Ucrânia: tudo, ou nada

Ucrânia deve partir para o tudo, ou nada no Donbass.

Por: César A. Ferreira

Certa vez um conhecido, venerador de Rock’n’Roll, detinha um passe para os camarins, bastidores, de um show da afamada banda de Hard Rock, Deep Purple. Por serem raras as tournées por estas bandas, mesmo adoentado, pois consta que estava com pneumonia, foi ao referido show… Sua situação se agravou de tal forma que a morte não o levou devido à juventude. Após o suplício, questionado por todos que o cercavam, justificou-se: “mas… Eu me sentia forte, o bastante”.

Sentir-se forte o bastante, este é o pior sentimento que pode acometer às nações. A Alemanha de Hitler sentia-se insuperável, portanto, invadir a Rússia não seria uma temeridade… Quem ousaria duvidar das capacidades da imponente Marinha Imperial do Japão? Ninguém, certamente… Não estava o Vietminh praticamente derrotado? Vamos testar, então a sua vontade e derrotá-los de vez em Dien Bien Phu… Bom, a vontade foi testada e prevaleceu, mas, não foi a dos franceses, por certo…

As lições da história costumam ser caras para aqueles que possuem atenção, não parece, entretanto, ser este o caso de Poroshenko. Não se sabe se por vaidade, arrogância ou falta de perspectiva para governar uma nação que cai aos pedaços, procura o dignitário ucraniano escalar o conflito até então congelado do leste ucraniano, na região do Donbass. Convenhamos que uma guerra sempre seja uma forma de unir um povo ao seu líder, apesar da guerra no Donbass não servir exatamente para isso, pois a população tem deste conflito a ideia que o mesmo não passa de um sorvedouro de vidas e recursos.

Mas, Poroshenko sente-se forte, agora. Esperava-se que lançasse uma ofensiva no verão passado, não o fez. No inverno subsequente, para surpreender, também não o fez. Todavia, mesmo com a economia nacional em franca decadência, vem estocando munições, deslocando formações, produzindo blindados, isto quando não os ganha de presente das nações aliadas, EUA e Alemanha (que forneceu cerca de 30 obuseiros PzH 2000). Neste momento, observadores de campo das milícias do Donbass, informam que “as formações ucranianas tomam postos para ofensiva, os seus estoques de combustível, lubrificantes e munição, faz prever o inicio de uma ofensiva para breve, assim que as condições meteorológicas melhorarem”.

Dado o fato que as armas ucranianas em conjunto com os fanáticos neonazistas abrigados na Guarda Nacional conseguiram apenas derrotas uníssonas, tal como os cercos de Illovaisk, Gorlovka e a perda do Aeroporto de Donetsk apontam, é de se espantar a vontade de Poroshenko em ir à guerra. Talvez ele não tenha outra coisa a fazer, afinal, a Ucrânia afunda economicamente, e as situações desesperadas são típicas para atos desprovidos de proporção. A Rússia, o vizinho poderoso, entende o conflito no Donbass como mais uma peça do jogo geopolítico e não deixará os milicianos ao desabrigo. Acreditar em uma Rússia, que acaba de obter uma vitória geopolítica de peso no conflito sírio, como anêmica e distante quanto ao conflito no Donbass, que se desenrola justamente na sua fronteira, é viver em um mundo de ilusão, onde o coelhinho da páscoa existe, a fada do dente também, isto sem falar no Papai Noel…

Mas… Poroshenko sente-se forte, e nada mais tem a fazer…

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