Síria: as próximas horas podem ser cruciais

Por: César A. Ferreira

Com o avanço das forças curdas, após a tomada da base aérea de Menagh, em direção à Az’az, o desespero abateu-se sobre as lideranças turcas: sem cerimônia alguma fizeram fogo de bateria contra as posições curdas e do Exército Árabe da Síria, que respondeu fazendo fogo de contra-bateria.  As ações curdas, após a conquista da Base Aérea de Menagh foram rápidas, dado que de imediato assaltaram Kafr Khashir e dirigem-se, agora, para Kafr Kalbeen, enquanto que ao norte de Az’az, assaltaram Qastal Jindu com o eixo em direção à Salameh. Caso haja inflexão dos eixos de progressão haverá um cerco a cidade fronteiriça de Az’az, importante entroncamento das vias de comunicação entre a Turquia e a Síria, portanto, importante base logística das espoliadas forças do Exército Livre Sírio e da Frente Nusra. A queda de Az’az significaria a eliminação virtual destes dois grupos insurgentes na frente de Aleppo, restando para combater apenas o EI, o qual, diga-se de passagem, foi obrigado a abandonar a Central Termoelétrica de Aleppo Oriental frente ao avanço da Força Tigre, tropa de elite do EAS.

Não deixa de ser sintomático, que hospitais tenham sido atacados, com a culpa, era de se esperar, sendo debitada aos russos. Não fosse o fato de que o pequeno grupamento aéreo da Rússia não ter seu histórico ataques contra a infraestrutura civil da Síria, com a exceção notável dos campos de exploração de petróleo em mãos do EI, poder-se-ia acreditar, no entanto, em meio ao visível estado de aflição histriônica demonstrada pela Turquia, bem como pela associada Arábia Saudita, com a eminente derrota dos grupos jihadistas ao norte de Aleppo, isto aliado ao anunciado aporte de bombardeiros da Força Aérea do Reino em Incirlik, faz com que este escriba tome para si a suspeição, forte, de que a responsabilidade dos ataques aos hospitais deveram recair com maior propriedade sobre as asas da Força Aérea da Turquia, ou dos aliados próximos, USAF e KSAF (Força Aérea do Reino da Arábia Saudita – ing); ademais, é bom lembrar, que a cidade de Aleppo, e adjacências, tivera a sua infraestrutura atacada anteriormente pela coalizão ocidental, caso da estação de captação e tratamento de água, cuja destruição obrigou os moradores a buscarem o recurso diretamente no Eufrates, com o risco de contraírem o bacilo da Cólera, caso venham a ingerir sem dar-se à fervura das águas retiradas do rio.

A exasperação turca dá-se por conta da concretização da agenda curda, pois o avanço curdo possui a intenção explícita de viabilizar um corredor territorial entre Kobane e Sarrin, ou seja, do oeste ao leste. Ainda que o nascimento de um estado curdo na região não faça parte dos planos de Assad para a Síria, dado que este nasceria à custa do Estado Sírio, prevê-se a concessão de uma autonomia ampla, algo que por certo se dará. Isto é entendido por Ancara como um embrião de um processo inexorável, que nas mentes turcas resultará na criação do Curdistão como estado nacional, que levará todo o leste da Turquia. Convenhamos, quando líderes nacionais deixam-se levar em suas mentes por fantasias tenebrosas, em meio ao desabar do seu castelo de cartas na forma das suas ambições territoriais, boas coisas, com certeza, não podem sair. Compreende-se, pois, o aviso emitido hoje, 16 de fevereiro de 2016, de que nas próximas 24 horas a Turquia realizará a invasão territorial da Síria. Basta esperar para ver se não se trata de um blefe.

Blefe, ou não, tomam os russos as suas medidas. Tendo constatado que quase todo o 2º Exército Turco se encontra estacionado junto à fronteira, formando não menos que 18.000 homens, valor de uma Divisão, como tropas operacionais, isto é, sem contar com o efetivo de apoio logístico, apontado para o eixo de Az’az, realizaram os eslavos uma verdadeira ponte aérea através da rota do Mar Cáspio, onde dois dos imensos cargueiros AN-124 foram avistados, descarregando material bélico na Base Aérea de Hmeimeem. Outro meio cuja presença não pode deixar de ser notado é composto pela aeronave SIGINT Tu-214R. Este avião para coleta de dados eletrônicos, de comunicações e de emissões, reflete que o comando russo espera uma mudança brusca do patamar do confronto havido na Síria, de um conflito contra forças insurgentes, portanto irregulares, contra uma força treinada e dependente de coordenação centralizada, portanto, emissora de sinais, comandos, caso de uma força regular, em suma de um Exército Nacional. A aeronave, de maneira elucidativa, não só seguiu a rota do Mar Cáspio, como fez também um desvio, sobrevoando boa parte do território iraquiano, afastando-se ao máximo da fronteira turca, adotando desta forma uma rota previdente contra a possibilidade de uma emboscada área por parte da THK (Força Aérea da Turquia – tur). Ademais, os porta-vozes das forças armadas sírias deixaram bem claro que, caso haja penetração na fronteira, darão combate às forças turcas as quais irão considerar, com razão, como forças invasoras. Vê-se claramente que as próximas horas serão decisivas para o desenrolar do drama de Aleppo. Para os expectadores resta aguardar.

16 comentários sobre “Síria: as próximas horas podem ser cruciais

  1. Todos esses movimentos são parte do plano de atolar a Russia no conflito causando perdas econômicas que irão debilitar ainda mais sua economia.
    O ocidente tem jogado esse jogo perigoso a bastante tempo cercando minando e ferindo o estado russo na intenção de reconduzir o país a insignificância da década de noventa.
    O ocidente precisa compreender que a Russia é um país poderoso e que desta fez não tem um alcoólatra entreguista o administrando e que esse jogo pode levar a todos a destruição mutua.
    A Putin resta novamente tomar uma decisão inteligente frente aos novos fatos que se apresentam, o que até agora ele tem se saído muito bem.
    Como demover a Turquia de uma invasão a Síria sem empregar um grande número de tropas?
    Meu palpite é posicionando algumas unidades de misseis Iskander Obviamente com ogivas convencionais pois seria problemático a guarda de ogivas nucleares num território em um conflito dessa complexidade mas deixando o mundo pensar que portam ogivas nucleares causando um alto grau de incerteza no exercito turco e uma pressão popular contra o governo afinal povo nenhum quer ser alvo de armas nucleares.

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  2. Salve César,
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    Como você muito bem colocou, “as próximas horas podem ser cruciais”.
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    Vladimir Putin assinou oficialmente o estado de alerta máximo para operações do Comando Militar e unidades bélicas da Rússia.
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    “As tropas do Comando Militar do Sudoeste (direção: Turquia) serão transportadas por mar e ar até o miolo da zona de conflito. Estamos prontos militarmente para atuar no sudoeste em termos de ações operacionais”, reiterou Soigkou.
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    Sergei Soigkou já deixou claro que informará a todos os adidos militares dos países estrangeiros sobre a mobilização das forças russas.
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    Os meios de comunicação já falam constantemente que “a Rússia se prepara para a guerra com a Turquia”.
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    A Frota do Mar Negro encontra-se em alerta máximo e foi criada uma unidade especial por parte do governo, com o objetivo de evitar qualquer invasão em águas territoriais russas.
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    Segundo Pavel Felgenhauer (especialista militar), os preparativos militares são unicamente para a Turquia, mas, se a Arábia Saudita, Catar e EUA tiverem participação ativa, entrando diretamente no conflito, a situação vai complicar bastante.
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    O canal de TV Rússia 1, informou que a brigada de elite da chechena e os Spetsnaz russos foram enviadas para a guerra pelo próprio Putin.
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    Essa unidade de elite chechena inclui muçulmanos e a ala sunita.
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    Outro motivo da participação da unidade especial chechena, é que os seus homens falam fluentemente o turco, o que será ótimo para a condução de interrogatórios de prisioneiros de guerra.
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    Fonte destas informações: http://br.blastingnews.com/mundo/2016/02/vladimir-putin-da-ordem-de-alerta-maximo-as-tropas-russas-na-siria-e-perto-da-turquia-00777705.html
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    Saudações,
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    konner

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    1. Assad é o presidente da República Árabe da Síria, lider legítimo desta nação.
      Existe uma guerra que agride a Síria, movida por grupos insurgentes de confissão muçulmana sunita do ramo wahhabita, extremados e brutais, que agem como prepostos dos reinos do golfo, portanto, se existem estados e líders terroristas melhor apontar para estes.
      Assad defende o seu povo. Por exemplo, não atacou durante o seu mandado os curdos sírios, algo que Erdogan faz agora, neste momento, no leste da Turquia.

      Por isso, posso afirmar, que a sua opinião sobre Assad é equivocada.

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