Bucha de farsas

Por: César A. Ferreira

O mundo entrou em comoção nesta última semana devido a eventos na cidade ucraniana de Bucha, tais eventos também preocuparam este escriba, mas por um motivo divergente: enquanto a malta se condoía por uma possível chacina perpetrada naquela cidade, este que vos escreve estava apreensivo com um fenômeno não visto na humanidade há pelo menos dois mil anos: o ressuscitar dos mortos!

Dá-se que desde os eventos na antiga palestina que envolveu primeiro Lázaro (levanta-te e anda) e depois Jesus Cristo, a humanidade não era brindada com tal fenômeno, pelo menos não até termos na cidade de Bucha o registro em vídeo da emissora Espreso.TV [1], onde um cadáver acena com a mão e outro se senta depois da passagem do veículo (visto pelo retrovisor). É compreensível, ninguém quer embarcar de qualquer jeito na barca de Caronte, sentado é mais confortável e se possível com um cigarro aceso… Assim, num piscar de olhos, a pretensa “chacina de inocentes civis perpetrada pelos pérfidos russos” transformou-se numa imensa dúvida.

Os indícios de uma farsa na alegada execução de civis em Bucha por forças russas são vários. Um deles que é bastante eloquente é o depoimento do prefeito da cidade, Anatoly Fedoruk, em favor da emissora Ukraine 24, onde bastante sorridente e feliz anunciava a retirada das forças russas da cidade que tinha se dado no dia anterior, 30 de março. Em nenhum momento Anatoly declarou o evento tenebroso de perseguições a civis… Outro indício de farsa é o fato dos cadáveres não apresentarem sinais de perfuração, de sangramento, escoriações, rigidez post mortem e inchaço, visto que deveriam estar expostos aos elementos por dias… Observa-se, também, a ausência de animais carniceiros. Não bastasse isso, nas próprias imagens fornecidas pelos meios ucranianos, vemos laços feitos com gentileza e nenhuma marca nos pulsos dos supostos cadáveres. Isto além da estranheza de se ver cadáveres idênticos, com as mesmas roupas em lugares diferentes. Não são estes, no entanto, os componentes do argumento fatal. Este é o vídeo produzido pela própria Polícia Nacional da Ucrânia, no qual se registrava a entrada dela na cidade de Bucha e a realização da “limpeza”. Um carro abandonado aqui, outro ali. Um blindado largado lá e acolá, mas nenhum cadáver… A Polícia Nacional da Ucrânia junto com a Sturmtruppen Kord [2],entraram na cidade na data de 2 de abril, três dias depois da retirada russa. No mesmo dia uma inserção na página da Polícia Nacional anunciava o “expurgo” de “sabotadores, cúmplices da Federação Russa”.

Quando um evento plantado se revela com fissuras, as agências de inteligência não o abandonam, seria pior. Ao contrário do que se pensa, elas aumentam a aposta, pois entendem com correção que a natureza do jogo é emocional e não racional. Tendo a mídia na mão basta ampliar o fluxo de notícias para impor a narrativa. Temos assim, por exemplo, a famosa “imagem de satélite” com os corpos estirados na rua. Aliás, de maneira para lá de interessante, dispostos de uma forma simétrica, numa mesma posição e rua somente, como se fossem cones para teste de habilidade em condução de motocicletas. Neste contexto pouco adianta argumentar que a imagem não foi obtida no dia 29, como indicado, já que a declinação da luz solar era outra, pois não é a racionalidade o fator preponderante, mas a emoção… Tanto é assim que os serviços de inteligência ocidentais rapidamente escalaram um “mágico” para produzir histórias emotivas das “chacinas de Bucha”, na pessoa do editor chefe da sucursal de Paris da agência Reuters, Christian Lowe, que enviou a sua “operadora de campo”, a editora e diretora Joan Catherine Soley para produzir “reportagens” de massacres e de torturas sem fim cometidas pelos “pérfidos russos”… O cenário já está montado com imagens de “bares saqueados”, resgatando o distorcido preconceito europeu contra os frontoviks [3], não importando que o informante estivesse fardado com bandeira ucraniana e patch do programa MRT do US Army.

Para se ter uma ideia do quanto estava programada a farsa de Bucha, basta ver a rapidez do aparecimento do verbete “Massacre em Bucha” na Wikipédia. O autor é um insuspeito e pacato bibliotecário de Melbourne, Austrália. Homem simples, dotado de alguns hobbies, que postou sob o manto do nickname Deathlibrarian [4]… Um post sobre “Massacre”, outro sobre o filme “Blind Of Love”… Por que não um letreiro luminoso: operação de desinformação do MI6! Seria mais honesto e ficaria bem melhor.

A natureza, no entanto, é madrasta. Nazistas são nazistas, sectários, cruéis e covardes. Por conta desta natureza produziram outro evento que veio a nublar, se não foi capaz de jogar uma sobra completa na farsa de Bucha. Simplesmente capturaram três jovens da VDV [5] e após os renderem, com as mãos atadas às costas, os degolaram. A cena é brutal, com sangue espalhado pela estrada em profusão. Os perpetradores deste crime de guerra foram identificados, afinal, mostraram-se orgulhosos do feito no próprio vídeo. São eles: Khizanishvili Teymuraz, Antoniuk Alexey, Alexey Kutsirin. Não bastasse esta barbárie, Mamuka Manulashvili [6], também acusado de estar presente na cena da execução, declarou em entrevista para o canal do YouTube “Vozduck”, que a execução de prisioneiros é aceitável.  As imagens e a declaração, como era de se esperar, foi explorada pela mídia russa e incendiou a opinião pública, que nos fóruns de discussão conseguiram identificar a residência de cada um dos acusados e estavam a pedir o bombardeio destas sem se importar com a presença de cônjuges e de crianças. Se o intuito era provocar o ódio, conseguiram.

Notas:

[1]: Emissora ucraniana de televisão via internet (WebTV).

[2]: SturmTruppen: Tropas de Assalto em alemão. Kord: formação nazista de Operações especiais e assalto.

[3]: Frontovik: designação do soldado soviético experiente e endurecido pela batalha. Segunda Grande Guerra.

[4]: Deathlibrarian: Bernard Lyon.

[5]: VDV: do russo: Vozdushno-desantnye voyska Rossii – Tropas aerotransportadas da Federação Russa.

[6]: Khizanishvili Teymuraz e Mamuka Manulashvili. Membros da “Legião Georgiana”.

Nota do Editor

Após a publicação deste artigo, começaram a circular imagens em vídeo onde soldados ucranianos arrastavam corpos na rua em favor de um fotógrafo. Os corpos estavam flexíveis, sem apresentar rigor mortis e dispostos de maneira a valorizar a profundidade de campo na obtenção da imagem, explicando assim a disposição simétrica destes na imagem obtida por satélite. Dado o fato de que as unidades ucranianas doutrinadas ideologicamente não possuem pudor algum em produzir cadáveres, acredito que o episódio de Bucha está definitivamente encerrado com o vazamento deste vídeo incriminador.

O segredo por trás do próximo crash global

Por: Pepe Escobar – 21.01.2016

Tradução: Coletivo de Tradutores da Vila Vudu

Fonte original: Sputnik News

Reproduzido: Blog do Alok

O Fórum Econômico Mundial em Davos está naufragado sob um tsunami de denials – negar o que vê/fingir que não vê/não ver sinceramente – e também de non-denial denials – não negar o que nem vê que nega – e tudo isso só para ‘garantir’ que não acontecerá um desdobramento do Crash de 2008.

O caso é que sim, acontecerá. E o cenário já está pronto.

Seletos corretores de petróleo no Golfo Persa, o que inclui ocidentais que trabalham no Golfo confirmam que a Arábia Saudita está descarregando pelo menos $1 trilhão em securities e derrubando os mercados globais por ordem dos Masters of the Universe – os que mandam acima da presidência manca de Barack Obama.

Longe vão os dias quando bastaria a Casa de Saud flertar com essa ideia, para ter todos os seus bens congelados. Pois, hoje, já obedecem a ordens. E mais virá; na avaliação de corretores craques em Golfo Persa, os investimentos sauditas em securities ocidentais podem chegar a $8 trilhões; os de Abu Dhabi, a $4 trilhões.

Em Abu Dhabi tudo foi separado em compartimentos, e ninguém pode avaliar coisa alguma, exceto corretores e negociantes que conheçam cada supervisor de cada compartimento de investimentos. E para a Casa de Saud, como se poderia prever, a regra de ouro é negar sempre.

Essa massiva descarga de securities chegou algumas vezes à mídia-empresa, mas os números têm sido grosseiramente subestimados. A informação inteira não chegará até lá, porque os Masters of the Universe ordenaram que não chegasse.

Houve aumento gigante na descarga saudita-Abu Dhabi de securities desde o início de 2016. Fonte no Golfo Persa diz que a estratégia saudita “demolirá os mercados”. Outra fonte fala de “vermes comendo carcaça no escuro”; basta olhar a calamidade em Wall Street, por toda a Europa e em Hong Kong e Tóquio na 4ª-feira.

Quer dizer: já está acontecendo. E uma subtrama crucial pode ser, em prazo de curto a médio, nada menos que o colapso da eurozona.

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Desânimo no mercado. Foto: Euronews.

O crash de 2016?

Por tudo isso, pode ser um caso de a Casa de Saud em pânico, instrumentalizada para derrubar grossa fatia da economia global. Quem ganha com isso? Cui bono?

Moscou e Teerã tem muito a ver com isso. A lógica por trás de demolir mercados, criando recessão e depressão – do ponto de vista dos Masters of the Universe que reinam acima do presidente pato manco dos EUA – é arquitetar retardo gigante, impossibilitar os padrões de compra, reduzir o consumo de petróleo e gás natural, e pôr a Rússia em rota direta rumo à ruína. Além do quê, preços ultrabaixos do petróleo também se traduzem como uma espécie de sanção-substituta contra o Irã.

Mesmo assim, o petróleo iraniano que se aproxima de chegar ao mercado estará em torno de 500 mil barris/dia em meados do ano, mais um excedente armazenado em petroleiros no Golfo Persa. Esse petróleo pode ser e será absorvido, porque a demanda está aumentando (nos EUA, por exemplo, aumentou 1,9 milhão de barris por dia em 2015), e a oferta está caindo.

Em julho, aproximadamente, demanda crescente e produção em declínio reverterão o crash do petróleo. Além do mais, as importações de petróleo da China tiveram aumento recente de 9,3%, em 7,85 milhões de barris/dia, o que desacredita completamente a narrativa dominante de que a economia chinesa estaria ‘em colapso’ – ou de que a China seria culpada pelos padecimentos atuais do mercado.

Assim sendo, como já expus aqui em linhas gerais, em breve o petróleo dará a volta por cima. Goldman Sachs concorda. Implica que os Masters of the Universe tem uma estreita janela de oportunidade para fazer os sauditas despejarem quantidades massivas de securities nos mercados.

A Casa de Saud pode precisar desesperadamente de dinheiro, se se considera o alerta vermelho no orçamento. Mas esse despejo das próprias securities também é visivelmente autodestrutivo. Eles simplesmente não podem vender $8 trilhões. A Casa de Saud está, na verdade, destruindo o equilíbrio da própria riqueza. Por mais que a hagiografia ocidental tente pintar Riad como player responsável, fato é que legiões de príncipes sauditas estão horrorizados ante a destruição da riqueza do reino nesse haraquiri em câmera lenta.

Principe
Mohammed bin Sultan. Foto: Albawaba News.

Haveria algum Plano B? Haveria. O príncipe guerreiro Mohammed bin Sultan – atual manda-chuva em Riad – teria de meter-se no primeiro avião para Moscou, para arquitetar uma estratégia comum. Mas não acontecerá.

E quanto à China – maior importador de petróleo da Arábia Saudita –Xi Jinping acaba de visitar Riad; Aramco e Sinopec assinaram uma parceria estratégica; mas a parceria estratégica que realmente conta, considerando o futuro de “Um Cinturão, Uma Rota”, é, essa sim, a parceria Pequim-Teerã.

O despejo massivo das securities sauditas tem a ver com a guerra saudita do preço do petróleo. No momento atual de volatilidade extrema, o petróleo está em baixa, as ações estão em baixa e os estoques de petróleo estão baixos. Pois nem assim a Casa de Saud dá sinais de compreender que os Masters of the Universe os estão empurrando para que se autodestruam, os próprios sauditas, várias e várias vezes, incluindo inundar o mercado de petróleo depois de limitar a capacidade dos sauditas [orig. including flooding the oil market with their shut-in capacity]. E tudo isso, para ferir mortalmente Rússia, Irã e… a própria Arábia Saudita!

Apenas um peão no jogo de outros.

Entrementes, Riad ferve de boatos de que haverá um golpe contra o rei Salman – virtualmente incapacitado, demente e confinado a um quarto de seu palácio em Riad. Estão em jogo dois possíveis cenários:

1) Rei Salman, 80, abdica em favor do filho, conhecido ignorantão, arrogante criador de confusão e príncipe guerreiro Mohammed bin Salman, 30, atualmente vice-príncipe coroado e ministro da Defesa e o segundo na linha de sucessão, mas quem de fato comanda o show em Riad. Pode acontecer a qualquer momento. Como bônus, o atual ministro do Petróleo Ali al-Naimi, que não é da família real, poderia ser substituído por Abdulaziz bin Salman, outro filho do rei.

2) Um golpe palaciano. Salman – e seu filho criador de casos – cai fora do quadro, substituído por Ahmed bin Abdulaziz (que foi já ministro do Interior), ou pelo príncipe Mohammed bin Nayef (atual ministro do Interior e príncipe coroado).

Seja qual for o cenário que se concretize, o MI6 britânico está muito intimamente a par da pantomima. E talvez também o BND (Bundesnachrichtendienst, Serviço Nacional de Inteligência) alemão. Todos recordam o memorando do BND no final de 2015, que descrevia o então vice-príncipe coroado Mohammed bin Salman como “jogador político” que está desestabilizando o mundo árabe com as guerras por procuração no Iêmen e na Síria.

Fontes sauditas – que pedem, por óbvias razões, que não se publiquem seus nomes –, garantem que nada menos de 80% da Casa de Saud é favorável ao golpe.

Seja como for, permanece a questão de saber se alguma Casa de Saud reformatada interromperá o haraquiri em câmera lenta que lá acontece. O imperativo categórico não muda: os Masters of the Universe estão prontos para derrubar o mundo inteiro, empurrando-o para terrível recessão, para, basicamente, estrangular a Rússia. A Casa de Saud é apenas um peão nesse jogo de pervertidos.

Pepe Escobar (1954) é jornalista, brasileiro, vive em São Paulo, Hong Kong e Paris, mas publica exclusivamente em inglês. Mantém coluna no Asia Times Online; é também analista de política de blogs e sites como:  Sputinik, Tom Dispatch, Information Clearing House, Red Voltaire e outros; é correspondente/ articulista das redes Russia Today e Al-Jazeera.