A Guerra não é Counter Strike

Por: César Antônio Ferreira

No Brasil o jogo Counter Strike [1] é muito popular, dele existindo para espanto de muitos, campeonatos com premiações e equipes de jogadores profissionais. É parte de uma subcultura que valoriza a posse e o uso de armas de fogo que surgiu junto com a ascensão da extrema – direita no cenário político brasileiro. Este fenômeno é predominantemente de classe média, o que no brasil quer dizer o mesmo que um movimento de jovens brancos, muito bem alimentados, pretensamente conservadores e… Cristãos.

O Ucroreich [2], desesperado na sua sanha de sobrevivência frente ao exército russo, lançou um apelo para a contratação de mercenários no mundo inteiro e com alguma surpresa percebeu-se no site de contato e contratação um grande fluxo de pretendentes ao combate mercenário de… Brasileiros. Surpreendente pelo fato simples do Brasil não se envolver em conflitos bélicos desde o envio à Itália da FEB – Força Expedicionária Brasileira, no longínquo ano de 1944 em plena Segunda Guerra Mundial, onde combateu sob o comando norte – americano [3]. Fato é que salvo ter sido o cidadão vivente no Brasil, membro do BOPE-RJ, ou do CORE-RJ [4], não terá ele como ostentar experiência de combate, que no caso seria estritamente urbano.

Pois… Tais restrições não foram importantes para o brasileiro Thiago Rossi, instrutor de tiro na cidade paranaense de Maringá. Thiago Rossi, acompanhado de dezenas de outros brasileiros e centenas de outros mercenários de diversas nacionalidades, estava recentemente abrigado no famoso Centro Internacional de Manutenção da Paz [5], que nada mais é que um quartel com vasto campo de treino anexo. Este local é vezeiro em receber instrutores e militares da OTAN para ministrar treinamento para as formações ucranianas, em especial as nacionalistas de conhecido fervor nazifascista. Este aquartelamento, que dista cerca de 10 Km da fronteira polonesa, próximo a cidade de Lviv, sofreu como era esperado, dado ser uma infraestrutura militar e por isso alvo legítimo, severo ataque russo, quando pelo menos nove mísseis cruise atingiram o complexo.

Se verdade que os brasileiros não exibem grande experiência de combate, ao menos possuem ótimos reflexos, pois foram os primeiros a se levantar e correr para o abrigo da arborização próxima, quando da primeira sirene de alerta. Ao que parece a segunda sirene não teve como ser entoada e quem ficou na construção… Morreu. As vítimas, segundo o Ministério da Defesa da Ucrânia, eram de 7 mortos e 54 feridos, subiu para 35 mortos e 134 feridos, os russos apontam 180 mortos e os brasileiros sobreviventes falam em 200 mortos…

As palavras de Thiago Rossi são eloquentes:

“Lá tinha militares das forças especiais do mundo inteiro (…) A informação que a gente tem é que todo mundo morreu! Eles acabaram com tudo! Vocês não estão entendendo, acabou, acabou (…) A Legião [6] foi exterminada de uma vez só”!

Surpreendente é a frase final:

– “(…) Eu não imaginava que era uma guerra”!

Esperava o quê? Não ser alvejado? Que a guerra seria uma brincadeira de soldado? Que ganharia os valores gordos do soldo mercenário para não fazer nada e não correr riscos?

O ataque deste domingo, 13 de março de 2022, certamente vai entrar para história, mais pela retórica decorrente do que pelo ataque em si, afinal, destruir o aquartelamento de Yavoriv, capaz de abrigar até 1.700 soldados e tão querido pela OTAN, bem como próximo da fronteira polonesa, acabou por suscitar recriminações várias tais como “ataque terrorista”, risível argumentação dado que o alvo era um quartel… O Ministério da Defesa da Ucrânia, todavia, mesmo em vista de mais um desastre consegue “cantar vitória” ao afirmar que abateu 22 dos mísseis cruise [7] de um total de 30, aceitando, pois, oito impactos, ao contrário dos nove constatados. Com muita propriedade afirmam que foram lançados por bombardeiros baseados em Saratov, mais precisamente da afamada Base Aérea de Engels. Da parte russa não houve detalhamento do ataque.

O que pensar disso tudo? O que dizer para os nossos bravos mercenários pátrios? Não muito além do óbvio, afinal, os mercenários tupiniquins, verdade seja dita, demonstraram grande coragem em… Correr. Agora, que tenham em mente esta experiência vivida no seu reagrupamento na… Polônia, de que a guerra não é brincadeira…  Não é Counter Strike.

Notas:

[1]: Counter Strike, videogame de primeira pessoa, reproduz combate de pequena fração de infantaria em dois times opostos.

[2]: Ucroreich, termo utilizado para designar o estado ucraniano, é alusivo ao III Reich alemão (Segunda Grande Guerra).

[3]: Sob o comando do General de Exército Mark Wayne Clark.

[4]: BOPE-RJ, Batalhão de Operações Especiais – Polícia Militar do Rio de Janeiro, Brasil. CORE-RJ, Coordenadoria de Recursos Especiais – Polícia Civil do Rio de Janeiro.

[5]: IPSC – International Peacekeeping and Security Center (ing).

[6]: “Legião Estrangeira na Ucrânia” – forma dissimulada de batismo com intuito de mascarar o que é óbvio: tratar-se de força mercenária.

[7]: Míssil de cruzeiro – arma de voo baixo, programado. Neste ataque ao campo militar de Yavoriv, acredita-se que os misseis utilizados tenham sidos o Kh-101, com 2.800 km de alcance e ogiva HE de 450 kg.

Nota do Autor [1]: Um fator evidente para todos os combatentes mercenários é que não importa a qualidade da experiência prévia, mas nenhum deles combateu em situação de total inferioridade aérea, ou seja, sem nenhuma cobertura provinda do poder aéreo e com o inimigo dono do céu.

Nota do Autor [2]: Os mercenários brasileiros presentes na “Legião Estrangeira na Ucrânia” estão sendo acusados diretamente pelos mercenários das demais nacionalidades de terem inadvertidamente fornecido a exata localização de onde estavam concentrados por terem se dedicado desde a chegada a tirar selfies e postá-las no Instagram sem desativar a geolocalização dos seus celulares.