Um retrato da intervenção russa na Síria

Autor: Pedro Paulo Rezende

Fonte: Arsenal – Geopolítica e Defesa

É inegável o impacto da intervenção russa, aprovada pelo Parlamento em Moscou no dia 30 de setembro de 2015, na Guerra Civil da Síria. Quando o processo teve início, em 1º de outubro de 2015, o regime sírio de Bashar Al Assad, de caráter laico, controlava pouco mais de 25% do território do país. O Estado Islâmico da Síria e do Levante dominava cerca de 30% e o restante estava dividido entre 12 grupos do que o Ocidente batizou de “oposição democrática”, formado, em sua enorme maioria, por facções religiosas sunitas bancadas financeiramente pelas monarquias absolutistas do Golfo Pérsico e apoiados por uma coalizão chefiada pelos Estados Unidos.

Hoje, 29 meses depois, os últimos focos de resistência nas proximidades de Damasco, a capital, foram eliminados no dia 21 de maio. Graças a acordos entre governo e opositores, os rebeldes são transportados por ônibus para uma faixa de 20% do território mantida, junto às fronteiras iraquiana e turca, graças ao suporte militar de Washington. A presença norte-americana tornou-se ainda mais problemática com a recente intervenção ordenada pelo presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, colocando em campos contrários os interesses de dois dos maiores integrantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Os focos de resistência opositores sob o alcance do regime sírio caem aos poucos em ações de cerco e o governo de Assad, legal e legítimo, controla a quase totalidade dos grandes centros econômicos do país.

É importante ressaltar que estes avanços ocorreram com o uso de forças extremamente limitadas. O contingente russo no país resume-se a 10 mil homens, a grande maioria, cerca de 8 mil, envolvido na proteção do porto de Tartus e do aeródromo de Khmeimim, bases que atuam no suprimento logístico e no suporte aéreo das operações militares.

Autossuficiência

Quando o processo de intervenção teve início, a pedido do governo sírio, os especialistas ocidentais garantiram que a Federação Russa não teria condições de manter o volume inicial de operações, devido às sanções econômicas determinadas pelos Estados Unidos e pela União Europeia como punição pela reincorporação da Crimeia, ocorrida em 2015.

A avaliação não levou em conta o potencial industrial e agrícola herdado da União Soviética. O país, hoje, retomou o crescimento, caminha para a autossuficiência e apresenta um índice de desemprego de apenas 5%. Além disto, ao manter uma presença limitada no Levante, a Rússia diminuiu o impacto da intervenção militar em sua economia. Para isto, investiu na reconstrução do Exército Árabe da Síria.

O primeiro passo envolveu a reposição dos equipamentos perdidos durante as ofensivas mantidas pelo Exército Islâmico e pelos grupos rebeldes. Foram transportadas mais de 4.000 unidades, que totalizaram 1.608.000 toneladas de carga, por meio de 342 navios e 2.278 voos. Unidades russas de manutenção e reparação instalaram a infraestrutura necessária para apoiar, manter e corrigir deficiências ou mau funcionamento nos equipamentos em instalações na base aérea de Khmeimim e no porto de Tartus.

Para reconstruir o potencial combativo do Exército Árabe da Síria, a Rússia entregou sistemas de ponta, como os carros de combate T-90U — que resistiram a impactos diretos de mísseis antitanques ocidentais como o MILAN, francês, e o TOW norte-americano — e o lança-foguetes TOS-1A Buratino, que emprega munições termobáricas. Ao mesmo tempo, deslocou especialistas para servirem de consultores às unidades sírias. Hoje, os comandantes de brigadas do país árabe contam com apoio direto de oficiais russos que auxiliam, em tempo real, no processo de tomada de decisões. Para isto, dispõem do apoio de aeronaves remotamente pilotadas e com pequenas unidades das melhores forças especiais da inteligência russa, equivalentes aos SEALS da Marinha estadunidense, que trabalham de forma independente em campo.

Com estas medidas simples e de certa forma baratas, o governo sírio conseguiu retomar o moral para lançar novas ofensivas contando com apoio aéreo efetivo oferecido pela Força Aérea e pela Marinha da Federação Russa. É preciso ressaltar que a oposição conta com fluxo constante de material ocidental e de origem soviética. Em reportagem publicada pelo jornal búlgaro Trud, a jornalista Dilyana Gaytandzhieva comprovou, por meio de documentos, o envio de armas búlgaras, tchecas e romenas para os rebeldes usando 350 voos classificados como mala diplomática. O equipamento, segundo a documentação, teria como destino o Arsenal de Picatinny, nos Estados Unidos.

Outro ponto ajudou o processo de reconstrução do Exército Árabe da Síria: a atuação desastrosa da chamada “oposição democrática” nas áreas que manteve sob seu controle. A imposição da Lei Islâmica, a Sharia, com a imposição do uso de véu às mulheres, ações agressivas contra minorias religiosas muçulmanas (alauíta, sufi e xiita) e cristã, como assírios e coptas, terminaram por minar o apoio popular e por favorecer o fluxo de voluntários dispostos a lutar por Bashar Al Assad, mas é óbvio que o fator predominante para a virada na Síria foi a eficiência do apoio aéreo oferecido pelos russos.

Apoio Aéreo

Empregando aviões, helicópteros e mísseis de cruzeiro, cerca de 40 mil missões foram realizadas desde o início da intervenção. A lista de equipamentos testados é extremamente abrangente e envolve, praticamente, todos os modelos de aviões de combate empregados pela Força Aérea e pela Marinha da Federação Russa. Neste processo, 215 diferentes tipos de armamentos modernos e avançados foram empregados durante a operação, inclusive o novíssimo caça furtivo Sukhoi Su-57. Capacidades foram reveladas surpreendendo o Ocidente. Quando pequenas corvetas de 500 toneladas de deslocamento que operam no Mar Cáspio atingiram, com mísseis de cruzeiro Kalibr, alvos na Síria, a Marinha dos Estados Unidos retirou temporariamente seu porta-aviões do Golfo Pérsico.

A Marinha, empregando, além das pequenas corvetas, submarinos convencionais e fragatas, disparou mais de 100 Kalibr. Ela também executou missões a partir do porta-aviões Almirante Kuznestsov, as primeiras da história da Rússia, atingindo 1.252 alvos terroristas.

Um ponto importante, pouco destacado pela mídia ocidental, foi o emprego de aeronaves remotamente pilotadas. O jornal israelense Haaretz destacou em um artigo, publicado em 2016, que um aparelho de pequeno porte invadiu, durante 30 minutos, o território das Colinas de Golan. Para neutralizá-lo foram disparados dois mísseis Patriot de fabricação norte-americana, que falharam. Um caça F-16 decolou e tentou engajar o alvo, que realizou manobras de evasão, aparentemente com o uso de inteligência artificial, e retornou incólume ao território sírio.

A intervenção utilizou bombardeiros estratégicos Tupolev Tu-160 e Tu-22M3 armados com mísseis Kh-101; caças-bombardeiros Sukhoi Su-24, Su-30 e Su-34; aviões de ataque Su-25 e helicópteros de ataque Mil Mi-35, Mi-28 e Kamov Ka-52. O total de perdas, menos de dez aeronaves e cerca de 200 homens (incluindo combatentes de terra), foi reduzido diante do volume de operações envolvido.

As unidades russas também enfrentaram desafios novos. As forças de oposição usaram enxames de drones armados com pequenas bombas explosivas para atacarem Khmeimim e o porto de Tartus. Nenhum deles atingiu o alvo. De um total de 14, oito foram derrubados por mísseis PANTSIR S-2. Usando sistemas de interferência, a defesa tomou o controle de seis drones, capturando-os. Ao acessarem os dados, verificaram, com surpresa, que estavam programados para atingirem milimetricamente, com a ajuda de GPS, alvos valiosos, como aviões de combate, o que prova o envolvimento de potências estrangeiras.

Para evitar problemas como os enfrentados pela OTAN durante a invasão de Kosovo, quando os estoques de armas inteligentes da Coalizão praticamente se esgotaram, os pilotos russos treinam para usar armas convencionais com grande precisão. Este approach tem dado certo e o total de baixas colaterais se assemelha ao verificado em ataques com equipamentos guiados realizados pela Aliança Ocidental na Síria, uma prova de que o homem pode superar a máquina.

Nota do Editor do Blog DG:  Pedro Paulo Rezende é um veterano jornalista, especializado em Defesa e Geopolitica.

Foi revelado para Israel quem é o principal ator da região

O fim da hegemonia de Israel – perdeu um avião no céu sobre a Síria e apelou para Moscou para a salvação dos iranianos.

Autor: Pokrovsky, Alexander

Fonte: Tsargrad. Tv

Tradução: Alexey Thomas Filho

Não, Israel não perdeu fisicamente. A perda de uma aeronave é desagradável, mas não é um absurdo. Tel Aviv tem muitos deles… Israel perdeu moralmente.

Aproximadamente, é possível descrever não tanto os aspectos militares quanto o quadro psicológico/ militar que se desenvolveu no Oriente Médio após este fim de semana. Tal imagem poderia ser chamada geopsicológica, por analogia com geopolítica, quando, em termos formais, nada mudou no confronto dos lados em guerra, mas a imagem psicológica desse confronto tornou-se fundamentalmente diferente.

Batalha aérea no céu sobre a Síria

O que aconteceu? De acordo com o exército israelense, eles interceptaram na noite de sábado um drone iraniano que alegadamente invadiu o espaço aéreo de Israel no território da Síria.

Aqui, deve-se notar,  entre aspas, que a Síria não tem uma “fronteira comum” com Israel. Os limites são divididos pelas Colinas de Golan – território ocupado por Israel, que foi proclamado como seu, unilateralmente, mas reconhecido pelo mundo inteiro como território da Síria ocupado por Israel.

Também se deve notar que a Síria, adjacente ao Golan Heights, ocupada por Israel, acolhe vários grupos hostis a Damasco, incluindo a organização IG / IGIL (EI – Estado Islâmico), proibida na Rússia e no mundo pelo terrorismo. Todos eles estão sob controle óbvio e sob a capa protetora de Israel, que repetidamente bombardeou as forças do governo de Damasco, impedindo que os terroristas eliminados das áreas que ocuparam nas províncias de Deraa e Kuneitra.

Portanto, os drones iranianos não poderiam invadir o território de Israel. Muito provavelmente – embora os iranianos geralmente neguem a sua existência -, o aparelho estava realizando o reconhecimento das posições do IG (EI – Estado Islâmico), contra  o qual o grupo Hezbollah, que está sob o controle do Irã e do governo sírio – aliado ao legítimo governo sírio, está conduzindo uma luta irreconciliável.

Israel, de acordo com sua própria versão, realizou um ataque de “retaliação”, derrubando drones e atacando os “alvos iranianos” na Síria. É desta maneira que é denominada a base T4 “Tiyas” perto de Palmyra – 300 km adentro no território sírio. Foguetes (mísseis balísticos táticos) foram também dispados contra baterias antiaéreas na proximidade de de Damasco, que são considerados alvos “iranianos” por Israel…

Isso aconteceu muitas vezes, como se diz em Jerusalém, mais de uma vez. Parece ser formalmente, o suficiente, mas na verdade, até então, a fraca defesa aérea da Síria não tinha como resistir aos atos aéreos israelenses por um longo período de tempo. E até mesmo quando um caso relativamente recente, onde supostamente uma ave migratória danificou o super-moderno e super-implacável F-35 israelense, o comando judaico não se atentou (alertou-se).

Mas desta vez, deu-se o inesperado, uma verdadeira “resposta” séria chegou: as forças de defesa aérea da Síria lançaram vários mísseis contra as aeronaves israelenses. Como resultado, um F-16 foi derrubado e caiu no território de Israel. Os pilotos ejetaram, mas um deles veio a falecer em função dos ferimentos sofridos.  Além disso, os sírios anunciaram que atingiram e danificaram outras aeronaves de Israel, mas, aqui o fator Oriente entra em jogo e como é sabido, é praticamente impossível estabelecer de fora alguma confirmação que seja. Israel, em qualquer caso, silencia-se sobre este assunto – o que, no entanto, também pode ser explicado pelo mesmo fator Oriente.

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Destroços do F-16I Sufa abatido. Imagem: Reuters.

Quanto ao que exatamente “desbancou” os pilotos também diferem em versões.  De acordo com uma fonte, estes eram mísseis do complexo S-200, de acordo com outras, um dos mísseis do sistema “Pantsir-S1”, que foram transferidos recentemente para o exército sírio. Figuram, também, o sistema “BuK” como um dos heróis dos eventos. Alguns até indicam o S-400, mas isto é, na opinião geral dos observadores militares, improvável. Não no espírito, não no costume e não nos interesses. A menos que os capitães da defesa aérea síria Al-Ekseya. Mas, sem tal força maior, estava na ordem das coisas.

De qualquer forma, os restos de mísseis do S-200 foram encontrados no território da Jordânia e do “BuK” – no vale Bekaa no Líbano.

Um hooligan desdentado apelou para a polícia

Não, inicialmente caindo no estado de “anestesia” advinda da reação inesperadamente eficaz, Israel entrou em colapso nervoso encetando poderosos ataques às posições da defesa aérea síria e iraniana (na Síria). Os subúrbios ocidentais de Damasco foram submetidos a bombardeios. O resultado das invasões (três, de acordo com fontes locais) é novamente contraditório, mas, segundo alguns relatórios, outro vetor israelense foi abatido – helicóptero de ataque “Apache”. A autenticidade da mensagem é a mesma do leste.

Imediatamente, um alarme foi disparado em Israel, os habitantes do Golã foram enviados para abrigos, as decolagens e o desembarque de civis foram suspensos no aeroporto internacional Ben Gurion. Esta é uma evidência clara de que, em primeiro lugar, Tel Aviv, considerou seriamente a possibilidade de uma maior escalada das hostilidades, tanto contra a Síria como contra o Irã. A propósito, de acordo com os analistas, independentemente das ações concretas no futuro próximo, as partes se tornaram, em qualquer caso, em um ponto de inflexão histórica. Ou seja, o caminho para a perda da supremacia incondicional dos judeus no ar (excluindo o fator da Rússia, é claro) e o fortalecimento adicional da defesa aérea árabe e persa, significa, a retomada desta mesma dominação pela exclusão.

Em qualquer caso, do “voo” do “corvo” que danificou o F-35, ao realmente abatido F-16 passou-se um intervalo bastante rápido – alguns meses. E se os sírios – e, portanto, os iranianos – vierem a fechar completamente seus céus ao inimigo, significará uma mudança tectônica nas forças de todo o Oriente Médio. E caso os EUA não possam evitar que os seus aliados no Golfo comprem os sistemas S-400 da Rússia, então a configuração de todo o puzzle de energia na região poderá ser reformatada radicalmente.

Alguns analistas acreditam que, após o incidente atual, os americanos serão mais difíceis de jogar com as sanções: se o S-200, originários da década de 1960 abatem os F-16, o que o S-400 poderia fazer com os aviões israelenses?

É muito provável que em Israel, calculou-se muito rapidamente as consequências, em longo prazo, da atual batalha nos céus da Síria. Porque o “hooligan” decidiu reclamar à “polícia” sobre o comportamento ofensivo da vítima pretendida.

Em outras palavras, Israel se voltou para a… Rússia! Com um pedido para intervir e prevenir a escalada da “violência“. “Israel contatou os funcionários em Moscou com um pedido para transmitir a mensagem à Síria e ao Irã que, apesar de ter dado um poderoso golpe em resposta ao incidente com o drone, ele não está interessado em agravar a violência no futuro”, informou o jornal Times, com referências as fontes diplomáticas de Israel.

Claro, havia outras vozes. Conhecida por seus links com os círculos militares e de inteligência, o portal DEBKAfile acena com os punhos: “os mísseis de defesa aérea sírios que atingiram o F-16 israelense no sábado, 10 de fevereiro, fazem parte de um sistema administrado pelos russos a partir de sua base aérea Khmeimim”.

Bem, como você gostaria? Vamos questionar-lhes: o que você faz no céu da Síria, que tem um acordo de cooperação com a Rússia, incluindo o militar? Sim, vamos adicionar: por que, de fato, você está defendendo os bandidos ISIS (EI – Estado Islâmico) perto das Colinas de Golan, enquanto perde os vetores aéreos?

De qualquer maneira, o apelo a Moscou se deu. E a partir disto não houve continuação de ataques contra as posições das forças iranianas na Síria. E o Irã engrandeceu-se, muito. Não só anunciou que “a era dos ataques israelenses impunes na Síria terminou”, mas também prometeu que “as portas do inferno se abrirão sobre Israel”.

O mediador para a resolução da situação, àquele para o qual se apela para que a luta não chegue ao extremo, por padrão geral tem por escolha, Moscou. Tornou-se para todos no Oriente Médio uma espécie de policial militar.

Nota do Editor do Blog Debate Geopolítico: Ainda está nebuloso, no tocante aos vetores empregados contra o F-16I (Sufa), mas os debris, ou seja, partes do booster de um S-125 (Pechora) foram encontrados em solo libanês, além de partes de um vetor do sistema S-200. Alega a defesa antiaérea síria que os vetores 57E6 do sistema Pantsyr-S1 abateram vários mísseis táticos lançados contra alvos militares e civis em território sírio. As alegações da defesa aérea síria compreendem além do F-16I Sufa, abatido, outro F-16, um F-15I e um AH-64 “Apache”. Israel nega tais alegações e reconhece a perda do único F-16, pelo fato simples de que não é possível negar os destroços fumegantes ao lado de uma rodovia, aos olhos de todos e dos respectivos celulares.

Iron Dome: entre falhas e acertos

Por: César A. Ferreira

É natural uma nação ter orgulho das suas realizações e que se dê ao exagero quando dá publicidade das capacidades presentes nestas mesmas realizações, principalmente se estas provêm do campo militar. Algumas nações exageram demasia e entre estas se encontra Israel e o seu sistema antimísseis “Iron Dome”… O sistema possui como vetor o míssil Tamir e está destinado a dar conta de munições no seu trajeto terminal. O alcance efetivo do vetor é curto, cerca de 10 km, adequado a sua função de defesa crítica de último nível. Até aqui, tudo bem. O que não está bem, como bem já demonstrou o diário israelense Haaretz, é a alegada taxa de sucesso do sistema, apontada como de 90% segundo o fabricante, a Rafael Advanced Defense System, dado que a informação de 90% de interceptações com sucesso é fornecida como usual em ambiente de fogo saturado. Somam-se a isto as declarações jamais confirmadas de que o sistema foi responsável por 400 abates de ogivas inimigas, disparadas pelo grupo Hamas contra concentrações habitacionais de Israel. Pois, pois…

As sirenes “Tseva HelI” soaram e os vetores de interceptação foram lançados bloqueando o ataque de foguetes realizado pelos resistentes palestinos da Faixa de Gaza em direção ao aglomerado habitacional de Kafar Aze. A cidade mostra danos de monta em edifícios cuja causa foram os foguetes lançados pelos resistentes palestinos. A comunicação oficial é de que não houve casualidades em função do ataque palestino e que os ataques dirigidos aos assentamentos de Shaar Hanegev e Sdot Negev foram rechaçados, não houve alusão aos danos em Kafar Aze…

O fato é que não existe e jamais existirá percentual absoluto de sucesso em qualquer sistema antimíssil, e que a taxa de sucesso dependerá de quão saturado estará este mesmo sistema defensivo. Agora, caro leitor, transporte isto para um sistema ABM e você terá a resposta da sanidade de quem deposita confiança total em tais sistemas, que deverão ser os alegados escudos contra ataques nucleares…

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Pantsyr S1 em ação. Imagem: Site Defesa Aérea & Naval.

Patsyr S-1 testado mais uma vez em combate

Desenvolvido para prover proteção de camada de último nível para formações militares terrestres da Federação Russa, o sistema Pantsyr S1, que conta como vetor principal o míssil 57E6, contou mais de uma vez com sucesso pleno em interceptar foguetes lançados contra a base aérea russa na Síria, Khemeimin. No dia 27 de dezembro este sistema teria dado conta de foguetes disparados contra a base desdobrada de Bdama, na província de Idlib, quando dois foguetes foram abatidos, conforme informa a senhora Maria Zakharova, oficial representante do Ministério das Relações Exteriores da Federação Russa.

As armas utilizadas pelos terroristas são foguetes de saturação de área pertencentes ao sistema “Grad”. Proveniente da Bulgária, são obtidos pelos terroristas em áreas dominadas pelos EUA na Síria, cujo serviço de inteligência abastece os extremistas com propósito óbvio de manter a desestabilização da Síria como nação.

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S-400 na neve. Imagem: internet.

S-400

Enquanto isso outro sistema é notícia, o S-400… A Turquia e a Federação Russa acertaram como meio de pagamento a moeda nacional desta última, o Rublo. Desta maneira evita-se o rastreio do envio do montante pelo sistema bancário internacional caso este fosse efetivado via USD, bem como qualque3r restrição advinda, como sequestro, ou bloqueio de crédito ou do valor propriamente dito. A Rússia financiará em sua moeda nacional a venda deste sistema e deverá ser ressarcida na sua própria moeda nacional evidenciando desta maneira uma fuga do dólar como meio internacional de pagamentos. Um detalhe desta negociação é que a Turquia poderá compensar os russos com moeda de terceiros países, que vale dizer com o Yuan/Renmibi como referência.

Nota do Editor: ABM – Anti Ballistic Missile.

A prática geopolítica brasileira no após golpe

Por: César A. Ferreira

Agora que o pedido de impeachment está entregue e deverá tramitar no Senado Federal, casa onde o governo de Dilma Vana Rousseff não possui os votos necessários, dado que hoje, com segurança, não exibe o governo mais do que 20 votos, fica a pergunta que interessa a uma página que discute geopolítica: como será a política externa vindoura? Para que lado penderá Temer?

Para se poder entender a visão de mundo que deverá assumir, basta perceber o rol especulativo sobre os titulares da área econômica. O nome mais citado é o de Armínio Fraga, isto sugere uma opção por colaboração estreita com o mercado de capitais. Portanto, por extensão, maior influência dos EUA, que nunca foi pouca, diga-se. Se levarmos em consideração a presença brasileira no bloco BRICS, que já frutificou iniciativas importantes como o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, em inglês – Asian Infrastructure Investiment Bank, AIIB; do qual o Brasil se configura como sócio fundador, teremos uma interessante mudança de orientação externa, visto que apesar de jamais comentado, sabe-se, que os EUA consideram como maior ameaça ao seu status quo a proeminência financeira da China, que não esconde a sua intenção de fazer do Yuan (Renmibi) uma moeda de referência. Os norte-americanos tomam as iniciativas chinesas como um desafio ao dólar, o que de fato é. Para se ter uma ideia da tensão havida basta lembrar que o pivô desencadeante da invasão ao Iraque não foi outra coisa do que a decisão de Saddam Hussein de aceitar euros e ouro, além do dólar, como pagamento pelas cotas permitidas pela ONU para exportação de petróleo.

O alinhamento com Wall Street poderá resultar em mudanças substanciais, tal como a revisão do regime de extração das reservas petrolíferas do Pré-Sal, que podem mudar do regime de partilha para o de concessão de área, afrouxamento das leis de proteção do trabalho e de telecomunicações. O protagonismo do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social deverá minguar, principalmente os financiamentos para projetos fora das fronteiras brasileiras, o que deverá afetar diretamente a influência do Brasil perante aos seus vizinhos, sul-americanos e da América Central, alvos prioritários na projeção das empresas brasileiras exportadoras de serviços de engenharia. A operação judicial-midiática Lava-Jato, apesar de não poder ser apontada diretamente como responsável é de fato o evento determinante para o recuo que já se observa, visto que atinge diretamente o polo econômico a ser beneficiado pela expansão: as grandes construtoras brasileiras. Por isto, não será surpresa alguma que os nichos de mercados sejam ocupados por chineses, na África; norte-americanos e canadenses na América Latina.

Por fim, no campo militar, um maior alinhamento com os EUA e demais nações da OTAN é mais do que esperado, mesmo porque este alinhamento sempre perdurou. Poucas foram as iniciativas em busca de fornecedores extra-OTAN, que podem ser contadas nos dedos: helicópteros de ataque Mi-35M, misseis MANPAD 9K38 Igla, além de material bélico sueco, que para todos os efeitos não configura um fornecedor “politicamente hostil” aos EUA. Acredita-se, portanto, que se o governo Dilma Rousseff por algum motivo não assinar o contrato para a aquisição das anunciadas três baterias dos sistema anti-aéreo Pantsyr S-1, nos dias próximos, este jamais será assinado. É uma especulação, sem dúvida alguma, mas como tudo que se observa nestes dias é o que pode ser feito na falta de algo melhor do que uma bola de cristal.

Pantsyr S-1 para o Brasil

Esta matéria foi redigida originalmente para o site Portal Defesa, publicada como destaque em 14/07/2014. De lá para cá tivemos o adiamento da aquisição deste sistema para o ano de 2016, bem como nota do Ministério da Defesa afirmando a manutenção do interesse na aquisição deste meio. A matéria do Portal Defesa permanece no ar e conta com maiores ilustrações, o link é o que segue: Portal Defesa – Pantsyr S1 para o Brasil.

 

Por: César A. Ferreira

O Embaixador da República Federativa do Brasil junto à Federação Russa, Antônio José Valim Guerreiro, anunciou (09/07/2014) que o Brasil irá adquirir o sistema de defesa antiaérea de origem russa Pantsyr S-1. A declaração do referido embaixador, deu-se quando instado pela agência “Interfax” sobre a visita do dignitário da Federação Russa, Vladmir Putin ao Brasil, que deverá ocorrer em breve em função do encontro dos BRICS; encontro este a ser realizado em Fortaleza no dia 14 próximo. Textualmente seguem as declarações do Embaixador Antônio José Valim Guerreiro à Agência Interfax: “A decisão sobre a compra desses sistemas antiaéreos da Rússia já foi tomada (…) o contrato de provisão dessas armas poderia ser assinado já este ano (…) e é provável que o mesmo saia antes de outubro ou novembro”.

 

O Brasil iniciou as negociações em vista da aquisição de baterias russas, notadamente do sistema Pantsyr S-1, em 2012. Para tanto houve o envio de comissões para observar in loco o desempenho deste sistema, contando inclusive com disparo reais, onde se apurou o acerto em todos os ensaios (acertos da ordem de 100%). Devem ser adquiridas três baterias, na forma de 13 veículos lançadores, 6 veículos de apoio, 3 veículos de manutenção, 3 veículos de manutenção eletrônica, 3 veículos de manutenção mecânica, 3 veículos transportadores de peças, 3 unidades de ajuste, um conjunto para equipamentos de teste e um simulador outdoor. Soma-se a aquisição de 288 unidades de mísseis 57E6-E e 37.000 cartuchos de calibre 30mm (30 x 165mm).

Os veículos serão distribuídos entre as três forças singulares: Exército Brasileiro, Força Aérea Brasileira e Marinha do Brasil. Com capacidade de atingir alvos até 22 km de distância e 15 km de altura, este sistema deverá compor o Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (COMDABRA).

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Pantsyr S1, entregue ao Exército Nacional do Iraque. Foto: internet.

O que é o Sistema Pantsyr S-1?

O sistema de defesa aérea Pantsyr S-1 é um esforço da Federação Russa para prover a defesa crítica, ou aproximada, à suas instalações de importância tática e/ou estratégica, bem como à proteção de baterias de defesa antiaérea/antimíssil de longo alcance S-300, S-400 e futuramente o S-500. A sua capacidade para disparo em movimento também o qualifica para proteção de colunas blindadas em marcha. Devido a sua função de última barreira, possui uma capacidade inequívoca de pronto emprego, caracterizada na utilização do binômio míssil ágil e canhão de alta cadência. Possui 12 mísseis 57E6-E contidos em contêineres cilíndricos em posição para pronto disparo e dois canhões de 30mm. Os mísseis podem ser disparados com intervalos de 4 segundos entre si, sendo efetivos contra alvos da ordem de 1000 m/s (Mach 3, ou mais especificamente, cerca de 3.600 km/h ou 1 km por segundo), já os canhões de 30mm são efetivos contra alvos aéreos e terrestres (dupla função). O sistema é conteirado, ou seja, os contêineres com os mísseis, e os canhões, são apontados para a direção de onde provém a ameaça.

Como sistema o Pantsyr S-1 é autônomo, funcionando como se fosse uma bateria independente por veículo, incorporando neste a capacidade de varredura e detecção primária, detecção secundária, acompanhamento e/ou modo optrônico, seleção de fogo e iluminação de alvos, gerador próprio, estação de comando/comunicação/controle e plataforma de deslocamento. Com tudo isto em um só veículo, não é de se espantar que o tamanho seja grande – enorme melhor dizendo, exigindo uma plataforma 8×8 e apresentando um peso quando pronto para combate da ordem de 34 toneladas. Em contrapartida tem-se a facilidade e rapidez de deslocamento, algo visto como essencial na atual doutrina russa, onde posição fixa, ou a demora em levantar a bateria para rebocá-la de sua posição, é vista pelos doutrinadores como uma sentença de morte para a unidade de defesa antiaérea. Além disto, dado o fato de que a unidade pode receber e transmitir através de enlace de dados, ela pode atuar, dentre outras maneiras, em “silêncio eletrônico”, ou seja, sem emissão de ondas no espectro eletromagnético. Assim, se por acaso a unidade em questão for anulada, ou seja, suprimida pela ação do inimigo, as demais continuam ativas em sua rede de defesa, pois o conceito prevê a maior independência possível de cada viatura de lançamento dentro da disposição em camadas da rede defensiva dos sistemas antiaéreos.

Um breve comentário sobre a disposição “camadas” de um sistema defensivo antiaéreo

Disposição em camadas é um conceito russo para organizar a forma de combater das divisões de defesa antiaéreas das suas forças. Consiste em dispor de maneira concêntrica os sistemas defensivos, com o sistema de longo alcance no centro, protegido pelo de médio e curto alcance, sendo todos eles autopropulsados para rápida mobilidade. As baterias são posicionadas em campo na forma de rede, sem observar simetria, sendo a vigilância exercida por radares de campo, muitos deles operando na faixa VHS do espectro para detecção de alvos stealth, com o intuito de evitar que as baterias facilitem, com as suas emissões, a detecção, rastreamento e ataque, por parte do inimigo, das suas posições. Dessa maneira, o sistema defensivo acaba por aparentar uma disposição que lembra as camadas de uma cebola, onde a camada externa se refere ao alcance máximo dos sistemas de defesa de longo alcance, a seguinte dos de médio e a terceira os sistemas de curto alcance, caso o atacante consiga chegar até o alvo.

 A disposição, todavia, não necessita ser simétrica, podendo ser espalhada pelo campo de acordo com o entendimento do comando, de tal maneira que um atacante pode vir a enfrentar sistemas táticos de alcances médios e/ou de curto alcance e grande agilidade, enquanto esperava estar no limite do sistema de defesa antiaéreo estratégico (de longo alcance). A constante mudança de sítios, mobilidade e assimetria da disposição em campo evita dar ao inimigo a facilidade e o conforto de um modo estereotipado de agir, pois consideram os pensadores russos que uma defesa antiaérea que se torne previsível, sem disciplina de emprego, acaba por se tornar uma presa da força aérea atacante, já que esta tem a grande vantagem de escolher os termos do combate, ou seja, de como e onde combater. O conceito que sustenta a “disposição em camadas”, portanto, é o de apoio mútuo entre os sistemas antiaéreos que o compõem.

No tocante ao sistema Pantsyr S-1, este é considerado um sistema de defesa crítico, devido a sua rapidez de resposta e ao manobrável e ágil míssil 57E6-E. Seria, portanto, um sistema de defesa aproximado dentro do conceito russo de defesa em camadas. No contexto brasileiro será um sistema de defesa de alcance médio, isto devido ao seu alcance-limite, que é da ordem de 22 km.

Nascimento

É quase um lugar comum que o Pantsyr S-1 seja considerado como sucessor do 2K22 Tunguska, impressão que se reforça devido ao emprego conjunto mísseis/canhões. De fato o Pantsyr nasceu da necessidade observada pelos artilheiros soviéticos, de que seria desejável um alcance maior, tanto de detecção como do limite da arma principal do sistema, ou seja, o míssil. Isto é devido à avaliação de que os sistemas críticos deveriam enfrentar ameaças mais intensas, com maior saturação, tornando necessário maior desempenho em todos os quadrantes. Desta maneira, tem-se a arma principal, o míssil 57E6, com o dobro do alcance efetivo do antecessor, o míssil 9M311, bem como de uma altitude efetiva também maior. O tempo de resposta no Pantsyr caiu sensivelmente, sendo da ordem de 4 segundos. O míssil 57E6, por isto, se apresenta como ideal para interceptar e destruir mísseis de cruzeiro, bombas guiadas e até mesmo mísseis anti-radiação, como o ALARM, MAR-1 e o HARM (AGM-88), superando por larga margem os seus antecessores.

Plataformas

Os chassis homologados para uso como plataforma do sistema são de cinco. Destes, quatro sobre rodas e um propulsionado sobre lagartas. Os veículos sobre rodas homologados, são: KAMAZ 6560 (8 x 8), MZKT-7930, BAZ-6909 e MAN-SX/45. No tocante à venda para o Brasil, até o presente momento não há nada além de especulações sobre a plataforma a ser escolhida. O chassi SX-45 (MAN) acaba por despontar como se fosse uma “escolha natural”, devido à presença no Brasil da MAN Latin America (produção local de partes e componentes). O chassi sobre lagartas homologado é o GM-352M1E e porta apenas 8 mísseis, ao contrário dos sistemas montados nos caminhões que conduzem 12 mísseis de pronto emprego.

Dado o fato de que não há uma escolha concreta da plataforma até o presente momento, e que o fabricante do sistema exige homologação da plataforma, o que inclui testes extensos com intuito de verificar a estabilidade do chassi, durante a realização de disparos estáticos e em movimento, as especulações de uso de chassis vários, tais como IVECO e/ou Tatra, para servirem como plataforma dos veículos lançadores, devem ser entendidas antes como manifestações de um desejo expresso por parte de quem realiza a especulação do que uma realidade concreta. Espera-se que, ao anunciar oficialmente a escolha deste sistema, o Ministério da Defesa também anuncie a plataforma escolhida, que pode ser uma das aventadas pela mídia, especializada ou comum.

As armas do sistema

O Pantsyr S-1 combina o uso de mísseis de ação rápida com canhões de alta cadência de tiro. O míssil é o 57E6-E, arma de concepção revolucionária, dado o fato de que dos seus dois únicos estágios apenas o primeiro, o booster, conta com propelente, sendo que a parte seguinte vai em direção ao alvo apenas com o impulso do primeiro estágio, ou seja, prossegue com energia cinética, apenas. A parte que conta com a cabeça de guerra, desprovida de propelente, pode por isso ter um diâmetro diminuto, o que lhe dá a aparência de um dardo e, pelo fato de ser uma arma com alcance curto para os padrões russos, a desaceleração observada é mínima. De uma impulsão até aos 1.300 m/s (4.680 km/h) aos 2.4 segundos de voo, o estágio seguinte do míssil 57E6 desacelera para 900 m/s (3.240 Km/h) ao percorrer 12 km, próximo do limite de alcance da arma – até 18 km em condições ideais – a desaceleração será da ordem de 700 m/s (2.520 km/h), ou seja, conserva energia cinética bastante para próximo do limite de alcance (18km) ser uma arma manobrável e letal. O alcance máximo verificado é de 22km, já com manobrabilidade apenas residual.

O míssil 57E6-E apresenta probabilidade de acerto do alvo entre 70% e 95%, que cresce para 99% quando dois mísseis são lançados. Estas taxas de acerto se mantêm efetivas até o limite de altitude da arma, que é de 15 km. Sob o comando da estação de controle, situado no veículo lançador, o oficial artilheiro pode comandar a autodestruição do míssil, ou desativar a espoleta de fragmentação por proximidade, recurso este utilizado quando o míssil 57E6-E é dirigido contra um alvo terrestre e realizado com o intuito de aumentar os danos possíveis ao alvo por impacto. Ademais, é preciso lembrar que estocado em seus contêineres cilíndricos selados os mísseis 57E6-E exibem validade de 5 anos e quando estocados em depósitos climatizados exibem uma validade de 15 anos.

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Missil 57E6 e o canhão 2A38M. Foto: internet.

A outra arma que compõe o sistema Pantsyr S-1 são os canhões 2A38M. Montados com boa separação entre si, estes canhões de 30 mm, empregando cartuchos de 30 x 165mm traçantes, incendiários e/ou explosivos, capaz de atingir a elevadíssima cadência de 2.500 disparos por minuto cada peça, num total de 5.000 se empregadas ambas ao mesmo tempo. Os tubos são arrefecidos por líquido e a cinta de alimentação comporta até 700 cartuchos por arma. Esta possui dupla função, podendo ser dirigida contra alvos aéreos e terrestres. O alcance dos canhões para alvos aéreos é de 3.000~3.500 metros, e para alvos terrestres cerca de 4.000 metros ou mais. Os canhões oferecem à equipagem da bateria certa possibilidade de autodefesa, se por acaso esta for surpreendida por equipes de combate terrestres inimigas. O peso médio da arma é de cerca de 195 kg, sendo o do cartucho completo de 842 gramas e, do projétil, 389 gramas (HE-I ou High Explosive – Incendiary / Alto Explosivo – Incendiário), com velocidade de boca de aproximadamente 960 m/s.

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Os dois radares do sistema de detecção do Pantsyr: em primeiro plano o radar 1RS2-E, em forma de tambor, atrás o radar 2RL80E, com antena rotativa. Foto: internet.

Sistemas de varredura, acompanhamento, iluminação e sensores passivos

O sistema Pantsyr S-1 conta com radares e uma estação optrônica como suíte de detecção. Os radares do veículo lançador são dois, sendo que um realiza as funções de varredura/vigilância e outro é para acompanhamento/direção de tiro. Existem, hoje, duas opções para o cliente equipar o veículo lançador com o radar de busca e detecção: o modelo 2RL80E e o modelo RLM S0C. Para a função de acompanhamento e de diretor de tiro, o modelo 1RS2-E é o adotado. Além destes sensores eletromagnéticos, o veículo lançador possui uma estação optrônica (ótico-eletrônica), dotada de sensores termais, que permitem a operação de forma independente dos sensores eletromagnéticos, impondo como penalidade, apenas, o controle de um míssil por vez contra um alvo selecionado.

A varredura de campo, entretanto, não é realizada pelos radares embarcados no veículo lançador, apesar disto ser plenamente possível, mas por um radar de vigilância, cuja função é a de vigiar o campo de batalha enquanto as baterias, isto é, os veículos lançadores mantêm a disciplina de “silêncio eletromagnético” (não efetuam emissões eletromagnéticas). Dotado de um alcance maior, os radares de campo oferecem, portanto, o aviso antecipado. Os russos oferecem para exportação o radar de varredura de campo Kasta 2E1/2E2, com alcance de 150 km, capacidade de detecção e acompanhamento simultâneo de até 50 alvos, com 360º de cobertura em qualquer tempo. Este radar foi exportado para a Argélia, dentre outros clientes; todavia, no caso brasileiro, especula-se que para a função de vigilância/varredura de campo seria adotado o radar produzido pela BRADAR – Embraer Defesa e Segurança/Orbisat – SABER M-200, que se encontra neste momento em desenvolvimento e cujo alcance esperado é da ordem de 200 km.

 O radar VNIIRT 2RL80E: radar com grande resistência a CME (contramedidas eletrônicas), PESA – Passive Electronically Scanned Array, ou radar de varredura eletrônica, que possui sua configuração em tela plana, rotativa (360° – 15, ou 30 rpm – rotações por minuto), 3D (tridimensional: azimute, alcance e altura), opera na banda S de forma primária com a possibilidade de escolha de outras frequências (20 – aleatórias). Permite o acompanhamento de 20 alvos, a cobertura de elevações entre 0° e 60°, alcance até 50 km, com os seguintes valores de alcance para Seção Reta Radar (RCS): 2m² (aviões/caças) – 36 km; 1,3m² (helicópteros/helicópteros de ataque) – 32 km; 0,1m² (mísseis de cruzeiro, antirradiação e bombas guiadas) – 16 km (os valores decaem em 10% quando o veículo está em movimento). A flexibilidade reflete-se na possibilidade do oficial artilheiro poder selecionar as escalas, sendo estas de 0°~60° (alcance: 1-30 km); 0°~30° (alcance: 1-50km); 40°~80° (alcance: 1-25km) e 0°~25° (3-80km).

RLM S0C – PESA – “Janus Faced” : radar de varredura eletrônica que apresenta uma disposição frente/costa, para uma cobertura de 360º simultânea (montagem em “Janus”, ou “Jano”. Feito em semelhança ao deus romano de dupla face). Este radar possui em relação ao 2RL80E maior desempenho, e facilita rastreio de mísseis rápidos e com baixa assinatura. Operando em banda S, apresenta a capacidade de detecção de alvos com RCS (Seção Reta Radar) de 2m² a distância de 40 km, monitoração simultânea de 40 alvos, altitude de rastreio de 20 km, velocidade radial da ordem de 30~1200 m/s, azimute de 0°-360°, elevação de 0-60° e varredura de 90° (eletrônica). Possui um carga para a estrutura de 950kg.

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RLM S0C – PESA – “Janus Faced”. Foto: internet.

 O radar diretor de tiro/acompanhamento VNIIRT 1RS2-E: radar PESA (Passive Electronically Scanned Array), Pulse Doppler, responsável por selecionar dentre aquelas detectadas pelo radar de varredura as ameaças de maior poder ofensivo. A capacidade de acompanhamento é de oito alvos e estes são classificados em função do risco, sendo os três mais perigosos à posição defensiva são priorizados para combate (ordem de disparo equivalente ao grau de ameaça). É capaz de dar combate a até quatro bombas guiadas por vez, permitindo disparos contra o mesmo alvo com intervalos de 2 até 4 segundos. Concebido para operar nas bandas X e Ku, o radar iluminador 1RS2-E vetora o míssil 57E6-E por guiagem CLOS – Command to Line of Sight, ou Comando por linha De Visada -, emitindo sinais codificados de maneira contínua até a eliminação da ameaça, sendo 4 o número máximo de mísseis capazes de ser guiados por vez. Os valores de detecção de Seção Reta Radar (RCS) do radar 1RS2-E, de alvos com velocidade até 1.000 m/s, são os que seguem: 2m² (caças/veículos) – 28~24km; 0,1m² (mísseis antirradiação e/ou cruzeiro) – 13~11 km; 0,03m² (bombas guiadas) – 10~7km. O radar 1RS2-E permanece cativo, ou seja, fixo à torre com os mísseis e canhões, sendo apontado com estes para a direção da ameaça. Possui campo operativo de -5° a + 82°.

 Visor termal MATIS LR: para realizar detecção e operação passiva, independente do uso de emissões eletromagnéticas, o Pantsyr S-1 conta com o uso de um sistema eletro-óptico, cujo visor termal é de origem francesa, MATIS-LR, que exibe azimute de +90° e -90°, capacidade de acompanhamento de aeronaves entre 17~30km, mísseis de cruzeiro entre 12~15km e mísseis antirradiação a partir de 12km. Estabilizado e integrado ao radar 1RS2-E, acompanha o alvo de forma independente, ou a partir dos dados fornecidos pelo radar. Em tela de comando fornece imagens de vídeo com a contínua posição do vetor de interceptação (míssil 57E6), por isso necessita estar com perfeito alinhamento no tocante ao eixo ótico/iluminação eletromagnética e isto, portanto, acaba por exigir uma necessidade primária de atenção das equipes de manutenção.

Evolução

O sistema Pantsyr S-1 é plenamente operacional junto às forças armadas russas, entretanto, imbuído no programa de desenvolvimento contínuo dos sistemas de defesa antiaérea da Federação Russa, a empresa KBP Tula efetua o programa de evolução do sistema Pantsyr, denominado como Pantsyr SM. Este sistema agregará uma nova viatura plataforma, calcada na viatura blindada KAMAZ Typhoon, um veículo lançador com a mesma disposição atual do Pantsyr, com radar de varredura, e um segundo veículo lançador, este desprovido do detector de busca e dos canhões de alta cadência, mas tendo o acréscimo de mísseis para pronto uso, totalizando 24 contêineres cilíndricos, sendo 12 de cada lado da torre.

O míssil sofrerá uma adaptação muito simples, dado que será o mesmo 57E6-E em sua essência, todavia dotado de um novo booster, que lhe dará maior aceleração para permitir a interceptação de alvos que exibam velocidades da ordem de 1.800 m/s (6.480 km/h). Hoje, vale lembrar, o míssil 57E6-E está limitado a alvos que apresentem velocidades da ordem de 1.000 m/s (3.600 km/h). O detector principal da bateria deverá ser o RLM S0C – PESA – “Janus Faced”.

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Pantsyr S1 configurado em uma plataforma móvel, homologada, MAN, SX-45. Imagem: KBP Tula.

Pantsyr S-1 para o Brasil

O Pantsyr S-1 não foi, até a presente data, utilizado em situação de combate. O abate de uma aeronave RF-4E Phantom da Força Aérea da Turquia, supostamente ocorrido no litoral sírio, foi de responsabilidade de uma bateria equipada com mísseis Pechora 2M (alcance de 35km, altitude de 18.000 m), segundo as fontes militares sírias. Entretanto, o Pantsyr S-1 foi submetido a testes severos, que atestam com segurança a capacidade combativa deste sistema. Dentre estes testes se destacam dois, feitos na presença de uma delegação militar brasileira, efetuados ambos com sucesso, com a ocorrência da destruição dos alvos, sendo um deles abatido no limiar do alcance do sistema. Os testes em questão foram realizados a pedido do Ministério da Defesa do Brasil, e o foi por uma unidade operativa das forças armadas russas e não por uma equipe do fabricante e, atendendo a um pedido brasileiro, formulado pelo General de Brigada Márcio Roland Heise, os disparos foram realizados dentro do alcance visual. O primeiro deu-se contra um drone, propulsionado por turborreator, que realizava manobras evasivas, em seguida contra um alvo esguio e rápido. O drone foi abatido na distância de 15 km (6.000 metros de altitude). O segundo teste foi ainda mais exigente, pois contra a unidade de tiro de teste foi lançado de outra bateria um míssil, arma de pequeno tamanho, esguia, pequena, com mínima assinatura. A ameaça foi neutralizada na distância de 8,5 km (100 metros de altitude) por um míssil 57E6-E.

 Por ser modular, o Pantsyr S-1 pode proteger instalações físicas de modo fixo, sem sua plataforma móvel, apesar de ser uma forma pouco inteligente em caso de um conflito. Aliás, no tocante a plataforma, o fato de haver a presença no Brasil de uma unidade produtiva de um dos fornecedores com chassi homologado pelo fabricante, KBP Tula, no caso a MAN Latin América, favorece a escolha do chassi SX-45; todavia, caso a escolha recaia sobre exemplares russos, como o BAZ 6909, ou KAMAZ 6860, não seria propriamente uma surpresa dado a qualidade destes veículos.

Outra especulação existente na proposta para o Brasil, está relacionada a escolha do radar de varredura do veículo lançador, e da escolha do radar de vigilância de campo. Quanto ao segundo, a escolha do radar BRADAR SABER M200 é tida como uma aposta segura, por ser um equipamento produzido por uma empresa brasileira e que atende aos requisitos exigidos. Para equipar a viatura de lançamento, a escolha deverá recair entre o 2RL80E e o RLM S0C. Escolhido o radar, deverá ser incorporado um sistema nacional de IFF – Identification Friend Or Foe (Identificação – Amigo ou Inimigo).

 O conceito russo que engloba o Pantsyr S-1 é o SHORAD – Short Range Air Defense, ou defesa de curto alcance e baixa altitude, ou seja, uma defesa crítica, de último recurso. A escolha russa, portanto, passou pela decisão de criar um produto específico para uma ameaça específica, ao contrário do que se vê em algums opções no ocidente, que é a simples adaptação de mísseis concebidos para a arena ar-ar, seja arena BVR (beyond-visual-range, ou além do alcance visual), ou WVR (Within Visual Range, ou dentro alcance visual), para a proteção de unidades terrestres das ameaças aéreas. A princípio parece lógico, pois dá-se em função do aproveitamento de armas existentes, entretanto, os mísseis ar-ar são armas caras, complexas, de manejo difícil e exigente. A solução russa, por outro lado, acaba por impor uma bateria sofisticada, grande e pesada, dado o fato de que ela busca autonomia de geração de energia, mobilidade e detecção, além de uma quantidade de mísseis de pronto uso (12), que possam dar combate contra um ataque de saturação. O vetor, ou seja, o míssil, passa a ser de extrema simplicidade na sua concepção, o que por sua vez se reflete no seu custo de produção, afinal, pouco vai além de propelente, cabeça de guerra e antena receptora para os comandos. Em uma defesa aproximada é recomendável manter o foco no alvo e o número de disparos, via de regra, é elevado, o que impõe a necessidade de um estoque vasto, ou de produzir em larga escala o vetor (míssil). Naturalmente há opções ocidentais mais parecidas com o sistema exposto, como o Crotale francês ou o BAMSE sueco.

 No contexto brasileiro, devido às faixas de classificações adotadas, o Pantsyr S-1 será considerado como uma bateria voltada para proteção de média altura, visto que o alcance limite da arma principal, o míssil 57E6-E, é da ordem de 22 km. Caberá ao sistema a proteção de instalações vitais e de colunas blindadas em progressão, devido à capacidade deste sistema de disparo em marcha. Todavia, como visto antes, o Pantsyr S-1 não é um sistema voltado à média altura, sendo a sua capacidade para cumprir esta missão, marginal. Para cumprir com perfeição a missão de defesa de média altura, é necessária a adoção de um sistema voltado para dar combate contra ameaças situadas nas faixas de 35~45km de alcance e 18.000~25.000m de altitude. Para tanto, será imperativo o desenvolvimento, ou a aquisição de um projeto/produto que atenda a estas faixas de ameaças. Talvez seja esta a principal missão deste sistema no Brasil: abrir as portas para o entendimento, visando o desenvolvimento nacional de sistemas antiaéreos de médio alcance.