Os números da guerra ucraniana

Por: César A. Ferreira

A guerra em curso na Ucrânia tem atraído a curiosidade de muitos, notadamente sobre as perdas materiais impostas para ambos os contendores. Recentemente, um informe atribuído a inteligência militar das Forças de Autodefesa de Israel, ganhou repercussão. O informe detinha as seguintes marcações:

Perdas russas: 23, aeronaves de caça/ataque; 56, helicópteros (sem especificação); 200,  drones, 889, carros de combate e veículos blindados de transporte (tropas); 427, peças de artilharia (sem especificação); 12, sistemas antiaéreos (sem especificação). Mortos em ação: 18.480 mortos. Feridos em combate: 44.500. Combatentes empregados em campo: 418.000. Prisioneiros: 323, capturados. Reserva de contingente: 3.500.000.

Estes números possuem algumas inconsistências, como apontar o valor de 418.000 combatentes nos fronts do TO ucraniano, visto que a mobilização parcial russa efetivamente convocou 222.000 de um universo esperado de 300.000… Se considerarmos que não há rotação de formações por parte do comando russo, o que não condiz com a realidade, e somarmos o contingente pré – mobilização com o total de convocados, iremos obter a soma de 150.000 + 222.000 que terá o resultado de… 372.000. Certamente algum motivo existe para os analistas de inteligência israelenses apontarem o valor de 418.000, mas, tal motivo foge à percepção pouca deste desatento escriba, devo dizer.

O mais interessante, no entanto, é o relatório das perdas da Ukrowermacht imposta pelas forças russas. As perdas do Ukroreich são as que seguem: 302, aeronaves de caça/ataque; 212, helicópteros; 2.750, drones; 6.320, carros de combate e veículos blindados de transporte (tropa); 7.360, peças de artilharia (não especificadas); 497, sistemas antiaéreos. Mortos em ação: 157.000. Feridos em combate: 234.000. Prisioneiros: 17.230, capturados. Combatentes empregados em campo: 734.000. Mobilização em curso: 100.000.

Um dado relevante deste recorte informativo é que ele não se restringe a informar as perdas dos dois contendores, mas também as perdas do efetivo da OTAN presente (Instrutores, oficiais de inteligência e ligação, observadores, operadores, notadamente dos EUA e do Reino Unido), bem como dos mercenários estrangeiros. Os combatentes da OTAN mortos somam 2.458 almas e os mercenários outras 5.360 … A data de fechamento do relatório israelense é 14.01.2023.

Pois… É interessante comparar as perdas da Ukrowermacht com aquelas divulgadas pelo Ministério da Defesa da Federação Russa. No recorte informativo referente as perdas impostas ao inimigo, os russos apresentaram os seguintes números: 377, aeronaves de caça/ataque; 204, helicópteros (não especificados); 2.948, drones; 402, sistemas antiaéreos; 7.627, carros de combate e veículos blindados de transporte (tropa); 988, veículos lançadores de foguetes; 3.906 peças de artilharia de tubo (morteiros inclusos); 8.171, veículos militares especiais…  É intrigante observar como estes relatórios, ao menos no tocante as perdas impostas aos ucranianos, possuem números próximos, ademais, o informe russo é bem mais recente, já que data do dia 25.01.2023, onze dias de diferença.

Em relação as mortes, observa-se que a proporção é favorável aos russos na ordem de 8:1, proporção que se torna assombrosa numa guerra marcada pelo uso extenso da artilharia, além disto, na proporção havida no tocante às perdas das peças de artilharia de tubo, a ordem resultante é de: 14:1…

Como é bem sabido, números de perdas só podem ser verificados com correção após o término das hostilidades, quando contendores franqueiam acesso dos seus arquivos aos historiadores militares. Durante o curso da guerra o que se obtém são especulações, estando os comentaristas e correspondentes dependentes dos relatórios oficiais das nações em guerra, cuja confiabilidade não pode ser total, por motivos óbvios. No entanto, relatórios advindos de terceiros, como o presente esforço atribuído a inteligência militar israelense, acabam por jogar uma luz, ainda que breve e incerta, sobre aquilo que se passa no campo de batalha.

Notas:

Ukroreich: forma jocosa de designar o governo ucraniano. Analogia referente ao Reich alemão da década de 40 do século passado.
Ukrowermacht: forma jocosa de ser referir as forças armadas da Ucrânia. Analogia referente a antiga Wermacht (Alemanha, século XX)..

Shahed – 136: o beijo da morte

O drone iraniano Shahed – 136 revela ao mundo a nova face da guerra: a simplicidade aliada à inovação doutrinária.

Por: César A. Ferreira

Drones não são propriamente uma novidade no campo de batalha, cumprem missões de reconhecimento, vetores não tripulados de ataque. Portanto, o desenvolvimento de uma versão de ataque de alvos determinados por reconhecimento prévio, ou de oportunidade por meio de ação autodestrutiva seria um passo esperado. Entre estes, um drone que se destaca: o iraniano Shahed – 136.

O Shahed – 136 é um drone autodestrutivo, de constituição simples, com fuselagem incorporada a uma asa delta e superfícies de controle nas extremidades, possui propulsão “pusher”, impulsionado por um motor MD 550 de 50 HP. A sua estrutura é robusta, porém simples e leve, possui uma ogiva de 80 libras (36,28 kg), a sua autonomia se situa entre 1.800 e 2.500 km, dependendo muito do regime de vôo, velocidade de 185 km/h, exibe um comprimento de 3,5 metros e uma envergadura de 2,5 metros. O seu peso total é de 200 kg. Observa-se, portanto, que é um veículo marcado pela simplicidade, dotado de motorização de uso comercial, de baixa velocidade e assinatura acústica distinta, característica facilmente perceptível, todavia, é dotado de orientação inercial e/ou geolocalização por sinais satelitais, mostrou-se bastante preciso nos testes e repetiu a performance em combate real, caso do seu uso na guerra civil síria e no corrente conflito ucraniano.

A simplicidade presente neste projeto, pode-se dizer, cumpre a função de viabilizar o Shahed – 136 como loitering munition[1](termo sem tradução para a língua portuguesa), visto que atende o conceito de descartabilidade, ou seja, de ser uma arma de baixo custo e de fácil produção. Não é excepcionalmente veloz, possui uma assinatura acústica alta, no entanto, pode ser fabricado em quantidades exorbitantes e assim também ser utilizado no campo de batalha. É infinitamente mais barato do que qualquer míssil que venha a alvejá-lo, por mais simples que este míssil seja, mesmo sendo um SHORAD [2] rádio controlado ou um MANPAD [3]. Por isso, o simples uso do inimigo dos sistemas de artilharia antiaérea dotada de mísseis já será, por si, uma vitória, pois estes possuem custo orçado na casa dos milhares de dólares, valor em muito superior ao do drone…  De fato, este tipo de arma, loitering munition, tende a ressuscitar como armas de artilharia antiaérea os canhões de tiro rápido de 20, 23, 30 e 35 mm, bem como as quadras de metralhadoras pesadas, pois tais sistemas de artilharia antiaérea de tubo, então relegadas ao trabalho secundário no combate urbano, dado a obsolescência percebida na função primária, a antiaérea, agora podem retornar a sua antiga função, graças ao perigo representado pelos “drones kamikazes”.

O Shahed – 136 foi utilizado no presente conflito ucraniano com sucesso apreciável. O seu debut se deu no dia 13 de setembro na cidade de Kupiansk, onde eliminou todo um comando tático ucraniano abrigado numa casa nos arredores desta cidade. Mais tarde, num outro front, Kherson, apareceram imagens e o reporte da destruição de obuseiros, consistindo em vestígios de um obuseiro rebocado M-777 A2, dois obuseiros autopropulsados 2S1 Gvozdika, de 122mm, e de dois outros obuseiros autopropulsados 2S3 Akatsiya, 152mm, além de caminhões militares. Todavia o ataque mais impressionante se deu na cidade de Odessa, onde vários alvos foram atingidos, sendo o mais impactante a edificação que sediava o “Comando Sul” de operações das armas ucranianas. As filas de ambulâncias no local demonstraram de maneira dramática a efetividade do ataque.

Pode-se dizer muitas coisas deste conflito ucraniano, entre elas, que esta é “a guerra do drone”. Tornaram-se indispensáveis e se é verdade que os drones maiores de uso tático tiveram as expectativas neles depositadas como muito elevadas e se tornando grandes decepções, caso do turco “Bayraktar TB-2”, o mesmo não se pode dizer dos menores, sejam na função de reconhecimento, caso do “Orlan” (russo), ou na função tática, exemplificados pelos drones Kub-Bla e… Shahed – 136.  

Notas:

[1]: Loitering Munition: não existe para o português uma tradução exata adequada, por isso se tem várias sugestões para traduzir este termo, tais como: “munição de vadiagem”, “munição vagante”, “munição de oportunidade”, “munição volante”, “munição aleatória”, “munição vadia”. Em geral os editores se apegam ao pouco ilustrativo “drone kamikaze”, para descrever este tipo de arma.

[2]: SHORAD – acrônimo em inglês para “Short Range Air Defense”, cujo significado em português é “Defesa Aérea de Curto Alcance”.

[3]: MANPAD – acrônimo em inglês para “Man Portable Air Defense System”, que em português ganha o nome de “Sistema de Defesa Aérea Individual, ou de Ombro”.

Nota complementar:

No dia 27 de setembro foi reportado a destruição de dois obuseiros “Hyacinth-B”, ou em português, “Jacinto-B”. obuseiro de 152mm, dois obuseiros D-20 de 152mm, e por fim de outros dois FH-70, obuseiros de origem italiana de 155mm. Todos eles rebocados e vitimados pelos drones kamikazes Shahed – 136. Além destes obuseiros, um depósito camuflado com cerca de dois mil projéteis e retrocargas foi destruído.

Afirmações vazias, recriminações e lamúrias

Perdido no emaranhado de afirmações conflitantes, desconexas, imprecisas e delirantes, o renomado autor Tom Cooper tenta retornar as suas análises da guerra ucraniana para o campo aeronáutico, mas continua afeito ao discurso de desejo-delirante, jogando por sobre a sua maltratada credibilidade mais uma pá de cal…

Por: César A. Ferreira

No dia 17 último (agosto de 2022) o renomado autor de conteúdo Tom Cooper cedeu uma entrevista para o veículo informativo EuroZprávy.cz, notadamente para a pessoa de Matěj Bílý. A entrevista concedida pelo senhor Tom Cooper está eivada de preconceitos, imprecisões, contradições explícitas e até mesmo de frustrações, que serão por parte deste presente escriba analisadas.
A matéria abre com a seguinte introdução:

“A liderança política ucraniana não levou a sério a ameaça de uma invasão russa e, sob essa luz, é uma grande surpresa que a força aérea ucraniana possa continuar resistindo a um inimigo mais forte no papel, afirma Tom Cooper, analista e historiador austríaco especializado na aviação militar (…)”.

Já na abertura temos imprecisões, pois afirmar que a Ucrânia não se preparou para um conflito armado, exibindo um exército com 260.000 homens em armas e mais de duas centenas de veículos antiaéreos de defesa de área é mentir descaradamente. Ademais, os oito anos de agressões no Donbass já seriam por si uma refutação razoável.

A primeira pergunta apresenta no seio da sua resposta as sempre presentes imprecações contra Putin, bem como as incontornáveis correlações imprecisas da atual VKS[1] com a antiga aviação frontal soviética de 1945… Um trecho, todavia, merece análise:

“Eles geralmente lançam mísseis guiados Ch-59M em alvos selecionados a uma profundidade de 50 quilômetros da linha de frente, ou mesmo em alvos a 100 quilômetros de distância, se puderem ser atacados da Bielorrússia ou do Mar Negro”.

O Sr. Tom Cooper elegeu uma arma específica para argumentar a inoperância russa em atacar alvos além do raio de 100 km. Esta arma é o Kh-59, que possui hoje a sua última versão designada como Kh-59Mk2. Trata-se de um míssil de cruzeiro, com alcance nominal de… 200 km nas suas versões iniciais e de 290 km na sua versão última. Então… Você possui uma arma que lhe entrega um alcance maior, mas de maneira voluntária se renuncia ao aproveitamento deste alcance. É isto mesmo, Mr. Cooper?

Temos aqui a primeira das afirmações vazias. O senhor Cooper prossegue no mesmo assunto:

“Não foi surpresa, dadas as conhecidas fraquezas das forças armadas russas, que a guerra síria em 2015-2017 já havia revelado claramente na área de encontrar, mirar e destruir alvos a mais de 50-100 quilômetros da frente”.

Aqui temos a contradição explicita, pois a Força Aérea Russa que possui uma arma com alcance de mais de 200 km não encontra e destrói alvos quando estes distam mais de 100 km. Ora, ora, e os ataques realizados em Odessa, Ivano-Francovich e Vinnitsa… Foram miragens? Acontecimentos de um universo paralelo?  Ah! Como esquecer: o Kh-47M2 é uma Wunderwaffe[2], de nada serve, ainda que tenha obtido em Vinnitsa um cartel enorme de Coronéis da Ukroluftwaffe na sua conta.

Mais adiante vemos o desejo delirante se apossar da narrativa do Senhor Cooper:

“A doutrina militar russa, pelo menos no papel, prevê um ataque surpresa à força aérea inimiga no início da guerra, a fim de prejudicá-la. No entanto, Putin calculou que os ucranianos se juntariam a ele ou desistiriam e se dispersariam”.

Vemos aqui a típica falácia argumentativa de projetar no outro uma expectativa que é sua. A realidade desmente o senhor Cooper, dado que a Rússia ao desdobrar apenas um efetivo de 150.000 combatentes para combater em solo ucraniano poderia estar a esperar tudo, menos uma guerra curta. Era de conhecimento russo da existência de efetivos ucranianos da ordem de 70.000 homens em armas apenas defronte a Donetsk, posicionados em uma enorme cadeia de fortificações de campo. Percebe-se, pois, quão vazias são as afirmações do senhor Cooper, que necessita forçar a sua narrativa no sentido de demonizar Putin como líder, bem como os que o rodeiam, seja por aversão pessoal, ou encomendada. Quanto ao ataque inicial, o mundo viu uma chuva de mísseis Kalibr em bases ucranianas no primeiro dia da guerra. De lá para cá só vemos o uso pontual de vetores aéreos ucranianos… Por que será?

Bem que o senhor Cooper tenta nos responder e isto causa uma pérola do mundo jornalístico, devo dizer:

“Eles atacaram dezenas de bases aéreas e aeródromos com mísseis de cruzeiro, mas atingiram muito poucos, no máximo 6-7 caças ucranianos. A maior parte da força aérea ucraniana sobreviveu ao início da guerra. Desde então, a incapacidade do VKS – e de todas as forças armadas russas – de eliminar a força aérea ucraniana não mudou. Eles simplesmente não têm o equipamento e treinamento para a tarefa”.

Atenção! Os ataques as bases só resultaram em uns 6, ou 7 aeronaves destruídas, a Ukroluftwaffe está intacta, operacional e a VKS é incapaz de eliminá-la como ameaça. A pergunta que deve ser feita é: e os apelos do governo ucraniano por caças provém de onde? Para que se fala tanto em treinar pilotos na Polônia e no Reino Unido, de se transferir caças MiG-29 da Eslováquia e da Polônia se as perdas foram mínimas? Por acaso não se registrou um Su-27 da Uckroluftwaffe pousando em território romeno? Por que, então, não se vê a Ukroluftwaffe nos gloriosos céus do Ukroreich, se ela está intacta? Por acaso o senhor Cooper está desinformando conscientemente, ou treina para ser comediante?

Treinando, ou não, para brilhar nos palcos com Stand Up Comedy, fato é que o senhor Cooper continua a nos brindar, agora, abordando a defesa antiaérea ucraniana:

“(…) as forças armadas russas no início da guerra não conseguiram eliminar não apenas a força aérea ucraniana, mas também uma grande parte da defesa aérea terrestre ucraniana. Enquanto isso, isso também foi fortalecido por meio de entregas de Buk, S-300 e outras armas de fabricação soviética. É por isso que o VKS opera em condições de equilíbrio, não superioridade no ar, muito menos domínio aéreo. E isso, por sua vez, significa que eles só podem operar de forma muito limitada”.

Pois bem… Para o senhor Cooper a alegação do Ministério da Defesa da Federação Russa de ter destruído até a presente data 366 veículos de sistemas antiaéreos nada quer dizer. Como também nada quer dizer que os sistemas BuK M1 e S-300PS serem obrigados a se manterem camuflados e sem emitir, para não serem destruídos, como de regra acontece toda vez que emitem. Não são poucas as imagens do radar 30N6 queimados, vitimados pelos mísseis antirradiação Kh-31. Para o senhor Cooper a contagem de três centenas e a privação da liberdade de detecção não é nada, apenas algo para se desprezar… E a Força Aérea Russa, que virtualmente abate o que se opõe a ela e elimina tudo aquilo que se revela quando passa a emitir, opera de forma “limitada”.

Como não poderia deixar de ser, o sentimento de superioridade anglo-saxônica aparece numa prática que na verdade é bem antiga e conhecida, que é o lançamento balístico de foguetes não guiados. O senhor Cooper faz pouco, mas omite, ou se esquece de um detalhe… Diz o entrevistado:

“Eles usam principalmente uma tática de “atirar e rezar” – eles se aproximam a uma altitude muito baixa e velocidade máxima, iniciam uma subida acentuada em um ângulo de 30 a 40 graus e, de uma distância de 2.000 a 3.000 metros, disparam mísseis não guiados, geralmente S-8 calibre 80 milímetros, no alvo”.

Aqui a prepotência anglo-saxônica se revela por inteiro, quando batiza a prática de lançamento balístico de foguetes como “atirar e rezar”. Talvez o senhor Cooper tenha este costume, os pilotos certamente não os têm. O lançamento tem o seu ponto indicado na tela de HUD, posto que ele é continuamente computado. Será que de onde provém o senhor Cooper, as aeronaves de ataque não dispõem de computadores de bordo e softwares capazes de cálculos sequenciais e posicionamento dinâmico? Bom… Os russos possuem tais facilidades e fazem uso delas, adotando uma doutrina que não expõe os seus vetores de maneira inconsequente aos mísseis antiaéreos lançados por infantes (MANPADS).

Além de prepotente, o senhor Cooper se mostra confuso, como quando tenta explicar a forma da VKS lidar com as defesas antiaéreas:

“Eles incluem suporte, por exemplo, na forma de Su-34s equipados com contêineres de guerra eletrônica SAP-14 e Su-35s armados com mísseis anti-radar Ch-59, que tentam “atravessar” o caminho para outros Su-34s armados com mísseis Ch-58/58M com orientação eletro-óptica. A cobertura de cima é fornecida por aeronaves Su-27SM, Su-30SM ou MiG-31. Posteriormente, há uma tentativa de suprimir as defesas aéreas ucranianas para que os Su-34 possam se aproximar (…)”.

Antes de tudo cabe a correção: o míssil antirradiação utilizado é o Kh-31, para ser mais específico o Kh-31P (alcance de 110 km). A confusão se dá pelo fato do senhor Cooper primeiro enunciar que os russos fazem uso de mísseis antirradiação, progridem com o pacote de ataque para só então buscar suprimir as defesas antiaéreas… Não, caro autor renomado, a supressão das baterias antiaéreas são uma prioridade assim que identificadas no Teatro Operacional, como seriam para qualquer uma das outras forças aéreas do mundo… Sim, caríssimo, missões SEAD fazem parte dos manuais doutrinários da VKS. Surpreso?

O senhor Cooper, não contente, parte para a desinformação pura e simples, como quem quer negar uma realidade constatável:

“Talvez apenas pela quantidade de evidências de que muitos sistemas de armas russos, que foram sistematicamente elogiados nos últimos trinta anos, seja pela Rússia ou no Ocidente, tenham fraquezas fundamentais que os ucranianos usam regularmente e com sucesso hoje”.

Então vejamos… A Rússia atacou alvos onde quis nesta guerra, de tanques de armazenamento de lubrificantes em Lviv até a concentração de blindados num Shopping em Kiev. Alvos destruídos por armas como Izdeliye 305[3] abundam em vídeos nos canais públicos do aplicativo Telegram; que fraquezas são essas que dizes ser aproveitadas pela Ucrânia, se o que se percebe é a defesa antiaérea discreta, a Ukroluftwaffe ausente e os alvos de valor tático e estratégico em chamas, todos os dias. O senhor poderia nos explicar esta contradição evidente?
Não poderá, nem o fará: a contradição é intencional.

No entanto, é justamente ao entrar no campo das vitórias em combates aéreos, que a pessoa se supera. Começa por tentar mitigar o fato que o lado escolhido por ele é um fracasso. A tentativa é tosca:

“As batalhas aéreas ocorrem quase diariamente desde o início da guerra e até agora. No entanto, seus resultados são sombrios, então nenhuma das partes quer se gabar muito deles (…)”.

Piada, devo dizer, pois nada há de sombrio num combate aéreo. Você ganha, ou perde. Neste caso quem perde todos os combates é o lado eleito pelo senhor Cooper, o mesmo lado que soltou registros de vitórias aéreas elaboradas em CGI, em especial do jogo Digital Combat Simulator, distribuído pela Eagles Dynamics. Nascia assim o famoso “Fantasma de Kiev”. O lado russo anuncia as vitórias aéreas, detalha dia e hora das suas alegações e os pilotos vitoriosos.

Não contente o senhor Cooper continua:

“seus pilotos atacam regularmente todas as aeronaves ucranianas que detectam com dois a três mísseis R-77, ou R-33 no caso do MiG-31, de muito longe, então eles erram. Por razões de propaganda, o Ministério da Defesa em Moscou posteriormente credita aos pilotos do VKS “vitórias confirmadas em combate aéreo” e os premia”.

Nunca vi tanta desfaçatez. Toda a alegação russa de vitória aérea é suportada por registros de radar por parte dos controladores em terra e das aeronaves envolvidas. Tais registros são gravados. Outro fator que confirma são os seguidos sepultamentos e condecorações póstumas que os pilotos ucranianos recebem. O senhor Cooper certamente crê que os seus leitores são parvos, afinal, o que ele espera de quem lê uma besteira do naipe “disparos de muito longe”, o que é “muito longe”? Por acaso é o uso no limiar do alcance do míssil em questão? Então, os russos não conhecem os parâmetros das suas armas, nunca as testaram… É isso mesmo?
O senhor Cooper certamente acredita estar a falar com crianças, pois bem, crianças aqui não existem. Como sempre é ao tentar justificar os fracassos dos seus eleitos, os ucranianos, que o senhor Cooper se supera. Ele assim começa:

“Devido à falta de fundos, os ucranianos voaram ainda menos horas de treinamento do que os russos antes da guerra”.

Uma desculpa evidente, todavia, ele continua:

“Alguns pilotos mais jovens tiveram a oportunidade antes da guerra de participar de exercícios conjuntos com a Força Aérea dos Estados Unidos e alguns países da OTAN. Entre outras coisas, esses exercícios trouxeram ideias como tentar emboscar os russos com MiG-29 e Su-27 voando baixo no modo -EMCON (…)”.

Como é? Faltam fundos para horas de voo dos pilotos, mas sobra fundos para treinar com a OTAN? Como sempre, a tendência de desculpar os eleitos ucranianos de qualquer espécie de defeitos, leva o senhor Cooper a contradição explícita. Não se dá conta o renomadíssimo entrevistado, de que entre as ações mais dispendiosas para uma força aérea está a de treinar pilotos no exterior, ou mesmo de sediar treinamento ministrado por forças estrangeiras em seu território. Disto não sabe? Ora, pois, o senhor Cooper pode conseguir enganar os incautos, mas tão somente estes.

Como esperado, é no campo da batalha aérea que o delírio se apresenta por inteiro. Para a alegria de todos o senhor Cooper dispara:

“A ideia era se aproximar do inimigo por trás da orientação usando sinais de dispositivos de alerta na frente de seu radar e depois atacá-lo com mísseis R-27ET de médio alcance com orientação infravermelha. Em teoria, no papel, isso parece bom, mas na prática provou ser muito perigoso, pois na realidade o R-27ET pode ser guiado efetivamente a uma distância muito menor do que o declarado. Mesmo assim, várias mortes parecem ter sido alcançadas dessa maneira (…)”.

Como é? A Ukroluftwaffe obteve vitórias aéreas? Então, isto se tornou um problema, pois… Das poucas perdas que a VKS teve nestes seis meses de guerra, todas elas foram reivindicadas pela defesa antiaérea. Nunca houve da parte ucraniana alegação com data e hora, vetores envolvidos e o nome do piloto que logrou a vitória aérea reivindicada. Qual será o problema dos ucranianos? Não sabem quem realizou os seus feitos? São extremamente desorganizados?

Para o senhor Cooper as alegações de vitórias aéreas como as do Major Viktor Dudin, ou do Tenente Ivan Perepelkin, são fantasiosas, mesmo com registro, data, hora e até mesmo vídeos de lançamento dos mísseis empregados em combate, porém as alegações ucranianas, jogadas ao vento, são verídicas. Pois é… O que falar, então, do Tenente-Coronel Ilya Sizov [4], que não só tem 11 vitórias aéreas alegadas, sendo uma delas, a que resultou na morte do herói ucraniano Igor Bedzay…  Registrada em vídeo. O que dizer… Negar?

Pois, vai ficar melhor agora:

“Em resposta, os russos começaram a operar em grandes formações, combatendo regularmente um único MiG ou Sukhoi ucraniano com uma dúzia de seus próprios caças. Além disso, eles mantêm sua desvantagem colocando-os na defensiva através da barragem de vários mísseis R-77 e R-33. Quando você está se esquivando de dois, três, cinco mísseis vindo em sua direção, você não está pensando em como atacar a si mesmo. Além disso, eles mantêm sua desvantagem colocando-os na defensiva através da barragem de vários mísseis R-77 e R-33”.

Oh, céus! A VKS age de maneira covarde, por lutar nos seus termos, aparentemente é isso que o senhor Cooper quer dizer. Observe que a lamúria se dá pela Ukroluftwaffe ver sempre um, ou dois dos seus vetores cercados nos céus por uma “matilha” de vetores russos. Ora, ora, não estava a Ukroluftwaffe intacta, senhor Cooper? Não consegue a Ukroluftwaffe, intacta devido a incompetência russa, colocar vetores em massa para defender os céus ucranianos? Estranho, devo dizer…

A piada fica por conta dos termos de luta, visto que para o senhor Cooper os russos devem abandonar a imposição da sua vantagem relativa… Ele reclama da “barragem” de mísseis BVR[5]. O senhor Cooper parte do princípio de que os russos devem ser bonzinhos e que por isso devem gentilmente deixar os ucranianos a darem os seus tirinhos… Infelizmente a guerra não é travada com bondade. É doutrina reconhecida e aplicada por várias forças aéreas do mundo em combate BVR, impor ao inimigo os seus próprios termos e deixá-lo em posição defensiva. Ademais, o que se viu nos vídeos divulgados foram salvas de mísseis, algo comum num combate aéreo, principalmente quando você tem pela frente alvos múltiplos. Temos, então, a revelação de que o senhor Cooper nada sabe sobre combate BVR, ou desinforma, com plena consciência do que está a fazer.

O senhor Cooper, no entanto, é muito insistente nas suas lamúrias:

“Além disso, os caças russos nunca cruzam a linha de frente, então é inútil tentar atacá-los. Eles não estão no espaço aéreo controlado pela Ucrânia”.

Os russos devem voar desnecessariamente fora da sua cobertura AA, para dar aos ucranianos deprimidos uma chance ao menos… Vamos rir. Novamente a lamúria pelo fato de os russos ditarem os seus termos de combate. Em suas lágrimas o senhor Cooper parece não entender o mundo em que vive, talvez por considerar os russos incompetentes e incapazes. Convenhamos, é uma tática bem conhecida a de atrair inimigos para dentro do raio de ação das suas defesas antiaéreas. O senhor Cooper, suprema ironia, descreveu tais operações havidas no passado, em conflitos do Oriente Médio. Ao que parece o que é valido para sírios e israelenses não pode ser válido para os russos.

Como sabemos, Tom Cooper não é engenheiro, o seu saber sobre sistemas eletrônicos é enciclopédico. Quanto a isso tudo bem, mas para uma pessoa que precisa se apoiar no conhecimento alheio para produzir conteúdo, Cooper parece muito desenvolto e dado a falar demais:

“O problema é que a guerra eletrônica usa muita eletricidade. Tanto que os sistemas de bordo do Su-34 não permitem o pleno uso das capacidades teóricas de seu radar principal Leninets V-004. Não é de surpreender que a aeronave também não possa utilizar totalmente o SAP-14”.

Vamos lá… Se tem algo que não falta aos caças Sukhoy da chamada “Família Flanker” é a disponibilidade de energia para sistemas de bordo.  Sobra energia. O conjunto Su-35/Irbis-E impressiona em alcance justamente por sobrar energia para o sensor… Dizer que um Su-34 não consegue alimentar o seu radar embarcado não pode ser entendido como informação, mas como desinformação. Pior, dizer que um POD EW foi integrado, porém não é utilizado plenamente, é brincar com a inteligência do leitor, pois se um POD EW não pode ser utilizado na sua plenitude, então integrado não foi, não passa de carga inútil. Ademais, a informação emitida não pode ser comprovada, não passa duma desinformação plantada, portanto. Mais uma dentre tantas.

De fato, a entrevista do senhor Cooper prossegue em um cipoal de recriminações e lamúrias, todas elas despropositadas, afinal, apresentar-se como um analista objetivo de um conflito não significa que realmente é esta a intenção, seja o autor renomado, ou não. O que se percebe é a intenção clara de se plantar uma narrativa favorável a um dos lados, um eleito, Ucrânia, pouco importando para isso a realidade, expressa no mapa e nos acontecimentos.

A tendenciosidade é evidente, basta ver as lágrimas pelas mortes dos pilotos ucranianos… Ora, pois, não eram eles os vitoriosos, donos de uma força aérea praticamente intacta? Ou outros lamentos, quanto ao martelar massacrante da artilharia de campanha russa… Por acaso não recebeu a Ucrânia uma centena de obuseiros M-777, e outra vintena de PhZ-2000? Ah! Sim… Mais da metade dos obuseiros alemães retornaram para manutenção, avariados, devido ao uso intenso. O mesmo para os M-777 que não acabaram retorcidos no campo de batalha… Fica a pergunta: por que não abordar a fragilidade observada nos obuseiros de OTAN? Omite-se isso por fugir à narrativa desejada? Não é a função de um analista observar com seriedade e de maneira objetiva um conflito armado?

A verdade, caríssimo leitor, é que quando a vaidade se impõe é difícil buscar respostas calçadas na racionalidade. O problema da vaidade é que ela sempre encontra outra pelo caminho… Temos então, que a iniciativa do senhor Cooper em cobrir a guerra ucraniana, na qual ele reiteradamente publicou fantasias, tais como ataques helitransportados (que não ocorreram), presença (imaginária) de combatentes do Hezzbollah e vitórias aéreas inexistentes, apenas pode ser entendida como sendo fruto duma vaidade desmedida, se não isso, duma venalidade incontida, expressa na vontade de desinformar conscientemente. Disto resta saber qual das duas opções, vaidade ou venalidade, representa a motivação real destas publicações, que muito fizeram, diga-se, para arrasar e destruir toda a credibilidade amealhada anos e anos por Tom Cooper como autor de conteúdo.

Assim é a vida, alguns erros não são perdoáveis.

Notas:

[1]: VKS – Vozdushno Kosmicheskiye Sily, ou Força Aeroespacial Russa.

[2]: Wunderwaffe: – Arma maravilhosa, ou Arma milagrosa. Provém do alemão. Neste texto existem alusões jocosas, sendo elas: Ukroluftwaffe, para designar a força aérea ucraniana; Ukroheer, para designar o exército e Ukroreich, para designar o governo.

[3]: Izdeliye 305 – Produto 305 (tradução).

[4]: Tenente-Coronel Ilya Sizov: 11 vitórias aéreas alegadas até a presente data, a sua contagem consiste em: 03 Su-24, 03 Su-27, 02 MiG-29, 02-Mi-24, 01 Mi-8, além de duas baterias BuK M1. Condecorado com o Título de “Herói da Rússia por Coragem e Heroísmo”.

[5]: BVR – Beyond Visual Range (combate além do alcance visual).

Zaluzhny aceita a realidade

Do site: News Front

Na data de 28 último o site News Front (news-front.info), publicou declarações importantes atribuídas ao General de Quatro Estrelas e Comandante em Chefe das Armas Ucranianas Valerii Fedorovych Zaluzhny, com críticas ao sistema HIMARS e a impotência geral da Ucrânia em efetuar a tão propalada “Grande Ofensiva do Kherson”. O referido site assim publicou:

“Zaluzhny relatou a Zelensky sobre a fraca eficácia do HIMARS na contraofensiva, que os sistemas modernos não permitem uma barragem de fogo”

Reproduzindo as palavras de Zaluzhny:.

“Um mito foi criado em torno do MLRS, que a propaganda russa ajudou ativamente a replicar, criando a imagem de uma arma milagrosa: o HIMARS. Na realidade, não há nada sério para uma contraofensiva, exceto para ataques pontuais, e o número de mísseis que o Ocidente nos forneceu será suficiente apenas para 3 dias de ataques de artilharia. As Forças Armadas da Ucrânia também esperavam pelo M777, pelos Caesars e pelos Javelins, mas os seus números não são suficientes para virar a maré e defesa aérea/caças/MLRS/tanques são necessários para organizar um contra-ataque no Kherson .”(.)

Nota do Editor do Blog DG – Debate Geopolítico:

Aqui temos um problema clássico exposto: como levar adiante um conflito quando a sua base industrial de Defesa (material bélico) foi destruída ou desarticulada? Este é o caso ucraniano, cuja produção obrigatoriamente foi dispersada, dado que as plantas de produção dedicada acabaram por se tornar alvos óbvios, atacados, ou em vias de sê-lo. A dispersão causa problemas de distribuição de matéria prima, cadência de produção e afeta de maneira negativa a qualidade da munição, armas e repostos produzidos. Depender do fornecimento externo não é uma opção, pois este não se faz presente na quantidade devida. De fato, uma nação dependente de fornecedores externos não consegue fazer frente a uma potência industrial, sendo esta uma lição cara da história. O atrito que vemos por hora na Ucrânia levará a guerra para um fim bem previsível.

Nota sobre a fonte:

O site News Front é um veículo publicado em cirílico, entretanto a tradução cibernética deste para o espanhol é bastante adequada.

Batom na cueca em Kramatorsk

Por: César A. Ferreira

Existe uma expressão brasileira bastante disseminada e alusiva à indiscrição amorosa masculina, em especial, a falha do cônjuge em esconder o ato de adultério. Esta expressão é conhecida como… “Batom na cueca”. De fato, a presença da marca fatal de batom na roupa íntima não compreende uma desculpa possível. Popular, este dito é conhecido e utilizado no Brasil para aludir a todas as falhas explícitas, flagrantes, onde desculpas não podem ser aceitas. Pois, tal aconteceu na guerra ucraniana, nesta data de 8 de abril, na cidade de Kramatorsk, atingida por um bombardeio cruel, cujos vestígios, tal como batom na cueca, acabaram por indicar com certeza plena, o autor.

Pela manhã, na estação ferroviária de Kramatorsk, onde populares se aglomeram para embarcar em trens e fugir da proximidade da guerra, explosões repetidas se deram, advindas de ogivas de mísseis balísticos táticos, que ocasionaram na morte de 52 pessoas e ferimentos em outras 100. Esta tragédia foi de imediato atribuída à ação pérfida dos russos, sem meias palavras. O meio utilizado seria o míssil 9K120 “Iskander”… Acontece, que para o imenso azar do Ukroreichspropagandaministerium [1], a espoleta de um dos mísseis não funcionou, a cabeça de guerra não detonou e o corpo insolente do míssil repousou no gramado em frente da estação com as suas formas acusadoras: era um míssil OTR-21 “Tochka-U”. Em outras palavras, uma arma da Ukorwermacht [2]

O pior para o querido e ocupadíssimo Ukroreichspropagandaministerium é que o “míssil delator” (na verdade o propulsor) não só entregou a nacionalidade dos responsáveis pelo ataque, como a direção, no caso sudoeste, e portanto, a unidade de artilharia que efetuou o tenebroso ataque: trata-se da nefasta 19ª Brigada de Artilharia de Mísseis, neste momento acantonada na localidade de Dopropolye, distante 45 km do alvo, Kramatorsk. Esta unidade é a responsável pelo bombardeio criminoso de Donetsk em 14 de março último, que vitimou 17 pessoas e feriu outras tantas. A brigada em questão, aliás, sofreu o dissabor seis dias após o crime cometido em Donetsk, quando um “meio de precisão” destruiu lançadores da unidade e ocasionou a morte da sua comandante, Alexandra Burgart [3] e de mais oito artilheiros. Isto, no entanto, não poderia ser um obstáculo intransponível para os propagandistas ministeriais que rapidamente sacaram uma foto dum lançador “Tochka” junto a uma coluna de veículos russos. Pouco importa se o veículo em questão fosse bielorrusso, que estava em manobras antes da guerra e em pleno solo da Bielorrússia. Não importa, o que vale é a narrativa.

Existe, todavia, um terreno onde a emocionalidade barata tão cara aos meios de comunicação ocidentais (CNN, BBC, DW, RTP…) não conseguem afetar, dado que em geral se movem pela racionalidade, que são os fóruns de discussão de assuntos militares e tecnológicos. Nestes espaços o conhecimento de meios militares se faz presente, bem como dos utilizadores destes, e desta maneira ventilou-se ao mundo a informação simples que os mísseis Tochka foram retirados de linha e completamente substituídos no Exército da Federação Russa em… 2020. A pergunta que sobra, então, é o motivo para se atacar uma estação ferroviária de uma cidade que se encontra em seu próprio poder. Por que o governo ucraniano cometeria esse desatino? Fácil de entender… Acontece que o Ukroreich considera as populações das cidades de Kramatorsk e Slavyansk como desleais, tanto que no Donbass o direito de voto foi suprimido. A população de Kramatorsk está fugindo, literalmente esvaziando a cidade em vista da possibilidade nada remota dela se tornar uma nova Mariopol. Esta fuga priva as forças ucranianas do precioso “escudo humano” e a ação de disparar sobre a concentração de populares na estação é apenas um ato de vingança. Compreensível, pois isto faz parte do espírito nazista: da wunderwaffe V-2 ao Tochka-U nada mudou, apenas o tempo passou.

Notas
[1]: Ukroreichspropagandaministerium – Em alemão: Ministério da propaganda do Ukrogoverno. Termo alusivo ao Reichpropagandaministerium da Segunda Grande Guerra.

[2]: Ukrowermacht – Em alemão: Forças Armadas, alusivo ao termo Wermacht da Segunda Grande Guerra.

[3]: Detinha a patente de Coronel, como é comum nas Brigadas ucranianas. As formações ucranianas denominadas de “Brigadas” em geral possuem efetivo bem menor que as suas equivalentes ocidentais, não raro no valor de um regimento, ou um pouco maior do que isto. Brigada ocidental (infantaria): 7.000 até 9.000 combatentes. Regimento (infantaria): 2.000 até 3.000 combatentes.

Nota do Editor:

Após a publicação desta matéria houve a veiculação de registro do numero de série do propulsor do míssil Tochka-U encontrado no gramado em frente a estação de Kramatorsk, trata-se do míssil Sh 91579. Isto comprova, indelevelmente, que o míssil em questão é uma arma ucraniana, visto ser esta numeração seriada presente no inventário ucraniano. Ademais, outros propulsores encontrados noutras cidades vitimadas pelos ucranianos possuem numerações aproximadas, igualmente presentes no mesmo inventário. Realmente este é o “batom na cueca”.

A descoberta desta numeração se deu graças ao trabalho jornalístico do correspondente de nacionalidade italiana: Fabio Mario Angelicchio, que foi apresentado no programa apresentado por Enrico Mentana, canal La7.

Bucha de farsas

Por: César A. Ferreira

O mundo entrou em comoção nesta última semana devido a eventos na cidade ucraniana de Bucha, tais eventos também preocuparam este escriba, mas por um motivo divergente: enquanto a malta se condoía por uma possível chacina perpetrada naquela cidade, este que vos escreve estava apreensivo com um fenômeno não visto na humanidade há pelo menos dois mil anos: o ressuscitar dos mortos!

Dá-se que desde os eventos na antiga palestina que envolveu primeiro Lázaro (levanta-te e anda) e depois Jesus Cristo, a humanidade não era brindada com tal fenômeno, pelo menos não até termos na cidade de Bucha o registro em vídeo da emissora Espreso.TV [1], onde um cadáver acena com a mão e outro se senta depois da passagem do veículo (visto pelo retrovisor). É compreensível, ninguém quer embarcar de qualquer jeito na barca de Caronte, sentado é mais confortável e se possível com um cigarro aceso… Assim, num piscar de olhos, a pretensa “chacina de inocentes civis perpetrada pelos pérfidos russos” transformou-se numa imensa dúvida.

Os indícios de uma farsa na alegada execução de civis em Bucha por forças russas são vários. Um deles que é bastante eloquente é o depoimento do prefeito da cidade, Anatoly Fedoruk, em favor da emissora Ukraine 24, onde bastante sorridente e feliz anunciava a retirada das forças russas da cidade que tinha se dado no dia anterior, 30 de março. Em nenhum momento Anatoly declarou o evento tenebroso de perseguições a civis… Outro indício de farsa é o fato dos cadáveres não apresentarem sinais de perfuração, de sangramento, escoriações, rigidez post mortem e inchaço, visto que deveriam estar expostos aos elementos por dias… Observa-se, também, a ausência de animais carniceiros. Não bastasse isso, nas próprias imagens fornecidas pelos meios ucranianos, vemos laços feitos com gentileza e nenhuma marca nos pulsos dos supostos cadáveres. Isto além da estranheza de se ver cadáveres idênticos, com as mesmas roupas em lugares diferentes. Não são estes, no entanto, os componentes do argumento fatal. Este é o vídeo produzido pela própria Polícia Nacional da Ucrânia, no qual se registrava a entrada dela na cidade de Bucha e a realização da “limpeza”. Um carro abandonado aqui, outro ali. Um blindado largado lá e acolá, mas nenhum cadáver… A Polícia Nacional da Ucrânia junto com a Sturmtruppen Kord [2],entraram na cidade na data de 2 de abril, três dias depois da retirada russa. No mesmo dia uma inserção na página da Polícia Nacional anunciava o “expurgo” de “sabotadores, cúmplices da Federação Russa”.

Quando um evento plantado se revela com fissuras, as agências de inteligência não o abandonam, seria pior. Ao contrário do que se pensa, elas aumentam a aposta, pois entendem com correção que a natureza do jogo é emocional e não racional. Tendo a mídia na mão basta ampliar o fluxo de notícias para impor a narrativa. Temos assim, por exemplo, a famosa “imagem de satélite” com os corpos estirados na rua. Aliás, de maneira para lá de interessante, dispostos de uma forma simétrica, numa mesma posição e rua somente, como se fossem cones para teste de habilidade em condução de motocicletas. Neste contexto pouco adianta argumentar que a imagem não foi obtida no dia 29, como indicado, já que a declinação da luz solar era outra, pois não é a racionalidade o fator preponderante, mas a emoção… Tanto é assim que os serviços de inteligência ocidentais rapidamente escalaram um “mágico” para produzir histórias emotivas das “chacinas de Bucha”, na pessoa do editor chefe da sucursal de Paris da agência Reuters, Christian Lowe, que enviou a sua “operadora de campo”, a editora e diretora Joan Catherine Soley para produzir “reportagens” de massacres e de torturas sem fim cometidas pelos “pérfidos russos”… O cenário já está montado com imagens de “bares saqueados”, resgatando o distorcido preconceito europeu contra os frontoviks [3], não importando que o informante estivesse fardado com bandeira ucraniana e patch do programa MRT do US Army.

Para se ter uma ideia do quanto estava programada a farsa de Bucha, basta ver a rapidez do aparecimento do verbete “Massacre em Bucha” na Wikipédia. O autor é um insuspeito e pacato bibliotecário de Melbourne, Austrália. Homem simples, dotado de alguns hobbies, que postou sob o manto do nickname Deathlibrarian [4]… Um post sobre “Massacre”, outro sobre o filme “Blind Of Love”… Por que não um letreiro luminoso: operação de desinformação do MI6! Seria mais honesto e ficaria bem melhor.

A natureza, no entanto, é madrasta. Nazistas são nazistas, sectários, cruéis e covardes. Por conta desta natureza produziram outro evento que veio a nublar, se não foi capaz de jogar uma sobra completa na farsa de Bucha. Simplesmente capturaram três jovens da VDV [5] e após os renderem, com as mãos atadas às costas, os degolaram. A cena é brutal, com sangue espalhado pela estrada em profusão. Os perpetradores deste crime de guerra foram identificados, afinal, mostraram-se orgulhosos do feito no próprio vídeo. São eles: Khizanishvili Teymuraz, Antoniuk Alexey, Alexey Kutsirin. Não bastasse esta barbárie, Mamuka Manulashvili [6], também acusado de estar presente na cena da execução, declarou em entrevista para o canal do YouTube “Vozduck”, que a execução de prisioneiros é aceitável.  As imagens e a declaração, como era de se esperar, foi explorada pela mídia russa e incendiou a opinião pública, que nos fóruns de discussão conseguiram identificar a residência de cada um dos acusados e estavam a pedir o bombardeio destas sem se importar com a presença de cônjuges e de crianças. Se o intuito era provocar o ódio, conseguiram.

Notas:

[1]: Emissora ucraniana de televisão via internet (WebTV).

[2]: SturmTruppen: Tropas de Assalto em alemão. Kord: formação nazista de Operações especiais e assalto.

[3]: Frontovik: designação do soldado soviético experiente e endurecido pela batalha. Segunda Grande Guerra.

[4]: Deathlibrarian: Bernard Lyon.

[5]: VDV: do russo: Vozdushno-desantnye voyska Rossii – Tropas aerotransportadas da Federação Russa.

[6]: Khizanishvili Teymuraz e Mamuka Manulashvili. Membros da “Legião Georgiana”.

Nota do Editor

Após a publicação deste artigo, começaram a circular imagens em vídeo onde soldados ucranianos arrastavam corpos na rua em favor de um fotógrafo. Os corpos estavam flexíveis, sem apresentar rigor mortis e dispostos de maneira a valorizar a profundidade de campo na obtenção da imagem, explicando assim a disposição simétrica destes na imagem obtida por satélite. Dado o fato de que as unidades ucranianas doutrinadas ideologicamente não possuem pudor algum em produzir cadáveres, acredito que o episódio de Bucha está definitivamente encerrado com o vazamento deste vídeo incriminador.

Morte sem glória em Mariopol

As lideranças da Divisão da Guarda Nacional Ucraniana A3OB, cercada em Mariopol, não quiseram compartilhar o destino dos seus comandados e demandaram um resgate. Este, no entanto, não lhes foi feliz.

Por: César A. Ferreira

A noite de 31 de março de 2022 ficará marcada nos anais militares por um fracasso ucraniano, no caso, da tentativa de resgate das lideranças militares ucranianas da cidade de Mariopol, completamente cercada e que vive o drama do combate urbano nos estágios finais. Ou seja, o momento do fracionamento das forças defensoras, encurraladas em cantões, sem possiblidade de efetuar apoio mútuo, em regime de disciplina restrita de fogo para economizar a munição escassa e com a mobilidade no espaço urbano comprometida. É o pior momento para os defensores, visto que os atacantes não precisam mais se expor e atacar com arrojo, bastando agora bater metodicamente quadra, por quadra, casa por casa, edifício por edifício, localizando e eliminando cada ponto forte inimigo, sem se revelar, usando para isso a combinação de armas mais adequada: ATGW, morteiros, artilharia de tubo, metralhadoras pesadas, drones suicidas, atiradores designados, saturação de área… Esta fase final do combate urbano é denominada com o nome prosaico de “varredura”.

A “varredura” não é um processo rápido, visto ser metódico, mas é bastante característico e um comandante minimamente competente sabe reconhecer o estágio na qual a batalha se encontra. Certamente os líderes ucranianos em Mariopol sabiam que o destino que lhes aguardava era a capitulação, ou a destruição. Donos de ambições que ultrapassam a dimensão estritamente militar, ao que parece, a “gloriosa morte em combate” não era um destino aceitável e compartilhá-lo com os seus comandados estava fora de questão, então, pressionaram Kiev para que houvesse um resgate. Este resgate foi tentado, mais de uma vez e… Mais de uma vez, fracassou.

O Fracasso épico é passível de ser reconstruído a partir do informe das forças russas e do depoimento de um dos sobreviventes, capturado; primeiramente vamos nos debruçar na versão dos captores:

A cúpula política ucraniana havia decidido resgatar dois importantes líderes militares de Mariopol: Denis Prokopenko, líder do A3OB Infantarie-Abteilung [1] e Vladimir Baranyuk, comandante da 36ª Brigada de Infantaria Naval. Foi enviado um helicóptero para resgate noturno que, no entanto, foi abatido em rota. Sem desistir deste propósito um segundo helicóptero foi enviado na noite seguinte e sofreu o mesmo destino.

O abate de duas aeronaves de asas rotativas em rota para Mariopol deveria desestimular tentativas posteriores neste sentido, mas a liderança ucraniana estava decidida em prosseguir. Na noite de 31 de março realizaram novamente a tentativa de resgate, logrando desta vez chegar no ponto de extração, quando então, após o início da perna de retorno foram alvejados por mísseis portáteis (MANPAD) FIM-82 “Stinger”, ironicamente cedidos pelos Estados Unidos às armas ucranianas e capturados pela milícia da República Popular de Donetsk e por eles operados. Dois helicópteros foram abatidos, um deles, com 17 ocupantes, destes 15 mortos. O outro caiu no mar, cerca de 20 km do ponto de impacto. Do primeiro helicóptero dois ocupantes sobreviveram a queda, um deles sem ferimentos aparentes e capaz de depor sobre o evento. O helicóptero estava fragmentado, com os seus restos exibindo marcas de explosão e alta temperatura.

Dentre os mortos foram identificados: Maxin Zhorin, Diachenko Maxin Igorovich, Timus Yuri Vladimirovich. Apesar de algumas fontes anunciarem a presença do corpo de Palamar Svyatoslav Yaroslavovich, não houve nenhuma confirmação a respeito. Os demais corpos não ofereceram possibilidade de reconhecimento/identificação.

A versão relatada pelo prisioneiro sobrevivente, oficial de inteligência de codinome “Belmak” [2] é a que segue (na voz do tomador do depoimento/interrogador): “Decolaram do aeródromo de Dnepropetrovsk, totalmente abastecidos e carregando munição. A formação consistia de 4 Mi-8 e um Mi-24 de cobertura. Dirigiram-se para o porto de Mariopol onde houve o desembarque da munição e o embarque das lideranças e de alguns feridos. Não pode (o informante) relatar sobre a sorte das demais aeronaves, apenas da sua aeronave, que foi alvejada por dois FIM-92 Stinger, sendo o primeiro desviado pelos flares, mas o segundo impactando com sucesso o helicóptero. Acredita que sobreviveu por estar na porta, junto a metralhadora lateral”. O seu relato é mais abrangente e informa que: “na noite anterior houve extração de feridos com helicópteros Mi-8. O total de feridos ucranianos evacuados seria de 30. Todos os voos foram realizados com altitude extremamente baixa”.

Temos então que os raids ucranianos para Mariopol cercada resultou em 4 helicópteros Mi-8 abatidos, segundo o Ministério da Defesa da Federação Russa, e em três segundo a admissão ucraniana (não oficial, advindo da informação do oficial capturado). Apesar da atenção galvanizada pela espetacularidade das imagens do helicóptero abatido e das ações de extração, não é isto que chama a atenção, mas a recusa de líderes de uma formação como o A3OV Infantarie-Abteilung não querer compartilhar a sorte com os seus comandados, preferindo arriscar-se numa extração muito arriscada. Isto devido a um fato notório: não são apenas líderes militares, também são líderes políticos. Não foram poucas as vezes que o líder do A3OV, “Kalima” [3], gravou vídeos patéticos clamando pelo “rompimento do cerco”, ou pelo “contra-ataque e expulsão dos russos” de Mariopol... Quanta ilusão, coitados, como se houvesse um Manstein disposto a salvá-los, porém, tais apelos formam ecos, criam pressões na cúpula ucraniana. Daí o esforço desesperado do regime em realizar as tentativas de resgate, ainda que arriscadas, tal como comprovada pela sorte sinistra do Mi-8MSB-V, nº 864, pertencente a 18ª Brigada Aérea de Poltava (Exército) [4], demonstrou. Nestes momentos a realidade da guerra se apresenta de maneira crua: nem sempre a fuga resulta na vida como prêmio; nem toda morte em combate é gloriosa por consideração.

Notas:
[1]: Apesar de conhecido como “Batalhão A3OV”, este autor prefere denominá-lo como divisão de infantaria, no alemão Infantarie-Abteilung, pois há muito ultrapassou o valor de batalhão. Na língua alemã o exército é denominado Heer; as forças armadas Wermacht; uma divisão de exército Armeedivision; se de granadeiros Grenadier – Division; caso seja uma divisão de Carros de Combate Panzerdivison e uma divisão blindada Panzergrenadier. Não é aplicada uma lógica linear na nomenclatura, visto que um corpo de exército é ArmeeKorps, quando vimos que o termo para exército é Heer.

O A3OV não é apenas uma formação militar, mas também um corpo político e de “colonização do Leste”, adotou a cidade de Mariopol como base, onde com constância exercia influência nos meios políticos locais, extorsão e participação forçada em empreendimentos econômicos, perseguição política, eliminação física de desafetos de toda ordem além de doutrinação ideológica. Como se vê era bem mais que um batalhão, que encontrou em Mariopol o seu fim.

[2]: os sobreviventes foram o Oficial da Diretoria Principal de Inteligência da Ucrania, codinome “Belmak” e o soldado da Infatarie-Abteilung A3OB, Dmtry Lobinsky.

[3]: Palamar Svyatoslav Yaroslavovich.

[4]: 18ª Brigada Independente de Aviação do Exército Ucraniano. Aeronave com designativo 864 “preto” (Black,ing.): Mi-8MSB-V – antigos Mi-8T/MT, remotorizados com TV3-117VMA-SBM1V-4E produzidos pela empresa Motor Sich de Zaporizhizhia, Ucrânia.

Muito mais que uma “Wunderwaffe”

Por: César Antônio Ferreira

O afamado autor australiano Tom Cooper, dono de inúmeras publicações sobre conflitos, notadamente sobre as refregas aéreas do Oriente Médio, em meio a cobertura deste conflito ucraniano disparou sobre o Kh-47M2: “Wunderwaffe”…  Mas, o que vem a ser isso? Qual foi o motivo para o uso desta expressão? A primeira pergunta é mais fácil de explicar. O termo Wunderwaffe ´provém do alemão e a sua tradução para o português pode ser entendida como “arma maravilhosa”, “arma miraculosa”, ou “superarma”. É um termo cunhado pelo Ministério da Propaganda do Reich para nomear as armas de tecnologia inovadora desenvolvidas pela claque nazista durante a Segunda Grande Guerra. Os exemplos são conhecidos: V-2 (A-4), V-1 [1], Bachem Ba 349 e segue… A lista é extensa e poucos destes desenvolvimentos se concretizaram. Já a segunda pergunta…

Para responder a segunda pergunta, do motivo do uso deste termo para designar o míssil russo é preciso, antes, descrevê-lo. O míssil Kh-47 M2 “Kinzhal” (Adaga), é um míssil autônomo aerolançado por vetores MiG-31K e Tu-22M3, com cerca de 1900 km de alcance e capaz de atingir velocidades da ordem de 9000 km/h (em testes atingiu 14.200 km/h)… Trata-se, portanto, de um míssil hipersônico. Transporta cargas como ogivas nucleares de 100kt, ou 500kt e exibe na sua versão convencional uma cabeça de guerra de 500 kg (HE). Pré – programado, o seu sistema de orientação é inercial (INS) com ajuste por sinais Glonass. Atinge o teto de 65.600 pés e possui a capacidade de manobra e de trajetórias semi – balísticas. Com tais características não há defesa para este sistema, ou seja, não há como interceptá-lo.  Entrou em serviço em 2017 e foi utilizado agora para destruir as instalações subterrâneas de armazenamento de munição do exército ucraniano em Delyatyn, região de Ivano – Franckovsk.

Pois bem, agora podemos responder o motivo do termo Wunderwaffe estar sendo utilizado. Simplesmente está sendo proferido com conotação pejorativa, e o motivo é um dos sentimentos mais conhecidos da alma humana: a inveja. Até o momento não existe nada parecido nos arsenais ocidentais e todos os testes com protótipos acabaram em fracasso, ao se fazer uso do termo estão consolando o sentimento de inferioridade com a correlação histórica de que a Alemanha, com tais armas, não foi capaz de reverter o quadro de derrota militar. Todavia, para a infelicidade destes analistas o contexto sequer é análogo. Em 1944 a Alemanha estava retroagindo em todas as frentes, sofrendo perdas catastróficas de material e de combatentes, principalmente na sua frente oriental, estrangulada nas suas cadeias produtivas e de transporte logístico. Já nesta guerra ucraniana vemos a Federação Russa como senhora de mais de 25% do território ucraniano, não contestada no espaço aéreo e travando esta guerra com menos de 200.000 homens em armas. Sei bem que dói profundamente no coração de muitos, mas não adianta dourar a pílula: a Rússia não está perdendo a guerra… Está ganhando.

Um conflito é o melhor momento para testar um sistema de armas novo e a escolha dos alvos do Kinzhal reflete isso muito bem: um depósito subterrâneo de armas/munições e uma ampla área de tancagem de derivados de petróleo. A área de tancagem foi completamente arrasada, com o incêndio decorrente do ataque tendo consumido as reservas de derivados lá estocadas. Este ataque ocorreu nos arredores de Konstantinovkha, região de Nicolayev. Entretanto, é o ataque inicial que chama atenção, por se dar em um alvo muito difícil, trata-se de uma bela herança soviética: “Base Central de Armazenamento de Armas Nucleares Ivano – Frankovsk 16” [2]. Comissionada no ano de 1955. Possui como característica salões para armazenamento em grande profundidade, dado a arquitetura de mina, com estrutura protegida próxima da superfície. Não se conhece, pois, a capacidade de penetração e destruição do míssil Kinzhal, dado que é hipersônico, mas se tem por certo a destruição das estruturas superiores inutilizando a estrutura em sua função por desabamento, isto, caso não tenha havido a detonação secundária das armas armazenadas. Observe, caro leitor, que os alvos foram escolhidos especificamente para testes de campo desta arma e ela passou nestes testes. Daí que todo comentário visto de pretensos analistas de que “a Rússia está esgotando os seus mísseis de cruzeiro”, “os Iskanders estão acabando” [3], ou “nada influi no curso da guerra” [4], só espelham o medo e a recusa de encará-lo como tal. Pois a Rússia produz de maneira totalmente autônoma os seus sistemas de armas e trava esta guerra em rublos. Não aceitar que a Rússia possui um sistema operacional, testado e validado em combate e sem análogo no ocidente revela o intenso amargor da alma imperialista ocidental, notadamente do espectro anglo-saxão, de que não mais são o centro do mundo. Inveja é a palavra.

Notas:

[1]: Vergeltungswaffe – o termo alemão justificava o designação abreviada pela letra “V” cujo significado em português é “Arma de Vingança”.

[2]: Também designado como “Object 711”. Foi construída numa encosta de montanha, possui facilidades como heliportos e área para estocagem de combustível.

[3]: 9K720 – Míssil balístico de curto alcance.

[4]: Afirmar que a destruição de estruturas estratégicas como um depósito de munições protegido e uma área extensa de armazenamento de combustíveis e lubrificantes não terão influência numa guerra, nada mais é do que tentar ajustar a narrativa sem ter respeito algum pelo leitor. Sem combustível você se imobiliza e sem munição não se luta.

O jogo dos retardados

Por: César A. Ferreira

A Guerra da Ucrânia começou no dia 24 de fevereiro de 2012, como resposta a uma Blitzkrieg de Zelensky contra as repúblicas autoproclamadas de Lugansk e Donetsk. A reação do ocidente, como bem sabe o caro leitor, foi o estabelecimento do maior e mais violento pacote de sansões já dirigido contra um país. Estas imposições econômicas foram forjadas na crença, ou pelo menos assim foi comunicado ao mundo, de que colocariam a Rússia de joelhos, pois… De lá para cá, a União Europeia transferiu para a Federação Russa o equivalente a US$ 12,000,000,000.00. É isto mesmo, doze bilhões de dólares!

Acontece que existe nesta conta das ideias e das boas intenções um problema insolúvel, ela não cabe na matemática da realidade. Fato é que a Europa Unida não sobrevive sem o gás russo e que ele, para fluir precisa ser obviamente pago, ou o fornecedor irá bloquear o envio. É por isto que vimos a tão estrondosa retirada da Federação Russa do sistema Swift, ser na verdade, incompleto. Anunciada a retirada dos onze principais bancos russos, reduziu-se para dez e finalmente apenas sete foram descredenciados… Tem-se, pois, instituições bancárias capazes de receber pagamentos pelo gás. Não que seja exatamente um alívio, pois o gás que já estava em alta ganhou impulso com a guerra e principalmente com as sansões, chegando ao absurdo valor de US$ 3,900.00 por mil metros cúbicos no mercado livre. E a Alemanha, grande consumidora, acreditando ser “muito esperta” recusou um contrato de longo prazo com a Gazprom, para comprar com preço do mercado livre… Os russos devem estar rindo de orelha a orelha, sinceramente. Já as siderúrgicas alemãs encerram as atividades por inviabilidade econômica devido ao preço do gás.

Não fosse apenas isso temos o desespero político a cercar as mentes decisórias e aqui o quadro se refere aos EUA e não a Europa Unida. Joe Biden reflete a decadência dos EUA no momento que não consegue em plena crise mostrar-se como protagonista. Pelo contrário, ele simplesmente recusou este papel quando decidiu antagonizar o verdadeiro protagonista: Vladimir Putin e a Federação Russa. Biden e os EUA ficam a reboque, dado que foram o motor por trás do pacote de sansões e por isso se inviabilizaram como interlocutores validos, afinal, mediadores não podem ser ostensivamente partidários. A liderança norte-americana não pode hostilizar militarmente a Rússia na Ucrânia e o faz no campo econômico, todavia não resolve a crise e não resolvendo a crise perde influência. Como todos sabemos, são fatos do declínio dos impérios perante a história, jamais se aperceber que a importância da política interna é demasiada e delirante. Querer moldar o mundo e apenas enxergá-lo pelas lentes dos seus próprios valores é a receita pronta do desastre.

Desta forma, tendo a mídia em suas mãos, cegos para o que acontece no mundo, mas soberbos em suas decisões, a mesquinhez da emergência de manter o poder político comanda as ações e mentes. O exemplo maior é o jogo da manipulação emotiva, no caso pretensa apenas. Trata-se da encenação com o ator Zelensky perante o congresso dos EUA, da demonização incessante de Vladimir Putin e das cenas de refugiados e feridos, com as suas comoventes histórias, bombardeadas dia e noite para fazer o eleitor médio acreditar no discurso oficial, de que a alta da gasolina e do seu custo de vida se deve ao vilão das estepes…  É um jogo perdido, pois quando chega no bolso a racionalidade costuma gritar mais alto na consciência do eleitor.

E se falamos de jogo, basta ver aquele de quem realmente sabe jogar. Vladimir Putin iniciou uma invasão, tornou-se protagonista e apesar desta ação militar ser uma resposta às provocações do ocidente, ela por si é um ato de afirmação. É a primeira vez em décadas que se vê um ato de desafio a “ordem existente” e da parte do ocidente, desafiado, nenhuma resposta concreta houve. Não só a Federação Russa recebe pelas suas exportações de hidrocarbonetos, como a sua indústria encampará todas as plantas industriais abandonadas pelas empresas ocidentais que aderiram ao pacote de sansões. Ademais, todas as obrigações externas são ordenadas em função das reservas retidas no exterior, caso o credor não as receba, terá o equivalente em rublos, na cotação do dia depositado em instituição bancária russa. Se não houver aceitação, paciência, que procure a justiça. Pegue isto e multiplique pela enormidade de fundos de participação que investiram pesadamente em títulos russos…

Não se assuste e não reclame, a Federação Russa não recusa a honrar as suas obrigações, apenas explicita ao mundo que se está impossibilitada disto se deve antes ao roubo, rapinagem, sequestro e pilhagem das suas reservas, assim decididas por mera conveniência política. Em suma, o conceito de propriedade privada e do Estado de Direito foi relativizado e as consequências irão aparecer, cedo ou tarde… Talvez, mas cedo do que se pensa. A China acertou com a Arábia Saudita a troca de petróleo por pagamentos em sua moeda nacional, o Yuan. A Índia procura acerto parecido com a Rússia. Isto significa o fim da relação petróleo/dólar, dado que dois dos maiores produtores e dois dos maiores consumidores comercializarão a commoditie de uso global fora da moeda nacional dos EUA, retirando desta uma parte gigantesca do volume de transações e afetando-a como fator de referência para trocas. Para um estado que possui um endividamento orçado na casa dos trilhões, a perda da confiança em sua moeda nacional usada como referência de trocas pode ser desastrosa. Este caminho parece agora inevitável e avisos se deram, mas ignorados. É que a certeza quando ombreada pelos agentes do declínio não aceita dissonância, por isso ela é calada, ridicularizada e eliminada. Em geral, quando não se consegue evitar a dissonância, sobre ela impõe-se um carimbo, desqualificando-a até que por ela o desprezo seja a única paga. Isto explica o massacre midiático do apresentador Tucker Carlson, por exemplo, apesar de ser ele uma pessoa muito polêmica. Explica, também, por que o jogo tão evidente de apelo emocional que cega o processo de autodestruição dos EUA e da Europa Unida não é percebido como tal… Os jogadores são retardados: nada entendem, nada avaliam e são todos convictos.

A Guerra não é Counter Strike

Por: César Antônio Ferreira

No Brasil o jogo Counter Strike [1] é muito popular, dele existindo para espanto de muitos, campeonatos com premiações e equipes de jogadores profissionais. É parte de uma subcultura que valoriza a posse e o uso de armas de fogo que surgiu junto com a ascensão da extrema – direita no cenário político brasileiro. Este fenômeno é predominantemente de classe média, o que no brasil quer dizer o mesmo que um movimento de jovens brancos, muito bem alimentados, pretensamente conservadores e… Cristãos.

O Ucroreich [2], desesperado na sua sanha de sobrevivência frente ao exército russo, lançou um apelo para a contratação de mercenários no mundo inteiro e com alguma surpresa percebeu-se no site de contato e contratação um grande fluxo de pretendentes ao combate mercenário de… Brasileiros. Surpreendente pelo fato simples do Brasil não se envolver em conflitos bélicos desde o envio à Itália da FEB – Força Expedicionária Brasileira, no longínquo ano de 1944 em plena Segunda Guerra Mundial, onde combateu sob o comando norte – americano [3]. Fato é que salvo ter sido o cidadão vivente no Brasil, membro do BOPE-RJ, ou do CORE-RJ [4], não terá ele como ostentar experiência de combate, que no caso seria estritamente urbano.

Pois… Tais restrições não foram importantes para o brasileiro Thiago Rossi, instrutor de tiro na cidade paranaense de Maringá. Thiago Rossi, acompanhado de dezenas de outros brasileiros e centenas de outros mercenários de diversas nacionalidades, estava recentemente abrigado no famoso Centro Internacional de Manutenção da Paz [5], que nada mais é que um quartel com vasto campo de treino anexo. Este local é vezeiro em receber instrutores e militares da OTAN para ministrar treinamento para as formações ucranianas, em especial as nacionalistas de conhecido fervor nazifascista. Este aquartelamento, que dista cerca de 10 Km da fronteira polonesa, próximo a cidade de Lviv, sofreu como era esperado, dado ser uma infraestrutura militar e por isso alvo legítimo, severo ataque russo, quando pelo menos nove mísseis cruise atingiram o complexo.

Se verdade que os brasileiros não exibem grande experiência de combate, ao menos possuem ótimos reflexos, pois foram os primeiros a se levantar e correr para o abrigo da arborização próxima, quando da primeira sirene de alerta. Ao que parece a segunda sirene não teve como ser entoada e quem ficou na construção… Morreu. As vítimas, segundo o Ministério da Defesa da Ucrânia, eram de 7 mortos e 54 feridos, subiu para 35 mortos e 134 feridos, os russos apontam 180 mortos e os brasileiros sobreviventes falam em 200 mortos…

As palavras de Thiago Rossi são eloquentes:

“Lá tinha militares das forças especiais do mundo inteiro (…) A informação que a gente tem é que todo mundo morreu! Eles acabaram com tudo! Vocês não estão entendendo, acabou, acabou (…) A Legião [6] foi exterminada de uma vez só”!

Surpreendente é a frase final:

– “(…) Eu não imaginava que era uma guerra”!

Esperava o quê? Não ser alvejado? Que a guerra seria uma brincadeira de soldado? Que ganharia os valores gordos do soldo mercenário para não fazer nada e não correr riscos?

O ataque deste domingo, 13 de março de 2022, certamente vai entrar para história, mais pela retórica decorrente do que pelo ataque em si, afinal, destruir o aquartelamento de Yavoriv, capaz de abrigar até 1.700 soldados e tão querido pela OTAN, bem como próximo da fronteira polonesa, acabou por suscitar recriminações várias tais como “ataque terrorista”, risível argumentação dado que o alvo era um quartel… O Ministério da Defesa da Ucrânia, todavia, mesmo em vista de mais um desastre consegue “cantar vitória” ao afirmar que abateu 22 dos mísseis cruise [7] de um total de 30, aceitando, pois, oito impactos, ao contrário dos nove constatados. Com muita propriedade afirmam que foram lançados por bombardeiros baseados em Saratov, mais precisamente da afamada Base Aérea de Engels. Da parte russa não houve detalhamento do ataque.

O que pensar disso tudo? O que dizer para os nossos bravos mercenários pátrios? Não muito além do óbvio, afinal, os mercenários tupiniquins, verdade seja dita, demonstraram grande coragem em… Correr. Agora, que tenham em mente esta experiência vivida no seu reagrupamento na… Polônia, de que a guerra não é brincadeira…  Não é Counter Strike.

Notas:

[1]: Counter Strike, videogame de primeira pessoa, reproduz combate de pequena fração de infantaria em dois times opostos.

[2]: Ucroreich, termo utilizado para designar o estado ucraniano, é alusivo ao III Reich alemão (Segunda Grande Guerra).

[3]: Sob o comando do General de Exército Mark Wayne Clark.

[4]: BOPE-RJ, Batalhão de Operações Especiais – Polícia Militar do Rio de Janeiro, Brasil. CORE-RJ, Coordenadoria de Recursos Especiais – Polícia Civil do Rio de Janeiro.

[5]: IPSC – International Peacekeeping and Security Center (ing).

[6]: “Legião Estrangeira na Ucrânia” – forma dissimulada de batismo com intuito de mascarar o que é óbvio: tratar-se de força mercenária.

[7]: Míssil de cruzeiro – arma de voo baixo, programado. Neste ataque ao campo militar de Yavoriv, acredita-se que os misseis utilizados tenham sidos o Kh-101, com 2.800 km de alcance e ogiva HE de 450 kg.

Nota do Autor [1]: Um fator evidente para todos os combatentes mercenários é que não importa a qualidade da experiência prévia, mas nenhum deles combateu em situação de total inferioridade aérea, ou seja, sem nenhuma cobertura provinda do poder aéreo e com o inimigo dono do céu.

Nota do Autor [2]: Os mercenários brasileiros presentes na “Legião Estrangeira na Ucrânia” estão sendo acusados diretamente pelos mercenários das demais nacionalidades de terem inadvertidamente fornecido a exata localização de onde estavam concentrados por terem se dedicado desde a chegada a tirar selfies e postá-las no Instagram sem desativar a geolocalização dos seus celulares.

O atributo da mentira

Por: César A Ferreira

O grande atributo da mentira é fornecer ao mentiroso contumaz o álibi da naturalidade dos seus atos.

A semana corrente foi abalada com uma séria acusação da Federação Russa contra os EUA e a Ucrânia, acusação esta, diga-se que versava sobre um assunto sensível: armas de destruição em massa. No caso, da vertente biológica, ou seja, especificamente a Federação russa acusou que os EUA financiavam pesquisas de patógenos extremamente agressivos em laboratórios localizados em várias cidades da Ucrânia, entre elas Kharkov.

De imediato a República Popular da China exigiu dos EUA “esclarecimentos” sobre tais laboratórios e sobre as pesquisas neles realizadas. É interessante notar que a nota chinesa foi diretamente endereçada aos EUA, ignorando a Ucrânia como agente político… A Federação Russa, elevou o tom explicitando que os patógenos pesquisados, tão perto da fronteira, só poderiam ter nítida função agressiva, ou seja, a de promover e controlar testes de campo que viesse a infectar a população fronteiriça e por extensão a população russa. Acusações pesadas.

O costume da mídia ocidental [1] de proteger a Ucrânia e os EUA logo se fez presente e tratou de carimbar a acusação russa de fantasiosa até… A impoluta e majestosa Subsecretária de Estado Para Assuntos Políticos dos EUA, Victoria Nuland, de maneira totalmente inadvertida, confirmar as alegações russas por meio das suas próprias palavras. Disse Nuland: “Existem instalações de pesquisa biológica na Ucrânia. Na verdade, estamos preocupados que as forças russas tentem assumir o controle”.

Como é? Os laboratórios existem, trabalham com pesquisas biológicas? Os russos não podem ter acesso? Ora, ora, isto é revelador da existência de um programa biológico e do conhecimento das autoridades dos EUA sobre a localização dos laboratórios e do teor das pesquisas realizadas.  

E como sempre, o que é ruim pode ficar pior: o veículo informativo Al Mayadeen Espanõl, repercutindo matéria do veículo informativo The National Pulse, bem como do informativo indiano Great Game Índia, revela que os interesses associativos entre os EUA e a Ucrânia são antigos e profundos… Simplesmente a associação para a construção de laboratórios na Ucrânia pode se recuada até longínquo ano de 2005! Neste ano foi firmado convênio entre o Departamento de Defesa dos EUA e o Ministério da Saúde da Ucrânia. O projeto correu e temos no ano de 2010 o jovem senador por Illinois, Barack Obama, junto com outro senador, Dick Lugar, ambos extremamente envolvidos na concretização do Laboratório de Contenção Biológica Nível III na cidade de Odessa, litoral do Mar Negro. Estas informações se encontram no artigo “Biolab Open in Ukraine” [2], recuperado pelo informativo Great Game Índia, que reporta como fonte a edição número 818 do Jornal de Divulgação do Centro de Contraproliferação da Força Aérea dos EUA (USAF, ing.), e como se não bastasse, no ano seguinte, 2011, um relatório da Academia Nacional de Ciências dos EUA, mais precisamente do “Comitê de Antecipação dos Desafios de Biossegurança da Expansão Global dos Laboratórios de Alta Contenção” [3], apontava:  “O laboratório atualizado funciona como um Laboratório Central de Referência Provisional com um Depozitarium (coleção de patógenos). A normativa ucraniana exibe permissão para trabalho com bactérias e vírus do primeiro e segundo grupo de patógenos”

O que é mais revelador são os patógenos pesquisados: Ébola, Influenza, Zika… Sarampo, Cólera (vibrião), entre outros. Todos eles estudados com os métodos virológicos, moleculares e sorológicos. Tais métodos devidamente descritos em relatórios das empresas dos EUA, gerenciadoras dos laboratórios ucranianos, que foram listadas como sendo as seguintes: Southern Research Institute (SRI); Black & Veatch Special Project Corp.; CH2M Hill e Metabiota.

Percebe-se, pois, que as acusações afloradas são robustas, consistentes, e independem para a credibilidades destas da indiscrição da senhora Nuland. Aliás, a inteligência da Subsecretária é com constância colocada em questão por analistas, como é o caso do apresentador e comentarista da rede Fox News, Tucker Carlson. Ainda que motivações advindas da política interna dos EUA promovam tais recriminações, o fato é que independente disto a senhora Nuland e os EUA foram pilhados como mentirosos, jogando por terra toda a credibilidade existente no esforço contra a proliferação de armas de destruição em massa por parte dos Estados Unidos, dado o fato de que patrocinavam em território estrangeiro esta mesma proliferação (armas biológicas). Se o caro leitor não percebe maior indignação no mundo para com tal revelação, se deve entre outros fatores, ao incrível fenômeno que transforma a mentira em algo natural quando o mentiroso é vezeiro, contumaz. Ninguém liga, ainda que a mentira seja escabrosa… É por isso que a Secretária de Imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, em virtude de tudo isso tem a coragem de dizer: “Agora que a Rússia fez falsas alegações, e a China aparentemente apoiou essa propaganda, todos nós precisamos estar vigilantes porque a Rússia pode usar armas químicas, ou biológicas na Ucrânia ou encenar uma provocação de falsa bandeira usando-a contra nós. Este é um padrão claro (…)”.

Uma tentativa tosca de responsabilizar Moscou pelos erros cometidos, via de regra, em Washington, quase uma declaração do que pretendem fazer, ou seja, realizar a “mágica” que nunca convenceu na Síria. Portanto, podemos dizer: nada disso, caríssima senhora Psaki, o padrão claro e repetitivo é a mentira vociferada por vocês de maneira insistente e exaustiva, como se outra coisa não soubessem fazer.

Notas:
[1]:
O jornal brasileiro “O Estado de São Paulo” publicou matéria afirmando ser a existência desses laboratórios como “teoria da conspiração”.

[2]: Artigo “Open Labs In Ukraine”. Data da publicação: 18 de julho de 2010. Autora: Tina Redlupe. Veículo informativo: The USAF Counterproliferantion Center’s Outreaach Journal. Nº 818.

[3]: The United States National Academy of Sciences’ Committee on Anticipating Biosecurity Challenges of the Global Expansion of High-Containment Biological Laboratories.

A morte desperdiçada de um herói

Por: César A. Ferreira

Na data de 25 de fevereiro, com o breu a cobrir a capital ucraniana, um relâmpago cruzou os céus e irrompeu numa espetacular bola de fogo, naquele exato momento, um homem deixava a vida para tornar-se um herói, o seu nome: Oleksandr Oksanchenko. Para os íntimos “Grey Wolf” (Lobo Cinza, ou Lobo Cinzento).

Oficialmente declarado como “Herói da Ucrânia” pela presidência do país no dia primeiro último, o conhecido Coronel Okasanchenko era um piloto habitual em demonstrações aéreas com o majestoso Su-27, o mais capaz dos caças do inventário ucraniano. Quando foi abatido a responsabilidade foi atribuída a uma bateria de BuK-M1 da defesa antiaérea ucraniana, seria, portanto, “fogo amigo”. Entretanto, dado o fato da defesa antiaérea ter negado qualquer disparo naquela noite, a desconfiança foi endereçada aos russos, cujos meios de comunicação atribuíam ao fogo amigo o abate do Su-27, negando assim qualquer alegação de vitória. Dado o fato de que a VKS [1] não se fazia presente no ar naquela área, a suspeita recaiu no sistema S-400…

O sistema S-400, batizado com muita propriedade de “Triunfo”, é pilar atual da defesa antiaérea da Federação Russa. Possui sensores avançados e três mísseis distintos que entregam grande versatilidade ao sistema. São estes: 40N6 – míssil de alcance ultralongo, 400 km; 48N6 – míssil de longo alcance, 250 km; 9M96-E2 – míssil de médio alcance, 120 km; 9M96 – míssil de médio alcance de geração anterior, 40 km. Acredita-se que foi o modelo 48N6 o responsável pelo abate, pois a bateria então localizada na Bielorrússia, às margens do Pripyat [2], distava 150 km de Kiev. Uma vitória fácil para um sistema sabidamente bom, que agora exibe o selo de “testado em combate”. Não há estranhezas quanto ao sistema russo, mas sim quanto a missão do Coronel Okasanchenko: o que fazia ele nos céus de Kiev? Uma PAC? PAC – Patrulha Aérea de Combate: é uma patrulha efetuada por uma, ou mais aeronaves, sobre uma determinada área geográfica, que detenha valor estratégico, ou tático, que necessite proteção por ser um objetivo óbvio ao inimigo e que exige, por isso, proteção na zona de combate. Pois bem… Em um cenário em que os céus estão dominados por sistemas antiaéreos de área, efetuar uma patrulha aérea de combate é um contrassenso. É pedir para que a aeronave seja destruída, tal como foi verificado. Existe a especulação de que a presença no ar do Coronel Okasenchenko se dava para haver cobertura para a retirada da capital do governo ucraniano, que se deslocaria por terra. De fato, Volodimyr Zelensky, comediante que representa o papel de presidente da Ucrânia, desde então, aparece sempre em um ambiente fechado, aparentemente exíguo, de fundo azul, com vestes amarrotadas e semblante cansado, levando a se pensar que se encontra em um local improvisado, um bunker fora de Kiev. Isso é uma especulação, no entanto, que carece de confirmação.

A presença do sistema S-400 é uma das explicações para as reiteradas recusas da OTAN para atender as súplicas de Zelensky e da mídia em criar uma “No – Fly – Zone” (zona de exclusão aérea) na Ucrânia. Os outros motivos atendem pelas siglas Su-35, Su-30M e Su-57… Os russos cobriram o campo de batalha com sistemas de proteção de área, que vão dos sistemas de curto alcance, como o Pantsir S1, o TOR M2, passando por sistemas de alcance intermediário BuK-M2 e chegando aos sistemas S-300 e S-400. Arriscar vetores contra tais sistemas seria insano, além de anedótico, afinal esta não é propriamente uma guerra da OTAN [3], ademais, melhor ver a guerra se desenrolar e lutar por ela até o último ucraniano, o que faz entender o motivo de tanto se ventilar a entrega de caças MiG-29 poloneses para a Ucrânia: caças estes que vão decolar para serem abatidos, pois o espaço aéreo ucraniano está pesadamente saturado de emissões eletromagnéticas e conta com vigilância AEW fornecida pelos Beriev A-50… Então, os pilotos da OTAN com seus preciosos vetores não vão lutar nesta guerra, mas os descartáveis pilotos ucranianos e os velhos MiG-29 podem ser sacrificados, afinal… É a guerra deles!

Assim, o que temos em mãos é o desperdício de vidas, que serão certamente encaradas como atos de heroísmo. Ridículo, como tudo que a Ucrânia demanda nesta guerra. Reviver a “Ucroluftwaffe” [4] em nada mudará o atual cenário, apenas oferecerá à VKS oportunidades de elevar scores… Nada mais, nada menos. É esperar e ver.

Notas:
[1]:
VKS Vozdushno-Kosmicheskiye Sily, (Força Aeroespacial da Rússia).

[2]: Pripyat – Rio que é afluente do Dniepper, corre da Bielorrússia para a Ucrânia, tem 710 km de extensão.

[3]: OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte:aliança militar de cunho agressivo que engloba países da Europa Ocidental, Central e os EUA.

[4]: Ucroluftwaffe – Termo popular utilizado para se referir à Força Aérea Ucraniana, possui tom nitidamente jocoso e faz alusão explícita à Força Aérea Alemã da Segunda Grande Guerra, “Luftwaffe”.

O lúcido entre os delirantes

Coronel Doug MacGregor entrega à emissora Fox News belos momentos de lucidez em meio a histeria geral anti-rússia.

Entrevistado pelo apresentador Trey Gowdy, o Coronel Doug MacGregor entregou momentos de lucidez cristalina para a histérica sociedade norte-americana, catalisada com o conflito ucraniano como se este fosse a invasão de Lúcifer sobre a Terra… As palavras de MacGregor são esclarecedoras, bem como face apalermada do apresentador com as palavras proferidas pelo candidato.

Rey Gowdy: Por que Putin pensa que está a fazer? Qual é o seu jogo afinal?

Col. Doug MacGregor: Bem, Vladimir Putin está a levar a cabo algo sobre o qual nos tem avisado há pelo menos 15 anos, que é não tolerar forças, ou mísseis dos EUA nas suas fronteiras. Por muito menos não toleraríamos mísseis, ou tropas russas em Cuba. E nós ignorámo-lo e ele finalmente agiu. Ele não ia permitir que a Ucrânia, em circunstância alguma, aderisse à OTAN

O que está a acontecer agora é que a batalha na Ucrânia Oriental está realmente quase a terminar, todas as tropas ucranianas de lá foram em grande parte cercadas e cortadas, há uma concentração no sudeste de 30 a 40.000 delas, e se não se renderem nas próximas 24 horas, suspeito que os russos acabarão por aniquilá-las.

É por isso que Zelensky está neste momento a reunir-se com os representantes de Putin. O jogo acabou. E ele vai ter de negociar o melhor acordo que conseguir. E nós já lhe dissemos, o presidente dos Estados Unidos disse, que se ele optar pela neutralidade para a Ucrânia, nós o apoiaremos. Penso que Vladimir Putin vai fazer isso pela Ucrânia Ocidental. Essa é a Ucrânia para além do rio Dnieper, mas do outro lado dela, no Leste, onde ele se encontra agora, não tenho a certeza do que ele planejou para lá, se ele forma outra república [ou] irá anexá-la à Rússia. Porque historicamente este lado tem sido afeito a Rússia, mas o território do oeste da Ucrânia não o é. Ele sabe disso, e está feliz por viver com isso como um estado neutro.

Trey Gowdy: Não sou um perito militar. Não sou sequer um perito em geografia, mas se ele tomar a Ucrânia [que está ao lado] da Polónia, terá um país da OTAN na sua fronteira. Se é isso que ele não quer, então não vai ter de continuar até ficar fora dos países da OTAN?

Doug MacGregor: Acho que deveria dizê-lo novamente, ele não tem qualquer interesse em atravessar o Dnieper e seguir para oeste da fronteira polaca. Penso que nestas negociações, ele está bastante disposto a neutralizar esse território no modelo austríaco, ou no modelo finlandês. Neste momento, a Rússia já toca a Estónia e parte da Letónia. A Rússia branca [Bielorrússia] toca a Lituânia. Ele não está interessado em entrar em guerra conosco e o seu exército é demasiado pequeno para este fim, ele sabe disso. A sua economia é menor do que a da Coreia do Sul. Portanto, isto não é algo que ele esteja à procura. Estamos a imputar-lhe coisas que ele não quer fazer no nosso esforço habitual para o demonizar a ele e ao seu país.

Temos de nos lembrar que a Ucrânia é o quarto país da lista de 158 países do mundo em corrupção. A Rússia está talvez 3 ou 4 posições acima deles. Esta não é a democracia liberal, o exemplo brilhante, que todos dizem que é, longe disso. O Sr. Zelensky prendeu jornalistas e a sua oposição política.

Penso que temos de nos manter fora disto. O povo americano pensa que devemos ficar de fora, os europeus pensam que devemos ficar de fora, e que devemos parar de enviar armas e encorajar os ucranianos a morrer no que é um esforço desesperado.

Trey Gowdy: Você diz, então, que não haja sanções, ou ajuda militar, apenas deixar a Rússia levar a parte da Ucrânia que eles querem levar?

Doug MacGregor: Sim. Absolutamente. Não vejo qualquer razão para lutarmos com os russos por algo de que eles falam há anos e que simplesmente escolhemos ignorar. E, mais importante ainda, a população de lá é indistinguível da sua própria população.

O que é tão perturbador, por um lado, não vamos enviar as nossas forças para lutar. Mas estamos a exortar os ucranianos a morrer inutilmente numa luta que não podem vencer. Vamos criar um desastre humanitário muito pior do que qualquer coisa que se tenham visto até agora, se isto não parar.

Retirado do site RealClear Politics, em material postado por Tim Hains na data de 27 de fevereiro de 2022.

Postado no blog Debate Geopolítico por César A. Ferreira. Brasília, 04 de fevereiro de 2022.
Trechos em negrito destacados pelo editor do Blog Debate Geopolítico: César A. Ferreira

Notas sobre o entrevistador e o convidado:

Trey Gowdy: Harold Watson Gowdy III – exerce a função de comentarista e apresentador da emissora Fox News (EUA). Já foi promotor e exerceu cargo político.

Doug MacGregor: Douglas Abbott MacGregor – Coronel reformado do Exército dos EUA (US Army).

As últimas 24 horas

Por: César A. Ferreira

O mundo é cruel para com a propaganda feita, ou por fazer, pois o tempo se encarrega de transformá-la em uma anedota de riso fácil. Basta ao amigo leitor lembrar-se das bravatas de Goebbels e entenderá a intenção deste escriba, pois quem vê o noticiário da correte guerra na Ucrânia se pergunta o motivo das malditas tropas ucranianas não estarem a cercar Moscou nesta altura…

Não cerca por não poder, por não ter forças, por estar imobilizado, em fuga para centros urbanos com o intuito de fazer da população civil o escudo que necessita: este é o estado das forças ucranianas. O amigo duvida? Então vamos olhar nas perdas impostas aos ucranianos nas últimas 24 horas: 1.146 sítios militares atacados (concentrações, depósitos etc.); 31 centros de comando; 81 lançadores de mísseis antiaéreos (S-300, BuK M1 e Osa); 75 estações de radar; 6 comboios militares foram devastados; 51 veículos lança foguetes (MRLS), 147 baterias de artilharia (obuses e morteiros), 42 helicópteros e aviões, a maior parte ainda na pista; 311 Carros de Combate (tanques) e veículos blindados de transporte de infantaria e de reconhecimento. Por fim, 110 soldados entregaram-se voluntariamente.

Fica a pergunta: pode um exército sobreviver a perdas desta natureza? Estas são as perdas das últimas 24 horas, ou seja, do dia 3 (D-3) para o dia 4 (D-4). Para melhor entendimento do leitor vamos comparar com as perdas impostas à Ucrowermacht [1] nas primeiras 24 horas: 211 sítios militares atacados; 17 centros de comando e comunicações destruído; 19 sistemas antiaéreo S-300 e Osa destruídos, 39 estações de radar eliminadas; 6 aeronaves de alto desempenho abatidas (caças bombardeiros); 5 drones destruídos e 1  (um) helicóptero abatido; e neste dia D-1, o comunicado russo, com indisfarçável orgulho explicitava: “Um grande número de armas entregues pelos países ocidentais à Ucrânia durante os últimos meses, incluindo os mísseis antitanque American Javelin e NLAW britânico, também foram confiscados”..

Outro fator que deixa patente a derrocada ucraniana é o avanço russo por si: cerca de 50 a 100 km por dia, o que representa no momento algo entre 200 a 300km de avanço nestes quatro dias de guerra. Como dito pelo Vice Presidente da Academia Russa de Mísseis e Artilharia, Konstantin Sivkov: “o ritmo é louco”. Não por outro motivo avaliou o ilustre acadêmico que quando comparado com o avanço dos EUA em 2003, o avanço russo é melhor e mais consistente. Os norte-americanos levaram duas semanas para chegar em Bagdá, enquanto os russos estão já a cercar Kiev. Ademais o Iraque era um país menor, com geografia plana, (deserto) e forças armadas bem mais débeis…

Por fim, para acabar com qualquer delírio fico com o que foi dito pelo Secretário de Imprensa do Pentágono: “Os EUA não vão estabelecer uma zona de exclusão aérea na Ucrânia” [2]. Para bom entendedor..

.

Notas:
[1] Ucrowermacht: termo que designa as forças armadas ucranianas, tanto as forças singulares como a guarda nacional. Não é um termo oficial, mas um apelido de cunho jocoso, de evidente alusão a “Wermacht”, termo que por sua vez designava as forças combinadas alemãs na Segunda Grande Guerra.

[2] “The US will not set be setting up a ‘not – fly – zone’ in Ukraine”.

A verdade sobre o fim do Ant-225 “Mriya”

Por: César A. Ferreira

Dizem que se pode ser morto, assassinado, várias vezes, uma pelo evento fatídico, outras pelo que se dirá de você e pelo que será publicado. Pois tal aconteceu com um avião: o Ant-225 “Mriya”. Estacionado no aeródromo de Gostomel, na cidade de Hostomel, distante cerca de uns 16 km de Kiev, aproximadamente, o Ant-225 foi testemunha de um espetacular assalto aerotransportado perpetrado pelas forças russas, na verdade uma unidade chechena com 200 combatentes. Uma tropa de infantaria, de escol, que desembarca como é natural com limitações de capacidade de fogo, dado que tais tropas priorizam acima de tudo a mobilidade.

Pois… Tal infantaria está sendo acusada de ter destruído o único exemplar em condições de voo do Ant-225, algo que em si é muito improvável, por um motivo muito simples: a função de tropas neste tipo de assalto é capturar e manter o objetivo, não vão “espalhar balas”, ou seja, desperdiçar munição com um mostro aeronáutico. Tanto é assim que foram cercados e alvejados por artilharia, cujas ogivas estavam municiadas com fósforo branco, ou seja, munição incendiária que queima initerruptamente até ao esgotamento. A munição de fósforo branco é por convenção, banida, mas Israel, EUA e aliados, como é o caso da Ucrowermacht tem o uso franqueado, ninguém reclama ou levanta óbices… Passa em branco.

Agora, que o caro leitor sabe que a responsabilidade pela destruição deste afamado exemplar único do Ant-225 foi de responsabilidade da artilharia ucraniana, vem a piada, muito apropriadamente proferida pelo comediante que representa o papel de presidente da Ucrânia, Sr. Volodymyr Zelensky… Disse que o “Mriya” era um sonho “destruído pelos russos” … Bom, alguém avise ao péssimo humorista que este sonho era soviético, O OKB Antonov foi transferido para Ucrânia como uma satisfação para os políticos da então República Socialista Soviética da Ucrânia. Este OKB fora fundado em 1946 na cidade Novosibirsk, Rússia. As lágrimas fingidas do comediante foram reproduzidas mundo afora acriticamente, sendo que no caso brasileiro ninguém se salvou, do grupo Uol ao grupo Globo, passando pelas demais redes ridículas que levam ao ar cenas do jogo “Arma 3”[1] como se fossem verdadeiras.

De fato, deve-se ter cuidado nesta guerra com as fontes ucranianas que falsificam de tudo, duma “manifestação de civis” até as vitórias em campo, totalmente inexistentes. Um exemplo foi justamente Gostomel, onde o batalhão checheno foi liberado por uma coluna blindada russa pouco mais de 24 horas depois. O fato de terem sido obviamente cercados e hostilizados com fósforo branco e mantido a posição é um tributo a sua capacidade, por um lado, bem como da incompetência das forças da Ucrowermacht de outro. Disseram os ucranianos que tinham vencido a batalha e retomado o aeródromo… Agora só resta culpar os russos por algo que fizeram, contando com a ignorância e a leniência da mídia ocidental e por tabela desviar a atenção de mais uma derrota dolorosa, entre tantas.

Nota:

Rede Record e Rede Jovem Pan.

Ucrânia: só resta a farsa

Por César Antônio Ferreira

Após o inicio da resposta russa a Blitzkrieg promovida por Zelensky contra as repúblicas autoproclamadas de Donetsk e Lugansk, as opções para a liderança ucraniana se esgotaram com incrível rapidez… Rapidamente perceberam algo que qualquer mente minimamente dotada teria de ante-mão percebido: de que iniciado o conflito estariam sozinhos, isolados, melhor, abandonados. Da OTAN nem palavra de conforto veio…

Nestas horas, quando o futuro parece sombrio, mentir ajuda, tanto para si mesmo, como para os outros. É o que resta… Os exemplos são vários, vão da construção de um ás fictício aos relatos de vitórias inexistentes…

A mentira mais deliciosa é o tal “Fantasma de Kiev”, alegria dos retardados que fazem a torcida pela Ucrânia nas redes sociais. Este seria um ás, com sete vitórias obtidas inclusive contra caças Su-35, todas elas obtidas com um veterano MiG-29. Acontece que as imagens distribuídas dos feitos foram retiradas do jogo Digital Combat Simulator, produzido pela Eagle Dynamics, recortado e apresentado ao mundo em uma edição que parecia ter sido obtida pela lente de um aparelho celular. Ridículo, pois enquanto distribuía ao mundo esta fantasia a realidade esbofeteava as autoridades ucranianas com o abate de um Su-27 ucraniano sobre Kiev, por conta da sua própria defesa antiaérea [1].

MiG-29 da Força Aérea da Ucrânia, o “personagem” principal da farsa do “Fantasma de Kiev”.

Não só na criação de ases imaginários se detém a propaganda ucraniana, a criação de vitórias falsas também. O mundo viu imagens do espetacular assalto de tropas aerotransportadas russas, que sobrevoaram bairros da cidade de Hostomel em direção ao aeródromo de Gostomel. Este aeroporto foi tomado pelas tropas russas, cuja fração correspondia a de uma companhia (200 combatentes). Pois, as forças da Guarda Nacional da Ucrânia cercaram estes e contra os tais até uso de artilharia fizeram. Não os desalojaram, mas ao mundo disseram que sim, que uma vitória esmagadora tinham obtido, com a morte de todos os paraquedistas russos. A realidade não entanto, tão madrasta, viu que a coluna de blindados que se aproxima de Kiev (Hostomel fica a 15 km da capital) liberou do cerco os soldados de elite russos. Ou seja, o assalto impetuoso russo irá entrar para a história militar e as alegações ucranianas para o anedotário geral.

É preciso dizer que a mídia ocidental para qual o jornalismo se tornou sinônimo de entretenimento contribui em muito para a desinformação generalizada. Não faz muito correspondentes de uma televisão mexicana relatavam um assalto aerotransportado gigantesco na região de Kharkov. Uma enforme frota de Il-76 lançava no ar incontáveis paraquedistas, o céu estava tomado por velames brancos, algo realmente bonito de se ver, se isto pode ser dito de uma operação militar em tempo de guerra, pois… Eram as imagens digitalizadas de um antigo exercício. Esta barriga jornalística, todavia, não chega nem perto da vergonha proferida por redes de televisão brasileiras: Jovem Pan, Record e RedeTV. Todas elas exibiram cenas do jogo “Arma 3”, produzido pela Bohemia Interactive Studio como se fossem imagens reais do conflito. Pode parecer absurdo, mas não é para aqueles que conhecem o nível do jornalismo praticado no Brasil na atualidade.

Como informação é aquilo que realmente interessa, pode-se dizer: as forças ucranianas entregaram sem luta as cidades de Starobelsk e Severodenetsk [2]. Que combatentes chechenos, no valor de uma divisão ligeira (10.000soldados), reunidos para transporte rumo ao front, em voz unida gritaram que “seremos gentis com os prisioneiros ucranianos, mas não com os nazistas”.

Isto diz muito.

Notas:

[1]: Sabe-se hoje que o abate antes atribuído ao “fogo amigo” de uma bateria ucraniana de BuK M1, foi na verdade de responsabilidade de uma bateria do sistema S-400 estacionada na Bielorússia.

[2]: A cidade de Severodenetsk está cercada e teve franqueada a entrada pelo alcaide local, todavia as tropas da “Ucrowermacht” resolveram se entrincheirar em um centro urbano densamente ocupado por edifícios residenciais, escondendo os seus equipamentos entre as moradias civis. Os moradores questionam os soldados sobre este ato, algo que foi flagrado em vídeo.

As opções russas num mundo a caminho da guerra

Por: The Saker

O mundo encaminha-se para a guerra e está nessa direção desde há muito. Várias vezes, quase no limite, o ocidente decidiu recuar. Mas cada vez que o fazia, as suas elites dominantes sentiam duas coisas: 1) sentiam ainda mais ódio pela Rússia por tê-los forçado a recuar e 2) interpretavam o facto de nenhuma guerra com tiros ter acontecido (ainda) como a evidência, pelo menos nas suas mentes, de que estar à beira da guerra é um exercício bastante seguro. No entanto, uma grande guerra com tiros é perfeitamente possível em qualquer uma das seguintes localizações, ou mesmo em várias simultaneamente: (sem ordem específica)

  1. Guerra EUA-China sobre Formosa;
  2. Ataque anglo-sionista contra o Irão;
  3. Uma guerra envolvendo os Estados Bálticos mais a Polónia (3B+PO) contra a Bielorrússia;
  4. Uma guerra da Ucrânia contra Lugansk e Donetsk (LDNR) + Rússia;
  5. Uma guerra NATO-Rússia na região do Mar Negro;
  6. Retomar a guerra entre a Arménia e o Azerbaijão.

Como podemos ver, todas estas guerras potenciais poderiam envolver a Rússia, seja diretamente (3,4,5) ou indiretamente (1,2,6). Examinemos então as opções russas no envolvimento direto das guerras 3, 4 e 5. A primeira coisa que considero importante notar é que, embora a Ucrânia não tenha perspetivas de se tornar um país membro da NATO, alguns dos seus Estados membros já tomaram os seguintes passos para transformar a Ucrânia de facto num protetorado da NATO:

  1. Apoio político total e incondicional ao regime nazi de Kiev e a quaisquer das suas ações;
  2. Apoio económico mínimo, apenas o suficiente para manter os nazis no poder;
  3. Entrega mínima de armas às forças ukronazis;
  4. Implantação de pequenos contingentes da NATO dentro da Ucrânia;
  5. Muito teatro Kabuki sobre “estaremos convosco para sempre, não importa para o quê”.

Já analisei o quinto ponto da lista acima, portanto não o vou repetir (v. Note about the current naval operations in the Black Sea). O ponto importante da segunda lista é o 4º: a instalação de uma pequena força do Reino Unido, Suécia, França, EUA e outras unidades da NATO dentro da Ucrânia. Essas pequenas forças avançadas (“ tripwire forces”), cuja missão é morrer heroicamente, desencadeando assim um envolvimento automático (pelo menos em teoria) dos seus países de origem na guerra.

Antes de prosseguir, devo compartilhar uma lista de factos axiomáticos:

  1. A Rússia não pode ser derrotada militarmente por nenhuma combinação de forças. Pela primeira vez em séculos, a Rússia não está tentando “alcançar” os seus adversários ocidentais, na realidade está à frente deles tanto em forças convencionais como nucleares. A vantagem russa é especialmente notável nas suas capacidades convencionais de dissuasão estratégica;
  2. O ocidente, cujos líderes estão bem cientes deste facto, não querem uma guerra aberta com a Rússia;
  3. O bloco 3B + PO quer uma guerra a todo custo, tanto por razões políticas internas quanto externas;
  4. Numa guerra contra a Ucrânia, a Rússia terá várias opções de contra-ataque nas quais não precisará sequer conduzir um único tanque através da fronteira.

Estes três primeiros pontos são bastante incontroversos, vamos então examinar o quarto ponto um pouco mais de perto. Comecemos por examinar as opções de contra-ataque da Rússia contra a Ucrânia:

  1. Protegendo as LDNR nas suas fronteiras actuais (linha de contacto) por uma combinação de uma zona de exclusão aérea, ataques de mísseis contra forças ucranianas, uso de guerra eletrónica para desorganizar as forças ucranianas e ataques muito direcionados (de dentro da Rússia) contra os principais centros de comando, etc;
  2. Dar cobertura às forças LDNR para libertarem totalmente as regiões de Donetsk e Lugansk;
  3. Dar cobertura às forças LDNR para a criação de um corredor terrestre para a área de Mariupol-Berdiansk-Crimeia e, em seguida, a libertação da costa ucraniana ao longo do eixo Kherson-Nikolaev-Odessa;
  4. A libertação de todas as terras da margem esquerda a leste do rio Dnieper (incluindo as cidades de Kharkov, Poltava, Dniepropetrovsk, Zaporozhie e outras).
  5. A libertação de toda a Ucrânia.

Em termos puramente militares, todas estas opções são viáveis. Mas olhar para essa questão de um ponto de vista puramente militar é altamente enganoso.

Primeiro, acerca da força força avançada da NATO. Os comandantes dos EUA/NATO não são muito brilhantes, mas são espertos o suficiente para entenderem que, no caso de um contra-ataque russo, essas forças seriam aniquiladas, envolvendo potencialmente toda a NATO – o que poderia tornar-se uma grande guerra continental. Não é isso que eles querem. Portanto, o verdadeiro propósito dessas forças avançadas é criar uma histeria anti-russa poderosa o suficiente para transformar o ocidente (atualmente desorganizado e profundamente disfuncional) num bloco único anti-russo unido.

Por outras palavras, aquela força avançada representa um desafio político para o Kremlin, não um desafio militar. Dito isto, examinemos uma série de fatores não militares absolutamente cruciais.

  1. Qualquer que seja o território que a Rússia liberte das forças nazis, terá que o reconstruir economicamente, proteger militarmente e reorganizar politicamente. Quanto mais território a Rússia libertar, mais agudas serão essas pressões;
  2. Já se passaram 30 anos desde que a Ucrânia decidiu tornar-se anti-russa, e agora há toda uma geração de ucranianos que sofreram lavagem cerebral e realmente acreditam no que lhes têm dito os media ucronazis, a “democracia”, a “sociedade civil” e os meios de propaganda. O facto de muitos deles falarem melhor russo do que ucraniano não muda em nada a situação. Embora os ucranianos não possam travar os militares russos, com certeza podem organizar e sustentar uma rebelião anti-russa que a Rússia teria que suprimir;
  3. Economicamente, a Ucrânia é um buraco negro: pode dar-se-lhe a quantidade de dinheiro que se quiser e tudo simplesmente desaparecerá. A noção de “ajuda económica à Ucrânia” é simplesmente risível;
  4. A Ucrânia é uma entidade artificial que nunca foi viável, e assim continuará, pelo menos nas suas fronteiras atuais.

Por estas razões, afirmo que seria extremamente perigoso para a Rússia morder mais do que pode engolir. Como o melhor (de longe) analista político da Ucrânia, Rostislav Ishchenko, disse numa entrevista na semana passada: “Putin não pode salvar a Ucrânia, mas com certeza pode arruinar a Rússia [se o tentar]” – concordo totalmente com ele.

Qualquer que seja a pretensão legal que possa ser envolvida acerca de uma libertação russa da Ucrânia, a realidade é que qualquer terra que a Rússia libertar, tornar-se-à propriedade sua e terá que a administrar.

Por que razão a Rússia iria querer impor a lei e a ordem dentro de um buraco negro?

Depois, há o seguinte: enquanto historicamente os ucranianos não passam de “russos sob ocupação polaca”, os últimos 30 anos criaram uma nação nova e muito diferente. Na verdade, testemunhamos o nascimento de uma nova nação cuja identidade é russofóbica no seu cerne. Sim, eles falam russo melhor do que ucraniano, mas falar a língua do seu inimigo não impediu que o IRA, a ETA ou os Ustashis odiassem aquele inimigo e lutassem contra ele ao longo de décadas. Em muitos aspectos, os ucranianos modernos não são apenas não-russos, eles são anti-russos por excelência: penso neles como polacos.

A Crimeia foi solidamente pró-Rússia em toda a sua história. O Donbass ficou inicialmente bastante feliz por fazer parte da Ucrânia, mesmo no início do período pós-Maidan, quando os protestos foram organizados sob bandeiras ucranianas. Essas bandeiras foram posteriormente trocadas por bandeiras LDNR/russas, mas somente depois de Kiev ter lançado uma operação militar contra o Donbass. Quanto mais se vai para o oeste, mais clara é essa distinção. Como disse um comandante do LDNR: “quanto mais vamos para o oeste, menos somos vistos como libertadores e mais somos vistos como ocupantes”.


O ponto crucial aqui é o seguinte: não importa o que se pense sobre as partes constituintes da nova identidade nacional ucraniana, podemos rir disso quanto quisermos, mas contanto que eles o levem a sério, e muitos deles o fazem, então é uma realidade que não podemos simplesmente ignorar. Outro ponto muitas vezes esquecido é este: o ukronazi Banderistão [NT] já quase colapsou. Sim, no centro de Kiev as coisas parecem mais ou menos normais, mas todos os relatórios do resto do país apontam para a mesma realidade: a Ucrânia é um Estado falido, totalmente desindustrializado, onde o caos, a pobreza, o crime e a corrupção são totais. O mesmo está a tornar-se verdade nos subúrbios de Kiev.

Quando observo como são lentos os esforços russos para reorganizar a Crimeia, sem culpa dos russos, aliás, recuo de horror ao pensar no que seria necessário para a Rússia recivilizar, reconstruir e desenvolver qualquer parte da Ucrânia libertada.

A Rússia é tipicamente comparada a um urso e essa é uma metáfora muito boa a vários níveis. Mas no caso da Ucrânia, eu vejo a Rússia como uma cobra e a Ucrânia como um porco: a cobra pode facilmente matar aquele porco (por veneno ou por constrição), mas aquela cobra não pode absorver aquele porco morto, é simplesmente muito grande para isso.

Eis o facto mais importante sobre toda esta situação: o ukronazi Banderistão está a morrer, a maior parte de seu corpo já está necrótica, assim não há absolutamente nenhuma necessidade de a cobra russa fazer alguma coisa a respeito, a não ser recuar para um canto e estar pronta para golpear: “ataque-me e você está morto!” Putin já disse isso.

Ainda assim, e então? E se os nazis, instigados por seus “democráticos” patronos, lançarem um ataque? Nesse ponto, a Rússia não terá outra opção a não ser atacar, usando suas armas de defesa (mísseis, artilharia, mísseis de cruzeiro de longo alcance, etc.). Como podemos presumir com segurança os russos têm ensaiado exatamente um tal contra-ataque, podendo-se esperar que seja rápido e devastador. A lista de alvos incluirá: as forças ucranianas avançadas, bases aéreas e qualquer aeronave (tripulada ou não) que delas decolem, qualquer barco ucraniano que se aproxime da zona de operações, nós de comunicação, depósitos de suprimentos, estradas, pontes, posições fortificadas, etc. Há muitos alvos a serem atingidos de uma vez. Mas atingi-los de uma vez também é o método mais seguro e eficaz para atingir rapidamente o objetivo de travar de imediato qualquer possível avanço ucraniano sobre as LDNR. Esta fase inicial duraria menos de 24 horas.

Nota: A guerra moderna não é como a 2ª Guerra mundial, não veremos centenas de tanques e uma clara linha da frente mas, ao invés, veremos ataques em profundidade estratégica do lado inimigo, intensas manobras de fogo e uso de grupos de batalhões tácticos.

Caso isto aconteça, é provável que as forças da NATO se movam para o oeste da Ucrânia, não para “protegê-la” de um ataque russo que nunca acontecerá, mas para ocupar o máximo possível da Ucrânia e tomá-la sob controlo. O pretexto para tal movimento da NATO seria a destruição (parcial ou total) da sua força avançada (tripwire). A NATO também pode declarar a sua própria zona de exclusão aérea no oeste da Ucrânia, que os russos não terão necessidade de contestar. Finalmente, o Ocidente ficará feliz em se unir contra a Rússia e cortar todos os laços económicos, diplomáticos e outros para “isolar e punir a Rússia”. Não nos iludamos, isso prejudicaria a economia russa, mas não o suficiente para quebrar a sua determinação.

Então chega-se à grande questão: até onde deveria ir a Rússia?

Estou confiante em que isto já tenha sido decidido, e creio igualmente que a Rússia não seguirá as opções 4, 5 e 6 acima. A opção 1 é um dado, podemos coloca-la na lista (a menos que as forças LDNR sozinhas sejam suficientes para travar um ataque ucraniano). O que deixa as opções 2 e 3 como “possíveis”.

Assim, quero aqui sugerir uma outra opção, a que chamaria de “rota do sul”: embora a linha de contacto entre as LDNR e o Banderistão possa ser empurrada um pouco mais para o oeste, não creio que as forças russas devessem libertar qualquer uma das grandes cidades no centro da Ucrânia (Kharkov, Poltava, Dneipropetrivsk, Zaporozhie). Em vez disso, penso que deveriam envolver (to envelop) estas forças através de um movimento ao longo da costa até toda a Crimeia (até Perekop) e talvez mesmo um pouco mais, até a cidade de Kherson (mas não dentro dela). Claro que para conseguir isso, seria necessário trazer uma força suficientemente grande para o triângulo Voronezh-Kursk-Belgorod. A Frota Russa do Mar Negro também poderia conduzir operações ao longo da costa ucraniana, incluindo perto de Nikolaev-Odessa, para forçar os ukies a alocar forças para as defesas costeiras, aliviando assim a carga sobre as forças russas que se movessem em direção a Kherson.

Nota: Sejamos claros, as forças das LDNR não podem conduzir uma operação tão profunda sem o risco de envolvimento e destruição. Essa operação só pode ser executada a um custo relativamente baixo pelas forças armadas russas, incluindo a Frota do Mar Negro.

Num tal cenário, a Bielorrússia poderia transformar-se numa “ameaça silenciosa a Norte”, o que obrigaria ainda mais os ukies a alocarem forças nas suas fronteiras a Norte, fazendo com que estes últimos se sentissem envolvidos em pinças estratégicas.

E quanto a Odessa?

Odessa é uma cidade única em muitos aspectos, A sua população é geralmente pró-russa. É também uma cidade que teria um enorme potencial económico se administrada por pessoas sãs. No entanto, Odessa também é uma cidade simbólica para os nazis e eles esforçam-se muito por controlá-la. Assim, Odessa é uma das poucas cidades na Ucrânia ocupada pelos nazis que poderia rebelar-se contra o seu ocupante, especialmente quando forças russas se movessem ao longo da costa na sua direção. É aqui que a Rússia podia e deveria envolver-se, não pela tomada da cidade ao estilo da segunda guerra mundial, mas apoiando organizações pró-russas em Odessa (principalmente pela utilização das suas forças especiais e, quando necessário, o poder de fogo da Frota do Mar Negro).

Qual seria o resultado de tal guerra?

Por um lado, o ocidente unir-se-ia no seu ódio tradicional à Rússia e, economicamente, a Rússia seria prejudicada. Isto não é irrelevante, mas, creio, este cenário já está em construção mesmo que a Rússia não faça absolutamente nada. Portanto, esta realidade inevitável deve ser aceite pela Rússia como condição sine qua non para sua sobrevivência como nação soberana.

Em termos militares, os polacos e seus mestres dos EUA provavelmente “libertariam de forma protetora” o oeste da Ucrânia (Lvov, Ivano-Frankovsk). E daí? Deixem-nos! Não há penalização para a Rússia por isso. Além de que os Ukronazis mais radicais teriam que lidar com seus antigos mestres polacos agora de volta ao controlo total – deixem-nos divertirem-se uns com os outros 🙂

E quanto ao Banderistão do lombo (estamos a falar aqui acerca da Ucrânia central)? Acabaria por estar numa situação ainda pior do que está hoje, mas a Rússia não teria que pagar as contas daquela bagunça. Mais cedo ou mais tarde, uma insurreição ou guerra civil acontecerá, o que porá ukies de uma fracção contra outra, e se alguns se voltassem contra a Rússia ou contra as partes libertadas da Ucrânia, a Rússia poderia simplesmente usar as suas armas de impasse (standoff weapons) para rapidamente desencorajar quaisquer tentativas assim.

Então, quão próximos estamos da guerra?

Resposta curta: muito. Basta ouvir esta recente conferência de imprensa de Lavrov. E não é apenas Lavrov, muitos analistas e políticos experientes na Rússia basicamente dizem que a questão não é “se”, mas “quando” e, portanto, “como”.

Penso que a gota de água que quebrou a paciência da Rússia foi a maneira suicida como os europeus reais (históricos) permitiram que os 3B+PO definissem a agenda da UE e da NATO. Se o Nord Stream 2 for adiante, como provavelmente ainda acontecerá, os russos ficarão felizes em vender energia para a Europa. Mas em termos de agenda, a única potência com a qual a Rússia está disposta a falar é com os EUA, como testemunhado pelas recentes visitas de Nuland e Burns a Moscovo.

Uma coisa é muito clara: A Rússia não quer guerra. Na verdade, a Rússia fará tudo ao seu alcance para evitar uma guerra. Se uma guerra não puder ser evitada, a Rússia atrasará o início dessa guerra o mais possível. E se isso significa conversar com pessoas como Nuland ou Burns, então é algo que os russos farão com prazer. Eles estão absolutamente certos nessa postura (não falar com o inimigo é um transtorno mental do ocidente, não russo).

Como venho dizendo há quase dois anos, o Império já está morto. Os EUA como os conhecíamos morreram em 6 de janeiro. Mas os EUA pós 6 de janeiro ainda existem e, ao contrário dos europeus, as classes dominantes americanas têm uma agenda própria. Basta olhar para palhaços como Stoltenberg, Borrell, Morawiecki ou Maas: todos eles são burocratas mesquinhos, plâncton de gabinete, que podem ter habilidade para dirigir uma agência de aluguer de automóveis, talvez um motel, mas não são líderes reais que alguém no Kremlin vá levar a sério.

Pode-se odiar Nuland ou Burns quanto se quiser, mas são pessoas sérias e perigosas e é por isso que a Rússia está disposta a falar com eles, especialmente quando o pedido para tais negociações foi feito pelo lado dos EUA (os russos não podem falar concretamente com palhaços como Biden ou Austin, os quais são apenas figuras de relações públicas).

Uma coisa precisa ser mencionada aqui: o povo do Banderistão e o que lhe acontecerá.

Na verdade, penso que a Ucrânia é total e terminantemente insalvável e o único plano bom para qualquer pessoa que ainda lá viva é fazer o que milhões de ucranianos já fizeram: fazer as malas e partir. Uma vez que a maior parte da mão-de-obra ucraniana não qualificada vive nas regiões ocidentais da Ucrânia, preferirão naturalmente mudar-se para a UE para trabalhar como taxistas, canalizadores, criadas domésticas e prostitutas.

Da mesma forma, uma vez que a maioria da mão-de-obra qualificada ucraniana vem do sul e do leste da Ucrânia, ou ficarão contentes em serem libertados pela Rússia ou mudar-se-ão para a Rússia para trabalhar como engenheiros, médicos, especialistas em TI ou mesmo trabalhadores da construção civil. A Rússia tem necessidade de uma força de trabalho culturalmente tão próxima e qualificada e a obtenção de empregos (e passaportes) para eles será simples para o Kremlin. É verdade que o que restará desta Ucrânia pós-Banderistão não será uma bela visão: um país pobre, corrupto, cujo povo lutará para sobreviver com muitas ideias políticas tolas a flutuarem em torno. Mas isso de qualquer modo não será problema da Rússia, ao passo que a principal ameaça à Rússia, um Banderistão unido que se tornará um polígono de treino da NATO ao lado da fronteira russa, simplesmente evaporar-se-á, morrendo com as suas próprias emissões tóxicas. E se mais ucranianos quiserem mudar-se para a Rússia (ou para a Ucrânia livre), então as LDNR e as autoridades russas poderão decidir caso a caso “queremos estas pessoas aqui ou não?”. Os ucranianos que permanecerem ucranianos serão bem-vindos na Rússia ao passo que aos Ukronazis será negada a entrada e presos se o tentarem.

Adenda: as duas potências com fantasmagóricos sofrimentos imperiais e sonhos de guerra

Estou, claro, a falar do Reino Unido e da Polónia, dois actores menores que compensam as suas capacidades reais muito limitadas com um fluxo interminável de declarações vociferantes. Na sua maior parte, elas são apenas “a brincar de império”. Ambos os países sabem exactamente que já foram verdadeiros impérios e porque são hoje quase irrelevantes – culpam muito da sua própria decadência à Rússia e, por conseguinte, o seu sonho é ver a Rússia, se não derrotada, pelo menos com um nariz ensanguentado. E, claro, de pé sobre os ombros dos EUA, ambos consideram-se gigantes actuando com grande solenidade e pompa.

Finalmente, a sua liderança é degenerada o suficiente (complexo de inferioridade compensado por um narcisismo descontrolado) para carecer até mesmo do senso comum básico e perguntar-se se molestar o urso russo é uma boa ideia ou não. Mais do que qualquer outro membro da NATO, esses países tagarelas precisam de uma boa estalada para trazê-los de volta à realidade.

É impossível prever se esse embate virá na forma de algum incidente na Ucrânia ou se acontecerá noutro lugar, mas uma coisa é certa: o Reino Unido e a Polónia são (mais uma vez!) os dois países que desejam, digamos mesmo, que precisam de uma guerra com a Rússia mais do que quaisquer outros (exemplo um, exemplo dois).

Portanto, acho bastante provável que, mais cedo ou mais tarde, a Rússia terá de afundar um navio britânico ou polaco ou abater uma ou várias aeronaves britânicas ou polacas o que mostrará ao mundo, incluindo britânicos e polacos, que nem os EUA, nem a NATO, nem ninguém mais vai seriamente provocar uma guerra com a Rússia por causa dos subalternos do Império. Sim, haverá tensões, possivelmente até confrontos locais e toneladas de verborreia ameaçadora, mas ninguém quer morrer por essas duas hienas da Europa (Churchill esqueceu-se de mencionar uma delas) e ninguém o fará.

Conclusão: guerra no horizonte

Neste exacto momento já estamos bem dentro de um período pré-guerra e, como uma pessoa a patinar sobre gelo fino, perguntamo-nos se o gelo vai quebrar e onde poderá acontecer. Simplificando, os russos têm duas opções:
• Uma resposta verbal
• Uma resposta física

Há pelo menos sete anos, se não mais, eles têm tentado a primeira opção o melhor que podem. Putin trocou espaço por tempo, e essa foi a decisão correta considerando o Estado das forças armadas russas antes de, aproximadamente, 2018. A eleição de Trump também foi uma dádiva de Deus para a Rússia porque enquanto ele ameaçava o planeta a torto e a direito, não iniciou nenhuma guerra em grande escala contra a Rússia (nem contra o Irão, China, Cuba e a RPDC).

No final de 2021, no entanto, a Rússia recuou o máximo que podia. A boa notícia agora é que a Rússia tem os meios militares mais modernos e capazes do planeta, enquanto o Ocidente está muito ocupado cometendo suicídio político, cultural e económico.

De acordo com analistas americanos, em 2025 os EUA não serão capazes de vencer uma guerra contra a China. Francamente, acho que isto já se passou há muito, mas esta meia admissão é uma tentativa desesperada de criar um clima político e preparar a defesa antes que a China se torne oficialmente a segunda nação que os EUA não podem derrotar, sendo a primeira, obviamente, a Rússia (eu incluiria até o Irão e a RPDC nessa lista).

Consequentemente, toda a atual postura da NATO no Mar Negro (que é ainda mais perigosa para os navios dos EUA/NATO do que nos mares da China) é apenas isso: postura. O principal risco aqui é que não estou de todo convencido de que “Biden” possa controlar os britânicos ou os polacos, especialmente porque os dois são membros da NATO que esperaram sinceramente que a NATO os iria proteger (deveriam perguntar a Erdogan sobre isso).

É claro que na realidade não existe “NATO”: tudo o que existe são os EUA e seus Estados vassalos na Europa. Se os dois aspirantes a impérios desencadearem uma guerra real e explosiva, bastaria um único ataque de míssil convencional russo em algum lugar nas profundezas continentais dos EUA (mesmo num local desértico) para convencer a Casa Branca, o Pentágono ou a CIA a “entrar em ação com o programa” e buscar uma solução negociada, deixando os britânicos e os polacos totalmente desgostosos e parecendo tolos. Não creio que qualquer coisa diferente possa trazer estes dois países de volta ao sentido da realidade.

Sim, a guerra está aproximar-se e a única coisa que pode impedi-la seria algum tipo de acordo entre a Rússia e os EUA. Será que isso acontece? Infelizmente não vejo nenhum presidente dos EUA fazendo tal acordo: aquele que está no poder será acusado pelo outro partido e por todo o resto da verborrágica e patrioteira classe política dos EUA, especialmente no Congresso, de “fraqueza” e de “ser um activo russo”

Um fator possivelmente atenuante é que os políticos dos EUA também estão determinados a confrontar a China, inclusive durante os próximos Jogos Olímpicos, e se essas tensões continuarem a escalar, os EUA vão querer que a Rússia não represente uma ameaça pelo menos direta aos interesses dos EUA na Europa e no Pacífico.

Assim, talvez Putin e Xi possam actuar em conjunto, garantindo que cada dia que passe o Tio Shmuel fique ainda mais fraco, ao passo que a Rússia e a China ficam mais fortes. Talvez essa estratégia possa evitar uma guerra, pelo menos uma grande. Mas quando ouço o palavreado vindo do RU + 3B + PO, tenho muito pouca esperança de que os chanfrados da Europa possam ser retirados da beira do precipício.

18/Novembro/2021

[NT ] “Banderistão”: termo cunhado pelo autor para designar a actual Ucrânia, controlada pelos nazis. Tem origem no nome do general Stepan Bandera, criador da “Divisão Galícia” que colaborou com os nazis na 2ª Guerra Mundial, combinado com o sufixo persa “istão” que significa “terra de”.


O original encontra-se em thesaker.is/russian-options-in-a-world-headed-for-war/
Este artigo encontra-se em resistir.info

Notas sobre a aquisição do Spike LR pelo Exército Brasileiro

Por: César A. Ferreira

Nesta presente data, 30 de novembro de 2021, o Exército Brasileiro anunciou a empresa israelita Rafael Defense como fornecedora futura de um lote do míssil anticarro Spike LR, na quantidade de 100 unidades e 10 lançadores. O contrato a ser firmado prevê instrução e suporte logístico e possui no presente momento a cifra de US$ 19,023,200.00, equivalente a cifra de R$ 106.992.126,99 na cotação de 5,62 reais por 1 dólar norte-americano.

O Spike LR é um míssil guiado anticarro (ATGM: Anti-Tank Guided Missile. Ing), cuja orientação se dá por visada direta a partir de sensor infra-vermelho em matriz eletro-ótica (CCD, IR). Possui, também, a opção de disparar e esquecer (Fire and Forget. Ing). A versão LR exibe alcance na faixa dos 5.000 metros e capacidade de penetração de 700mm em aço balístico homogêneo (RHA). É uma arma pesada pois apresenta 45kg[1] de peso junto ao seu contêiner de disparo.

O seu rival mais famoso e que faz parte da dotação do Exército Peruano (288 unidades e 24 lançadores), o Kornet-E, exibe valores mais favoráveis em alcance, 5.500 metros e capacidade de penetração, 1.200mm de aço balístico homogêneo (RHA). O Brasil produz um míssil anticarro nacional, o MSS 1.2 AC, fabricado pela empresa SIATT – Sistemas Integrados de Alto Valor Tecnológico, todavia não há nenhuma notícia de uma encomenda recente deste sistema, MSS 1.2 AC pelo Ministério da Defesa do Brasil. As únicas notas existentes fazem alusão a aquisição de dois pequenos lotes por parte do Exército Brasileiro e da Marinha do Brasil, nos valores de 25,6 milhões de reais para o Exército Brasileiro (ano corrente de 2008) e de 21,6 milhões para a Marinha do Brasil (ano corrente de 2009). O MSS 1.2 apresenta como característica o alcance limite de 3.200 metros e penetração de 700mm de aço balístico homogêneo (RHA). Compartilha com o Kornet-E o sistema Beam Rider com orientação (orientação de visada direta por feixe laser).

A pergunta que se faz agora é se a presente aquisição da empresa estrangeira Rafael Defense (Rafael Advanced Defense Systems Ltd) irá sepultar de vez a iniciativa nacional do míssil MSS 1.2 AC e o quanto afetará, caso isto se dê, a saúde da empresa SIATT.

Nota do Autor:

[1]: a título de comparação o Kornet pesa 31kg na sua última versão, EM, e o sistema brasileiro 52,8 kg, quando dotado do tripé.

No Brasil a Sputnik V tornou-se motivo de delírio ideológico

Entre acusações emotivas, pressões reveladas e respostas evasivas a vacina russa segue sendo no Brasil uma miragem, enquanto na vizinha Argentina torna-se uma concreta realidade.
Por: César A. Ferreira

Em meio a pandemia descontrolada, que exibe mais de 2.800 mortes diárias, o Brasil foi assaltado por um vídeo em evidente tom emotivo, onde um empresário, Fernando de Castro Marques, apontado como “proprietário” da farmacêutica União Química, vitupera em vídeo endereçado a outro empresário, no caso o cabeça das lojas varejistas HAVAN, Luciano Hang, observações críticas bastante contundentes dirigidas à Agencia de Vigilância Sanitária, ANVISA, a qual acusa diretamente de sabotar os seus esforços de produção em solo brasileiro da vacina Sputnik V, desenvolvida pelo Instituto Gamaleya. Os termos são bem duros, tais como: “(…) Eles querem manter a coisa com a Fiocruz e com o Butantã. Butantã na mão do Doria e Fiocruz na mão do PT, PCdoB. E, p…, não tem vacina, o povo tá morrendo”. Aqui o delírio toma forma…

Acontece que os dois interlocutores do afamado vídeo são ferrenhos partidários do atual presidente da República, Jair M. Bolsonaro, e a Anvisa, órgão criticado, possui como Diretor Presidente a pessoa de Antônio Barras Torres, Contra – Almirante, médico, indicado pelo atual presidente. Ou seja, como não se pode atacar a ideologia e os membros do governo que defende a necessidade psicológica impõe ao indivíduo o delírio alternativo: a culpa é do PT!

Nem tanto assim… Se há quem tenha tentado viabilizar a aplicação da vacina do Instituto Gamaleya no Brasil, são os governadores, que em estado de puro desespero, devido ao avanço da pandemia, não se importam com laudos da Anvisa e procuram contato com fornecedores externos de vacinas. De fato, no último dia 15, precisamente às 17:21, o Governo do Estado da Bahia publicou uma nota onde se explicitava a aquisição da vacina Sputnik V:

“O Governo da Bahia e o Fundo Soberano Russo celebraram o contrato para a compra de 9,7 milhões de doses da vacina Sputnik V. O ato ocorreu na tarde desta segunda-feira (15), por meio de reunião virtual, entre o governador Rui Costa, o CEO do Fundo Soberano, Kirill Allexandrovich Dmitriev, e o presidente do Consórcio Nordeste e governador do Piauí, Wellington Dias. O primeiro lote com doses do imunizante chegará à Bahia no mês de abril”.

Pois… Dado que o governador da Bahia atende por Rui Costa e foi eleito e ainda se mantém como membro do PT, mesmo partido do governador do Piauí, Wellington Dias, por sua vez presidente de um consórcio de estados nordestinos que envolvem o estado do Maranhão, governado por Flávio Dino, eleito pelo PC do B, fica particularmente difícil acreditar na trama maléfica de realizar em conluio com a Anvisa um ataque a vacina russa. A realidade não bate, só se for num Universo Paralelo…

Mas, fica a pergunta, por acaso a Anvisa é santa nesta história? Nem um pouco. Pode-se dizer, pois as desconfianças são muitas… Elas começam pela indicação de um militar e de outros diretores para a referida Agência e continua pelas decisões proferidas pela mesma, tal como a liberação rápida de análises favoráveis ao uso de defensivos agrícolas organofosforados banidos da Europa Unida, por exemplo, ou mesmo do registro definitivo da única vacina para imunização contra a Covid-19 reconhecida no Brasil, produzida pela farmacêutica Pfizer, uma “Big Pharma” (a vacina Coronavac do Instituto Botantã/Sinovac e a vacina produzida pela FioCruz, concebida pela AstraZeneca/Oxford, possuem apenas o registro emergencial provisório). Mesmo tendo a associação entre o Instituto Butantã e a empresa farmacêutica Sinovac resultado em testes de Nível III realizados em São Paulo, cujos resultados foram amplamente franqueados tanto para a Anvisa, como aos outros membros da comunidade acadêmica, a atitude da Anvisa foi de um rigor burocrático sem par. E isto continua, apesar da vacinação com esta vacina já estar em curso no país.

A Anvisa tem se mostrado muito evasiva e pouco transparente. Costuma sempre arrotar que suas decisões são “técnicas”, sem que nada disso seja evidenciado afora o próprio arroto. A dubiedade é regra e não exceção, tal como visto em uma nota da própria Anvisa sobre uma reunião com representantes da empresa União Química, onde se registra que foram apresentadas “informações sobre qualidade, eficácia e segurança da vacina”, para depois dizer que “(…) o relatório oficial não foi enviado”… Como é? Então os dados sobre qualidade, eficácia e segurança do imunizante era uma história em quadrinhos, por acaso? A sequência histriônica segue com as desculpas burocráticas esperadas: “estão pendentes dados essenciais para a análise, que estão sendo discutidos entre as partes”. Que dados pendentes são estes? Que análise é esta que se impõe em plena pandemia? Dúvidas em relação a um imunizante aprovado em 51 países e sem notícias de reações adversas? Talvez, em virtude das reclamações emotivas, apesar de delirantes, do Sr. Fernando de Castro Marques, a Anvisa veio a soltar uma nota onde procura ser explicita, objetiva por assim dizer. Segundo o portal Poder 360 os pontos declinados pela Anvisa são os que seguem:

V – Avaliação de risco demonstrando que a relação benefício-risco é favorável.
VI – Informações sobre a qualidade e tecnologia farmacêutica.
VI – Informações sobre a qualidade e tecnologia farmacêutica para a substância ativa e produto terminado, incluindo:
• Descrição do processo de fabricação identificando parâmetros críticos de processo, atributos críticos de qualidade e testes dos controles em processo; e
• Descrição dos processos de esterilização e filtração estéril, bem como estudos de validação.
IX – Resultados da análise interina do Estudo Fase 3.
X – Relatório de ensaios bioanalíticos.
XII – Dados de segurança acumulados dos Estudos Fase 3.
XIII – Dados de eficácia e de segurança de análises de subgrupos.
XIV – Lista contendo todos os locais onde a vacina está sendo ou será fabricada, e as seguintes documentações relacionadas às Boas Práticas de Fabricação (BPF) do(s) local(is) de fabricação: a) Arquivo Mestre de Planta (AMP) ou Site Master File (SMP);
b) Relatório de inspeção emitido por autoridade participante do PIC/S;
c) Validação de processo; e
d) Gerenciamento de risco com relação à contaminação cruzada decorrente da inclusão do produto na linha.
XV – Informação sobre prazo de validade e cuidados de conservação.
XVII – Texto de bula e rotulagem.
XVIII – Plano de Gerenciamento de Riscos.

Pois… Apesar de entender a importância da descrição dos processos de esterilização e filtração, não deixa de elucidativo do apego burocrático do órgão as minúcias sanáveis, como forma de postergar o registro do produto, afinal, o fabricante não tem o texto de bula e de rótulo? Não dispõe de dados de validade e conservação?

Ora, ora… Nem tudo tem uma explicação simples. Uma revelação recente, presente numa publicação de um órgão oficial norte-americano, no caso do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, cuja sigla em inglês é HHS, em especial num boletim datado de 17 de janeiro de 2021, revela que foi realizada uma pressão direta para o governo brasileiro não encomendar, ou validar, o uso em território nacional da vacina russa Sputnik V. Isso explica muita coisa, como se pode perceber, o que torna a alegação de soberania no tocante as decisões da Anvisa uma piada, bastante tosca, diga-se.

É interessante notar que as reservas da Anvisa se referem nem tanto ao produto, mas ao parceiro da vacina russa em solo brasileiro, União Química. Ora se isto é assim por aqui, não o é na Argentina. Nas terras portenhas o anúncio da importação da vacina russa pelo governo foi alvo de críticas contundentes até… A publicação de prestígio “The Lancet”, após revisão de pares, publicar uma matéria onde se constatava que a vacina Sputnik V possui 91,6% de eficácia como fator protetivo, sendo este dado de 91,8% em idosos, bem como de 100% a proteção verificada contra formas moderadas e graves da Covid-19… Desta forma, após a humilhação autoimposta pelos formadores de opinião portenhos o governo argentino viu-se livre para contratar a produção da Sputinik V em solo argentino, tendo sido o Instituto Richmond o escolhido para tal empreitada. Esta informação não é exatamente nova, visto ser divulgada pela própria empresa em 26 de fevereiro de 2021, quando do firmamento do acordo na cidade de Moscou, por parte do representante do Laboratório Richmond e do Fundo de Investimento da Federação Russa, Sr. Tagir Sitdekov. Até o presente momento a Sputnik V imunizou 370.000 argentinos e sexta-feira última outros 330.000 imunizantes aportaram em Buenos Aires. Ao que parece a necessidade de imunização sepultou na Argentina os delírios ideológicos…

Enquanto isso uma ilha caribenha se destaca, com o seu ritmo natural, no desenvolvimento não só de uma vacina, mas de três: Cuba. Como já anunciado Cuba desenvolve uma vacina batizada como “Soberana 02” concebida pelo Finlay Vaccine Institue. Além desta outra vacina candidata se destaca, a “Abdala”, do CIGB – Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia, ambas entraram na Fase III dos ensaios clínicos; estando aprovado pelo CECMED – Centro Estadual de Controle de Medicamentos e Dispositivos Médicos a realização de um ensaio de intervenção que incluirá 150 mil voluntários. Mas não só destas duas vacinas provém as esperanças cubanas, mas duma terceira, de nome “Manbisa”, cujos ensaios clínicos se iniciam. Os cubanos se inclinam para a vacina Manbisa por um motivo simples: é de aplicação nasal e terá função terapêutica, de reforço clínico. Ela se insere em uma estratégia dos pesquisadores da ilha de se adiantarem as possíveis evoluções do vírus, entendendo estes que o combate as novas cepas deverá ser primordial… Cepas estas que o Brasil delirante produz em profusão.

Notas:
PT: Partido dos Trabalhadores;
PC do B: Partido Comunista do Brasil;
Anvisa: Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Brasil).

Por que a Boeing precisou muito da Embraer?

Fonte: Jornal GGN

Por: Sérgio da Motta e Albuquerque

Ao contrário do que pensam muitos, foram as dificuldades da Boeing e as pressões da competição que a impulsionaram na direção da compra da brasileira Embraer, e não o contrário. Quem acredita na artimanha da “joint-venture” anunciada na imprensa, onde a Embraer só controla 20% da nova empresa, é um ingênuo. Ou alguém que não vem acompanhando o desenvolvimento e a concorrência na aviação comercial regional das aeronaves de médio porte. O mercado onde atuava a “velha Embraer” – a ‘velha’, poderosa e confiável Embraer, nosso único orgulho e glória no mundo industrial de alto valor agregado.

A Embraer era uma empresa “enxuta”, bem administrada e inovadora. A primeira a organizar suas linhas de montagem seguindo o modelo da indústria automobilista. Obra de excelência da engenharia nacional, ela criou seu próprio modo de produção de aeronaves, ao compatibilizar tecnologias avançadas de origem internacional em seus produtos como nenhuma outra neste ramo. Colecionava uma sucessão de grandes vendas, quando foi entregue por 4,2 bilhões de dólares aos ianques da Boeing. O lobby americano é muito forte neste país, especialmente neste momento, de alinhamento incondicional aos ianques. E a nossa imprensa é subserviente a qualquer tipo de poder econômico. Mentiu o tempo todo à população brasileira, e conseguiu convencer muita gente que a Embraer estaria em “graves problemas”, diante do acirramento da competição internacional no mundo da aviação comercial regional.

É certo que a corporação brasileira precisava de parecerias. E poderia enfrentar problemas no futuro sem um bom e poderoso aliado. O problema é que a Embraer tinha poder de mercado para fechar um acordo muito mais favorável com qualquer gigante da aviação mundial. Mas não uma proposta oportunista de um colosso que e engoliria e a expulsaria do mercado de aeronaves de passageiros de porte médio. Foi isso o que aconteceu. A tal “joint-venture” nunca passou de um estratagema para tomar o controle da Embraer em um momento de fragilidade política e econômica do Brasil. Porque a competição começou a dar prejuízo à gigante da aviação americana. Leiam o que vem a seguir e entenderão as dificuldades da corporação ianque.

A Boeing teve problemas quando a Bombardier, depois de uma série de tropeços e avanços por mais de uma década, finalmente lançou sua nova aeronave a “C-Series” em 2016. As dificuldades agravaram-se em 2017, informou o Financial Times (14/1). A Boeing apelou ao Departamento de Comércio ianque. Exigiu medidas protecionistas de até 300% do valor da operação, em 2017, sobre a venda de 75 aviões da Série C da Bombardier para a Delta Airline, a maior vendedora de passagens aéreas do mundo. A Airbus, controladora da Série C , começava a vender os aviões da Bombardier, sob o nome “A-220” em 2018. A Delta foi ameaçada a pagar a multa gigantesca. Até aquele momento, a Boeing não tinha presença no mercado da aviação regional em aviões de porte médio e corredor único – os “narrowbodies”, como são conhecidos no mundo da aviação. E começava a perder terreno para a concorrente. Dentro do seu próprio país.

A Bombardier, por sua vez, teve dificuldade para desenvolver e entregar sua Série C, a famosa “C-Series”. A série inicial já estava em estudos desde 2004 e envolvia dois aviões, o C110, e o C130 – este último projetado para ser uma aeronave maior. Seu principal objetivo era ocupar o espaço dos velhos jatos 737 da Boeing e outros concorrentes similares de maior peso e tamanho. Depois de uma interrupção de quatro anos, o projeto da nova família de aeronaves foi retomado em 2008. Os aviões foram rebatizados: o menor, o C110, passou a chamar-se CS100. O maior, CS300. O resultado foi o esperado: a fabricante canadense tentou enfrentar as gigantes Airbus e Boeing com o CS300 e quase faliu. Em 2015 o governo canadense salvou o projeto “C-Series”. A empresa parecia ter chegado ao fim, quando o governo canadense investiu U$ 2,2 bilhões de dólares (americanos), na recuperação do projeto, depois desta tentar e fracassar quebrar o duopólio Boeing-Airbus em jatos médios. A injeção estatal de dinheiro salvou a Bombardier e a recolocou em condições de competir no mercado mundial, com as primeiras entregas da aeronave sendo realizadas sem problemas, mas ainda com muitas dúvidas sobre os lucros que poderia gerar a possibilidade da nova união das duas gigantes:

“É certo temer a nova combinação (Airbus-Bombardier). Apesar de a Airbus ter perdido terreno nos aviões “jumbo” de corredores duplos, enquanto atualiza seu alcance, a gigante europeia já agarrou metade do mercado para aviões regionais de porte médio, como a “C-Series”. Analistas pensam que a união aprofundará o controle da Airbus. A Boeing agora terá que gastar dezenas de bilhões de dólares para lançar um novo jato regional para competir, muito antes do panejado” (Grifo do Autor).

A Boeing estava em problemas, graças à aliança Airbus-Bombardier. Ela não tinha um produto para competir no mercado, neste setor. Desembolsar “várias dezenas de bilhões de dólares” não era uma boa opção. A corporação ianque foi astuta e não precisou gastar tanto dinheiro para abalar a concorrência da Airbus dentro dos Estados Unidos. Nem comprar apenas uma aeronave para concorrer com o A-220 – o produto da Bombardier. Por uma quantia modesta, a Boeing comprou todo o setor de aviação comercial e de serviços da Embraer. E ainda adquiriu 49% de participação no cargueiro militar KC-390, o maior avião já projetado e construído no Brasil. Tudo isso por apenas 4,2 bilhões de dólares. A compra veio em boa hora. Para a Boeing, não para o Brasil ou para a Embraer. Foi um presente para Trump, e seu projeto de “fazer a América grande novamente”.

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O KC-390 em sua apresentação. O acordo com a Boeing resultou na entrega de 49% das realizações do projeto do cargueiro militar, sem que a gigante norte-americana tenha aportado um dólar sequer no mesmo. Foto: internet.

Em 14 de janeiro de 2019, o Financial Times informou que o governo americano negou o pedido da Boeing de taxar em 300% a Airbus e sua linha de montagem atual do A-220, o antigo “C-Series”, ainda situada fora dos Estados Unidos. Mas a gigante norte-americana agora estava preparada para a competição. Com toda a bem-sucedida linha comercial da Embraer sob seu controle, ela poderia respirar aliviada. Sem nenhum avião na para competir com o A-220 da Airbus em 2018, a Boeing agora em 2019 é dona de uma das maiores e bem-sucedidas fabricantes de aviões regionais de maior porte do mundo.

A agência de avaliação de risco Fitch (15/1) imediatamente rebaixou a nota da empresa brasileira depois da “joint-venture”. O que restou da Embraer, o setor de aviação executiva e a aviação militar, não bastam para o prosseguimento das operações de uma grande empresa de aviação. O jornal “Valor econômico” publicou (15/1):

“Segundo a Fitch, o perfil de negócios da joint-venture que será formada entre Embraer e Boeing será mais fraco, refletindo a concentração das operações nos segmentos de aviões de defesa e executivo, a forte concentração de clientes e o desafio em aumentar a lucratividade e o fluxo de caixa operacional”.

Os lucros na aviação executiva são pulverizados por uma grande quantidade de fabricantes. E o setor militar dependia da aviação comercial da Embraer, agora vendido aos norte-americanos. Nossas forças armadas e suas encomendas não bastam para a sobrevivência da Embraer Defesa.

A Bombardier fez, talvez, seu melhor negócio em sua história. Vendeu apenas uma família de aviões, e permaneceu na competição do mercado de aviação regional. A Embraer, não. Perdeu seu filão mais lucrativo, em pleno apogeu de vendas da empresa. Apenas ela, entre as quatro grandes na produção de aviões comerciais, a nossa ex-Embraer, sobrevive sem ajuda do governo brasileiro. A Boeing, a Airbus e a Bombardier são corporações pesadamente financiadas pelo Estado. Fizemos a lição de casa, privatizamos a Embraer, e a tornamos independente e dominante no mercado em poucos anos. Apenas para entregá-la quase de graça aos americanos. Porque ela “precisa da ajuda do Estado”, e o nosso governo não pode mais alavancar empresas deste porte, dizem as vozes do neoliberalismo. Mesmo quando sua propriedade total representa interesse estratégico fundamental para o desenvolvimento deste país.

O Brasil e a Embraer saíram perdedores, nesta etapa da competição mundial no setor da aviação regional comercial para até 130 passageiros. Airbus e Boeing são as grandes favorecidas. O acordo Boeing-Embraer foi péssimo para o Brasil e para a Embraer. E a Bombardier ainda tem muito a provar aos especialistas em aviação. Nada garante sua participação no longo prazo, na aviação regional. A tendência da Airbus é ampliar o seu controle sobre o setor de aviação comercial da Bombardier.

Quanto ao impacto no Brasil, perderemos receitas de exportações industriais de alto valor agregado e na arrecadação de impostos. Todo o embrião do complexo industrial-militar construído a partir do ITA em São José dos Campos corre o risco de desaparecer. Hoje, os ianques prometem deixar a produção das aeronaves no Brasil. Mas a partir de 2020, quando a Airbus em Mobile, Alabama, começar a fabricar e vender o A-220 (o “C-Series” da Bombardier), dentro dos Estados Unidos, como produto norte-americano, vai ser muito difícil enfrentar a concorrência pesada da Airbus com um produto fabricado fora dos Estados Unidos.

A tendência de médio, longo prazo, é a transferência de toda a linha de montagem da aviação comercial para os Estados Unidos. As consequências serão devastadoras. A Embraer não existe só, no espaço vazio. Ela traz consigo toda uma cadeia produtiva de pequenas e médias empresas que orbitam em torno dela. A transferência da linha comercia da Embraer para os Estados Unidos completará a total desindustrialização do Brasil.

O F-104 encontra o seu algoz

Por: César A. Ferreira

Em 1971 o MiG-21 já havia consolidado a sua reputação nas suas mais diversas versões, pilotos de Mirage III e F-4 Phantom sabiam que o MiG-21 consistia num inimigo temerário. Porém, o caça soviético não havia se confrontado, ainda, com um oponente leve e ainda mais rápido do que ele: o F-104A, o “galgo da Lockheed”.

A Força Aérea do Paquistão (PAF.,ing.)[1], era a antiga operadora do F-104A, já presente no inventário paquistanês quando do conflito de 1965, onde a PAF exibira elevada capacidade operativa, todavia, o F-104A não tivera naquela guerra uma participação destacada, ao contrário dos onipresentes F-86F… Pois, em 1971 a situação seria diferente e os F-104A teriam um adversário na mesma altura.

Em 1971 os MiG-21 da Força Aérea da Índia (IAF., ing.)[2], estavam padronizados no padrão FL. No dia 12 de dezembro, segundo arquivos indianos e 13 de dezembro segundo relato da PAF, um elemento de F-104A da PAF que estava incumbido de atacar a Base Aérea de Jamnagar, foi interceptado por um elemento de MiG-21 FL. Os F-104A paquistaneses estavam equipados com tip tanks[3] e dois misseis AIM-9B nos cabides. Enquanto faziam a sua passagem foram alvejados por mísseis K-13 e o líder, Wing Commander Mervin L. Middlecoat foi abatido. O Tenente Tariq Habib relata que o Comandante Middlecoat ejetou e o seu avião penetrou nas águas do golfo de Kuch, invertido. Deu-se conta que um MiG-21 se postava à sua direita e com after-burner ligado evadiu-se do local… O relato de Habib é explicito em dizer que o elemento de ataque permanecera minutos a mais sobre o alvo para corrigir a passada [4}, isto, porém não tira o brilho da vetoração da IAF que levou o elemento de MiG-21 para a interceptação com sucesso. O piloto que logrou a vitória aérea foi o Tenente Aviador Bharat B. Soni (MiG-21 FL). Os relatos indianos dão conta que apesar de vetorados, o elemento de MiG-21 já tinha os dois F-104 no visual antes de efetuarem a corrida para o alvo, de tal maneira que a demora na correção da passada narrada por Habib pouco influenciaria. O F-104A abatido de Middlecoat ostentava número seriado 56-773, e segundo o relato indiano o míssil K-13 não travou no alvo, por ter se perdido pelo uso defensivo de flares por parte de Middlecoat, sendo por isso abatido a tiros de canhão.

A Índia alega o abate de 5 F-104A no conflito de 1971, enquanto a PAF admite apenas a perda de outros dois destes caças, sendo uma destas perdas atribuída à artilharia antiaérea indiana [5], totalizando as perdas em três aeronaves F-104A. No dia 17 de dezembro um elemento de MiG-21 FL [6] efetuava a escolta de dois elementos de HF-24 “Marut” em missão de ataque. Naquele momento um elemento de F-104A, transferidos para a PAF da Jordânia patrulhavam a área Naya Chor. Estes modelos provindos da Real Força Aérea Jordaniana não tinham adaptação para disparo do míssil AIM-9 a partir dos pilones internos, obrigando a PAF optar por tanques, ou mísseis nas pontas das asas. Neste caso, a PAF optou por colocar no ar uma CAP noturna de F-104A armada apenas com canhões, dado que sem os tanques a permanência em patrulha de combate seria absurdamente breve… Pois, a narrativa do combate aponta que o elemento de MiG-21 FL tornou-se ciente da presença da CAP da PAF com antecedência, pois os paquistaneses nos seus relatos apontam que a estação de radar de Badin informara aos pilotos que dois inimigos deles se aproximavam, vetorando-os, então, para uma aproximação frontal. Após a passagem frente a frente, a narrativa paquistanesa afirma que no afã de posicionar-se em posição ideal de tiro atrás do líder do elemento de MiG-21, o Tenente Aviador Salmar Changezi foi por sua vez enquadrado e abatido pelo ala do elemento de MiG-21, no caso pelo Tenente Arun K. Datta, que teria disparado dois mísseis K-13, o primeiro tendo errado o alvo, o segundo atingindo-o com sucesso. O líder do elemento de F-104A, Tenente Aviador Rachid Bhatti, desengajou e retornou a base da Masroor. O relato de Bhatti é interessante no sentido que ele narra que Changezi estava num ângulo acentuado demais para fazer fogo com o canhão, entusiasmado para corrigir e abater o MiG à sua frente e não se deu conta que se posicionava de maneira ideal para o ala do líder do elemento indiano. O primeiro míssil de Datta teria sido disparado de forma precipitada, o segundo num ângulo de engajamento ideal. O F-104A de Changezi, ostentando o número de série 56-787 explodiu, sem chances para ejeção.

Os combates evidenciaram que o MiG-21 se mostrara superior para o combate aéreo aproximado perante o F-104A, isto se evidencia no combate de Naya Chor, onde numa refrega 2×2 um piloto da PAF foi vaporizado no ar e o outro que tudo assistia no “poleiro” [7], preferiu antes salvar a própria vida do que perseguir uma estela de herói. A PAF é uma força aérea aguerrida, treinada na doutrina da USAF e orgulhosa das suas tradições, por isso a sua narrativa reforça a posição de interioridade relativa dos seus pilotos, ainda que isso possa ser aceito como uma “verdade” no combate de Middlecoat, onde fora interceptado, não se pode dizer o mesmo no caso de Changezi. O fato é que muitos pilotos disseram que para um dogfight o “galgo da Lockheed” se comportava como se tivesse “tijolos ao invés de asas”. De fato, o interceptador F-104A que despontava como inadequado para a função de superioridade aérea, por motivo inescrutável acabou como o caça de ataque padrão europeu, na versão G e S. No velho continente equipou forças aéreas da OTAN e de países que na época não faziam parte do pacto, caso da Espanha (onde foi empregado na função original de interceptador). Do tratado atlântico, a Alemanha, Bélgica, Grécia, Noruega, Holanda, Itália e Turquia o tinham como caça e dizem as más línguas, que na convivência diária com o “fazedor de viúvas” grassava nos seus operadores uma inveja mortal da Armée de l’air com os seus Mirage III…

Notas:
[1]: PAF – Pakistan Air Force.

[2]: IAF – Indian Air Force.

[3]: Tip Tanks (inglês) – Tanques de ponta de asa.

[4]: O relato fala em um atraso de 60 a 120 segundos sobre o alvo.

[5]: Abatido em 5 de dezembro de 1971 pelo 27º Regimento de Defesa Antiaérea, na área de Amristsar, ação atribuída ao artilheiro Hav Ramaswamy. O F-104A de número seriado 56-804 era pilotado pelo Tenente Amjad Hussain, que ejetou e foi capturado.

[6]: Baseados em Uttarlai.

[7]: “Não se contesta a história do piloto que retorna” – o axioma militar explica em muito a situação, não se pode criticar o fato de Rachid Bhatti não ter perseguido o elemento de MiG 21 FL, pois estes efetuaram uma curva em direção a própria sua base desengajando do combate, provavelmente por conta do consumo de combustível, motivo que já afetava Bhatti, com uma hora de patrulha já efetuada quando se deu a refrega.

Características do MiG-21FL:

Velocidade máxima: 2.175 km/h (1.170 kn.);
Velocidade máxima em Mach: 2,0 Ma;
Alcance: 1 210 km;
Teto máximo: 17 800 m. (58 400 ft.);
Armamento: mísseis K-13 (AA2 “Atol”). POD GP-9 (GsH 23mm, geminados).
Comprimento:14,5 m. (47,6 ft.);
Envergadura: 7,154 m (23,5 ft.);
Altura: 4 m. (13,1 ft);
Área das asas: 23 m² (248 ft².);
Alongamento: 2.2;
Peso carregado: 8 825 kg. (19 500 lb.).

Motor

Tumansky: R11F2S-300;
Tipo: turbojato com pós-combustor;
Comprimento: 4.600 mm (181,1 pol.);
Diâmetro: 906 mm (35,7 pol.);
Peso: 1.124 kg (2.477 lb);
Componentes:
Compressor: Compressor axial , (LP) 3 estágios, (HP) de 3 estágios;
Empuxo máximo:38,7 kN (8.708 lbf);
60,6 kN (13.635 lbf) com pós-combustor.
Relação de pressão geral: 8,9:1;
Temperatura de entrada da turbina: 955 °C (1.750 °F.);
Consumo específico de combustível:
97 kg/(h·kN) (0,95 lb/(h·lbf)) em cruzeiro;
242 kg/(h·kN) (2,37 lb/(h·lbf)) com pós-combustor;
Relação empuxo-peso: 53,9 N/kg (5,5:1).

Características do F-104A:

Comprimento: 16,66 m. (54,8 ft.);
Envergadura: 6,63 m. (21,9 ft.);
Altura: 4,11 m. (13,6 ft.);
Área da asa: 18,22 m. (196,1 ft.);
Aerofólio: Biconvexo 3,36% raiz e ponta.
Peso vazio: 6.350 kg. (14.000 lb.);
Peso máximo de decolagem: 13,166 kg. (29.027 lb.);
Velocidade máxima: 1.528 mph (2.459 km/h, 1.328 kn);
Velocidade máxima: Mach 2.
Alcance de combate: 420 mi (680 km, 360 mn);
Alcance translado: 1.630 mi (2.620 km, 1.420 mn);
Teto de serviço: 15.000 m. (50.000 ft.);
Taxa de subida: 240 m/s (48.000 ft./minuto);
Carga da asa: 510 kg/ m²;
Armamento:
Canhões: 1 × 20 mm (0,787 pol.) M61A1 Vulcan, canhão rotativo de 6 canos, 725 tiros.
Hardpoints: 7 com capacidade de 4.000 lb (1.800 kg), com provisões para transportar combinações de até
4  AIM-9B “Sidewinder”.

Motor

General Electric J79-GE-19;
Tipo: turbojato axial com pós-combustor;
Peso:1,750 kg (3.850 lb.);
Características gerais:
Comprimento: 5,3 m. (17,4 ft.);
Diâmetro: 1,0 m. (3,2 ft.);

Componentes:
Compressor: compressor axial de 17 estágios com palhetas de estator variável.
Combustores: canular;
Turbina: 3 estágios;
Empuxo máximo: 11.900 lbf (52,8 kN) seco; 17.900 lbf (79,6 kN) com pós-combustor;
Relação de pressão geral: 13,5:1
Fluxo de massa de ar: 170 lb/s (77 kg/s);
Temperatura de entrada da turbina: 1.710 °F. (932 °C.);
Consumo específico de combustível: 1,965 lb/(h·lbf) (200 kg/(h·kN)) com pós-combustor, 0,85 lb/(h·lbf) (87 kg/(h·kN)) em cruzeiro.
Relação empuxo-peso: 4,6:1 (45,4 N/kg).

A morte inglória

A modelo, atriz e guerreira brasileira Thalita do Valle encontra o seu destino de maneira inglória, ao lado de mercenários e lutando por um causa dantesca: a Ucrânia atormentada por Azov, Aidar, Pravy Sektor e outros delírios.

Por: César A. Ferreira

No dia dois último chegou a notícia de que dois brasileiros que foram lutar na Ucrânia haviam morrido em função dos combates, o nome de um deles, todavia, causou num grupo seleto de pessoas que comentam assuntos militares, no qual este escriba se insere, consternação e estranheza: Thalita do Valle.

Thalita era mulher altiva e incansável. Como fácil de ver em todas as matérias que pululam a seu respeito, ela fora guerreira, enfrentou o Estado Islâmico[1] no Curdistão Iraquiano. Socorrista, atuou como voluntária no resgate de pessoas e animais nos desastres ambientais provocados pelos rompimentos das barragens de rejeitos minerais de Mariana e Brumadinho. Ativista, era defensora dos animais em especial da raça de cães Pitbull, para ela vítima do crime organizado que promove rinhas de cães. Inquieta, procurou a formação acadêmica em Direito, fora antes atriz e modelo. De modo resumido, esta era Thalita do Valle, brasileira, 39 anos.

A história desta guerreira, como podemos ver foi intensa. Desembarcou no Curdistão Iraquiano para trabalhar como socorrista, logo foi treinada para manusear fuzis, como autodefesa, momento em que o seu talento foi observado pelos instrutores. Treinada para tiro de precisão, camuflagem, orientação, escolta e deslocamento em combate, Thalita atuou no front iraquiano contra o Estado Islâmico defendendo a milícia Peshmerga[2], esteve também na Síria em apoio as formações do YPJ[3]. Atuando como franco atiradora, “sniper”, foi agraciada com o cobiçado título de “ISIS Hunter”. No Brasil, procurava manter as suas habilidades militares em dia, não só frequentava clubes de tiro, mas procurava aprimorar as suas capacidades de luta com armas brancas. Preocupava-se com a sua aptidão física, treinava com afinco. Ela teve enquanto no Iraque contato com instrutores norte-americanos, dado que os EUA são aliados da liderança curda de Erbil[4]; havia mulheres dentre os instrutores (USARMY & US Marines), algo inspirador.

Aqui chegamos na Ucrânia, onde a estranheza cobra a sua estada. Dentre todos os brasileiros presentes naquele teatro de operações, poucos poderiam exibir um currículo como o de Thalita. O fato do Brasil ser um país com quase todos os contenciosos de fronteira resolvidos por via diplomática até o início do século XX, acabou por não proporcionar conflitos entre estados que o envolvesse, com exceção da Primeira e da Segunda Grande Guerra, esta última com a presença de duas formações divisionárias que compunham a Força Expedicionária Brasileira, que combateu em solo italiano entre 1944 e 1945. Como se pode perceber resta aos brasileiros obter a sua experiência de combate no exterior, notadamente alistando-se na Legião Estrangeira da República Francesa, ou nas armas norte-americanas, onde é costume o alistamento com o intuito de se obter cidadania. No Brasil a experiência militar se resume a servir no Exército Brasileiro, força que por vezes envia destacamentos para participar de forças para imposição da paz sob a égide da ONU, ou na vida profissional como policiais, no combate ao crime organizado, em especial na Cidade do Rio de Janeiro, onde enfrentamentos com gangues de traficantes e milicianos são comuns e intensos, oferecendo experiência de confrontos em ruelas, becos estreitos e construções irregulares, típicas de um ambiente urbano densamente construído.

Neste contexto entende-se o vigor com que ela insistiu para ir ao front, desligando-se das atividades de socorro para participar dos combates. A permissão foi dada, afinal, o currículo dela gritava. Aqui começa a estranheza, pois se é verdade que ela era vibrante e guerreira, a causa e a companhia não lhe casavam com o espírito. A causa como sabemos é a defesa de um regime político que quer manter territórios ao leste do Dnieper a custa do interesse dos moradores locais e imbuído do sentimento de superioridade moral e racial, tipicamente nazista, fato este representado por formações que adotam símbolos das antigas “Waffen SS” como parte dos seus brasões, falo aqui do “Azov”, “Pravy Sektor”, “Aidar”, “Tornado”, “Kraken”, entre outros. A companhia é a de mercenários brasileiros, todos eles de extrema-direita, bolsonaristas, machistas, anticomunistas delirantes, adoradores de Trump e dos EUA, espalhafatosos e boquirrotos, que muito mais preocupados estão em aparecer no Instagram do que em lutar, tal como o afamado “Rambo de Hotel”, Leanderson Paulino[5], que diga-se, retornou ao Brasil. Já ela, bem mais discreta, apesar da proximidade com instrutores dos EUA no Iraque, era crítica à política deste país no Oriente Médio; feminista, não nutria simpatia alguma pela figura de Jair M. Bolsonaro. Como é possível que uma pessoa que combateu o sectarismo do Estado Islâmico vá defender em armas o sectarismo ucraniano? Só por estar na… Europa? Teria a massiva propaganda ocidental influenciado o julgamento de Thalita? Impossível responder, especular não ajuda…

Basta saber que ao contrário do que adoram bradar os mercenários brasileiros, não tivera Thalita e o grupo de combate na qual ela estava engajada, possibilidade de influir ou causar qualquer diferença nesta guerra. Estava ela e os seus companheiros de armas, um grupo formado por brasileiros e latino-americanos, notadamente colombianos, em campo nos arredores de Kharkov, quando buscaram abrigo numa casa abandonada. Esta casa começou a ser alvejada por projeteis de artilharia, reportados como sendo de morteiros, forçando o grupo de combate procurar proteção num bunker existente na casa abandonada. O incêndio decorrente do bombardeio fez com que o bunker doméstico fosse tomado pela fumaça, o que provocou debandada total dos combatentes. Thalita não saiu. Douglas Burigo[6], o outro combatente brasileiro retornou para retirá-la, quando foi alvejado pela segunda salva de granadas provenientes da bateria inimiga de morteiros. Douglas morreu com a explosão. Já Thalita foi encontrada sem queimaduras, no fundo do bunker, coberta por uma lona com a qual tentou se proteger do incêndio. Até o último momento tentou sobreviver, mas a fumaça era intensa e acabou por sufocá-la. No alto, corrigindo em tempo real o fogo de bateria, pairava um quadricóptero Mavic, que tudo registrava…

E assim Thalita encontrou o destino como combatente. Vestindo uma farda é verdade, porém que não lhe cabia. De combatente heroica da causa curda, o destino a encontrou como mercenária. Ainda que esses 39 anos tenham sido bem vividos esta morte não lhe faz jus, afinal, foi uma morte inglória em defesa duma causa falida.


Notas

[1]: EI – Acrônimo para Estado Islâmico em língua portuguesa. ISIS – acrônimo em língua inglesa para Islamic State Of Iraq And Syria.

[2[: Peshmerga: termo derivado do dialeto curdo, significa “os que enfrentam a morte”. Este termo é reservado para a milícia da cidade de Erbil, cidade que é capital do curdistão iraquiano, região semiautônoma do Iraque.

[3]: YPJ – Yekíneyên Parastina Jin, em português – unidade de proteção das mulheres. Braço militar feminino do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão). Não se subordinam à milicia de Erbil.

[4]: Erbil – Capital da região semiautônoma do curdistão iraquiano.

[5]: Leanderson Paulino – brasileiro, 27 anos. Ex-militar do 72º Batalhão de Infantaria Motorizado. Alistado como mercenário da Legião Estrangeira da Ucrânia, ficou famoso por se deixar fotografar fardado e equipado com constância nos salões dos hotéis ucranianos. Mercenários ingleses o alcunharam de “Rambo de Hotel” (ing. “Hotel’s Rambo”).

[6]: Douglas Burigo – brasileiro, 40 anos. Mercenário na Ucrânia, morreu ao tentar salvar Thalita do Valle. Tinha como experiência militar apenas o período de quatro anos de serviço no Exército Brasileiro. Relatou em mensagem para parentes o receio de não sobreviver em função da brutalidade da artilharia russa.

O Mar Negro não perdoa

O “Grande Navio Lança Mísseis” Moskova afunda no Mar Negro enquanto era rebocado para a Base Naval de Sebastopol.

Por: César A. Ferreira

A data de 14 de abril corrente despertou com uma notícia eletrizante, o cruzador lança-mísseis e nave capitânia da Frota do Mar Negro, Moskova, havia sido atingido. No caso, por dois mísseis P-360 Neptune, de fabricação ucraniana. De imediato pouco crédito se deu, pois o lado ucraniano desta guerra lançou tantas farsas [1] nos meios de comunicação que outro comportamento não poderia mesmo ser esperado, ademais, o lado russo desta guerra, se não emite farsas, carece de agilidade informativa e transparência, tudo retendo, nada oferecendo em termos de notícias. Pois… Certas coisas não se podem esconder e logo após aparece uma informação breve que o dito cruzador estava em chamas, devido a “falha de manejo da munição de bordo”.

Atingido, ou não, fato é que a tripulação, cerca de 500 tripulantes, fora transferida para vasos de escolta. Após dominar o incêndio, o informativo oficial apontava que o vaso estava sendo rebocado para a Base Naval de Sebastopol quando afundou devido ao embarque de água em mar encapelado. Temos então uma divergência informativa, entretanto, o embarque de água em mar agitado é indicativo da presença de abertura, ou de aberturas várias no costado do navio, algo que um incêndio interno dificilmente ocasionaria. Outra possibilidade, incrivelmente pouco aventada é o choque com minas marítimas de contato à deriva no Mar Negro. A Ucrânia lançou várias destas minas de fundeio que perderam a sua ancoragem e agora ameaçam a navegação neste mar.

Pode-se dizer que foi um tento ucraniano. Não interessa o curso do destino, mas o destino em si, afinal, se houve incêndio por deficiência no manejo de munições nos paióis, isto se configura em algo mais alarmante do que ser atingido pelo esforço inimigo. O Moskova era a nave flâmula da Frota do Mar Negro, jamais poderia ser atingida e muito menos operada com desleixo e incompetência. Não há desculpa para esta perda e a ausência do pedido de demissão do comandante desta frota assombra. Ao que parece o senso de honra não foi afetado, apesar desta perda poder vir a implicar em mudanças profundas nas operações futuras da Frota do Mar Negro [2].

O possível algoz do Moskova, o P-360 Neptune, é um míssil antinavio produzido na Ucrânia, derivado do Kh-35 Uran, todavia, atualizado com sistemas ucranianos mais novos. É apontado como tendo alcance da ordem de 190 milhas náuticas, mas em geral se atribui 136 milhas náuticas como alcance efetivo. O Moskova, que navegava a 96 milhas náuticas de Odessa, estava bem dentro do seu alcance operacional. Já a belonave capitânia da Frota do Mar Negro era um exemplar da Classe Slava [3], lançado em 1979, comissionado em 1983, descomissionado em 1990 e novamente comissionado em 2000. Suas reformas foram pontuais e o seu sistema anti-incêndio estava desatualizado, segundo informes recentes. A belonave deveria ser segura contra ataques sea skimmer, dado a presença de seis pontos CIWS [4]… Deveria.

A Guerra no mar tem a característica de não perdoar erros, pois as perdas são absolutas. Independente do ocorrido, incêndio nos paióis por erro de manejo, ou impacto por meios do inimigo, a perda do Moskova é trágica, gigantesca e irreparável. Muito mais do que a propaganda poderá explorar, pois simbólica, a ausência da nave capitânia afetará pela sua ausência a moral dos marinheiros da Frota do Mar Negro, podendo influenciar, inclusive, a atitude futura desta frota neste conflito. Na opinião deste escriba, uma corte marcial que envolva o Capitão e os oficiais superiores desta belonave é imperiosa, ainda que seja, por si, algo a mais para ser explorado pelo Ukroreichspropagandaministerium. Como bem sabiam os gregos, o Mar Negro é genioso, nunca foi fácil e jamais perdoou os navegantes incompetentes.

Notas:

[1]: O governo ucraniano não perde nenhuma chance em enganar, primeiro foi o “Fantasma de Kiev”, suposto às de MiG-29, que não passava de imagens renderizadas do jogo DGS – Digital Combat Simulator da empresa Eagle Dynamics.  Depois tivemos a história comovente da “Gravida de Mariopol”, onde uma gestante foi pelas lentes da AP – Associated Press, “resgatada duma maternidade brutalmente atacada”, o fato era que a “maternidade” estava desativada e ocupada pelo A3OV como centro de comando e o dito “resgate” não passou de uma encenação. Marianna Podgurskaya estava realmente grávida e deu à luz. Isto não impediu de que a sua morte, bem como a do seu bebê, tenha sido efusivamente anunciada pelos veículos de imprensa brasileiros, como ”Veja”, ‘Isto É” e “Valor Econômico”, sem que tenha sido emitido uma só nota corretiva. Estes são apenas dois exemplos candentes.

[2]: Sem o Moskova a cobertura de uma possível frota destinada a uma operação anfíbia fica comprometida. Portanto, toda e qualquer ação futura que envolva a Frota do Mar Negro e o litoral próximo a cidade de Odessa, deverá ser a partir deste evento, revista.

[3]: A Classe Slava (Project 1164): 12.490 toneladas de deslocamento, comprimento de 186,4 metros, boca de 20,8 metros e calado de 8,4 metros. O armamento desta classe consiste de oito lançadores com oito células verticais do sistema S-300F (64 unidades) para função antiaérea (mísseis 5V55RM, 90 km de alcance); dois lançadores com 40 unidades para o sistema OSA NA; 6 canhões rotativos CIWS de 30mm AK-630; para a função antinavio exibe 1 canhão AK-130 de 130mm, 16 silos para os mísseis P-1000 “Vulkhan”; 10 tubos de torpedos de 533mm; a função antissubmarino conta com dois morteiros navais RBU-6000. Como defesa passiva possui lançadores de chaff PK2DL de 140mm. Pode levar um helicóptero Ka-27. Esta classe perfaz 32 nós, apresenta resistência (autonomia) de 10.000 milhas náuticas (18.520 km) a 16 nós. A propulsão é de turbinas a gás, acopladas a dois eixos e perfazendo 121.000 shp. O cruzador Moskova exibia o designativo 121.

[4]: CIWS – Close-in Weapon System (ing.). Neste navio representado por seis canhões rotativos AK-630 (30mm).

Nota do Editor:
Após a publicação deste artigo foi anunciada uma vítima fatal dos incidentes ocorridos a bordo do Cruzador Lança-Mísseis Moskova: o falecimento do “Capitão de 1º Escalão” Kuprim Anton Valeryevich. Trata-se do Capitão do Cruzador Moskova. Sendo esta a única vitima fatal anunciada deste naufrágio, não fica difícil acreditar num suicídio motivado pela manutenção do senso de honra.

Nota do Editor 16.04.2022:
Em um vídeo vinculado pelo Ministério da Defesa da Federação Russa, nesta presente data, 16.04.2022, a tripulação perfilou-se em revista pelo Almirante em Chefe da Frota do Mar Negro, Nicolai Evmenov; Acompanhava o Capitão de 1º Escalão Kuprim Anton Valeryevich, que pelo jeito não cumpriu o suicídio ritualístico demandada pela execração moral e cumprimento do senso de honra. Devido a falsa informação da morte do capitão este editor irá reter qualquer nota de complementação sobre prováveis vítimas deste naufrágio até a confirmação cabal. O único detalhe digno de nota é a ausência do gato do Moskova na cerimônia, o que faz este escriba temer pela sorte do felino.