Afirmações vazias, recriminações e lamúrias

Perdido no emaranhado de afirmações conflitantes, desconexas, imprecisas e delirantes, o renomado autor Tom Cooper tenta retornar as suas análises da guerra ucraniana para o campo aeronáutico, mas continua afeito ao discurso de desejo-delirante, jogando por sobre a sua maltratada credibilidade mais uma pá de cal…

Por: César A. Ferreira

No dia 17 último (agosto de 2022) o renomado autor de conteúdo Tom Cooper cedeu uma entrevista para o veículo informativo EuroZprávy.cz, notadamente para a pessoa de Matěj Bílý. A entrevista concedida pelo senhor Tom Cooper está eivada de preconceitos, imprecisões, contradições explícitas e até mesmo de frustrações, que serão por parte deste presente escriba analisadas.
A matéria abre com a seguinte introdução:

“A liderança política ucraniana não levou a sério a ameaça de uma invasão russa e, sob essa luz, é uma grande surpresa que a força aérea ucraniana possa continuar resistindo a um inimigo mais forte no papel, afirma Tom Cooper, analista e historiador austríaco especializado na aviação militar (…)”.

Já na abertura temos imprecisões, pois afirmar que a Ucrânia não se preparou para um conflito armado, exibindo um exército com 260.000 homens em armas e mais de duas centenas de veículos antiaéreos de defesa de área é mentir descaradamente. Ademais, os oito anos de agressões no Donbass já seriam por si uma refutação razoável.

A primeira pergunta apresenta no seio da sua resposta as sempre presentes imprecações contra Putin, bem como as incontornáveis correlações imprecisas da atual VKS[1] com a antiga aviação frontal soviética de 1945… Um trecho, todavia, merece análise:

“Eles geralmente lançam mísseis guiados Ch-59M em alvos selecionados a uma profundidade de 50 quilômetros da linha de frente, ou mesmo em alvos a 100 quilômetros de distância, se puderem ser atacados da Bielorrússia ou do Mar Negro”.

O Sr. Tom Cooper elegeu uma arma específica para argumentar a inoperância russa em atacar alvos além do raio de 100 km. Esta arma é o Kh-59, que possui hoje a sua última versão designada como Kh-59Mk2. Trata-se de um míssil de cruzeiro, com alcance nominal de… 200 km nas suas versões iniciais e de 290 km na sua versão última. Então… Você possui uma arma que lhe entrega um alcance maior, mas de maneira voluntária se renuncia ao aproveitamento deste alcance. É isto mesmo, Mr. Cooper?

Temos aqui a primeira das afirmações vazias. O senhor Cooper prossegue no mesmo assunto:

“Não foi surpresa, dadas as conhecidas fraquezas das forças armadas russas, que a guerra síria em 2015-2017 já havia revelado claramente na área de encontrar, mirar e destruir alvos a mais de 50-100 quilômetros da frente”.

Aqui temos a contradição explicita, pois a Força Aérea Russa que possui uma arma com alcance de mais de 200 km não encontra e destrói alvos quando estes distam mais de 100 km. Ora, ora, e os ataques realizados em Odessa, Ivano-Francovich e Vinnitsa… Foram miragens? Acontecimentos de um universo paralelo?  Ah! Como esquecer: o Kh-47M2 é uma Wunderwaffe[2], de nada serve, ainda que tenha obtido em Vinnitsa um cartel enorme de Coronéis da Ukroluftwaffe na sua conta.

Mais adiante vemos o desejo delirante se apossar da narrativa do Senhor Cooper:

“A doutrina militar russa, pelo menos no papel, prevê um ataque surpresa à força aérea inimiga no início da guerra, a fim de prejudicá-la. No entanto, Putin calculou que os ucranianos se juntariam a ele ou desistiriam e se dispersariam”.

Vemos aqui a típica falácia argumentativa de projetar no outro uma expectativa que é sua. A realidade desmente o senhor Cooper, dado que a Rússia ao desdobrar apenas um efetivo de 150.000 combatentes para combater em solo ucraniano poderia estar a esperar tudo, menos uma guerra curta. Era de conhecimento russo da existência de efetivos ucranianos da ordem de 70.000 homens em armas apenas defronte a Donetsk, posicionados em uma enorme cadeia de fortificações de campo. Percebe-se, pois, quão vazias são as afirmações do senhor Cooper, que necessita forçar a sua narrativa no sentido de demonizar Putin como líder, bem como os que o rodeiam, seja por aversão pessoal, ou encomendada. Quanto ao ataque inicial, o mundo viu uma chuva de mísseis Kalibr em bases ucranianas no primeiro dia da guerra. De lá para cá só vemos o uso pontual de vetores aéreos ucranianos… Por que será?

Bem que o senhor Cooper tenta nos responder e isto causa uma pérola do mundo jornalístico, devo dizer:

“Eles atacaram dezenas de bases aéreas e aeródromos com mísseis de cruzeiro, mas atingiram muito poucos, no máximo 6-7 caças ucranianos. A maior parte da força aérea ucraniana sobreviveu ao início da guerra. Desde então, a incapacidade do VKS – e de todas as forças armadas russas – de eliminar a força aérea ucraniana não mudou. Eles simplesmente não têm o equipamento e treinamento para a tarefa”.

Atenção! Os ataques as bases só resultaram em uns 6, ou 7 aeronaves destruídas, a Ukroluftwaffe está intacta, operacional e a VKS é incapaz de eliminá-la como ameaça. A pergunta que deve ser feita é: e os apelos do governo ucraniano por caças provém de onde? Para que se fala tanto em treinar pilotos na Polônia e no Reino Unido, de se transferir caças MiG-29 da Eslováquia e da Polônia se as perdas foram mínimas? Por acaso não se registrou um Su-27 da Uckroluftwaffe pousando em território romeno? Por que, então, não se vê a Ukroluftwaffe nos gloriosos céus do Ukroreich, se ela está intacta? Por acaso o senhor Cooper está desinformando conscientemente, ou treina para ser comediante?

Treinando, ou não, para brilhar nos palcos com Stand Up Comedy, fato é que o senhor Cooper continua a nos brindar, agora, abordando a defesa antiaérea ucraniana:

“(…) as forças armadas russas no início da guerra não conseguiram eliminar não apenas a força aérea ucraniana, mas também uma grande parte da defesa aérea terrestre ucraniana. Enquanto isso, isso também foi fortalecido por meio de entregas de Buk, S-300 e outras armas de fabricação soviética. É por isso que o VKS opera em condições de equilíbrio, não superioridade no ar, muito menos domínio aéreo. E isso, por sua vez, significa que eles só podem operar de forma muito limitada”.

Pois bem… Para o senhor Cooper a alegação do Ministério da Defesa da Federação Russa de ter destruído até a presente data 366 veículos de sistemas antiaéreos nada quer dizer. Como também nada quer dizer que os sistemas BuK M1 e S-300PS serem obrigados a se manterem camuflados e sem emitir, para não serem destruídos, como de regra acontece toda vez que emitem. Não são poucas as imagens do radar 30N6 queimados, vitimados pelos mísseis antirradiação Kh-31. Para o senhor Cooper a contagem de três centenas e a privação da liberdade de detecção não é nada, apenas algo para se desprezar… E a Força Aérea Russa, que virtualmente abate o que se opõe a ela e elimina tudo aquilo que se revela quando passa a emitir, opera de forma “limitada”.

Como não poderia deixar de ser, o sentimento de superioridade anglo-saxônica aparece numa prática que na verdade é bem antiga e conhecida, que é o lançamento balístico de foguetes não guiados. O senhor Cooper faz pouco, mas omite, ou se esquece de um detalhe… Diz o entrevistado:

“Eles usam principalmente uma tática de “atirar e rezar” – eles se aproximam a uma altitude muito baixa e velocidade máxima, iniciam uma subida acentuada em um ângulo de 30 a 40 graus e, de uma distância de 2.000 a 3.000 metros, disparam mísseis não guiados, geralmente S-8 calibre 80 milímetros, no alvo”.

Aqui a prepotência anglo-saxônica se revela por inteiro, quando batiza a prática de lançamento balístico de foguetes como “atirar e rezar”. Talvez o senhor Cooper tenha este costume, os pilotos certamente não os têm. O lançamento tem o seu ponto indicado na tela de HUD, posto que ele é continuamente computado. Será que de onde provém o senhor Cooper, as aeronaves de ataque não dispõem de computadores de bordo e softwares capazes de cálculos sequenciais e posicionamento dinâmico? Bom… Os russos possuem tais facilidades e fazem uso delas, adotando uma doutrina que não expõe os seus vetores de maneira inconsequente aos mísseis antiaéreos lançados por infantes (MANPADS).

Além de prepotente, o senhor Cooper se mostra confuso, como quando tenta explicar a forma da VKS lidar com as defesas antiaéreas:

“Eles incluem suporte, por exemplo, na forma de Su-34s equipados com contêineres de guerra eletrônica SAP-14 e Su-35s armados com mísseis anti-radar Ch-59, que tentam “atravessar” o caminho para outros Su-34s armados com mísseis Ch-58/58M com orientação eletro-óptica. A cobertura de cima é fornecida por aeronaves Su-27SM, Su-30SM ou MiG-31. Posteriormente, há uma tentativa de suprimir as defesas aéreas ucranianas para que os Su-34 possam se aproximar (…)”.

Antes de tudo cabe a correção: o míssil antirradiação utilizado é o Kh-31, para ser mais específico o Kh-31P (alcance de 110 km). A confusão se dá pelo fato do senhor Cooper primeiro enunciar que os russos fazem uso de mísseis antirradiação, progridem com o pacote de ataque para só então buscar suprimir as defesas antiaéreas… Não, caro autor renomado, a supressão das baterias antiaéreas são uma prioridade assim que identificadas no Teatro Operacional, como seriam para qualquer uma das outras forças aéreas do mundo… Sim, caríssimo, missões SEAD fazem parte dos manuais doutrinários da VKS. Surpreso?

O senhor Cooper, não contente, parte para a desinformação pura e simples, como quem quer negar uma realidade constatável:

“Talvez apenas pela quantidade de evidências de que muitos sistemas de armas russos, que foram sistematicamente elogiados nos últimos trinta anos, seja pela Rússia ou no Ocidente, tenham fraquezas fundamentais que os ucranianos usam regularmente e com sucesso hoje”.

Então vejamos… A Rússia atacou alvos onde quis nesta guerra, de tanques de armazenamento de lubrificantes em Lviv até a concentração de blindados num Shopping em Kiev. Alvos destruídos por armas como Izdeliye 305[3] abundam em vídeos nos canais públicos do aplicativo Telegram; que fraquezas são essas que dizes ser aproveitadas pela Ucrânia, se o que se percebe é a defesa antiaérea discreta, a Ukroluftwaffe ausente e os alvos de valor tático e estratégico em chamas, todos os dias. O senhor poderia nos explicar esta contradição evidente?
Não poderá, nem o fará: a contradição é intencional.

No entanto, é justamente ao entrar no campo das vitórias em combates aéreos, que a pessoa se supera. Começa por tentar mitigar o fato que o lado escolhido por ele é um fracasso. A tentativa é tosca:

“As batalhas aéreas ocorrem quase diariamente desde o início da guerra e até agora. No entanto, seus resultados são sombrios, então nenhuma das partes quer se gabar muito deles (…)”.

Piada, devo dizer, pois nada há de sombrio num combate aéreo. Você ganha, ou perde. Neste caso quem perde todos os combates é o lado eleito pelo senhor Cooper, o mesmo lado que soltou registros de vitórias aéreas elaboradas em CGI, em especial do jogo Digital Combat Simulator, distribuído pela Eagles Dynamics. Nascia assim o famoso “Fantasma de Kiev”. O lado russo anuncia as vitórias aéreas, detalha dia e hora das suas alegações e os pilotos vitoriosos.

Não contente o senhor Cooper continua:

“seus pilotos atacam regularmente todas as aeronaves ucranianas que detectam com dois a três mísseis R-77, ou R-33 no caso do MiG-31, de muito longe, então eles erram. Por razões de propaganda, o Ministério da Defesa em Moscou posteriormente credita aos pilotos do VKS “vitórias confirmadas em combate aéreo” e os premia”.

Nunca vi tanta desfaçatez. Toda a alegação russa de vitória aérea é suportada por registros de radar por parte dos controladores em terra e das aeronaves envolvidas. Tais registros são gravados. Outro fator que confirma são os seguidos sepultamentos e condecorações póstumas que os pilotos ucranianos recebem. O senhor Cooper certamente crê que os seus leitores são parvos, afinal, o que ele espera de quem lê uma besteira do naipe “disparos de muito longe”, o que é “muito longe”? Por acaso é o uso no limiar do alcance do míssil em questão? Então, os russos não conhecem os parâmetros das suas armas, nunca as testaram… É isso mesmo?
O senhor Cooper certamente acredita estar a falar com crianças, pois bem, crianças aqui não existem. Como sempre é ao tentar justificar os fracassos dos seus eleitos, os ucranianos, que o senhor Cooper se supera. Ele assim começa:

“Devido à falta de fundos, os ucranianos voaram ainda menos horas de treinamento do que os russos antes da guerra”.

Uma desculpa evidente, todavia, ele continua:

“Alguns pilotos mais jovens tiveram a oportunidade antes da guerra de participar de exercícios conjuntos com a Força Aérea dos Estados Unidos e alguns países da OTAN. Entre outras coisas, esses exercícios trouxeram ideias como tentar emboscar os russos com MiG-29 e Su-27 voando baixo no modo -EMCON (…)”.

Como é? Faltam fundos para horas de voo dos pilotos, mas sobra fundos para treinar com a OTAN? Como sempre, a tendência de desculpar os eleitos ucranianos de qualquer espécie de defeitos, leva o senhor Cooper a contradição explícita. Não se dá conta o renomadíssimo entrevistado, de que entre as ações mais dispendiosas para uma força aérea está a de treinar pilotos no exterior, ou mesmo de sediar treinamento ministrado por forças estrangeiras em seu território. Disto não sabe? Ora, pois, o senhor Cooper pode conseguir enganar os incautos, mas tão somente estes.

Como esperado, é no campo da batalha aérea que o delírio se apresenta por inteiro. Para a alegria de todos o senhor Cooper dispara:

“A ideia era se aproximar do inimigo por trás da orientação usando sinais de dispositivos de alerta na frente de seu radar e depois atacá-lo com mísseis R-27ET de médio alcance com orientação infravermelha. Em teoria, no papel, isso parece bom, mas na prática provou ser muito perigoso, pois na realidade o R-27ET pode ser guiado efetivamente a uma distância muito menor do que o declarado. Mesmo assim, várias mortes parecem ter sido alcançadas dessa maneira (…)”.

Como é? A Ukroluftwaffe obteve vitórias aéreas? Então, isto se tornou um problema, pois… Das poucas perdas que a VKS teve nestes seis meses de guerra, todas elas foram reivindicadas pela defesa antiaérea. Nunca houve da parte ucraniana alegação com data e hora, vetores envolvidos e o nome do piloto que logrou a vitória aérea reivindicada. Qual será o problema dos ucranianos? Não sabem quem realizou os seus feitos? São extremamente desorganizados?

Para o senhor Cooper as alegações de vitórias aéreas como as do Major Viktor Dudin, ou do Tenente Ivan Perepelkin, são fantasiosas, mesmo com registro, data, hora e até mesmo vídeos de lançamento dos mísseis empregados em combate, porém as alegações ucranianas, jogadas ao vento, são verídicas. Pois é… O que falar, então, do Tenente-Coronel Ilya Sizov [4], que não só tem 11 vitórias aéreas alegadas, sendo uma delas, a que resultou na morte do herói ucraniano Igor Bedzay…  Registrada em vídeo. O que dizer… Negar?

Pois, vai ficar melhor agora:

“Em resposta, os russos começaram a operar em grandes formações, combatendo regularmente um único MiG ou Sukhoi ucraniano com uma dúzia de seus próprios caças. Além disso, eles mantêm sua desvantagem colocando-os na defensiva através da barragem de vários mísseis R-77 e R-33. Quando você está se esquivando de dois, três, cinco mísseis vindo em sua direção, você não está pensando em como atacar a si mesmo. Além disso, eles mantêm sua desvantagem colocando-os na defensiva através da barragem de vários mísseis R-77 e R-33”.

Oh, céus! A VKS age de maneira covarde, por lutar nos seus termos, aparentemente é isso que o senhor Cooper quer dizer. Observe que a lamúria se dá pela Ukroluftwaffe ver sempre um, ou dois dos seus vetores cercados nos céus por uma “matilha” de vetores russos. Ora, ora, não estava a Ukroluftwaffe intacta, senhor Cooper? Não consegue a Ukroluftwaffe, intacta devido a incompetência russa, colocar vetores em massa para defender os céus ucranianos? Estranho, devo dizer…

A piada fica por conta dos termos de luta, visto que para o senhor Cooper os russos devem abandonar a imposição da sua vantagem relativa… Ele reclama da “barragem” de mísseis BVR[5]. O senhor Cooper parte do princípio de que os russos devem ser bonzinhos e que por isso devem gentilmente deixar os ucranianos a darem os seus tirinhos… Infelizmente a guerra não é travada com bondade. É doutrina reconhecida e aplicada por várias forças aéreas do mundo em combate BVR, impor ao inimigo os seus próprios termos e deixá-lo em posição defensiva. Ademais, o que se viu nos vídeos divulgados foram salvas de mísseis, algo comum num combate aéreo, principalmente quando você tem pela frente alvos múltiplos. Temos, então, a revelação de que o senhor Cooper nada sabe sobre combate BVR, ou desinforma, com plena consciência do que está a fazer.

O senhor Cooper, no entanto, é muito insistente nas suas lamúrias:

“Além disso, os caças russos nunca cruzam a linha de frente, então é inútil tentar atacá-los. Eles não estão no espaço aéreo controlado pela Ucrânia”.

Os russos devem voar desnecessariamente fora da sua cobertura AA, para dar aos ucranianos deprimidos uma chance ao menos… Vamos rir. Novamente a lamúria pelo fato de os russos ditarem os seus termos de combate. Em suas lágrimas o senhor Cooper parece não entender o mundo em que vive, talvez por considerar os russos incompetentes e incapazes. Convenhamos, é uma tática bem conhecida a de atrair inimigos para dentro do raio de ação das suas defesas antiaéreas. O senhor Cooper, suprema ironia, descreveu tais operações havidas no passado, em conflitos do Oriente Médio. Ao que parece o que é valido para sírios e israelenses não pode ser válido para os russos.

Como sabemos, Tom Cooper não é engenheiro, o seu saber sobre sistemas eletrônicos é enciclopédico. Quanto a isso tudo bem, mas para uma pessoa que precisa se apoiar no conhecimento alheio para produzir conteúdo, Cooper parece muito desenvolto e dado a falar demais:

“O problema é que a guerra eletrônica usa muita eletricidade. Tanto que os sistemas de bordo do Su-34 não permitem o pleno uso das capacidades teóricas de seu radar principal Leninets V-004. Não é de surpreender que a aeronave também não possa utilizar totalmente o SAP-14”.

Vamos lá… Se tem algo que não falta aos caças Sukhoy da chamada “Família Flanker” é a disponibilidade de energia para sistemas de bordo.  Sobra energia. O conjunto Su-35/Irbis-E impressiona em alcance justamente por sobrar energia para o sensor… Dizer que um Su-34 não consegue alimentar o seu radar embarcado não pode ser entendido como informação, mas como desinformação. Pior, dizer que um POD EW foi integrado, porém não é utilizado plenamente, é brincar com a inteligência do leitor, pois se um POD EW não pode ser utilizado na sua plenitude, então integrado não foi, não passa de carga inútil. Ademais, a informação emitida não pode ser comprovada, não passa duma desinformação plantada, portanto. Mais uma dentre tantas.

De fato, a entrevista do senhor Cooper prossegue em um cipoal de recriminações e lamúrias, todas elas despropositadas, afinal, apresentar-se como um analista objetivo de um conflito não significa que realmente é esta a intenção, seja o autor renomado, ou não. O que se percebe é a intenção clara de se plantar uma narrativa favorável a um dos lados, um eleito, Ucrânia, pouco importando para isso a realidade, expressa no mapa e nos acontecimentos.

A tendenciosidade é evidente, basta ver as lágrimas pelas mortes dos pilotos ucranianos… Ora, pois, não eram eles os vitoriosos, donos de uma força aérea praticamente intacta? Ou outros lamentos, quanto ao martelar massacrante da artilharia de campanha russa… Por acaso não recebeu a Ucrânia uma centena de obuseiros M-777, e outra vintena de PhZ-2000? Ah! Sim… Mais da metade dos obuseiros alemães retornaram para manutenção, avariados, devido ao uso intenso. O mesmo para os M-777 que não acabaram retorcidos no campo de batalha… Fica a pergunta: por que não abordar a fragilidade observada nos obuseiros de OTAN? Omite-se isso por fugir à narrativa desejada? Não é a função de um analista observar com seriedade e de maneira objetiva um conflito armado?

A verdade, caríssimo leitor, é que quando a vaidade se impõe é difícil buscar respostas calçadas na racionalidade. O problema da vaidade é que ela sempre encontra outra pelo caminho… Temos então, que a iniciativa do senhor Cooper em cobrir a guerra ucraniana, na qual ele reiteradamente publicou fantasias, tais como ataques helitransportados (que não ocorreram), presença (imaginária) de combatentes do Hezzbollah e vitórias aéreas inexistentes, apenas pode ser entendida como sendo fruto duma vaidade desmedida, se não isso, duma venalidade incontida, expressa na vontade de desinformar conscientemente. Disto resta saber qual das duas opções, vaidade ou venalidade, representa a motivação real destas publicações, que muito fizeram, diga-se, para arrasar e destruir toda a credibilidade amealhada anos e anos por Tom Cooper como autor de conteúdo.

Assim é a vida, alguns erros não são perdoáveis.

Notas:

[1]: VKS – Vozdushno Kosmicheskiye Sily, ou Força Aeroespacial Russa.

[2]: Wunderwaffe: – Arma maravilhosa, ou Arma milagrosa. Provém do alemão. Neste texto existem alusões jocosas, sendo elas: Ukroluftwaffe, para designar a força aérea ucraniana; Ukroheer, para designar o exército e Ukroreich, para designar o governo.

[3]: Izdeliye 305 – Produto 305 (tradução).

[4]: Tenente-Coronel Ilya Sizov: 11 vitórias aéreas alegadas até a presente data, a sua contagem consiste em: 03 Su-24, 03 Su-27, 02 MiG-29, 02-Mi-24, 01 Mi-8, além de duas baterias BuK M1. Condecorado com o Título de “Herói da Rússia por Coragem e Heroísmo”.

[5]: BVR – Beyond Visual Range (combate além do alcance visual).

Um retrato da intervenção russa na Síria

Autor: Pedro Paulo Rezende

Fonte: Arsenal – Geopolítica e Defesa

É inegável o impacto da intervenção russa, aprovada pelo Parlamento em Moscou no dia 30 de setembro de 2015, na Guerra Civil da Síria. Quando o processo teve início, em 1º de outubro de 2015, o regime sírio de Bashar Al Assad, de caráter laico, controlava pouco mais de 25% do território do país. O Estado Islâmico da Síria e do Levante dominava cerca de 30% e o restante estava dividido entre 12 grupos do que o Ocidente batizou de “oposição democrática”, formado, em sua enorme maioria, por facções religiosas sunitas bancadas financeiramente pelas monarquias absolutistas do Golfo Pérsico e apoiados por uma coalizão chefiada pelos Estados Unidos.

Hoje, 29 meses depois, os últimos focos de resistência nas proximidades de Damasco, a capital, foram eliminados no dia 21 de maio. Graças a acordos entre governo e opositores, os rebeldes são transportados por ônibus para uma faixa de 20% do território mantida, junto às fronteiras iraquiana e turca, graças ao suporte militar de Washington. A presença norte-americana tornou-se ainda mais problemática com a recente intervenção ordenada pelo presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, colocando em campos contrários os interesses de dois dos maiores integrantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Os focos de resistência opositores sob o alcance do regime sírio caem aos poucos em ações de cerco e o governo de Assad, legal e legítimo, controla a quase totalidade dos grandes centros econômicos do país.

É importante ressaltar que estes avanços ocorreram com o uso de forças extremamente limitadas. O contingente russo no país resume-se a 10 mil homens, a grande maioria, cerca de 8 mil, envolvido na proteção do porto de Tartus e do aeródromo de Khmeimim, bases que atuam no suprimento logístico e no suporte aéreo das operações militares.

Autossuficiência

Quando o processo de intervenção teve início, a pedido do governo sírio, os especialistas ocidentais garantiram que a Federação Russa não teria condições de manter o volume inicial de operações, devido às sanções econômicas determinadas pelos Estados Unidos e pela União Europeia como punição pela reincorporação da Crimeia, ocorrida em 2015.

A avaliação não levou em conta o potencial industrial e agrícola herdado da União Soviética. O país, hoje, retomou o crescimento, caminha para a autossuficiência e apresenta um índice de desemprego de apenas 5%. Além disto, ao manter uma presença limitada no Levante, a Rússia diminuiu o impacto da intervenção militar em sua economia. Para isto, investiu na reconstrução do Exército Árabe da Síria.

O primeiro passo envolveu a reposição dos equipamentos perdidos durante as ofensivas mantidas pelo Exército Islâmico e pelos grupos rebeldes. Foram transportadas mais de 4.000 unidades, que totalizaram 1.608.000 toneladas de carga, por meio de 342 navios e 2.278 voos. Unidades russas de manutenção e reparação instalaram a infraestrutura necessária para apoiar, manter e corrigir deficiências ou mau funcionamento nos equipamentos em instalações na base aérea de Khmeimim e no porto de Tartus.

Para reconstruir o potencial combativo do Exército Árabe da Síria, a Rússia entregou sistemas de ponta, como os carros de combate T-90U — que resistiram a impactos diretos de mísseis antitanques ocidentais como o MILAN, francês, e o TOW norte-americano — e o lança-foguetes TOS-1A Buratino, que emprega munições termobáricas. Ao mesmo tempo, deslocou especialistas para servirem de consultores às unidades sírias. Hoje, os comandantes de brigadas do país árabe contam com apoio direto de oficiais russos que auxiliam, em tempo real, no processo de tomada de decisões. Para isto, dispõem do apoio de aeronaves remotamente pilotadas e com pequenas unidades das melhores forças especiais da inteligência russa, equivalentes aos SEALS da Marinha estadunidense, que trabalham de forma independente em campo.

Com estas medidas simples e de certa forma baratas, o governo sírio conseguiu retomar o moral para lançar novas ofensivas contando com apoio aéreo efetivo oferecido pela Força Aérea e pela Marinha da Federação Russa. É preciso ressaltar que a oposição conta com fluxo constante de material ocidental e de origem soviética. Em reportagem publicada pelo jornal búlgaro Trud, a jornalista Dilyana Gaytandzhieva comprovou, por meio de documentos, o envio de armas búlgaras, tchecas e romenas para os rebeldes usando 350 voos classificados como mala diplomática. O equipamento, segundo a documentação, teria como destino o Arsenal de Picatinny, nos Estados Unidos.

Outro ponto ajudou o processo de reconstrução do Exército Árabe da Síria: a atuação desastrosa da chamada “oposição democrática” nas áreas que manteve sob seu controle. A imposição da Lei Islâmica, a Sharia, com a imposição do uso de véu às mulheres, ações agressivas contra minorias religiosas muçulmanas (alauíta, sufi e xiita) e cristã, como assírios e coptas, terminaram por minar o apoio popular e por favorecer o fluxo de voluntários dispostos a lutar por Bashar Al Assad, mas é óbvio que o fator predominante para a virada na Síria foi a eficiência do apoio aéreo oferecido pelos russos.

Apoio Aéreo

Empregando aviões, helicópteros e mísseis de cruzeiro, cerca de 40 mil missões foram realizadas desde o início da intervenção. A lista de equipamentos testados é extremamente abrangente e envolve, praticamente, todos os modelos de aviões de combate empregados pela Força Aérea e pela Marinha da Federação Russa. Neste processo, 215 diferentes tipos de armamentos modernos e avançados foram empregados durante a operação, inclusive o novíssimo caça furtivo Sukhoi Su-57. Capacidades foram reveladas surpreendendo o Ocidente. Quando pequenas corvetas de 500 toneladas de deslocamento que operam no Mar Cáspio atingiram, com mísseis de cruzeiro Kalibr, alvos na Síria, a Marinha dos Estados Unidos retirou temporariamente seu porta-aviões do Golfo Pérsico.

A Marinha, empregando, além das pequenas corvetas, submarinos convencionais e fragatas, disparou mais de 100 Kalibr. Ela também executou missões a partir do porta-aviões Almirante Kuznestsov, as primeiras da história da Rússia, atingindo 1.252 alvos terroristas.

Um ponto importante, pouco destacado pela mídia ocidental, foi o emprego de aeronaves remotamente pilotadas. O jornal israelense Haaretz destacou em um artigo, publicado em 2016, que um aparelho de pequeno porte invadiu, durante 30 minutos, o território das Colinas de Golan. Para neutralizá-lo foram disparados dois mísseis Patriot de fabricação norte-americana, que falharam. Um caça F-16 decolou e tentou engajar o alvo, que realizou manobras de evasão, aparentemente com o uso de inteligência artificial, e retornou incólume ao território sírio.

A intervenção utilizou bombardeiros estratégicos Tupolev Tu-160 e Tu-22M3 armados com mísseis Kh-101; caças-bombardeiros Sukhoi Su-24, Su-30 e Su-34; aviões de ataque Su-25 e helicópteros de ataque Mil Mi-35, Mi-28 e Kamov Ka-52. O total de perdas, menos de dez aeronaves e cerca de 200 homens (incluindo combatentes de terra), foi reduzido diante do volume de operações envolvido.

As unidades russas também enfrentaram desafios novos. As forças de oposição usaram enxames de drones armados com pequenas bombas explosivas para atacarem Khmeimim e o porto de Tartus. Nenhum deles atingiu o alvo. De um total de 14, oito foram derrubados por mísseis PANTSIR S-2. Usando sistemas de interferência, a defesa tomou o controle de seis drones, capturando-os. Ao acessarem os dados, verificaram, com surpresa, que estavam programados para atingirem milimetricamente, com a ajuda de GPS, alvos valiosos, como aviões de combate, o que prova o envolvimento de potências estrangeiras.

Para evitar problemas como os enfrentados pela OTAN durante a invasão de Kosovo, quando os estoques de armas inteligentes da Coalizão praticamente se esgotaram, os pilotos russos treinam para usar armas convencionais com grande precisão. Este approach tem dado certo e o total de baixas colaterais se assemelha ao verificado em ataques com equipamentos guiados realizados pela Aliança Ocidental na Síria, uma prova de que o homem pode superar a máquina.

Nota do Editor do Blog DG:  Pedro Paulo Rezende é um veterano jornalista, especializado em Defesa e Geopolitica.

Uma ameaça elucidativa

Por: César A. Ferreira

No campo das relações humanas as ameaças podem incutir muitos significados, desde o aviso literal de uma intenção, em geral agressiva, até a dissimulação de uma vontade, desejo oculto, ou fraqueza. Muito frequentemente oculta o temor, ou a impotência sentida. Ademais se mostra reveladora, também, do estado emocional do emitente.

A ameaça é uma revelação de uma intenção agressiva, doutra forma não seria uma ameaça, não por outro motivo costuma ser algo bastante raro no trato diplomático por motivos óbvios, visto que usar mão de ameaças significa rudeza. Ademais, chefes de governo emprestam um peso grande caso verbalizem uma ameaça… Pois, independente disto, a Ministra da Justiça do Estado de Israel, do nada, emitiu uma ameaça explícita endereçada à pessoa do Presidente da Federação Russa, Vladimir Putin. Este absurdo diplomático cometido pela Senhora Ayelet Shaked continha as seguintes palavras:

“Se Putin quer sobreviver, ele deve manter suas forças armadas fora da Síria”

É difícil entender o motivo de um Ministro de Estado cometer tamanho desatino. Ayelet Shaked é uma mulher jovem, com formação acadêmica em Engenharia de Sistemas (TI), e alçada ao Ministério da Justiça por ser uma estrela em ascensão no cenário politico israelense, neste contexto é possível especular que a senhora Shaked esteja verbalizando o sentimento existente no seio do poder israelense em relação à Federação Russa e suas ações na Síria, focado no seu líder.

De fato a intervenção russa na Síria mudou o rumo da guerra contra os jihadistas, colocando o governo sírio no trilho da vitória. A derrota dos extremistas significa por extensão a derrota das monarquias do golfo pérsico, das agências de inteligência ocidentais, notadamente da CIA, bem como de Israel, que muito investiu nestes guerreiros do terror islâmico.

Uma prova clara disto é o atendimento médico de extremistas no Ziv Medical Center, hospital israelense que é referência para tratamento de traumas por armas de fogo. O empenho israelense em apoiar os terroristas foi flagrado pelo jornalista Sharri Markson, do veículo News Corp, cuja descoberta foi robustecida posteriormente por outros relatos. Outra evidência do apoio israelense aos terroristas sírios é a captura de instrutores israelenses em Aleppo, bem como da morte de uma quinzena de “instrutores militares” devido a um ataque com mísseis de cruzeiro (Kalibr). Isto, sem falar nos constantes ataques aéreos a Damasco, realizados sempre a partir da fronteira de Israel, além das incursões aéreas dentro do território sírio.

Apesar de frustrar as intenções israelenses no tocante à Síria, a Federação Russa não é um estado hostil a Israel, pelo contrário, as relações politicas e diplomáticas até aqui se apresentam como muito boas, embaladas pela presença de aproximadamente 15% de russos na composição populacional de Israel. O governo israelense conta com apoio russo para o estabelecimento de um acordo de livre comércio entre Israel e a União Econômica Euroasiática, Uma forma óbvia de ampliação de mercados. A pergunta que se impõe é o motivo pelo qual Israel insiste em agredir um parceiro importante em termos políticos e econômicos. A resposta pode ser mais simples do que o pensamento usual: Israel acostumou-se a ser assim. arrogante. Por estar cercado por vizinhos que despreza, Israel atrofiou a sua diplomacia, visto que na região age com apoio explícito dos EUA e seja qual for a demanda, nada mais faz além do uso da força.

Ora, ora… Quando não se pode usar a força plenamente, o que resta além da ameaça?