Afirmações vazias, recriminações e lamúrias

Perdido no emaranhado de afirmações conflitantes, desconexas, imprecisas e delirantes, o renomado autor Tom Cooper tenta retornar as suas análises da guerra ucraniana para o campo aeronáutico, mas continua afeito ao discurso de desejo-delirante, jogando por sobre a sua maltratada credibilidade mais uma pá de cal…

Por: César A. Ferreira

No dia 17 último (agosto de 2022) o renomado autor de conteúdo Tom Cooper cedeu uma entrevista para o veículo informativo EuroZprávy.cz, notadamente para a pessoa de Matěj Bílý. A entrevista concedida pelo senhor Tom Cooper está eivada de preconceitos, imprecisões, contradições explícitas e até mesmo de frustrações, que serão por parte deste presente escriba analisadas.
A matéria abre com a seguinte introdução:

“A liderança política ucraniana não levou a sério a ameaça de uma invasão russa e, sob essa luz, é uma grande surpresa que a força aérea ucraniana possa continuar resistindo a um inimigo mais forte no papel, afirma Tom Cooper, analista e historiador austríaco especializado na aviação militar (…)”.

Já na abertura temos imprecisões, pois afirmar que a Ucrânia não se preparou para um conflito armado, exibindo um exército com 260.000 homens em armas e mais de duas centenas de veículos antiaéreos de defesa de área é mentir descaradamente. Ademais, os oito anos de agressões no Donbass já seriam por si uma refutação razoável.

A primeira pergunta apresenta no seio da sua resposta as sempre presentes imprecações contra Putin, bem como as incontornáveis correlações imprecisas da atual VKS[1] com a antiga aviação frontal soviética de 1945… Um trecho, todavia, merece análise:

“Eles geralmente lançam mísseis guiados Ch-59M em alvos selecionados a uma profundidade de 50 quilômetros da linha de frente, ou mesmo em alvos a 100 quilômetros de distância, se puderem ser atacados da Bielorrússia ou do Mar Negro”.

O Sr. Tom Cooper elegeu uma arma específica para argumentar a inoperância russa em atacar alvos além do raio de 100 km. Esta arma é o Kh-59, que possui hoje a sua última versão designada como Kh-59Mk2. Trata-se de um míssil de cruzeiro, com alcance nominal de… 200 km nas suas versões iniciais e de 290 km na sua versão última. Então… Você possui uma arma que lhe entrega um alcance maior, mas de maneira voluntária se renuncia ao aproveitamento deste alcance. É isto mesmo, Mr. Cooper?

Temos aqui a primeira das afirmações vazias. O senhor Cooper prossegue no mesmo assunto:

“Não foi surpresa, dadas as conhecidas fraquezas das forças armadas russas, que a guerra síria em 2015-2017 já havia revelado claramente na área de encontrar, mirar e destruir alvos a mais de 50-100 quilômetros da frente”.

Aqui temos a contradição explicita, pois a Força Aérea Russa que possui uma arma com alcance de mais de 200 km não encontra e destrói alvos quando estes distam mais de 100 km. Ora, ora, e os ataques realizados em Odessa, Ivano-Francovich e Vinnitsa… Foram miragens? Acontecimentos de um universo paralelo?  Ah! Como esquecer: o Kh-47M2 é uma Wunderwaffe[2], de nada serve, ainda que tenha obtido em Vinnitsa um cartel enorme de Coronéis da Ukroluftwaffe na sua conta.

Mais adiante vemos o desejo delirante se apossar da narrativa do Senhor Cooper:

“A doutrina militar russa, pelo menos no papel, prevê um ataque surpresa à força aérea inimiga no início da guerra, a fim de prejudicá-la. No entanto, Putin calculou que os ucranianos se juntariam a ele ou desistiriam e se dispersariam”.

Vemos aqui a típica falácia argumentativa de projetar no outro uma expectativa que é sua. A realidade desmente o senhor Cooper, dado que a Rússia ao desdobrar apenas um efetivo de 150.000 combatentes para combater em solo ucraniano poderia estar a esperar tudo, menos uma guerra curta. Era de conhecimento russo da existência de efetivos ucranianos da ordem de 70.000 homens em armas apenas defronte a Donetsk, posicionados em uma enorme cadeia de fortificações de campo. Percebe-se, pois, quão vazias são as afirmações do senhor Cooper, que necessita forçar a sua narrativa no sentido de demonizar Putin como líder, bem como os que o rodeiam, seja por aversão pessoal, ou encomendada. Quanto ao ataque inicial, o mundo viu uma chuva de mísseis Kalibr em bases ucranianas no primeiro dia da guerra. De lá para cá só vemos o uso pontual de vetores aéreos ucranianos… Por que será?

Bem que o senhor Cooper tenta nos responder e isto causa uma pérola do mundo jornalístico, devo dizer:

“Eles atacaram dezenas de bases aéreas e aeródromos com mísseis de cruzeiro, mas atingiram muito poucos, no máximo 6-7 caças ucranianos. A maior parte da força aérea ucraniana sobreviveu ao início da guerra. Desde então, a incapacidade do VKS – e de todas as forças armadas russas – de eliminar a força aérea ucraniana não mudou. Eles simplesmente não têm o equipamento e treinamento para a tarefa”.

Atenção! Os ataques as bases só resultaram em uns 6, ou 7 aeronaves destruídas, a Ukroluftwaffe está intacta, operacional e a VKS é incapaz de eliminá-la como ameaça. A pergunta que deve ser feita é: e os apelos do governo ucraniano por caças provém de onde? Para que se fala tanto em treinar pilotos na Polônia e no Reino Unido, de se transferir caças MiG-29 da Eslováquia e da Polônia se as perdas foram mínimas? Por acaso não se registrou um Su-27 da Uckroluftwaffe pousando em território romeno? Por que, então, não se vê a Ukroluftwaffe nos gloriosos céus do Ukroreich, se ela está intacta? Por acaso o senhor Cooper está desinformando conscientemente, ou treina para ser comediante?

Treinando, ou não, para brilhar nos palcos com Stand Up Comedy, fato é que o senhor Cooper continua a nos brindar, agora, abordando a defesa antiaérea ucraniana:

“(…) as forças armadas russas no início da guerra não conseguiram eliminar não apenas a força aérea ucraniana, mas também uma grande parte da defesa aérea terrestre ucraniana. Enquanto isso, isso também foi fortalecido por meio de entregas de Buk, S-300 e outras armas de fabricação soviética. É por isso que o VKS opera em condições de equilíbrio, não superioridade no ar, muito menos domínio aéreo. E isso, por sua vez, significa que eles só podem operar de forma muito limitada”.

Pois bem… Para o senhor Cooper a alegação do Ministério da Defesa da Federação Russa de ter destruído até a presente data 366 veículos de sistemas antiaéreos nada quer dizer. Como também nada quer dizer que os sistemas BuK M1 e S-300PS serem obrigados a se manterem camuflados e sem emitir, para não serem destruídos, como de regra acontece toda vez que emitem. Não são poucas as imagens do radar 30N6 queimados, vitimados pelos mísseis antirradiação Kh-31. Para o senhor Cooper a contagem de três centenas e a privação da liberdade de detecção não é nada, apenas algo para se desprezar… E a Força Aérea Russa, que virtualmente abate o que se opõe a ela e elimina tudo aquilo que se revela quando passa a emitir, opera de forma “limitada”.

Como não poderia deixar de ser, o sentimento de superioridade anglo-saxônica aparece numa prática que na verdade é bem antiga e conhecida, que é o lançamento balístico de foguetes não guiados. O senhor Cooper faz pouco, mas omite, ou se esquece de um detalhe… Diz o entrevistado:

“Eles usam principalmente uma tática de “atirar e rezar” – eles se aproximam a uma altitude muito baixa e velocidade máxima, iniciam uma subida acentuada em um ângulo de 30 a 40 graus e, de uma distância de 2.000 a 3.000 metros, disparam mísseis não guiados, geralmente S-8 calibre 80 milímetros, no alvo”.

Aqui a prepotência anglo-saxônica se revela por inteiro, quando batiza a prática de lançamento balístico de foguetes como “atirar e rezar”. Talvez o senhor Cooper tenha este costume, os pilotos certamente não os têm. O lançamento tem o seu ponto indicado na tela de HUD, posto que ele é continuamente computado. Será que de onde provém o senhor Cooper, as aeronaves de ataque não dispõem de computadores de bordo e softwares capazes de cálculos sequenciais e posicionamento dinâmico? Bom… Os russos possuem tais facilidades e fazem uso delas, adotando uma doutrina que não expõe os seus vetores de maneira inconsequente aos mísseis antiaéreos lançados por infantes (MANPADS).

Além de prepotente, o senhor Cooper se mostra confuso, como quando tenta explicar a forma da VKS lidar com as defesas antiaéreas:

“Eles incluem suporte, por exemplo, na forma de Su-34s equipados com contêineres de guerra eletrônica SAP-14 e Su-35s armados com mísseis anti-radar Ch-59, que tentam “atravessar” o caminho para outros Su-34s armados com mísseis Ch-58/58M com orientação eletro-óptica. A cobertura de cima é fornecida por aeronaves Su-27SM, Su-30SM ou MiG-31. Posteriormente, há uma tentativa de suprimir as defesas aéreas ucranianas para que os Su-34 possam se aproximar (…)”.

Antes de tudo cabe a correção: o míssil antirradiação utilizado é o Kh-31, para ser mais específico o Kh-31P (alcance de 110 km). A confusão se dá pelo fato do senhor Cooper primeiro enunciar que os russos fazem uso de mísseis antirradiação, progridem com o pacote de ataque para só então buscar suprimir as defesas antiaéreas… Não, caro autor renomado, a supressão das baterias antiaéreas são uma prioridade assim que identificadas no Teatro Operacional, como seriam para qualquer uma das outras forças aéreas do mundo… Sim, caríssimo, missões SEAD fazem parte dos manuais doutrinários da VKS. Surpreso?

O senhor Cooper, não contente, parte para a desinformação pura e simples, como quem quer negar uma realidade constatável:

“Talvez apenas pela quantidade de evidências de que muitos sistemas de armas russos, que foram sistematicamente elogiados nos últimos trinta anos, seja pela Rússia ou no Ocidente, tenham fraquezas fundamentais que os ucranianos usam regularmente e com sucesso hoje”.

Então vejamos… A Rússia atacou alvos onde quis nesta guerra, de tanques de armazenamento de lubrificantes em Lviv até a concentração de blindados num Shopping em Kiev. Alvos destruídos por armas como Izdeliye 305[3] abundam em vídeos nos canais públicos do aplicativo Telegram; que fraquezas são essas que dizes ser aproveitadas pela Ucrânia, se o que se percebe é a defesa antiaérea discreta, a Ukroluftwaffe ausente e os alvos de valor tático e estratégico em chamas, todos os dias. O senhor poderia nos explicar esta contradição evidente?
Não poderá, nem o fará: a contradição é intencional.

No entanto, é justamente ao entrar no campo das vitórias em combates aéreos, que a pessoa se supera. Começa por tentar mitigar o fato que o lado escolhido por ele é um fracasso. A tentativa é tosca:

“As batalhas aéreas ocorrem quase diariamente desde o início da guerra e até agora. No entanto, seus resultados são sombrios, então nenhuma das partes quer se gabar muito deles (…)”.

Piada, devo dizer, pois nada há de sombrio num combate aéreo. Você ganha, ou perde. Neste caso quem perde todos os combates é o lado eleito pelo senhor Cooper, o mesmo lado que soltou registros de vitórias aéreas elaboradas em CGI, em especial do jogo Digital Combat Simulator, distribuído pela Eagles Dynamics. Nascia assim o famoso “Fantasma de Kiev”. O lado russo anuncia as vitórias aéreas, detalha dia e hora das suas alegações e os pilotos vitoriosos.

Não contente o senhor Cooper continua:

“seus pilotos atacam regularmente todas as aeronaves ucranianas que detectam com dois a três mísseis R-77, ou R-33 no caso do MiG-31, de muito longe, então eles erram. Por razões de propaganda, o Ministério da Defesa em Moscou posteriormente credita aos pilotos do VKS “vitórias confirmadas em combate aéreo” e os premia”.

Nunca vi tanta desfaçatez. Toda a alegação russa de vitória aérea é suportada por registros de radar por parte dos controladores em terra e das aeronaves envolvidas. Tais registros são gravados. Outro fator que confirma são os seguidos sepultamentos e condecorações póstumas que os pilotos ucranianos recebem. O senhor Cooper certamente crê que os seus leitores são parvos, afinal, o que ele espera de quem lê uma besteira do naipe “disparos de muito longe”, o que é “muito longe”? Por acaso é o uso no limiar do alcance do míssil em questão? Então, os russos não conhecem os parâmetros das suas armas, nunca as testaram… É isso mesmo?
O senhor Cooper certamente acredita estar a falar com crianças, pois bem, crianças aqui não existem. Como sempre é ao tentar justificar os fracassos dos seus eleitos, os ucranianos, que o senhor Cooper se supera. Ele assim começa:

“Devido à falta de fundos, os ucranianos voaram ainda menos horas de treinamento do que os russos antes da guerra”.

Uma desculpa evidente, todavia, ele continua:

“Alguns pilotos mais jovens tiveram a oportunidade antes da guerra de participar de exercícios conjuntos com a Força Aérea dos Estados Unidos e alguns países da OTAN. Entre outras coisas, esses exercícios trouxeram ideias como tentar emboscar os russos com MiG-29 e Su-27 voando baixo no modo -EMCON (…)”.

Como é? Faltam fundos para horas de voo dos pilotos, mas sobra fundos para treinar com a OTAN? Como sempre, a tendência de desculpar os eleitos ucranianos de qualquer espécie de defeitos, leva o senhor Cooper a contradição explícita. Não se dá conta o renomadíssimo entrevistado, de que entre as ações mais dispendiosas para uma força aérea está a de treinar pilotos no exterior, ou mesmo de sediar treinamento ministrado por forças estrangeiras em seu território. Disto não sabe? Ora, pois, o senhor Cooper pode conseguir enganar os incautos, mas tão somente estes.

Como esperado, é no campo da batalha aérea que o delírio se apresenta por inteiro. Para a alegria de todos o senhor Cooper dispara:

“A ideia era se aproximar do inimigo por trás da orientação usando sinais de dispositivos de alerta na frente de seu radar e depois atacá-lo com mísseis R-27ET de médio alcance com orientação infravermelha. Em teoria, no papel, isso parece bom, mas na prática provou ser muito perigoso, pois na realidade o R-27ET pode ser guiado efetivamente a uma distância muito menor do que o declarado. Mesmo assim, várias mortes parecem ter sido alcançadas dessa maneira (…)”.

Como é? A Ukroluftwaffe obteve vitórias aéreas? Então, isto se tornou um problema, pois… Das poucas perdas que a VKS teve nestes seis meses de guerra, todas elas foram reivindicadas pela defesa antiaérea. Nunca houve da parte ucraniana alegação com data e hora, vetores envolvidos e o nome do piloto que logrou a vitória aérea reivindicada. Qual será o problema dos ucranianos? Não sabem quem realizou os seus feitos? São extremamente desorganizados?

Para o senhor Cooper as alegações de vitórias aéreas como as do Major Viktor Dudin, ou do Tenente Ivan Perepelkin, são fantasiosas, mesmo com registro, data, hora e até mesmo vídeos de lançamento dos mísseis empregados em combate, porém as alegações ucranianas, jogadas ao vento, são verídicas. Pois é… O que falar, então, do Tenente-Coronel Ilya Sizov [4], que não só tem 11 vitórias aéreas alegadas, sendo uma delas, a que resultou na morte do herói ucraniano Igor Bedzay…  Registrada em vídeo. O que dizer… Negar?

Pois, vai ficar melhor agora:

“Em resposta, os russos começaram a operar em grandes formações, combatendo regularmente um único MiG ou Sukhoi ucraniano com uma dúzia de seus próprios caças. Além disso, eles mantêm sua desvantagem colocando-os na defensiva através da barragem de vários mísseis R-77 e R-33. Quando você está se esquivando de dois, três, cinco mísseis vindo em sua direção, você não está pensando em como atacar a si mesmo. Além disso, eles mantêm sua desvantagem colocando-os na defensiva através da barragem de vários mísseis R-77 e R-33”.

Oh, céus! A VKS age de maneira covarde, por lutar nos seus termos, aparentemente é isso que o senhor Cooper quer dizer. Observe que a lamúria se dá pela Ukroluftwaffe ver sempre um, ou dois dos seus vetores cercados nos céus por uma “matilha” de vetores russos. Ora, ora, não estava a Ukroluftwaffe intacta, senhor Cooper? Não consegue a Ukroluftwaffe, intacta devido a incompetência russa, colocar vetores em massa para defender os céus ucranianos? Estranho, devo dizer…

A piada fica por conta dos termos de luta, visto que para o senhor Cooper os russos devem abandonar a imposição da sua vantagem relativa… Ele reclama da “barragem” de mísseis BVR[5]. O senhor Cooper parte do princípio de que os russos devem ser bonzinhos e que por isso devem gentilmente deixar os ucranianos a darem os seus tirinhos… Infelizmente a guerra não é travada com bondade. É doutrina reconhecida e aplicada por várias forças aéreas do mundo em combate BVR, impor ao inimigo os seus próprios termos e deixá-lo em posição defensiva. Ademais, o que se viu nos vídeos divulgados foram salvas de mísseis, algo comum num combate aéreo, principalmente quando você tem pela frente alvos múltiplos. Temos, então, a revelação de que o senhor Cooper nada sabe sobre combate BVR, ou desinforma, com plena consciência do que está a fazer.

O senhor Cooper, no entanto, é muito insistente nas suas lamúrias:

“Além disso, os caças russos nunca cruzam a linha de frente, então é inútil tentar atacá-los. Eles não estão no espaço aéreo controlado pela Ucrânia”.

Os russos devem voar desnecessariamente fora da sua cobertura AA, para dar aos ucranianos deprimidos uma chance ao menos… Vamos rir. Novamente a lamúria pelo fato de os russos ditarem os seus termos de combate. Em suas lágrimas o senhor Cooper parece não entender o mundo em que vive, talvez por considerar os russos incompetentes e incapazes. Convenhamos, é uma tática bem conhecida a de atrair inimigos para dentro do raio de ação das suas defesas antiaéreas. O senhor Cooper, suprema ironia, descreveu tais operações havidas no passado, em conflitos do Oriente Médio. Ao que parece o que é valido para sírios e israelenses não pode ser válido para os russos.

Como sabemos, Tom Cooper não é engenheiro, o seu saber sobre sistemas eletrônicos é enciclopédico. Quanto a isso tudo bem, mas para uma pessoa que precisa se apoiar no conhecimento alheio para produzir conteúdo, Cooper parece muito desenvolto e dado a falar demais:

“O problema é que a guerra eletrônica usa muita eletricidade. Tanto que os sistemas de bordo do Su-34 não permitem o pleno uso das capacidades teóricas de seu radar principal Leninets V-004. Não é de surpreender que a aeronave também não possa utilizar totalmente o SAP-14”.

Vamos lá… Se tem algo que não falta aos caças Sukhoy da chamada “Família Flanker” é a disponibilidade de energia para sistemas de bordo.  Sobra energia. O conjunto Su-35/Irbis-E impressiona em alcance justamente por sobrar energia para o sensor… Dizer que um Su-34 não consegue alimentar o seu radar embarcado não pode ser entendido como informação, mas como desinformação. Pior, dizer que um POD EW foi integrado, porém não é utilizado plenamente, é brincar com a inteligência do leitor, pois se um POD EW não pode ser utilizado na sua plenitude, então integrado não foi, não passa de carga inútil. Ademais, a informação emitida não pode ser comprovada, não passa duma desinformação plantada, portanto. Mais uma dentre tantas.

De fato, a entrevista do senhor Cooper prossegue em um cipoal de recriminações e lamúrias, todas elas despropositadas, afinal, apresentar-se como um analista objetivo de um conflito não significa que realmente é esta a intenção, seja o autor renomado, ou não. O que se percebe é a intenção clara de se plantar uma narrativa favorável a um dos lados, um eleito, Ucrânia, pouco importando para isso a realidade, expressa no mapa e nos acontecimentos.

A tendenciosidade é evidente, basta ver as lágrimas pelas mortes dos pilotos ucranianos… Ora, pois, não eram eles os vitoriosos, donos de uma força aérea praticamente intacta? Ou outros lamentos, quanto ao martelar massacrante da artilharia de campanha russa… Por acaso não recebeu a Ucrânia uma centena de obuseiros M-777, e outra vintena de PhZ-2000? Ah! Sim… Mais da metade dos obuseiros alemães retornaram para manutenção, avariados, devido ao uso intenso. O mesmo para os M-777 que não acabaram retorcidos no campo de batalha… Fica a pergunta: por que não abordar a fragilidade observada nos obuseiros de OTAN? Omite-se isso por fugir à narrativa desejada? Não é a função de um analista observar com seriedade e de maneira objetiva um conflito armado?

A verdade, caríssimo leitor, é que quando a vaidade se impõe é difícil buscar respostas calçadas na racionalidade. O problema da vaidade é que ela sempre encontra outra pelo caminho… Temos então, que a iniciativa do senhor Cooper em cobrir a guerra ucraniana, na qual ele reiteradamente publicou fantasias, tais como ataques helitransportados (que não ocorreram), presença (imaginária) de combatentes do Hezzbollah e vitórias aéreas inexistentes, apenas pode ser entendida como sendo fruto duma vaidade desmedida, se não isso, duma venalidade incontida, expressa na vontade de desinformar conscientemente. Disto resta saber qual das duas opções, vaidade ou venalidade, representa a motivação real destas publicações, que muito fizeram, diga-se, para arrasar e destruir toda a credibilidade amealhada anos e anos por Tom Cooper como autor de conteúdo.

Assim é a vida, alguns erros não são perdoáveis.

Notas:

[1]: VKS – Vozdushno Kosmicheskiye Sily, ou Força Aeroespacial Russa.

[2]: Wunderwaffe: – Arma maravilhosa, ou Arma milagrosa. Provém do alemão. Neste texto existem alusões jocosas, sendo elas: Ukroluftwaffe, para designar a força aérea ucraniana; Ukroheer, para designar o exército e Ukroreich, para designar o governo.

[3]: Izdeliye 305 – Produto 305 (tradução).

[4]: Tenente-Coronel Ilya Sizov: 11 vitórias aéreas alegadas até a presente data, a sua contagem consiste em: 03 Su-24, 03 Su-27, 02 MiG-29, 02-Mi-24, 01 Mi-8, além de duas baterias BuK M1. Condecorado com o Título de “Herói da Rússia por Coragem e Heroísmo”.

[5]: BVR – Beyond Visual Range (combate além do alcance visual).

Batom na cueca em Kramatorsk

Por: César A. Ferreira

Existe uma expressão brasileira bastante disseminada e alusiva à indiscrição amorosa masculina, em especial, a falha do cônjuge em esconder o ato de adultério. Esta expressão é conhecida como… “Batom na cueca”. De fato, a presença da marca fatal de batom na roupa íntima não compreende uma desculpa possível. Popular, este dito é conhecido e utilizado no Brasil para aludir a todas as falhas explícitas, flagrantes, onde desculpas não podem ser aceitas. Pois, tal aconteceu na guerra ucraniana, nesta data de 8 de abril, na cidade de Kramatorsk, atingida por um bombardeio cruel, cujos vestígios, tal como batom na cueca, acabaram por indicar com certeza plena, o autor.

Pela manhã, na estação ferroviária de Kramatorsk, onde populares se aglomeram para embarcar em trens e fugir da proximidade da guerra, explosões repetidas se deram, advindas de ogivas de mísseis balísticos táticos, que ocasionaram na morte de 52 pessoas e ferimentos em outras 100. Esta tragédia foi de imediato atribuída à ação pérfida dos russos, sem meias palavras. O meio utilizado seria o míssil 9K120 “Iskander”… Acontece, que para o imenso azar do Ukroreichspropagandaministerium [1], a espoleta de um dos mísseis não funcionou, a cabeça de guerra não detonou e o corpo insolente do míssil repousou no gramado em frente da estação com as suas formas acusadoras: era um míssil OTR-21 “Tochka-U”. Em outras palavras, uma arma da Ukorwermacht [2]

O pior para o querido e ocupadíssimo Ukroreichspropagandaministerium é que o “míssil delator” (na verdade o propulsor) não só entregou a nacionalidade dos responsáveis pelo ataque, como a direção, no caso sudoeste, e portanto, a unidade de artilharia que efetuou o tenebroso ataque: trata-se da nefasta 19ª Brigada de Artilharia de Mísseis, neste momento acantonada na localidade de Dopropolye, distante 45 km do alvo, Kramatorsk. Esta unidade é a responsável pelo bombardeio criminoso de Donetsk em 14 de março último, que vitimou 17 pessoas e feriu outras tantas. A brigada em questão, aliás, sofreu o dissabor seis dias após o crime cometido em Donetsk, quando um “meio de precisão” destruiu lançadores da unidade e ocasionou a morte da sua comandante, Alexandra Burgart [3] e de mais oito artilheiros. Isto, no entanto, não poderia ser um obstáculo intransponível para os propagandistas ministeriais que rapidamente sacaram uma foto dum lançador “Tochka” junto a uma coluna de veículos russos. Pouco importa se o veículo em questão fosse bielorrusso, que estava em manobras antes da guerra e em pleno solo da Bielorrússia. Não importa, o que vale é a narrativa.

Existe, todavia, um terreno onde a emocionalidade barata tão cara aos meios de comunicação ocidentais (CNN, BBC, DW, RTP…) não conseguem afetar, dado que em geral se movem pela racionalidade, que são os fóruns de discussão de assuntos militares e tecnológicos. Nestes espaços o conhecimento de meios militares se faz presente, bem como dos utilizadores destes, e desta maneira ventilou-se ao mundo a informação simples que os mísseis Tochka foram retirados de linha e completamente substituídos no Exército da Federação Russa em… 2020. A pergunta que sobra, então, é o motivo para se atacar uma estação ferroviária de uma cidade que se encontra em seu próprio poder. Por que o governo ucraniano cometeria esse desatino? Fácil de entender… Acontece que o Ukroreich considera as populações das cidades de Kramatorsk e Slavyansk como desleais, tanto que no Donbass o direito de voto foi suprimido. A população de Kramatorsk está fugindo, literalmente esvaziando a cidade em vista da possibilidade nada remota dela se tornar uma nova Mariopol. Esta fuga priva as forças ucranianas do precioso “escudo humano” e a ação de disparar sobre a concentração de populares na estação é apenas um ato de vingança. Compreensível, pois isto faz parte do espírito nazista: da wunderwaffe V-2 ao Tochka-U nada mudou, apenas o tempo passou.

Notas
[1]: Ukroreichspropagandaministerium – Em alemão: Ministério da propaganda do Ukrogoverno. Termo alusivo ao Reichpropagandaministerium da Segunda Grande Guerra.

[2]: Ukrowermacht – Em alemão: Forças Armadas, alusivo ao termo Wermacht da Segunda Grande Guerra.

[3]: Detinha a patente de Coronel, como é comum nas Brigadas ucranianas. As formações ucranianas denominadas de “Brigadas” em geral possuem efetivo bem menor que as suas equivalentes ocidentais, não raro no valor de um regimento, ou um pouco maior do que isto. Brigada ocidental (infantaria): 7.000 até 9.000 combatentes. Regimento (infantaria): 2.000 até 3.000 combatentes.

Nota do Editor:

Após a publicação desta matéria houve a veiculação de registro do numero de série do propulsor do míssil Tochka-U encontrado no gramado em frente a estação de Kramatorsk, trata-se do míssil Sh 91579. Isto comprova, indelevelmente, que o míssil em questão é uma arma ucraniana, visto ser esta numeração seriada presente no inventário ucraniano. Ademais, outros propulsores encontrados noutras cidades vitimadas pelos ucranianos possuem numerações aproximadas, igualmente presentes no mesmo inventário. Realmente este é o “batom na cueca”.

A descoberta desta numeração se deu graças ao trabalho jornalístico do correspondente de nacionalidade italiana: Fabio Mario Angelicchio, que foi apresentado no programa apresentado por Enrico Mentana, canal La7.

Ucrânia: derrotas e recriminações

Por: César A. Ferreira

Para o governo ucraniano os mortos são desaparecidos.

Dezenas de combatentes ucranianos mortos no conflito do Donbass não são reconhecidos como tais pelo governo de Kiev, sendo por este, taxados simplesmente de “desaparecidos”… Esta classificação possui um ingrediente cruel para as famílias dos soldados vitimados, dado que quando classificados como desaparecidos não permite a legislação vigente na Ucrânia a concessão de pensão aos familiares. Em outras palavras, o executivo ucraniano vale-se de um preciosismo legal para sonegar aos familiares um direito legítimo, o que em última instância demonstra o caráter daqueles que governam o pai frente àqueles que tributam em sangue pela pretensa honra ucraniana.

Estes mortos encontraram o seu destino na última ofensiva empreendida pelas forças ucranianas na área do distrito de Gorlovka, nas datas de 20 e 21 de maio último, ofensiva esta que já no dia 22 havia sido paralisada pelas ações contraofensivas das milícias do Donbass. Verificou-se, como sempre, a incompetência e o pouco empenho das formações ucranianas em contraste com as ações aguerridas dos milicianos. Deu-se que membros de forças de reconhecimento viram-se, para grande espanto destes, confinados em uma vasta área minada na terra de ninguém, e ao solicitarem apoio atraíram fogo para estes e a eles. A planejada ofensiva foi revelada, resultando no comprometimento prematuro dos infantes, bem como dos blindados e da artilharia autopropulsada… A 1º Batalhão da 24ª Brigada de Infantaria Mecanizada, que conta com oito carros blindados e quatro obuses autopropulsados, foram monitorados desde a sua concentração na localidade de Dzerzhinsk o que motivou a sua confrontação, resultando primeiro na paralisação das ações e depois no retraimento sob fogo.

Além do grupo precursor que incrivelmente não havia mapeado o campo minado e enviado sapadores para limparem trilhas para incursões, outros três grupos precursores tiveram a mesma sorte madrasta. Isto revela um problema sério de doutrina e adestramento nas armas ucranianas. O fracasso da ofensiva em Gorlovka resultou nos costumeiros bombardeios de artilharia nas áreas civis, após o retraimento apressado das formações para a localidade de Dzerzhinsk, com consequente minagem emergencial dos campos no entorno desta localidade, o que em si revela certo grau de pânico, se não nas formações, ao menos no comando.

Após a derrota as recriminações. Duas formações táticas deveriam se lançar para pressionar as formações milicianas na forma de uma pinça. Seriam as formações táticas “Leste” e “Norte”. O Comandante da operação, Tenente-General Sergei Naev eximiu-se de responsabilidades e criticou fortemente o comandante do braço “Norte”, enquanto poupava o comando do braço “Leste”. É interessante notar que o comandante da ala “Leste” da operação, A. Krasnok, é diretamente supervisionado pelo serviço de segurança da Ucrânia, tendo como serviço anterior comando de formações divisionais do mal afamado batalhão “Azov” da Guarda Nacional Ucraniana. De fato, a investigação conduzida às ordens do Chefe de Gabinete das Forças Armadas da Ucrânia, General de Exército Viktor Muzhenko, constatou conflito entre as formações militares e aquelas que respondiam à SBU (Sluzhba Bezpeky Ukrayiny – Serviço de Segurança da Ucrânia), além disto, a má disciplina, consumo inveterado de álcool e condutas criminosas foram observadas nas formações, especialmente na 36ª Brigada de Fuzileiros Navais, cujo comandante foi apontado como dotado de extrema fraqueza moral e incapaz de executar as suas obrigações como oficial.

O General de Exército Viktor Muzhenko tem muito que lamentar… A operação que resultou em mais um desastre, algo em torno de 31 mortos e 40 feridos com gravidade, pode parecer algo em escala pequena para muitos, mas se tratava obviamente de uma operação escalonada. O objetivo estratégico perseguido por Kiev é interromper o trafego logístico entre Lugansk e Donetsk. O foco para separar os dois distritos rebeldes é a localidade de Debaltsevo, centro logístico de importância fulcral. Para tanto, a posso de Gorlovka torna-se chave para que sejam efetuadas operações contra Debaltsevo e Enakievo. O fracasso da operação, frente ao assentamento de Chigary, é a parte mais dolorosa para Kiev, visto contar com Carros de Combate e blindados BMP e onde ao menos uma dezena de combatentes encontrou o seu destino final, mas que para o governo de Kiev estão apenas… Desaparecidos.

An-26 abatido

Ucranianos vão tirar foto nos destroços da AN-26
Restos do Antonov An-26 abatido em Izvarino. Moradores locais demonstram a sua curiosidade. Imagem: Dominique Faget/AFP Photo.

Uma aeronave de transporte militar, Antonov (An-26), pertencente às armas ucranianas, foi abatida por milicianos da República Popular de Lugansk, quando sobrevoava o território desta na altura da localidade de Izvarino, assentamento urbano nos arredores de Lugansk. Não foi informado qual foi o meio antiaéreo empregado, todavia, relatam-se 20 fatalidades decorrentes do ato.

Moradores de Izvarino relataram ao menos três paraquedas desfraldados no ar, todavia nã relataram o encontro de nenhum tripulante sobrevivente. Os destroços da aeronave chamaram atenção destes mesmos moradores, que pegaram partes metálicas do avião como recordação. A ação antiaérea se deu por volta das 12:30 do dia 28 último, horário local.

Em vista dos acontecimentos, onde se constata, mais uma vez, incompetência crassa, leniência e compadrio, entendem-se, pois, os motivos do Estado Ucraniano recusar reconhecer as dezenas de mortos desta operação fracassada, impondo às famílias, além da dor da perda dos seus entes queridos, nenhum vintém pela morte dos seus arrimos. Muito há o que esconder nesta guerra cruel e insana, movida por motivos ideológicos torpes. A população do Donbass sangra, enquanto a população da Ucrânia pasta sem perspectiva alguma de melhora de vida, imersa numa contínua crise econômica e social. Parabéns à Maidan.

Nota do Editor: artigo realizado com materiais advindos das agências Voenkor, Southfront, AFP, News Front, Prensa Latina e de contribuições de correspondentes locais.

Oficial sênior da inteligência ucraniana assassinado

Por: César A. Ferreira

Nesta terça – feira, 27. 06. 2017, precisamente às 08:14 no horário local da Capital da Ucrânia, Kiev, um oficial sênior da inteligência governamental foi vítima de um atentado explosivo, que mandou pelos ares o automóvel que o conduzia. O oficial morto neste atentado atendia pelo nome de Maxim Shapoval, e detinha neste momento o cargo de Diretor Chefe da Inteligência Militar da República da Ucrânia, englobando a chefia das operações especiais da inteligência militar.

Esta ação empana os sucessos anteriores da inteligência ucraniana no território separatista das Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, onde houveram as ações letais contra os comandantes “Motorola” (Arseni Serguéyevich Pávlov) e “Givi” (Mikhail Tolstykh), ambos assassinados fora do ambiente de combate, o primeiro devido a explosivos colocado no elevador de acesso a sua residência e o segundo assassinado dentro do seu escritório, alvejado por uma granada anti-carro autopropulsionada. O atentado que vitimou Maxim Shapoval deu-se através de explosivos plantados em seu carro, que foram detonados em uma via da Capital Ucraniana de maneira espetacular.

A morte deste oficial é bem mais do que simbólica e significa, antes, um aviso candente sobre a fragilidade que se abate sobre as autoridades ucranianas, afinal se o chefe de inteligência encontra-se com o seu destino desta maneira, torna-se óbvio que existe uma infiltração severa nos dispositivos de inteligência ucranianos e que qualquer um poderá vir a compartilhar o fim de Maxim Shapoval.