Morte sem glória em Mariopol

As lideranças da Divisão da Guarda Nacional Ucraniana A3OB, cercada em Mariopol, não quiseram compartilhar o destino dos seus comandados e demandaram um resgate. Este, no entanto, não lhes foi feliz.

Por: César A. Ferreira

A noite de 31 de março de 2022 ficará marcada nos anais militares por um fracasso ucraniano, no caso, da tentativa de resgate das lideranças militares ucranianas da cidade de Mariopol, completamente cercada e que vive o drama do combate urbano nos estágios finais. Ou seja, o momento do fracionamento das forças defensoras, encurraladas em cantões, sem possiblidade de efetuar apoio mútuo, em regime de disciplina restrita de fogo para economizar a munição escassa e com a mobilidade no espaço urbano comprometida. É o pior momento para os defensores, visto que os atacantes não precisam mais se expor e atacar com arrojo, bastando agora bater metodicamente quadra, por quadra, casa por casa, edifício por edifício, localizando e eliminando cada ponto forte inimigo, sem se revelar, usando para isso a combinação de armas mais adequada: ATGW, morteiros, artilharia de tubo, metralhadoras pesadas, drones suicidas, atiradores designados, saturação de área… Esta fase final do combate urbano é denominada com o nome prosaico de “varredura”.

A “varredura” não é um processo rápido, visto ser metódico, mas é bastante característico e um comandante minimamente competente sabe reconhecer o estágio na qual a batalha se encontra. Certamente os líderes ucranianos em Mariopol sabiam que o destino que lhes aguardava era a capitulação, ou a destruição. Donos de ambições que ultrapassam a dimensão estritamente militar, ao que parece, a “gloriosa morte em combate” não era um destino aceitável e compartilhá-lo com os seus comandados estava fora de questão, então, pressionaram Kiev para que houvesse um resgate. Este resgate foi tentado, mais de uma vez e… Mais de uma vez, fracassou.

O Fracasso épico é passível de ser reconstruído a partir do informe das forças russas e do depoimento de um dos sobreviventes, capturado; primeiramente vamos nos debruçar na versão dos captores:

A cúpula política ucraniana havia decidido resgatar dois importantes líderes militares de Mariopol: Denis Prokopenko, líder do A3OB Infantarie-Abteilung [1] e Vladimir Baranyuk, comandante da 36ª Brigada de Infantaria Naval. Foi enviado um helicóptero para resgate noturno que, no entanto, foi abatido em rota. Sem desistir deste propósito um segundo helicóptero foi enviado na noite seguinte e sofreu o mesmo destino.

O abate de duas aeronaves de asas rotativas em rota para Mariopol deveria desestimular tentativas posteriores neste sentido, mas a liderança ucraniana estava decidida em prosseguir. Na noite de 31 de março realizaram novamente a tentativa de resgate, logrando desta vez chegar no ponto de extração, quando então, após o início da perna de retorno foram alvejados por mísseis portáteis (MANPAD) FIM-82 “Stinger”, ironicamente cedidos pelos Estados Unidos às armas ucranianas e capturados pela milícia da República Popular de Donetsk e por eles operados. Dois helicópteros foram abatidos, um deles, com 17 ocupantes, destes 15 mortos. O outro caiu no mar, cerca de 20 km do ponto de impacto. Do primeiro helicóptero dois ocupantes sobreviveram a queda, um deles sem ferimentos aparentes e capaz de depor sobre o evento. O helicóptero estava fragmentado, com os seus restos exibindo marcas de explosão e alta temperatura.

Dentre os mortos foram identificados: Maxin Zhorin, Diachenko Maxin Igorovich, Timus Yuri Vladimirovich. Apesar de algumas fontes anunciarem a presença do corpo de Palamar Svyatoslav Yaroslavovich, não houve nenhuma confirmação a respeito. Os demais corpos não ofereceram possibilidade de reconhecimento/identificação.

A versão relatada pelo prisioneiro sobrevivente, oficial de inteligência de codinome “Belmak” [2] é a que segue (na voz do tomador do depoimento/interrogador): “Decolaram do aeródromo de Dnepropetrovsk, totalmente abastecidos e carregando munição. A formação consistia de 4 Mi-8 e um Mi-24 de cobertura. Dirigiram-se para o porto de Mariopol onde houve o desembarque da munição e o embarque das lideranças e de alguns feridos. Não pode (o informante) relatar sobre a sorte das demais aeronaves, apenas da sua aeronave, que foi alvejada por dois FIM-92 Stinger, sendo o primeiro desviado pelos flares, mas o segundo impactando com sucesso o helicóptero. Acredita que sobreviveu por estar na porta, junto a metralhadora lateral”. O seu relato é mais abrangente e informa que: “na noite anterior houve extração de feridos com helicópteros Mi-8. O total de feridos ucranianos evacuados seria de 30. Todos os voos foram realizados com altitude extremamente baixa”.

Temos então que os raids ucranianos para Mariopol cercada resultou em 4 helicópteros Mi-8 abatidos, segundo o Ministério da Defesa da Federação Russa, e em três segundo a admissão ucraniana (não oficial, advindo da informação do oficial capturado). Apesar da atenção galvanizada pela espetacularidade das imagens do helicóptero abatido e das ações de extração, não é isto que chama a atenção, mas a recusa de líderes de uma formação como o A3OV Infantarie-Abteilung não querer compartilhar a sorte com os seus comandados, preferindo arriscar-se numa extração muito arriscada. Isto devido a um fato notório: não são apenas líderes militares, também são líderes políticos. Não foram poucas as vezes que o líder do A3OV, “Kalima” [3], gravou vídeos patéticos clamando pelo “rompimento do cerco”, ou pelo “contra-ataque e expulsão dos russos” de Mariopol... Quanta ilusão, coitados, como se houvesse um Manstein disposto a salvá-los, porém, tais apelos formam ecos, criam pressões na cúpula ucraniana. Daí o esforço desesperado do regime em realizar as tentativas de resgate, ainda que arriscadas, tal como comprovada pela sorte sinistra do Mi-8MSB-V, nº 864, pertencente a 18ª Brigada Aérea de Poltava (Exército) [4], demonstrou. Nestes momentos a realidade da guerra se apresenta de maneira crua: nem sempre a fuga resulta na vida como prêmio; nem toda morte em combate é gloriosa por consideração.

Notas:
[1]: Apesar de conhecido como “Batalhão A3OV”, este autor prefere denominá-lo como divisão de infantaria, no alemão Infantarie-Abteilung, pois há muito ultrapassou o valor de batalhão. Na língua alemã o exército é denominado Heer; as forças armadas Wermacht; uma divisão de exército Armeedivision; se de granadeiros Grenadier – Division; caso seja uma divisão de Carros de Combate Panzerdivison e uma divisão blindada Panzergrenadier. Não é aplicada uma lógica linear na nomenclatura, visto que um corpo de exército é ArmeeKorps, quando vimos que o termo para exército é Heer.

O A3OV não é apenas uma formação militar, mas também um corpo político e de “colonização do Leste”, adotou a cidade de Mariopol como base, onde com constância exercia influência nos meios políticos locais, extorsão e participação forçada em empreendimentos econômicos, perseguição política, eliminação física de desafetos de toda ordem além de doutrinação ideológica. Como se vê era bem mais que um batalhão, que encontrou em Mariopol o seu fim.

[2]: os sobreviventes foram o Oficial da Diretoria Principal de Inteligência da Ucrania, codinome “Belmak” e o soldado da Infatarie-Abteilung A3OB, Dmtry Lobinsky.

[3]: Palamar Svyatoslav Yaroslavovich.

[4]: 18ª Brigada Independente de Aviação do Exército Ucraniano. Aeronave com designativo 864 “preto” (Black,ing.): Mi-8MSB-V – antigos Mi-8T/MT, remotorizados com TV3-117VMA-SBM1V-4E produzidos pela empresa Motor Sich de Zaporizhizhia, Ucrânia.

AH-2 Sabre: o trovão alado

Uma nota necessária:

A matéria que segue foi redigida por mim para o Portal Defesa e versa sobre o helicóptero de ataque Mi-35M, versão última do destacado Mi-24, cujas ações recentes nos céus sírios, capturado em imagens feitas muitas vezes pelos próprios insurgentes que por eles são castigados, demonstram mais uma vez o imenso valor de combate deste vetor. Apesar de ser uma máquina de guerra de inegáveis qualidades, e que recebeu em solo brasileiro críticas várias pelo simples fato de ser proveniente de um fornecedor não usual das armas brasileiras: a Rússia. Tais preconceitos, entretanto, foram dirimidos com a operação do mesmo pela FAB, dado que é o vetor que apresenta um dos maiores, se não a maior disponibilidade de rampa, além de ser o único que efetuou um disparo de arma anti-carro guiada com alcance superior a 3,5 km. Devo dizer, também, que os pilotos do esquadrão POTI são unânimes quanto as qualidades guerreiras da máquina. A aquisição do Mi-35 pelo Brasil foi um acerto, disto, creio, não existem mais dúvidas.
O link para a matéria presente no Portal Defesa é o que segue:Portal Defesa – AH-2 Sabre: o trovão alado..

AH-2 Sabre: o trovão alado

Por: César A. Ferreira

O Mi-35M, denominado como AH-2 pela FAB – Força Aérea Brasileira – é uma aeronave ímpar no inventário desta força, constituindo o único vetor de asas rotativas dedicado ao ataque presente nas Armas Nacionais. Derivado do Mi-24, sendo deste a última atualização, exibe uma folha de combate extensa ao redor do mundo e um grande número de operadores. De sucesso inegável, dotado de robustez legendária, tornou-se um verdadeiro sinônimo de helicóptero de ataque pelo mundo todo.

O contrato para aquisição dos helicópteros foi firmado em 2008 e as aeronaves começaram a chegar ao Brasil a partir de abril de 2010, precisamente no dia 17, em lotes de três aeronaves, sendo entregues nove delas até o presente momento, sendo aguardada para breve a entrega do último lote. Os helicópteros foram entregues em voos diretos através da companhia cargueira Volga-Dnepr em aeronaves AN-124, que vem a ser o maior avião cargueiro em operação no mundo, na Base Aérea de Porto Velho, lar do 2º Esquadrão do 8º Grupo de aviação (2º/8º), Esquadrão Poti.

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Mi-35M/AH-2 Sabre com todos os seus acessórios presentes: supressor IR, mísseis 9M120 e Foguetes. Foto: internet.

O Esquadrão Poti conta com 29 pilotos habilitados, hoje. Os primeiros pilotos aptos a operar o AH-2 Sabre finalizaram o curso em solo brasileiro nas novas aeronaves do Esquadrão assim que estas chegaram. A partir disso, passaram a lapidar todo o envelope operacional do vetor a ponto de se ter feito lançamentos de armas anti-carro guiadas, uso de FLIR e NVG, em campanhas de tiro realizadas em Cachimbo, bem como na Restinga de Marambaia. Nestes exercícios foi possível notar a precisão dos sistemas de armas da aeronave, responsáveis pela pontaria excepcional do vetor, eficiente em 100% dos lançamentos com mísseis, foguetes e acertos com os disparos efetuados pelos canhões geminados. No exercício Zarabatana IV o Mi-35M exibiu 100% de acertos! O seu último exercício envolveu o uso de NVG (Zarabatana V). Um detalhe curioso observado é o costume por parte dos membros do Esquadrão Poti de utilizar o compartimento de assalto como um espaço para transporte de carga ligeira nos deslocamentos do Esquadrão.

O Mi-35M, em que pese o seu alto grau de acertos devido ao computador balístico, exige da sua tripulação uma pilotagem cuidadosa. Não é algo surpreendente, pois é um helicóptero grande, com enorme reserva de potência (algo que agrada em demasia aos pilotos) e dotado de um cubo de rotor semi-rígido, o que impõe uma dinâmica de voo diferente daquela experimentada nos Esquilos, para citar um exemplo. Tripulado por dois especialistas, piloto (1P, Primeiro Piloto) e POSA (Piloto Operador do Sistemas de Armas), dispostos em tandem em cabines separadas em degrau, com cockpits em formato de bolha, sendo a posição frontal reservada ao POSA, exige o Mi-35M extrema coordenação entre estes, dado o fato de que é o Primeiro Piloto aquele que sinaliza as condições ótimas da aeronave para os disparos ao POSA, que adquire os alvos, os enquadra e efetua os disparos. A pilotagem é possível de ser feita da posição do operador de sistemas de armas, todavia de maneira muito desconfortável devido aos comandos para disparo dos canhões. O ambiente dos pilotos é tomado por uma variedade de botões e disjuntores, além de mostradores digitais, distribuídos por painéis frontais e laterais. Os assentos são ajustáveis e para surpresa de muitos o uso de paraquedas é previsto para os tripulantes.

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O cockpit do piloto(Foto 1 e 3) contém 2 MFD, o operador do canhão(Foto 2) possui um MFD acima do controle do canhão: Foto: Rostvertol/MIL.

Para os pilotos do Esquadrão Poti a aeronave representa um salto gigantesco, por óbvio. Antes equipado com helicópteros leves Esquilo, equipados quando muito para reconhecimento armado, agora voam em um poderoso gigante de 12 toneladas (10 toneladas de diferença), com rotor de cabeça semi-rígida. Um dado interessante é que helicópteros com cubos semi-rígidos são tidos como menos manobráveis e de fato é uma tática clássica o uso de “Hinds” em duplas, justamente para compensar a menor agilidade do vetor. Todavia, o antecessor do Mi-35M, o Mi-24, exibe vitórias contra outros helicópteros em combates pelo mundo, notadamente o AH-1J“Sea Cobra” da IRIAF, com dez vitórias alegadas contra seis do vetor fabricado nos EUA. Nesta guerra, o Mi-24 tem ainda um abate alegado contra um caça supersônico, que seria um F-4 Phantom II…

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AH-2 Sabre taxiando. Foto: Agência Força Aérea – Sargento Rezende.

O AH-2 tem se destacado pela operacionalidade e flexibilidade dentro da FAB. Participou do esquema de segurança da Conferência Rio + 20, da Copa das Confederações, da Operação Ágata 7 (guarda de fronteira) e está elencado para atuar durante a Copa do Mundo Fifa. Os pilotos não escondem o entusiasmo com a máquina, todavia, apesar de tanto sucesso surgiram alguns mitos sobre a atuação dos helicópteros russos no Brasil e o serviço de pós venda; não se sabe o motivo do aparecimento dessas lendas, todavia, fazemos bem discuti-las…

Mitos sobre o AH-2 da FAB:

1) Mito: pilotos e mecânicos não conheciam as aeronaves, não sabiam voá-las e/ou mantê-las e por isso elas ficaram inoperantes por muito tempo.

Fato: boato nascido de uma nota jocosa publicada pelo jornalista Claudio Humberto. Pilotos e mecânicos iniciaram as suas instruções ainda em solo russo, seis meses antes da entrega do primeiro lote, enfrentando temperaturas de até 30° Celsius negativos (-30°).

2) Mito: as aeronaves ficaram inoperantes por falta de APU, pois a alimentação das aeronaves se dá em um padrão diferente do adotado pela FAB, equivalente ao da OTAN.

Fato: a aeronave conta com APU orgânico, e todas elas giraram motores assim que foram aprontadas pelos mecânicos e especialistas de suporte da fábrica.

3) Mito: parafusos e porcas são no padrão métrico, que difere das medidas das ferramentas da FAB que são no padrão imperial. Os russos não mandaram ferramentas.

Fato: o padrão métrico é utilizado pela indústria automotiva no Brasil, e o que não falta são ferramentas com ambas as medidas em qualquer loja de autos. As ferramentas foram adquiridas.

4) Mito: a pós-venda não é adequada, a operacionalidade é baixa e o custo de hora de voo é alto.

Fato: o custo de hora de voo está dentro dos parâmetros esperados para uma aeronave da categoria do AH-2 Sabre (Mi-35M) e todos os requerimentos de peças e/ou componentes foram atendidos pelo fabricante. Jamais houve falta de peças, ou de suprimento de qualquer ordem. A operacionalidade do esquadrão é de 6 aeronaves em rampa para três em reserva (0,67%), sendo possível aumentar a disponibilidade para sete aeronave em qualquer situação (0,77%). No caso de uma emergência não seria impossível o apronto das nove aeronaves, ou seja, de se ter todas elas disponíveis (100%).

5) Mito: os mecânicos russos vivem de bebedeira pelas ruas de Porto Velho, não existem tradutores, a comunicação é por mímica e os manuais são em inglês, ou em espanhol.

Fato: não existe reportagem, ou menção alguma de desordens feitas pelos técnicos russos, no trabalho, ou em folga. O comportamento dos especialistas da fábrica não possui reparo algum a ser feito. Tradutores acompanham estes técnicos e manuais em inglês nunca foram um problema para a FAB, que convive com os mesmos desde a sua infância.

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Tradutora acompanha os trabalhos do Esquadrão Poti. Foto: internet.

6) Mito: o serviço de pós-venda entregou mísseis ultrapassados e não os mísseis ATAKA, previstos no contrato.

Fato: as armas entregues foram o 9M120 ATAKA (6 km de alcance), conforme especificado no contrato.

7) Mito: a aeronave é de difícil manutenção. É odiada pelos mecânicos e pilotos.

Fato: a aeronave e adorada pelos pilotos, devido a sua capacidade e robustez, e os mecânicos se assombram com a praticidade e a simplicidade de algumas soluções de engenharia. Por exemplo: para a retirada de um motor, basta pouco mais do que uma chave e uma grua. O serviço é feito em 30 minutos, ou menos. Além do mais, as asas de suporte para armamentos permite trabalho acima das mesmas, ou seja, não existem avisos de “No Step”, por não serem necessários.

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Militares trabalham na limpeza de um AH-2 Sabre (Mi-35M). Notar a presença de um deles sobre uma das asas – não há aviso de “No Step”. Foto: Sargento Prado. DETCEA – CG.

8) Mito: a aeronave foi entregue sem os supressores de calor.

Fato: os supressores foram entregues, conforme previsto em contrato, e só não são vistos com frequência por não ser necessário o seu uso com constância em tempos de paz.

 Mitos e fatos advêm de dados coletados pelo autor a partir de fontes especializadas.

Motores

A aeronave é motorizada por duas turbinas Klimov VK-2500, quem vem a ser a versão aperfeiçoada da afamada RV-3117VMA-SB3. Exibindo a conhecida robustez desta família de motores, a série VK-2500 equipa também os helicópteros de ataque Mi-28 e Ka-50/52. A VK-2500 apresenta uma vida útil da ordem de 6.000 horas e as suas inspeções se dão no intervalo de 50, 100, 200, 1000 e 2000 horas. As inspeções até 200 horas deverão ser feitas no Brasil, e aquelas de 1000 horas ou mais dar-se-ão junto ao fabricante.

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Instalação dos motores na célula. Notar a disposição lado a lado no alto, típica dos projetos dos anos 60/70. O acesso aos motores é fácil. Foto: Portal Defesa/ Gérson Victorio.

O vetor exibe uma considerável independência das equipes de solo. Homologado para operações entre temperaturas de +60º e -60º Celsius, conta com uma APU – Auxiliary Power Unity – modelo AI-9V. A APU fornece energia para que os compressores dêem a partida nos motores, além de alimentar os sistemas da aeronave. As baterias do helicóptero são capazes de iniciar a APU, desta maneira o Mi-35 reduz a necessidade de apoio de solo e facilita a dispersão e o deslocamento em regime de combate.

 Sensores e navegação

O Sistema de Armas do Mi-35 consiste da suíte OPS-24, esta formada pelo módulo de sensores GOES-342, como do sistema de navegação digital KNEI-24.

Torreta GOES-342 – Possui designador laser (telêmetro laser com precisão de 5 metros), FLIR (Forward Looking Infra-Red) que opera nas bandas de 8 µm a 12 µm, TV de baixa luminosidade, designador e orientador infravermelho; a torre giratória apresenta uma mobilidade de +/- 230 graus em azimute e -115° e + 25° em elevação.

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Detalhe frontal do AH-2/Mi-35M. A torreta GOES – 342 está em destaque. Foto: Portal Defesa/Gérson Victorio.

Os demais sistemas agregados ao Mi-35 incluem: mostradores multifunção (4), HUD, IFF, radar altímetro e rádio-goniômetro. Além disso, os painéis são compatíveis com o uso de NVG (Night Vision Goggles) ANVIS-9 (M949), Geofizika ONV-1.

Complementa os sistemas de armas do Mi-35 a antena do sistema de orientação via rádio, para os mísseis Shturm/ATAKA. Por sua vez, no tocante a navegação, o Mi-35 apresenta o computador dedicado Baruch KNEI-24, que opera com sistemas de posicionamento global por satélite GLONASS e GPS, em paralelo com outros meios como INS, em especial o radar Doppler DISS-15D, rádio-altímetro RV-5, rádio-goniômetro de busca e salvamento SAR, RDF (Radio direction finder) ARK-U2, sistema ADF (Automatic Direction Finder), além dos sistemas de transponder IFF (Identification Friend or Foe) e transponder comum.

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Imagem comparativa do 9M120 ATAKA com o antecessor 9M114 Shturm. Imagem: internet.

Armamento

No tocante às armas, o vetor russo conta como arma primária o canhão geminado Gryazev Shipunov Gsh-23L, arma potente e precisa que exibe uma cadência de tiro de 3.400 disparos por minuto (ambos os tubos juntos), cuja velocidade do projétil é de 715m/s. O cofre de munição da referida arma compreende 470 cartuchos e estes podem ser dotados de projéteis de alto explosivo/fragmentação, anti-blindagem, incendiário/anti-blindagem, etc…

Exibindo uma capacidade relativamente pouco comum nos helicópteros de ataque, o Mi-35 possui meios de combate contra aeronaves muito ampliados pelo uso de mísseis ar-ar, que podem ser tanto o míssil leve 9K38 – Igla V (5,2 km de alcance) quanto o míssil dedicado R-73E (código OTAN AA-11 “Archer”), havendo ainda a opção pelo R-60M (AA-8 “Aphid”) estes últimos fabricados pela Vympel.

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Opções de armamentos: 9K38 Igla-V, R-60M Molniya e bombas de queda livre. Imagens: internet.

Outra capacidade pouco vista em helicópteros de ataque é o uso de bombas de queda livre, forma de uso vista em ação no conflito civil sírio. Para esta modalidade de emprego, o bombardeio, o Mi-35 conta com as seguintes armas homologadas: até 8 bombas de queda livre OFAB 50UD de 50 kg (110 lb), 8 OFAB 100 de 100 kg (220 lb), 4 FAB-250M-46 de 250 kg (550 lb) ou duas FAB-500M-46 de 500 kg (1100 lb), 2 bombas incendiarias “Napalm” ZB-500 ou 4 “Napalm” ZB-250 e um dispensador de submunições KMGU-2.

O Mi-35 também pode ser armado com foguetes não guiados de alto poder destrutivo, S-13, S-24B e S-8. A FAB equipou os seus AH-2 com pods de foguetes não guiados de 80mm B-8V-20A, foguetes estes que se revelaram precisos e com cabeça de guerra de extrema eficiência. As ogivas dos foguetes não guiados S-8 são: BM (penetração de concreto), T (alto-explosivo/fragmentação), DF (alto explosivo), OM (iluminação), PM (Chaff – autodefesa), TsM (designação de alvos). Cada pod comporta 20 foguetes e o Mi-35 opera com o máximo de 60 foguetes.

Para a missão de ataque às colunas blindadas inimigas os AH-2 Sabre (Mi-35) da Força Aérea Brasileira são equipados com os mísseis anticarro 9M120 ATAKA, que exibem 6 km de alcance, 42,5 kg de peso, velocidade de 400 m/s, além da capacidade de penetração de 800 mm de blindagem composta, mesmo que esta esteja protegida por ERA (Explosive Reactive Armour). São levados por aeronave até oito mísseis.

Comunicações

A suíte de comunicações do Mi-35 é simples e composta por um Transceiver VHF Bendix-King KTR-908, um rádio de comunicações com saltos de frequência Röhde & Shwarz MR6000R e um HF Bendix-King KHF-1050.

Blindagem e Proteção

Como uma herança do IL-2 Shturmovik, o Mi-35 possui uma banheira blindada para proteção dos tripulantes; essa proteção, inclusive, se estende para os motores, caixa de transmissão principal e intermediária, sendo homologada contra impactos de munições até 20mm. Os pilotos contam com a blindagem transparente (canopy blindado) dotada de proteção contra projéteis de calibre 0.50 (12,7mm); como proteção ativa o vetor conta com uma suíte de contramedidas eletrônicas composta por um sistema RWR (RadarWarning Receiver) L-006LM, sistema de jammer IR L166V1AE e dispensadores de chaff/flare ASO-2V, este último com capacidade para 192 cartuchos. O compartimento de carga não possui blindagem e o helicóptero conta com a possibilidade de instalação de dois supressores de calor, que adicionam ar frio e direcionam os gases, agora misturados, para o alto, de modo a serem dispersados pelas pás do rotor principal.

Rotor e pás

O rotor principal apresenta mudanças em relação àqueles observados nas versões anteriores do Mi-24. Possui suas pás compostas por uma estrutura em forma de favos de mel, preenchidas por 17 bolsas de ar, que permitem à aeronave manter-se no ar com até três avarias numa mesma pá; estas, por sua vez, possuem suas lâminas compostas por aço e apoiadas em tubos de titânio, revestidas por fibra de vidro e com uma proteção no bordo de ataque de uma tala de titânio que conta com proteção contra formação de gelo.

O rotor de cauda difere daqueles vistos nas versões anteriores do Mi-24, pois na versão Mi-35M adotou-se a mesma disposição havida no Mi-28N Night Hunter. Ou seja, substituiu-se o antigo rotor tripá de cauda, com lâminas separadas em 120°, pela configuração quadripá, disposta em “X”, com defasagem de 36°. Tal alteração aumentou a vida útil da célula e resultou em uma menor emissão de ruído. De fato, o Mi-35 é uma aeronave silenciosa para o seu porte.

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Detalhe das pás e do rotor de cauda. Notar na pá a luva de titânio do bordo de ataque, bem como o rotor de cauda disposto em “X”. Imagens: Portal Defesa/Gérson Victorio.

Operadores

O Mi-35M é operado no momento pelo Brasil, Venezuela, Rússia e Iraque. Já os operadores das versões anteriores, Mi-24, somam mais de 30 países.

Características

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