al-Rashiddeen o maior ataque direto já visto em meses, isto se deu exatamente às 03:00. O vigoroso ataque foi repelido com violentas baixas. As formações dos atacantes respondiam pelas bandeiras dos grupos extremistas Frente Al-Nusra, Jaish Al-Mujahideen, Ahrar Al-Sham, ELS-Exército Livre Sírio (ing. Free Syrian Army-FSA), Jabhat Al-Shamiya, e Nouriddeen Al-Zinki. Os extremistas foram “convidados” para uma emboscada ao atacar uma posição aparentemente débil do Exército Árabe da Síria. O ardil foi completado por uma chuva de morteiros na linha de avanço rebelde, que resultou em mais de 100 casualidades. A maioria dos mortos pertenciam ao grupo Nouriddeen Al-Zinki (cerca de 25). Todos estes grupos, segundo a CIA, são formados por muçulmanos honrados, merecedores das melhores armas que o mundo ocidental puder conceber…

Enquanto isso, segue o apoio russo ao governo sírio. A cidade antiga de Palmyra foi declarada livre de minas explosivas, totalmente desminada pelos sapadores russos. É preciso lembrar que a ofensiva em direção à cidade histórica foi efetuada com suporte dos helicópteros de ataque russos, com todos os modelos presentes realizando missões (Mi-24P, Mi-35M, Mi-28N e Ka-52). Não se pode deixar de notar o contraste imenso entre as intervenções norte-americanas e russas. Enquanto os primeiros se contorcem para justificar o apoio dado a extremistas, explicitado no ridículo rótulo de “rebelde moderado”, como se fosse possível a rebeldia compor-se de moderação, os segundos simplesmente apoiam um governo constituído, reconhecido diplomaticamente. E lá estão a convite.

A prática geopolítica brasileira no após golpe

Por: César A. Ferreira

Agora que o pedido de impeachment está entregue e deverá tramitar no Senado Federal, casa onde o governo de Dilma Vana Rousseff não possui os votos necessários, dado que hoje, com segurança, não exibe o governo mais do que 20 votos, fica a pergunta que interessa a uma página que discute geopolítica: como será a política externa vindoura? Para que lado penderá Temer?

Para se poder entender a visão de mundo que deverá assumir, basta perceber o rol especulativo sobre os titulares da área econômica. O nome mais citado é o de Armínio Fraga, isto sugere uma opção por colaboração estreita com o mercado de capitais. Portanto, por extensão, maior influência dos EUA, que nunca foi pouca, diga-se. Se levarmos em consideração a presença brasileira no bloco BRICS, que já frutificou iniciativas importantes como o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, em inglês – Asian Infrastructure Investiment Bank, AIIB; do qual o Brasil se configura como sócio fundador, teremos uma interessante mudança de orientação externa, visto que apesar de jamais comentado, sabe-se, que os EUA consideram como maior ameaça ao seu status quo a proeminência financeira da China, que não esconde a sua intenção de fazer do Yuan (Renmibi) uma moeda de referência. Os norte-americanos tomam as iniciativas chinesas como um desafio ao dólar, o que de fato é. Para se ter uma ideia da tensão havida basta lembrar que o pivô desencadeante da invasão ao Iraque não foi outra coisa do que a decisão de Saddam Hussein de aceitar euros e ouro, além do dólar, como pagamento pelas cotas permitidas pela ONU para exportação de petróleo.

O alinhamento com Wall Street poderá resultar em mudanças substanciais, tal como a revisão do regime de extração das reservas petrolíferas do Pré-Sal, que podem mudar do regime de partilha para o de concessão de área, afrouxamento das leis de proteção do trabalho e de telecomunicações. O protagonismo do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social deverá minguar, principalmente os financiamentos para projetos fora das fronteiras brasileiras, o que deverá afetar diretamente a influência do Brasil perante aos seus vizinhos, sul-americanos e da América Central, alvos prioritários na projeção das empresas brasileiras exportadoras de serviços de engenharia. A operação judicial-midiática Lava-Jato, apesar de não poder ser apontada diretamente como responsável é de fato o evento determinante para o recuo que já se observa, visto que atinge diretamente o polo econômico a ser beneficiado pela expansão: as grandes construtoras brasileiras. Por isto, não será surpresa alguma que os nichos de mercados sejam ocupados por chineses, na África; norte-americanos e canadenses na América Latina.

Por fim, no campo militar, um maior alinhamento com os EUA e demais nações da OTAN é mais do que esperado, mesmo porque este alinhamento sempre perdurou. Poucas foram as iniciativas em busca de fornecedores extra-OTAN, que podem ser contadas nos dedos: helicópteros de ataque Mi-35M, misseis MANPAD 9K38 Igla, além de material bélico sueco, que para todos os efeitos não configura um fornecedor “politicamente hostil” aos EUA. Acredita-se, portanto, que se o governo Dilma Rousseff por algum motivo não assinar o contrato para a aquisição das anunciadas três baterias dos sistema anti-aéreo Pantsyr S-1, nos dias próximos, este jamais será assinado. É uma especulação, sem dúvida alguma, mas como tudo que se observa nestes dias é o que pode ser feito na falta de algo melhor do que uma bola de cristal.

O CARGUEIRO E AS HIDRELÉTRICAS

Por: Mauro Santayana (08 de abril de 2016).

Fonte: Mauro Santayna.com

(Jornal do Brasil) – O céu era “de brigadeiro”.

Mas, para a maior parte da mídia passou em brancas nuvens a apresentação do novo cargueiro militar KC-390 da EMBRAER à Presidente da República, ao Ministro da Defesa, Aldo Rebelo, e ao Ministro da Aeronaútica, Nivaldo Luiz Rossato, após viagem de Gavião Peixoto à Capital Federal, nesta semana, na Base Aérea de Brasília.

E, no entanto, tratava-se apenas da maior aeronave já construída no Brasil, com capacidade de transporte de blindados, de brigadas de paraquedistas, de operar como avião-tanque para reabastecimento aéreo de caças, ou como unidade de salvamento, em um projeto que custou 7 bilhões de reais, em grande parte financiado pelo Governo Federal, que teve também  participação minoritária de outros países, como Portugal, Argentina e a República Tcheca, destinada a substituir, no mercado internacional, nada menos que o Hércules C-130 norte-americano.

A mesma indiferença, para não dizer, desprezo, ou deliberada desinformação, ocorreu com o início do processo de geração da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, a terceira maior do mundo, com capacidade de 11.000 megawatts, na semana passada.

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Usina de Jirau quando em construção. Imagem: internet

Ou com a hidrelétrica de Santo Antônio, situada no Rio Madeira, em Rondônia, a quarta maior do país, que colocou em operação sua 39ª turbina geradora há alguns dias.

Como sempre se dá com os grandes projetos erguidos nos últimos 13 anos neste país – e põe obra nisso – escolheu-se dar atenção, prioridade e divulgação preferencial a aspectos negativos, discutíveis e polêmicos como eventuais “estouros” de orçamento, atrasos ou suspeita de corrupção, do que às próprias obras.

Projetos que, depois de prontos, passarão a pertencer, inexoravelmente, ao patrimônio nacional e ao domínio do concreto, da realidade – e que, querendo ou não seus detratores – continuarão, agora e no futuro, beneficiando o país com mais empregos, mais energia, melhora no nível tecnológico de nossa indústria bélica e aeroespacial e da capacidade de defesa da Nação.

Bom mesmo, para essa gente, deve ter sido o governo do Sr. Fernando Henrique Cardoso, que, segundo o Banco Mundial, conseguiu encolher o PIB e a renda per capita do Brasil em dólares nos oito anos em que permaneceu à frente do Palácio do Planalto, aumentou a carga tributária em vários pontos percentuais e duplicou a relação dívida líquida-PIB, além de deixar uma dívida de dezenas de bilhões de dólares o FMI, sendo obrigado a racionar energia por falta de investimentos na geração de eletricidade – além de deixar que desaparecessem empresas como a ENGESA, sem forjar um simples parafuso para as forças armadas.

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Usina de Jirau em plena operação. Imagem: internet.

Naquele tempo não se discutia a suspeita de irregularidades na construção de usinas, refinarias, plataformas de petróleo, gigantescos sistemas de irrigação e saneamento, ferrovias, tanques, submarinos – até mesmo atômicos – usinas nucleares, estádios, aviões, mísseis, porque não se fazia quase nada disso em nosso país, e, quando havia encomendas, poucas, eram para o exterior, e não para aqui dentro.

Aludia-se, sim – muito timidamente com relação ao que se faz hoje – à possibilidade da existência de irregularidades na compra da emenda da reeleição no Congresso; e na sabotagem, esquartejamento, destruição, por exemplo, de grandes empresas nacionais, algumas delas centenárias, a maioria estratégicas, para sua entrega, a preço de banana, para estrangeiros, com financiamento farto, subsidiado, do BNDES.

Lembrando George Orwell – em seu inesquecível e cada vez mais atual “1984” – o Ministério da Verdade, ou Miniver, em “novilíngua” – formado pela parte mais seletiva, parcial, ideologicamente  engajada e entreguista da mídia brasileira – pode fazer o que quiser – um diário chegou a trocar a foto de Dilma na cabine do KC-390, por outra, menos “favorável”, em pleno processo de impressão da tiragem do dia seguinte ao fato – que não se conseguirá derrubar  obras como Belo Monte, Telles Pires,  Santo Antônio, ou Jirau, ou o novo trecho da ferrovia norte-sul, que já leva soja de Anápolis ao Porto de  Itaqui, no Maranhão, ou paralisar – com a desculpa de que vão dar ou deram prejuízo (prejuízo contábil, virtual, não interessa, afinal, dinheiro se necessário, como fazem os EUA, se fabrica), como se não bastassem o 1 trilhão e 500 bilhões de reais em reservas internacionais que o Brasil possui – a construção da Transposição do São Francisco ou a expansão da refinaria Abreu e Lima, que já está processando, em sua primeira fase, cerca de 100.000 barris de petróleo  por dia.

As obras e as armas construídas, para o Brasil, como os fuzis de assalto IA-2, ou os radares SABER, ou o Sistema Astros 2020 – até mesmo porque as Forças Armadas não vão permitir que esses programas venham a ser destruídos e sucateados – vão ficar, por mais que muitos queiram que elas desapareçam em pleno ar, em uma nuvem de fumaça ou nunca venham a ser vistos em um livro de história.

Et latrare canes caravanis transit – ouviu, certa vez um romano, em um ponto qualquer da rota da seda, entre as dunas do deserto do Saara.

O calendário da pátria não se mede com o ponteiro fugaz das vaidades humanas.

O que importa para o Brasil é o que fica.

No futuro, o povo saberá datar essas conquistas – separando o joio do trigo – no tempo e nas circunstâncias.

 

 

RPDC deverá testar SLBN nesta semana

Por: César A. Ferreira

Acredita-se que a Marinha de Guerra da República Democrática da Coreia realizará na próxima quarta – feira um lançamento de teste de um SLBM (ing) míssil balístico lançado de submarino.

O submersível da classe Simp’o, todavia, fez uma manobra intrigante, pois deixou sua base em Wonsan, retornando em seguida. Para os militares sul-coreanos, que seguem os passos deste submarino com sofreguidão, o retorno súbito à base é indicativo de problemas técnicos enfrentados pelos marinheiros norte-coreanos.

Ouvido na condição de anonimato, um almirante sul-coreano opinou a NK notícias: “O submarino não voltaria ao porto rapidamente se estivesse programado tomar parte em uma operação ou formação”. O oficial continua: “Parece que o submarino lidou com a anomalia durante o processo de teste de lançamento e decidiu retornar”.

De fato o submarino norte coreano lançador de misseis balísticos parece ser o objeto de maior atenção da inteligência sul-coreana. O seu rastreamento é uma prioridade, todavia, os motivos das suas saídas cabem antes no terreno da especulação, visto que os movimentos relatados são via de regra tomados como surpresa.

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Simp’o flagrado em sua base. Imagem: Digital Globe.

Objeto de falha, ou não, isto reflete o ímpeto decidido da republica do norte em levar adiante o seu projeto de dissuasão nuclear, provendo meios para ataque ao conceber um míssil lançado por submarino, portador necessário de ogivas nucleares, estas, por sua vez, miniaturizadas. Um esforço e tanto para uma república isolada e submetida a pesadas sanções.

Em declaração a NK notícias o diretor do Korea Defense and Security Forun afirmou: “O aperfeiçoamento da tecnologia SLBM requer um inúmeros testes… No oceano e em terra. Pyongyang deverá miniaturizar suas armas nucleares, e este lançamento – caso seja bem sucedido – poderá resultar em uma mensagem reivindicatória da conclusão e adaptação das suas ogivas para um SLBM”.

Independente das opiniões sul-coreanas o fato presente é que o desenvolvimento de um submarino lançador, do míssil balístico e das suas ogivas deverão impor uma sucessão de testes, o que deverá resultar em uma vida operacional agitada para o submarino da classe Simp’o.

 

 

Deir Ezzoir como novo eixo do avanço legalista

Por: César A. Ferreira

Após a vitória estrondosa na cidade de Palmira, e na localidade de Quraytayn, os olhos do mundo passam a acompanhar a campanha do Exército Árabe da Síria em direção ao sítio de Deir Ezzoir, isto, devido ao fato de ser Deir Ezzoir um alvo óbvio a partir de Palmira, ainda que esteja a uma distância considerável, e o Exército Árabe da Síria a exibir alguns sinais de exaustão após a pesada batalha para a libertação de Palmira.

No tocante à exaustão, uma pausa pode restabelecer o status combativo das unidades, entretanto, o tempo pode vir a ser um fator primordial para os combatentes e civis sitiados em Deir Ezzoir, portanto, uma pausa para reagrupamento deve ser medida com extremo cuidado e tempo justo. O fato é que a luta no vasto deserto sírio mostrou-se desgastante, e a resistência das unidades combatentes do Estado Islâmico, percebeu-se, foi pesada, evidenciando a presença de combatentes experimentados o que acabou por valorizar a vitória legalista. O ambiente, severo, impôs severos desgaste nos equipamentos e rebaixou o status combativo das unidades, a infantaria também sofreu com o escaldante deserto, vindo a sofrer baixas operacionais de monta, boa parte delas não sendo alusivas as operações de combate, mas ao clima extremo, ocasionando uma pressão extra ao sistema logístico e sanitário das unidades legalistas.

Como visto no avanço à Palmira, o avanço em direção de Deir Ezzoir deverá se dar em função da estrada que liga as cidades. E tal como antes, o avanço para conquistar os trechos da autopista e garantir o fluxo logístico exige muito do Exército Árabe da Síria, que vê-se obrigado, como lição de guerra, a estender o corredor de proteção deserto adentro e a ocupar qualquer elevação que por ventura exista no campo de visão. As onipresentes viaturas pick up, com metralhadoras pesadas ou canhões de tiro rápido geminados de 23mm não são uma escolha casual, constituem-se na parte integrante da estratégia de interdição de vias de suprimentos por parte do Estado Islâmico, visto que permitem reides, ações rápidas de destruição e evasão acelerada. Foi por se mostrar antes incapaz de defender as estradas, artérias logísticas indispensáveis, que as forças legalistas acabaram por recuar e abandonar Palmira e Raqqa, e ver-se cercadas em Aleppo e Deir Ezzoir. O abandono das posições no deserto profundo deu-se em razão da opção lógica de defender Damasco e as províncias costeiras, onde se encontram 80% da população síria.

O exemplo maior das dificuldades de manter segura uma autoestrada foi o combate realizado em torno da estrada de Khanasser, onde o avanço foi obstado por contra-ataques do Estado Islâmico que além de cobrarem pesado tributo em baixas, evitou as operações que visavam o cerco das suas unidades combatentes ao permitir a fuga e posterior reagrupamento. A luta em um eixo logístico não oferece ao atacante muitas opções táticas, visto que a estrada por si já é o indicativo óbvio do eixo de ataque.

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Helicópteros de ataque Ka-52 em ação no deserto sírio. Imagem: internet

Estas dificuldades, no entanto, são superadas com o vasto apoio aéreo, não só efetuado pela Força Aérea Árabe da Síria, como pelos helicópteros de ataque, notadamente russos, caso dos novos Mi-28N e Ka-52, que estrearam a pouco no conflito sírio varrendo posições dos extremistas no eixo de Palmira.

O combate em um eixo óbvio de ataque pode parecer inglório, mas o ambiente é inóspito para ambos contendores e se avanço há, isto se dá pela existência de alvos identificados. O Estado Islâmico não pode se furtar a defender os povoados e localidades por ele ocupados pois deles defende o fundamento do seu poder, que é o domínio territorial, razão última para a autodenominação de “Estado”. Ademais, depende em demasia da comercialização do petróleo produzido na província de Raqqa, razão pela qual mantém nas localidades de Tabaqa e Sukhanah grandes formações de combatentes. Tabaqa e Sukhanah são obstáculos consideráveis no eixo de Deir Ezzoir e por isto se tornaram alvos óbvios. O uso de artilharia, de ogivas termobáricas dos foguetes de saturação de área além do apoio aéreo aproximado se farão presentes quando chegar a hora.

As palavras de um líder

Por: Ho Chi Minh
Fonte: Esquerda Tradicionalista

Nota de introdução: o pensamento de um líder nacional, na forma de relato, é precioso documento histórico. Através dele é possível entendermos o desenvolvimento do entendimento de mundo deste líder, como personagem dinâmico, bem como da maneira deste interagir com o contexto que o rodeava. Desta forma, o depoimento abaixo do líder revolucionário Ho Chi Minh se reveste de importância fulcral, dado que Ho Chi Minh foi dentre os líderes das revoluções anticoloniais do século passado aquele cujas ações desembocaram na vitória de maior repercussão, a mais simbólica, algo que, aliás, não viu concretizar totalmente em vida. Ho Chi Minh foi um líder que sempre cultivou uma independência própria no campo ideológico, nunca se curvando a pressões e por isto um contumaz causador de “dores de cabeças” em lideranças revolucionárias chinesas. Entretanto, sempre manteve um perfil discreto e prático, quase pragmático, algo convencional em comunistas, diga-se. Era fã declarado de Lênin, como o eram quase todas as lideranças revolucionárias anticolonialistas do século XX.  Nascido como Nguyen Singh Cung, em 19 de maio de 1890, adotou Ho Chi Minh para nomear o seu alter ego revolucionário. Faleceu em 2 de setembro de 1969.

Disse Ho Chi Minh:

“Após a Primeira Guerra Mundial, eu levava minha vida em Paris, ora como retocador de fotografias, ora como pintor de ‘antiguidades chinesas’ (feitas na França). Também distribuía panfletos denunciando os crimes cometidos pelos colonizadores franceses no Vietnã.

Naquele tempo, eu apoiava a Revolução de Outubro apenas por intuição, não tendo em mente ainda toda sua importância histórica. Eu amava e admirava Lênin porque ele era um grande patriota que libertara seus compatriotas; até então, eu não havia lido nenhum de seus livros.

A razão para eu ter me unido ao Partido Socialista Francês foi porque essas ‘damas e cavalheiros’ – como eu chamava meus camaradas na época – demonstraram sua simpatia por mim, pela luta dos povos oprimidos. Mas eu não entendia o que era um partido, um sindicato, nem mesmo socialismo ou comunismo.

Discussões acaloradas aconteciam nos comitês do Partido Socialista sobre a dúvida de se deveríamos continuar na Segunda Internacional, se deveria ser fundada uma Segunda Internacional e Meia ou se o Partido deveria se juntar à Terceira Internacional de Lênin. Eu comparecia aos encontros com frequência, duas ou três vezes por semana, e ouvia atentamente a discussão. No início, eu não conseguia entender o assunto por completo. Por que os debates eram tão acalorados? Seja com a Segunda, a Segunda e Meia ou a Terceira Internacional, a revolução poderia ser alcançada. Qual o objetivo de discutir sobre isso? E a Primeira Internacional, o que aconteceu com ela?

O que eu mais queria saber – e o que justamente não era debatido nos encontros – era: qual Internacional está do lado dos povos das colônias?

Eu levantei essa dúvida – a mais importante em minha opinião – no encontro. Alguns camaradas responderam: é a Terceira Internacional, não a Segunda. E um camarada me deu para ler a “Tese sobre as questões nacionais e coloniais” de Lênin, publicadas pela L’Humanité.

Havia termos políticos difíceis de entender nessa tese. Mas por meio do esforço de lê-la e relê-la pude finalmente apreender a maior parte deles. Que emoção, entusiasmo, esclarecimento e confiança essa obra provocou em mim! Eu me regozijava em lágrimas. Embora estivesse sentado sozinho em meu quarto, eu gritei fortemente, como se me dirigisse a grandes multidões: ‘Caros mártires compatriotas! É disso que precisamos, este é o caminho para nossa libertação’!

A partir dali, tive plena confiança em Lênin e na Terceira Internacional.

Formalmente, durante os encontros no comitê do Partido, eu apenas escutava a discussão; tinha uma crença vaga de que tudo era lógico, e não conseguia diferenciar quem estava certo de quem estava errado. Mas a partir daquele momento, passei a me envolver nos debates e a discutir com fervor. Ainda que me faltassem palavras em francês para expressar todas as minhas ideias, eu rebatia energicamente os ataques feitos a Lênin e a Terceira Internacional. Meu único argumento era: “Se vocês não condenam o colonialismo, se vocês não estão alinhados com a população das colônias, que tipo de revolução vocês estão buscando”?

Eu não apenas participava dos encontros do meu comitê do Partido, mas também ia às reuniões dos outros comitês para reafirmar ‘minha posição’. Devo dizer que mais uma vez meus camaradas Marcel Cachin, Vaillant-Couturier, Monmousseau e muitos outros me ajudaram a expandir meu conhecimento. Por fim, no Congresso de Tours, eu votei junto com eles por nossa adesão a Terceira Internacional.

Em primeiro lugar, foi o patriotismo, e não o comunismo, que me levaram a acreditar em Lênin e na Terceira Internacional. Aos poucos, durante a luta e enquanto estudava o marxismo-leninismo paralelamente às minhas participações nas atividades práticas, eu me dei conta de forma gradativa de que somente o socialismo e o comunismo poderiam libertar as nações oprimidas e o povo trabalhador ao redor do mundo da escravidão.

Existe uma lenda, tanto em nosso país como na China, sobre o milagroso ‘Livro da sabedoria’. Ao se deparar com grandes dificuldades, pode-se abrir o livro e encontrar a solução. O leninismo não é apenas um milagroso ‘livro da sabedoria’, um compasso para nós revolucionários e cidadãos vietnamitas: é também o fulgurante sol iluminando nosso caminho para a vitória final, ao socialismo e ao comunismo”.